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O Museu Torres García está instalado nesse predinho art déco muito fofo, na Calle Sarandí, exclusiva para pedestres |
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O Peixe (1928) foi uma das muitas obras de Torres García destruídas no incêndio do Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro, em 1979. O museu do artista exibe esta réplica |
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O Norte é o Sul (1935) é possivelmente a obra mais conhecida de Torres García, uma afirmação da identidade sul-americana |
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O saguão do Museu Torres García tem até um laguinho com carpas |
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As salas de exposição estão distribuídas por quatro andares do museu |
Museu Torres García, Montevidéu
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Torres García dizia que precisava olhas as cidades de longe, como desconhecidas, para pintá-las. Eu acho que o resultado tem muita ternura. Acima, Rua com Casa e Nuvem Branca, de 1928 |
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Igreja em Perspectiva, de 1947 |
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Rua de Nova York, obra de 1940 |
Na exposição “A Cidade sem Nome”, que toma emprestado o título de um dos livros publicados pelo artista, a gente vê como Torres Garcia brincava
com a paisagem urbana, tomando delas os traços que vão virar abstrações
geométricas — ou se derramando em ternura para retratar cenas suburbanas,
bairros operários cinzas e ocres, cotidianos banais que se tornam extraordinários
porque tocados pelo artista.
Nas cidades de Torres García o olhar está sempre voltado para a vizinhanças fabris, para o vai e vem de uma carroça de verdureiro, os cafés boêmios e os bares proletários, a passagem do bonde.
A beira d'água e as embarcações (personagens recorrentes, para alegria desta Fragata) não se prestam a marinas bucólicas, mas à azafama dos portos entranhada na paisagem urbana.
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Em sua fase Mediterrânea, García realizou diversos afrescos com temas clássicos. Este é A Filosofia e a Musa, de 1911 |
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Arquitetura com figuras clássicas, de 1914 |
A sessão “Arte Mediterrânea” se concentra na obra produzida
por Torres García entre 1906 e 1915, quando vivia em Barcelona — nascido em
Montevidéu, filho de um catalão, o artista cruzou o Atlântico com a família,
ainda adolescente, quando seu pai decidiu retornar às origens em busca de
trabalho.
Em Barcelona, Torres García esteve ligado ao Noucentisme (um
trocadilho em catalão que brinca com a ideia de “novecentismo”, referente ao
Século 20, e com “nou”, que significa “novo”. Ele acabou se afastando desse movimento
e se aproximando do Modernismo, especialmente de Antoní Gaudí, o gênio que
arquitetou La Pedrera, a Basílica da Sagrada Família e outros ícones desse
estilo.
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Uma cena de Nova York, onde García tentou a vida, na década de 20 do século passado |
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García também pintou sua Maja Desnuda |
(Se quiser saber mais sobre esses movimentos, veja esses
posts: Roteiro
do Modernismo em Barcelona e O
que ver no Museu Nacional de Arte da Catalunha-MNAC).
Para Gaudí, Torres García chegou a desenhar alguns vitrais para a Basílica da Sagrada Família (que o arquiteto não curtiu e dispensou).
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Arte Construtiva, de 1943 |
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A permanente reflexão de Torres García sobre a arte — seu sentido e função — está em diversos livros e artigos publicados pelo artista |
Joaquín Torres García estudava com muita dedicação a cosmogonia dos povos da América do Sul, que acabou se tornando um elemento essencial à sua arte. Gosto de tentar identificar em seus quadros os traços pré-colombianos que andei vendo por aí, nesse meu vício por sítios arqueológicos. Ao mesmo tempo, o sotaque é sempre Modernista.
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Figuras com Pombas, de 1949 |
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Busto de Toureiro, de 1941 |
García também gostava de construir objetos aparentemente banais (bonequinhos, casinhas), mas absolutamente instigantes. São os juguetes transformables, ou brinquedos transformáveis, aos quais podemos dar o ordenamento que quisermos, jogos de armar que buscam aproximar a arte do lúdico, fugindo da pompa que muitas vezes cerca a contemplação.
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Sou encantada elos brinquedos transformáveis de García. Na imagem Cão, de 1924, e Dois Homens, de 1928 |
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O joguinho de armar que eu entendo como uma vila ferroviária se chama Numerário e foi criado em 1929. Acima, o conjunto exposto no Museu Torres García, abaixo, a minha vilinha na estante aqui de casa |
Reproduções de alguns desses brinquedos estão à venda na ótima lojinha do museu. É claro que eu, que tenho uma coleção enorme de casinhas, não poderia deixar de ter (e de cuidar como um tesouro) a pequena vila feita de bloquinhos de madeira pintados, evocação de um bairro ferroviário.
Comprei minha vilinha na visita ao museu de 2011 e morro de amores por ela.
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Autorretrato de Joaquín Torres García, pintado em 1900 |
Um pouquinho da história de Torres García
Torres García nasceu em Montevidéu, em 1884. Sua formação artística ganhou impulso no final da adolescência, quando se mudou para a Catalunha, terra natal de seu pai com a família.
Lá, foi aluno da Escola Oficial de Belas Artes de Barcelona,
por onde também passaram Pablo Picasso e a nata do Modernismo Catalão, seja na
pintura, na escultura, no design ou na arquitetura.
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Lembranças de Barcelona: no desenho para ilustrar o livro A Cidade sem Nome, García retrata a "Catedral do Povo”, a Basílica de Santa Maria del Mar |
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Em Nova York, Torres García sobreviveu construindo brinquedos de madeira, mas não deixou de pintar |
Em 1921, com 47 anos e filhos pra criar, García foi tentar a vida em Nova York, onde sobreviveu desenhando e fabricando brinquedos de madeira — ocupação que conheceu com o avô materno, uruguaio. De perrengue em perrengue, retornou à Europa e acabou se estabelecendo na França, onde se aproximou do pintor holandês Piet Mondrian e do Movimento De Stijl.
Mas foi só a partir de 1935, de volta a Montevidéu,
que Torres-García iria cozinhar todas essas referências em seu Universalismo
Construtivo genial.
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A Grade esculpida em ferro exposta no saguão do museu lembra
a obra Grafismo em Branco e Preto, um dos 74 trabalhos de Torres García
destruídos no incêndio do MAM |
Em 1978, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro realizava
uma exposição sobre Torres García, com obras cedidas por diversos acervos. Na
madrugada de 8 de julho daquele ano, um incêndio furioso destruiu o museu, que
na época era um dos mais importantes do Brasil.
Entre as perdas irreparáveis — arderam obras de
Picasso, Magritte, Miró, Portinari, Di Cavalvalcanti... — nada menos do
que 74 trabalhos do pintor uruguaio foram destruídos.
Torres García pelo mundo
Você verá o trabalho de Joaquín Torres Garcia nos principais museus do planeta. Eu, que sou fã descabelada do artista, divido os museus em duas categorias: os que têm e os que não têm obras do meu xodó — eu digo isso em relação a El Greco também. Museu bom tem que ter esses dois no acervo.
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O Beaubourg de Paris dedica uma sala inteirinha a
Torres-García. O peixe é uma imagem recorrente na obra do artista. A escultura em madeira (acima) é de 1946 |
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Estrutura com Esquema de Objetos, Torres-García no Museu Botero, em Bogotá |
Mas nada se compara, em intimidade, a visitar esse pequeno e singelo museu dedicado a Joaquín Torres Garcia em Montevidéu. Quando for à cidade, não perca. Quem sabe, você fica tão apaixonada quanto eu?
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Torres-García no Museu Nacional de Belas Artes de Buenos Aires (MNBA) |
O Uruguai na Fragata Surprise
Colónia del Sacramento
Punta del Este
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