14 de abril de 2024

10 dicas para organizar um roteiro de viagem

Roteiro de viagem pela Andaluzia
Este roteiro pela Andaluzia que fiz em 2014 ficou redondinho, mas exigiu muita pesquisa

Cá estou eu, planejando uma nova jornada pelo mundo. E daí que me ocorreu compartilhar com os leitores as minhas dicas para organizar um roteiro de viagem. 

(Vou visitar a Espanha, Portugal e a Grécia e você vai poder acompanhar essa viagem pelo Instagram da Fragata). 

Essas dicas pra montar roteiros são coisas que eu fui aprendendo — geralmente depois de errar feio — ao longo de 40 anos andando por aí, a maior parte das vezes como viajante solo.

Big Ben em Londres
Beatles em Liverpool
Se o roteiro é na Inglaterra, eu faço questão de ir a Londres (no alto) e a Liverpool

Se você é passageira frequente da Fragata, já sabe o quanto eu gosto dessa etapa indispensável que é o planejamento da viagem. Pra mim, é mais um jeito de viajar: a gente sai de casa só em pensamento, mas se diverte muito — e, quando chega a hora de pegar a estrada, se diverte muito mais, porque já cuidou da maioria das providências práticas.

Então, veja essas dicas para organizar um roteiro de viagem e depois me conte qual o seu segredo pra organizar essa etapa indispensável a um lindo passeio.

Cataratas do Iguaçu
Foz do Iguaçu rendeu um baita roteiro de Carnaval


Dicas para organizar um roteiro de viagem

1 – Lista de desejos: o primeiro esboço do roteiro

Quando começo a desenhar um roteiro de viagem, minha ambição está do tamanho do mundo. Saio listando uma infinidade de lugares que quero ver na região a ser visitada, sem me preocupar com distâncias, tempo de deslocamento, custos ou mesmo a quantidade de dias que terei pra viajar.

Globo terrestre
Na lista de desejos, o planeta é todo seu

A lista de desejos comporta tudo. E é bom que seja assim. Todo planejamento de viagem começa com um sonho — ou deveria.

Seja realista e peça o impossível, diziam os jovens rebeldes de Paris, em 1968. Coloque tudo no papel, sem pudor ou restrição. Mas não se apegue muito, porque mais adiante muitos desses desejos vão ficar para a próxima viagem.

Geralmente, já começo o roteiro sabendo quais são as cidades e localidades prioritárias — aquelas que vão entrar na programação meeeeesmo. Nessa etapa inicial, porém, “quanto mais purpurina, melhor”: listo vários pontos de interesse secundários que, dependendo da lógica da rota, podem ou não constar no roteiro final. 

"O Sul é meu Norte" de Joaquín Torres García
O mapa não mente jamais. (A obra é O Sul é meu Norte, de Joaquín Torres García, do Museu Torres García de Montevidéu)

2 – Choque de realidade: o mapa não mente jamais

Sonhar é do tamanho do universo. Concretizar o sonho, como já anuncia o verbo, exige que a gente coloque os pés no chão antes de colocá-los na estrada.

A segunda etapa de planejamento do roteiro é o choque de realidade. Marque no mapa cada destino da sua lista de desejos (eu uso o My Maps do Google). Vai ser inevitável perceber que não dá pra encaixar tudo no número de dias ou no orçamento de viagem.

Nos fóruns de viagens na Internet é muito comum encontrar pessoas tentando encaixar 30 cidades em roteiros de 20 dias na Europa, “porque lá é tudo pertinho”. Minha sugestão é sempre a mesma: consulte o mapa, porque ele não mente jamais. 

Lembranças de viagem

Adoro minhas lembrancinhas de viagem, mas a melhor memória é sempre uma viagem bem aproveitada — e pra isso, um bom roteiro é indispensável

Com suas intenções de visita visualmente materializadas no mapa, já dá pra notar os ziguezagues, os emaranhados e redemoinhos. Começa a ficar mais claro o que é realizável e o que você vai ter que cortar.

Antigamente, era no papel — um velho atlas todo rabiscado na minha estante que o diga. Hoje, felizmente, temos os recursos da internet. Use-os.

Sites úteis para planejar viagens
A Internet oferece muitos recursos utilíssimos para quem quer organizar um roteiro de viagem

Sites como Google Maps e Rome2Rio informam as distâncias entre uma localidade e outra, as opções de transporte, o tempo que você vai gastar no deslocamento e até o custo desses trajetos. São um baita choque de realidade.

3 – Mãos de tesoura: a hora de cortar

Nosso grande poeta Carlos Drummond de Andrade dizia que “escrever é cortar palavras”. Pois fazer um bom roteiro de viagem é cortar destinos.

Dói, eu sei. Mas dedicar uma quantidade razoável de dias a uma localidade é talvez o elemento mais decisivo para uma viagem gostosa em bem aproveitada. Tenha certeza de que você vai passar muito mais tempo passeando nos destinos escolhidos do que dirigindo ou enlatada em um trem, ônibus ou avião para chegar a esses destinos.

Florença na Itália
Não vale a pena traçar um roteiro cheio de paradas e passar correndo por lugares espetaculares, como Florença

Claro que dá pra chegar em Florença hoje cedinho e ir embora no final da tarde de amanhã, vendo o básico. Mas não faça isso. É muito mais proveitoso ver um lugar — qualquer lugar — sem correria, saboreando as atrações, garantindo pausas para descansar e contemplar, fazer ao menos uma refeição por dia com calma.

Viajar não é jogo de War, onde o objetivo é colocar seu marcador no maior número de territórios.

4 – Atenção ao tempo dos deslocamentos 

Depois de marcar cada lugar que você quer visitar, seja muito realista (e sincera consigo mesma) analisando o tempo que você vai consumir para ir de um ponto ao outro.

Nafplio na Grécia
Monemvasia na Grécia
Da querida Nafplio (no alto) á deslumbrante MonemVasia (acima) os 200 km de estrada viraram mais de 6 horas de viagem com paradas e baldeações

Quem vai usar transporte público precisa estar atento às variantes das rotas e à frequência dos ônibus trens ou aviões. Pra quem viaja de carro, os complicadores podem ser as condições da estrada, o relevo, as curvas...

Não é sempre que dois lugares que aparecem pertinho um do outro no mapa estão conectados por transporte ágil e fácil.

Por exemplo: montando meu primeiro roteiro na Grécia, descobri que ir de uma localidade a outra, mesmo que próximas em distância, podia virar uma odisseia. 

Nafplio está a 200 km de Monemvasia, mas levei seis horas pra ir de uma à outra, fazendo baldeações de ônibus — que iam bem devagarzinho nas subidas e descidas da estrada, cheia de curvas à beira dos precipícios (foi lindo, até porque eu tinha tempo pra essa contemplação. Mas se você estiver com um roteiro apertado, não recomendo).

Estrada nas montanhas do Peru
Qualquer trajetozinho curto nas montanhas do Peru pode (e deve) demorar hoooras

Outro exemplo: Cusco, no Peru, fica a apenas 60 km de Ollantaytambo, mas torça muito pra o motorista da van cobrir esse percurso em pelo menos duas horas. Menos tempo do que isso significa que ele está trafegando numa velocidade muito perigosa, naquelas montanhas (e não tenha constrangimento de exigir que ele alivie o pé no acelerador). 

A distância de Panajachel, no Lago de Atitlán, até a Cidade da Guatemala é de meros 113 km, mas os engarrafamentos demenciais nas estradas guatemaltecas garantem que você vai levar mais de 5 horas viajando, pelo menos. Na Guatemala, dia de deslocamento é só isso, não conte com tempo pra mais nada.

São pouco mais de 100 km entre o Lago de Atitlán e a Cidade da Guatemala. Mas os engarrafamentos nas estradas vão tomar boa parte do seu dia

Seja rigorosa nessa fase da pesquisa. Vale a pena perder um dia inteiro para ir de X a Y? E, depois de gastar este dia inteiro, ter quatro ou cinco horas líquidas pra ver um lugar?

Seu tempo não é grátis — já fez as contas de quantos dias por ano você trabalha para ter direito a cada um dos seus dias de férias ou de folga? Cada um viaja do jeito que quer, mas duvido que você queira passar a maior parte da jornada indo de um lugar para o outro.

Trace uma rota racional, evitando idas e vindas e muitas voltas.

Passagem de trem de Madri para Ávila
É barato ir de Madri a Ávila. Mas exagerar nos deslocamentos vai encarecer muito sua viagem

5 - Atenção ao preço dos deslocamentos

No cálculo dos gastos de uma viagem, é muito comum a gente se concentrar em itens como hospedagem e alimentação, mas subestimar o impacto dos preços dos deslocamentos. A verdade, porém, é que pular daqui pra ali o tempo todo custa muito caro.

Compradas com a devida antecedência, passagens de trem, de ônibus ou de empresas aéreas low cost podem sair bem em conta. Em 2019, por exemplo, voei de Barcelona a Malta pagando apenas € 60 na passagem de ida e volta.

Mas se eu gastasse os € 30 de cada perna dessa viagem a cada dois ou três dias, pra ficar zanzando entre cidades europeias, minha viagem de 17 dias teria saído muito mais cara. 

É de grão em grão que a galinha enche o papo, diziam os antigos. E de passagenzinha em passagenzinha seu orçamento de viagem vira uma fortuna. 

Catedral de Notre Dame em Paris
Dublin na Irlanda
O preço dos deslocamentos para rodar a Europa de Paris a Dublin pesou no orçamento. Só valeu a pena porque eu tive tempo pra curtir cada parada do roteiro

Em 2014, fiz uma viagem de 25 dias pela Europa, chegando e saindo por Paris e visitando Bruxelas (com bate e volta a Bruges), Londres, Liverpool e Dublin (com bate e volta aos Cliffs of Moher e à Irlanda do Norte, para ver a Calçada do Gigante). Os deslocamentos internos em trens e aviões no continente europeu custaram a mesma coisa que a passagem aérea do Brasil até lá.

Valeu a pena? Sim, mas só porque os 25 dias do roteiro me permitiram curtir cada uma das etapas da viagem com o tempo e a calma que cada uma delas merecia. Foram oito noites em Paris, quatro noites em Bruxelas, quatro noites em Londres, duas noites em Liverpool, e seis noites em Dublin

Se eu tivesse apenas 10 dias e programasse duas noites em cada parada do roteiro, a grana gasta com as passagens internas teria sido jogada fora, porque eu ia ver muito pouco dessas cidades além de aeroportos e estações.

Basílica de São Paulo Extramuros em Roma
O Urso e o Madronheiro na Porta do Sol em Madri
Chegar à Europa por Roma (no alto) e sair por Madri (acima) e com apenas quatro cidades-base no roteiro representou uma baita economia com deslocamentos

Em 2017, fiz um roteiro de 21 dias na Europa pela Itália e pela Espanha. Cheguei por Roma (quatro noites) e voltei por Madri (sete noites), com uma passagem multidestinos. Além disso, estive em Florença (seis noites) e Bolonha (quatro noites). 

Meu gasto com os trechos internos na Europa foi bem pequeno, mesmo fazendo vários passeios bate e volta.  

Quando montar seu roteiro de viagem, faça uma boa comparação de preços entre uma passagem ponto a ponto (você chega e sai pelo mesmo aeroporto) e um bilhete multidestinos (você chega do Brasil em uma cidade e volta pra casa voando de outra localidade). 

Frutos do mar típicos do Chile
Em vez de ficar pulando pra lá e pra cá no Chile, concentrei o roteiro em Santiago e Valparaíso, reservando orçamento para comer divinamente nas duas cidades

Também coloque na ponta do lápis cada gasto com os deslocamentos que você planeja fazer e decida se a grana que você vai investir no vai e vem não seria mais bem gasta em bons restaurantes, hotéis mais confortáveis e atrações de cidades que você vai curtir melhor, ficando mais tempo nelas.

6 - Defina a quantidade de dias de estadia em cada localidade

Pra voltar ao exemplo de Florença, que citei lá no alto: fiquei apenas duas noites na cidade, na minha primeira visita. Foi lindo, foi maravilhoso, mas a sensação mais forte que eu levei comigo, ao ir embora, foi a certeza de ter visto muito pouco. 

Aprendi a lição e já voltei duas vezes à capital da Renascença. No primeiro retorno a Florença, fiquei cinco noites. No segundo, seis.

Então, com o mapa na mão, todo marcadinho, chegou a hora de começar a cortar cidades e localidades para garantir que você vai ter tempo pra curtir de verdade cada lugar que vai efetivamente visitar. 

Cidade do Porto em Portugal
Mosteiro dos Jerónimos em Lisboa
Será que vale a pena passar correndo por Lisboa (acima) e pelo Porto (no alto) só para encaixar no roteiro outras cidades que você também verá superficialmente?

Por exemplo: em vez de escolher seis cidades de Portugal para ver em 10 dias, divida esse intervalo de tempo entre dois, no máximo três destinos, especialmente se for sua primeira visita (e aí fica fácil escolher: cinco dias em Lisboa e cinco no Porto rendem um roteiro de estreia inesquecível).

Volte ao tópico anterior e resista a tentação de torcer o nariz para minha programação de apenas 4 noites em Londres no roteiro de 2014. A cidade merece muito mais. Mas é preciso lembrar que eu tinha passado uma semana lá, no ano anterior. 

Então, se você já conhece bem uma cidade, até vale dar uma passadinha pra matar a saudade. Se ela encaixar fácil e barato no roteiro. Mas evite a todo custo a tentação de transformar seu roteiro  num pinga-pinga

Hermes, deus grego das viagens
Não pude ir a Olímpia na primeira viagem à Grécia. Mas Hermes, o deus das viagens, me deu uma segunda chance

Defina o que é absolutamente inegociável para seu roteiro — e se algum lugar inegociável representar um desvio significativo, corte outras paradas. Eu queria muito ter ido a Olímpia na minha primeira viagem à Grécia, mas a cidade das Olimpíadas da Antiguidade representaria um desvio complicado, que comprometeria minha ida a Monemvasia, a Delfos e a Meteora

Guardei Olímpia para um retorno à Grécia e, finalmente, vou visitar a cidade, em maio/2024.

O importante é ter o desprendimento de enxugar o roteiro até chegar a uma programação respirável. Para estar de verdade nas localidades visitadas — e não apenas bater um carimbo no seu mapa.

Ponte do Brooklyn em Nova York
Casa Rosada em Buenos Aires
Cidades grandes e espetaculares como Nova York (no alto) e Buenos Aires merecem tempo. Mesmo depois de muitas visitas às duas, sempre encontro um monte de coisas novas pra fazer em um roteiro de uma semana

Dedique a cada cidade/localidade um tempo para curtir e passear sem aquela taquicardia de correr pra a estação todo dia, do check-in e check-out diário nos hotéis, de estar permanentemente sob a pressão da hora marcada. Você está de férias, não em uma gincana, onde se cumpre uma lista de tarefas e para ganhar pontos. 

Eu gosto de viajar devagar. Mas ainda que você seja mais objetiva, procure sempre reservar um mínimo de cinco dias líquidos (seis noites) para uma grande cidade (Londres, Paris, Madri, Berlim, Nova York, Buenos Aires). 

Eu evito ao máximo ficar apenas uma noite em qualquer localidade, mesmo que seja um vilarejo: não curto a correria do abre mala-fecha mala nem do tempo que se perde com check-in e check-out.

7 - Organize um roteiro básico dia a dia

Lembra daquela etapa de concretizar que eu falei lá no começo? Ter um planejamento de roteiro para cada dia da viagem é uma mão na roda por vários motivos.

Esse roteiro prévio (que não é imutável nem deve ser tratado como dogma) vai ajuda a decidir quantos dias você vai ficar em cada localidade, influencia na escolha da área onde você vai se hospedar, na lista de restaurantes que você vai querer experimentar e até no orçamento — já dá pra ter uma boa ideia do quanto você vai gastar com atrações, além de permitir comprar vários ingressos com antecedência pela internet e se livrar de filas.

Atrações turísticas de Valência na Espanha
Com os principais pontos de interesse marcados no mapa, montei um delicioso roteiro em Valência (que cidade, leitor@s! Que cidade!)

O método que eu uso é o mesmo para montar o roteiro geral. No mapa da cidade que vou visitar, marco todas as atrações que me interessam (museus, parques, bairros charmosos), restaurantes, estações de ônibus e trem (não só pra saber onde vou chegar e de onde vou partir, mas também onde vou pegar o transporte pra um bate e volta).

Com a cidade que vou visitar concretizada na tela do computador, dá pra saber se, por exemplo, cinco dias em Barcelona serão suficientes pra ver tudo que me interessa ou se vou ter que definir prioridades (🔺spoiler alert: nunca dá pra ver tudo o que a gente quer).

Além disso, o mapa ajuda a agrupar as atrações por área geográfica, ajudando a poupar tempo e dinheiro nos deslocamentos pela cidade a cada dia. 

Outra vantagem desse roteiro-prévio é que você tem tempo de pesquisar direitinho, com boa antecedência, sobre cada ponto que você listou: será que você está indo visitar tal atração porque verdadeiramente se interessa por ela ou está apenas cumprindo uma check-list-clichê que acaba se sacralizando em blogs e fóruns de viajantes?

Roteiro dos Beatles em Liverpool
Pesquisa, pesquisa e mais pesquisa. E meu roteiro dos Beatles em Liverpool ficou um show de bola

Meu planejamento de viagem é bem detalhado. Estou permanentemente pesquisando sobre lugares que quero visitar. A vantagem evidente é que consigo me virar melhor quando chego a esses destinos. A vantagem não-óbvia é que saber o que me espera me deixa mais capacitada a mudar de ideia, jogar o mapa fora e fazer coisas completamente diferentes das planejadas originalmente. 

Afinal, um dos maiores prazeres de uma viagem é improvisar e abrir espaço para o inesperado. Mas, pra isso, é preciso tem um bom repertório de informações.

8 - Escolha bem sua hospedagem

Você escolhe a sua hospedagem só considerando o preço e a qualidade das acomodações? Esses, sem dúvida, são itens essenciais. Pra mim, entretanto, há outra variante relevantíssima na equação. E ela se chama localização.

Lógico que ninguém quer dormir em um pulgueiro, só porque fica pertinho de tudo. Também é muito verdade que um bom hotel afastado do centro e das áreas mais turísticas pode sair mais em conta do que uma espelunca bem localizada.

Não se trata de ficar hospedada de cara para a Fontana de Trevi, em Roma, ou debruçada para o Calçadão de Ipanema, no Rio de Janeiro (seria lindo, ma$$$...). 

Calçadão de Ipanema
Se for bem servida de transporte, comércio e restaurantes, a localização de sua hospedagem pode ser considerada boa, mesmo sem a paisagem do Calçadão de Ipanema

Quando falo de boa localização, refiro-me a um bairro simpático, seguro, com bom acesso a transporte público e serviços e que não esteja muito distante das áreas de interesse turístico — como já falei antes, seu tempo durante as férias não é grátis pra perdê-lo em longos trajetos.

Hotel bom (ou pousada, ou pensão, ou apartamento) é aquele que não arrebenta seu orçamento, permite que você descanse bem e curta umas horinhas de sossego. Que não exija uma pós-graduação em cartografia para ser encontrado/acessado. 

Hotel bom não pode ser aquele só pra dormir (torcendo pra não ter pesadelos com a feiura do lugar), mas não precisa ser aquele outro que custa mais caro do que todos os outros itens do orçamento de viagem somados.

Principalmente: uma boa hospedagem é aquela que não atrapalha seus passeios e seu contato com a cidade. Não precisa ser central, mas não pode exigir uma odisseia pra chegar e sair nem te obrigar a encurtar a noite pra evitar uma vizinhança barra pesada depois de certa hora (ou gastar horrores de táxi ou uber).

Em cidades com as quais já tenho alguma intimidade, acho gostoso ficar hospedada em áreas menos óbvias e fora do circuitão — além de pagar menos pela hospedagem, ainda tenho o bônus de experimentar um certo sabor de vida normal.
 
11º Arrondissement em Paris
A vizinhança no 11º Arrondissement é super simpática e a hospedagem custou só um pouquinho mais da metade das diárias que paguei dias depois, em um hotel perto da Ópera Garnier

Na minha última visita a Roma, adorei ficar no bairro do Testaccio (que nem é tão desconhecido da turistagem), a 10 minutos do Centro, pagando uma diária equivalente a 60% ou 70% do que teria gasto em uma acomodação similar em Monti.

Em Paris, a hospedagem no 11º Arrondissement custou só um pouquinho mais da metade do que paguei em um hotel na área da Ópera Garnier, na mesma viagem de 2014 (veja aqui essas dicas de hospedagem em Paris).

Em cidades que visito pela primeira vez (especialmente se não conseguir me virar no idioma local), prefiro ficar em áreas mais óbvias e mais próximas dos pontos de interesse, pra evitar muito bater cabeça. Nesses casos, também aposto mais em hotéis de redes conhecidas do que em pousadinhas artesanais.

Jardins de Salvador Espriu em Barcelona
Barcelona: no começo da viagem, foi fácil encarar a pensãozinha barata e espartana, mas com localização espetacular

E em cidade alguma eu caio na tentação de ficar hospedada lá onde Judas perdeu as meias pra fazer economia (novamente: tempo, especialmente tempo livre, é muito caro). Não quero gastar horas preciosas me deslocando até as atrações, nem gosto de encerrar minha noite muito cedo no perrengue de voltar pra o hotel nas lonjuras.

Sempre conto aqui na Fragata que costumo ser mais despojada (ou seja, econômica) no começo da viagem. Em Barcelona, achei bem razoável passar as três primeiras noites da viagem numa pensãozinha simples e limpa, em plena Carrer Gran de Gràcia, pagando € 30 em um quarto com banheiro compartilhado. Na volta à cidade, encerrando o roteiro, fiquei em um hotel bacaninha do Eixample, com diárias de € 94 (veja essas dicas de hospedagem em Barcelona).

No começo de uma viagem, a gente está descansada e menos exigente. Com o passar dos dias, o corpo quer cada vez mais conforto.
 
Hotel em Memphis no Tennessee
Foi bem mais gostoso encarar o frio e a neve em Memphis sabendo que, no final do dia, um aconchegante e confortável quarto de hotel esperava por mim

A época da viagem também influi na escolha: ficar em um hotel mais básico, nos meses mais quentes (desde que tenha ar-condicionado) é muito mais tolerável, porque a gente fica mais tempo na rua. No inverno, gosto de hotel confortável, aconchegante e mais robusto em serviços, porque certamente vou passar mais tempo no quarto.

9 – A época da viagem impacta qualquer roteiro

Vale a pena ir à Sicília — que muita gente associa às praias — no frio de janeiro? Eu fui e amei a viagem. Mas é claro que meu roteiro de inverno foi completamente diferente do que seria a programação para uma época mais quente. 

Fui a Taormina ver paisagens (ah, o Vulcão Etna 🧡🧡🧡), em vez de tomar banho de mar, aproveitei a baixa estação para visitar o Vale dos Templos de Agrigento sem morrer de calor e sem disputá-lo com multidões e mergulhei no patrimônio histórico de Palermo com toda a tranquilidade.

Há lugares bacanas de visitar em várias épocas do ano — colocando ênfases diferentes na programação. Por exemplo, o roteiro em Bariloche no inverno é um. No verão, é outro.

Ilha de Symi na Grécia
Que diacho você iria fazer em uma ilha grega como Symi na friaca de janeiro?

Mas também há lugares que só vale a pena visitar na época certa. Nas ilhas gregas, por exemplo, muitos hotéis e restaurantes fecham durante o inverno — e, ainda que funcionassem, o que é mesmo que você iria fazer numa ilha grega na friaca de janeiro?

Quando monto uma programação no Brasil, por exemplo, minha maior preocupação é se chove ou não chove na época da viagem e se é alta ou baixa estação (por causa dos preços e da muvuca). É sempre bom lembrar que o Pantanal é muito melhor no inverno, que chove cântaros em Paraty em janeiro e que Salvador perto do Carnaval é cara, barulhenta e lotada.

Centro Histórico de Paraty
Paraty é deslumbrante. Mas evite ir pra lá em janeiro

Ao montar um roteiro de inverno no Hemisfério Norte, leve em conta que nessa época amanhece tarde e anoitece cedo. Além disso, as atrações costumam funcionar em horários mais curtos. Isso significa que, ainda que você se disponha a uma maratona de visitas a várias atrações por dia, não vai dar tempo.

Eu curto a Europa no inverno. Mas planejo mais museus do que atividades ao ar livre. Programo mais jantares do que bateção de pernas. Escolho cidades maiores e com mais atrações do que vilarejos bucólicos. E já sei que o tempo encurta, nessa época. Dá uma olhada aqui > Fim de ano na Europa: vale a pena?

Ruínas de Troia na Turquia
Troia, meu bate e volta homérico

10 - Bate e volta é ótimo. Mas não exagere

Os passeios bate e volta viraram uma febre nos fóruns de viajantes na internet. Todo mundo quer saber quantos e quais passeios nessa modalidade se pode fazer a partir dessa ou daquela cidade. Até bate e volta de Paris pra Londres tem aparecido nas consultas (😱).

Bate e volta é uma maravilha, sou fã e recomendo. É muito bom poder acrescentar mais um destino no meu roteiro de viagem sem a aporrinhação de fazer check-in e check-out nos hotéis e a arrastação de malas.

Mas calma, pipôl. Quando a gente vai pra uma cidade, o mais importante é curtir essa cidade como ela merece, antes de passar os dias correndo pra a estação e sacolejando horas pelas estradas, só pra marcar mais um lugarzinho no mapa.

Eu não tenho moral pra criticar, porque já fiz o mais homérico dos bate e voltas (literalmente, inclusive): encarei a estrada de Istambul até as ruínas de Troia (cinco horas de ida, mais cinco de volta, no mesmo dia).

Não recomendo a ninguém, mas eu faria de novo e de novo. A visita ao cenário da Ilíada foi um dos momentos mais extasiantes na minha biografia de viajante.

Bratislava na Eslováquia
O bate e volta de Viena a Bratislava é um passeio bem redondinho
 
A meu favor, digo que o bate e volta a Troia foi um excesso, mas também foi uma exceção. (Mais ou menos: eu reincidi com San Blás e com Tikal, no roteiro pela América Central)

Acho que um bom bate e volta é aquele que não me obriga a acordar de madrugada pra pegar o transporte. Que não me deixa mais tempo na estrada do que vendo a localidade visitada. Que não me rouba tempo precioso pra ver atrações imperdíveis na cidade-base (onde estou hospedada).

Sair de Viena pra dar um pulo em Bratislava é ótimo (se você tiver tempo pra ver bem Viena). Passar o dia em Peso da Régua, saindo do Porto (ou, no meu caso, de Amarante), é uma delícia.
 
Peso da Régua em Portugal
O passeio de barco pela região vinícola do Rio Douro vale muito o bate e volta a Peso da Régua

Mas se o seu bate e volta vai consumir muito tempo de deslocamento ou vai levar você a um destino que é mais do mesmo, economize seu tempo e sua grana e evite.

Índice com dicas de passeios bate e volta  

Ah, sobre o bate e volta de Paris a Londres: não roube um dia da sua estadia parisiense pra ver uma cidade que merece uma encarnação inteira de passeios. Deixe a capital britânica para outro roteiro.

Roteiros da Fragata Surprise

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2 comentários:

  1. Muito bom, nada como experiência para a sugestão, que há coisas que são resolvidas rápido e outras que, é preciso fumar sobre isso, como disse Old Lodge Skins para Jack Crabb, em O Pequeno Grande Homem.

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