O peladão e a bisteca, dois exemplares sublimes das artes
florentinas |
Enquanto pincéis e cinzéis esculpiam a face etérea de berço da Renascença, seus fogões e caldeirões urdiam outra arte, um universo aliciante de bistecas sangrentas, doces ásperos e receitas à base de caça e de vísceras capazes de seduzir o mais fresco dos paladares.
Quer um docinho ou um aperitivo? Florença dá show |
Requinte de salão não faltou à cidade — lembremos que foi preciso a florentina Catarina de Médici virar rainha da França, no Século 16, para a corte parisiense ser apresentada aos talheres e à delicada confeitaria.
Mas a cozinha simples de citadinos e camponeses de Florença e arredores resistiu e resplandece como marca da gastronomia local.
Florença é uma cidade cara, mas você vai encontrar ótimos restaurantes mais simples e simpáticos pra saborear a culinária local |
Nem sob -2ºC de temperatura aloka do sorvete (eu 😊) sossegava. Porque Florença também é uma tentação no gelato |
O que comer em Florença
Os ingredientes da ribollita variam um pouco, porque a ideia da sopa é aproveitar as sobras de legumes também.
O segredo é fazer uma grande quantidade e ir requentando e servindo ao longo de alguns dias. Simples e sublime — ainda mais no frio que estava fazendo em Florença.
⭐ Lampredotto
Originalmente, lampredotto é comida de rua, refeição acessível aos trabalhadores pobres, feita de uma parte do estômago do boi, o abomaso, cozido com tomates, cebolas, salsa e aipo.
O mais comum é servir o lampredotto no pão, com bastante caldo e pimenta, como nas tradicionais barraquinhas de rua de antigamente. Mas eu também o encontrei como secondo piatto, em restaurantes.
Com pão ou sem pão, lampredotto é um escândalo de gostoso.
Os inesquecíveis paninni de lampredotto e trippa alla
fiorentina no Mercado Central de Florença |
Não faça essa cara de desdém, pois é uma maravilha — assim como a trippa alla romana, os callos a la madrileña e outros pratos feitos com vísceras.
São tradições nada abastadas, mas muito inventivas e sofisticadas.
Pense em um corte de carne bem espesso, temperado apenas com sal, pimenta-do-reino moída na hora e azeite de oliva e assado na brasa.
A bistecca fiorentina chega à mesa como eu gosto: quase mugindo...
A bisteca é um prato dos mais icônicos da cozinha de Florença. É feito com uma peça similar ao T-Bone — e ponha ênfase nesse similar, porque a cidade leva a sério a diferença. Delicioso é pouco.
Ragù de javali: Obelix aprovaria |
Já provei o bicho de todo jeito, em vários lugares, mas transformado em ragù ele realmente se supera.
Sabe aquela cena em que Obelix, mitológico comedor de javalis, se compadece do destino de um bicho transformado numa receita desastrada? Não corre o menor risco de acontecer com o ragù de javali feito em Florença, um prato espetacular.
Move On, ótima trilha sonora, de cara para o Batistério |
⭐ Move On Bar e Vinil
Gostei muito desse bar moderninho, elegante e descolado que fica bem em frente à porta de saída do Batistério.
Eu estava exatamente encerrando a visita e fui “chamada” até o Move On Bar e Vinil por Chet Baker, cantando Everything depends on you.
Chet Baker me puxou pelas orelhas até o bar |
O ambiente escurinho, decorado com cartazes de filmes e um velho letreiro de cinema combina com a música de primeiríssima qualidade e bons drinques. O Dry Martini (€ 10) estava bem acima da média.
O ótimo talharim ao pesto de rúcula da Osteria San Niccolò |
⭐ Osteria San Niccolò
Almocei muitíssimo bem na Osteria San Niccolò, na margem Sul do Arno, próxima ao Palazzo Torrigiani.
Pedi o talharim ao pesto de rúcula como primo e o lampredotto como secondo piatto.
O lampredotto servido como secondo, em um almoço de
primeira |
Os dois estavam notáveis — deu vontade de repetir, mas a refeição sequer deixou espaço para a sobremesa.
A Osteria San Niccolò é simples, tocada por uma família, o atendimento é informal e o ambiente é muito simpático. Com vinho, a conta ficou em € 22.
Mercado Central de Florença. Na praça em frente, o fundador
do clã dos Médici, Giovanni delle Bande Nere, observa o movimento |
⭐ Mercato Centrale Firenze
O que aconteceu comigo no Mercado Central de Florença não foi um almoço, mas um turbilhão gastronômico de proporções épicas.
Nerbone: uma catedral da comida de rua florentina |
Boxes no térreo do Mercado Central de Florença: que tal umas
comprinhas? |
A fila do Nerbone na hora do almoço é razoável. Quando chega a sua vez, você faz o pedido, paga no balcão e depois se ajeita em uma das mesas comunitárias em frente ao quiosque, se acotovelando com uma pequena ONU de clientes igualmente hipnotizados pelas voluptuosas iguarias.
Trippa ao vivo em um boxe do mercado |
Gastei € 12 com o almoço no Nerbone.
O primeiro andar do Mercado de Florença é um espaço hype-gastronômico |
O primeiro andar do Mercado de Florença ganhou aquela cara hype-gastronômica que faz sucesso no mundo inteiro — vide o Mercado da Ribeira, em Lisboa, os mercados de São Miguel, San Antón e San Ildefonso, em Madri, e o Mercato Centrale de Termini, em Roma.
Eu não podia ir até lá e ficar só no térreo, né?
Babà alla mandarina, bom demais! |
Sorvetes de pistache e de zabaione, de morrer de tão bons |
Fico meio constrangida em fazer a lista de tudo que experimentei (não, leitores, eu não sou gulosa 😇), mas recomendo vivamente o babà alla mandarina (€ 3,50) e os sorvetes de pistache e zabaione (€ 2,50 o copinho pequeno).
Curte feiras e mercados? Dá uma olhada no monte de lugares legais mundo afora já comentados na Fragata: Feiras e Mercados - Índice
Pertinho da linda Igreja de Santa Croce, minha favorita em Florença, o Baldovino é um restaurante tradicional muito bem reputado pela boa comida e preços módicos.
Menina comportada ganha sobremesa: tiramisù tamanho família |
Como estava comedida, pude pedir sobremesa, um tiramisù muito gostoso. A continha ficou em € 17,50.
Antica Osteria: cardápio escrito à mão e cozinha da nonna |
Sabe aquele prato de tortelli al ragù de javali que você viu na foto mais para o alto da página, aquele que Obelix não recusaria? Então...
Tocado por uma família, a Antica Osteria não tem frescuras: as caixas de biscoitos, produzidos lá mesmo, complementam a decoração do salão.
O cardápio é escrito à mão e o pedido é anotado no canto do jogo americano de papel que recobre a toalha da mesa.
Vin santo e cantucci: não perca isso por nada neste mundo |
Fiquei só no primo piatto — a pasta com ragu — e na tacinha de vinho Sangiovese.
A sobremesa foi uma alegria à parte, cantucci com vin santo, um clássico toscano.
Os cantucci são biscoitos de amêndoa muito duros e ásperos, mas deliciosos. Mergulhados no vin santo, vinho doce de sobremesa, ficam no ponto para a mordida... Simplicidade celestial.
A conta ficou em € 26,50.
TuMiTurbi: trattoria moderninha pertinho da Piazza
della Signoria |
Via Lambertesca 22
Almocei na Trattoria TuMiTurbi no feriado de Reis, no meio da muvuca da festa da Befana (figura do folclore italiano, também celebrada da data) que me fez esquecer a hora da refeição.
O lugar faz o gênero moderninho, com toques industriais na decoração — cimento queimado nas paredes e balcão luminárias de ferro —, peças de prosciutto penduradas em ganchos de açougue e atendimento descontraído.
Pão servido no saco de papel, rigatoni, fritata e zuppa
inglese de sobremesa. Almocinho simples e simpático |
De sobremesa, zuppa inglese, doce feito com pão de ló embebido em licor e recheado com creme e, geralmente, uma cobertura de chocolate.
Uma refeição agradável, em ambiente simpático. Com vinho, a conta ficou em € 24.
Fui atraída pelas mesinhas ao ar livre da Osteria dell'Olio |
Uma regra de ouro para não cair em arapucas turísticas é jamais escolher restaurantes muito próximos das grandes atrações — ainda mais sem pesquisar antes.
Eu fiz exatamente isso no meu primeiro jantar desta temporada florentina e... dei sorte.
A Osteria dell’Olio fica logo atrás do Batistério. Com fome e com preguiça de pesquisar, escolhi o lugar pela cara — a decoração é de muito bom gosto — e pelo fato de ter mesas externas, aliviadas do frio por aquecedores.
Um bom lugar para observar o vai e vem da cidade na primeira noite de 2017.
Bavete e mil folhas: o prato e a sobremesa estavam muito
bons |
É o caso do bavette com trufas e carpaccio de ganso defumado que pedi — e que estava bem gostoso.
A sobremesa foi uma surpresa ainda melhor, um delicioso mil folhas de morango. Com vinho, a conta ficou em € 39.
Ei-la, a bisteca |
Via Luigi Alamanni, 29
Imaginem se eu iria embora de Florença sem comer a famosa bisteca fiorentina... E ela ficou para o meu jantar de despedida da cidade.
Morta de cansada, recorri à recepcionista do meu hotel que indicou esse restaurante, a pouco mais de uma quadra de distância.
Il Portale é uma casa à moda antiga, com jeitão de cantina, sem cair no clichê.
O toque extravagante é a vitrine refrigerada na entrada, exibindo algumas peças de carne. Um cartão de visita que seduz os carnívoros mais empedernidos, mas pode afastar almas mais delicadas.
As carnes penduradas na vitrine do restaurante beiram o pornô. À direita, o salão de Il Portale |
A salada de rúcula também estava ótima, as folhinhas fresquíssimas, temperadas com azeite e um generoso toque de queijo parmesão. Bom jantar que, com vinho, custou € 31.
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Um dos meus sonhos é fazer uma viagem pela Itália passando por várias cidades (e claro, Florença está no topo da lista!). Adoro provar comidas típicas em viagem e confesso que só de ver este artigo deu uma vontade de partir logo (além de que acho que ganhei uns dez quilos só de olhar para as fotos!)
ResponderExcluirEu estou engordando até hoje - cada vez que lembro, ganho meio quilo :)
ExcluirQuando fala nos preços das refeições é para quantas pessoas?
ResponderExcluirPara uma pessoa.
ExcluirCintia, adoro seus posts de viagem
ResponderExcluirsempre que programo uma, dou uma espiadinha no seu blog para ver dicas e roteiros. Continue viajando muito que pra nós é muito útil. Grazie
Que legal :)
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