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Confeitaria Las Violetas, inaugurada em 1884, patrimônio de
Buenos Aires |
Os bares, cafés e confeitarias históricas de Buenos Aires representam muito mais do que lugares onde se toma um trago ou se faz um lanche. São pontos de encontro de ideias, movimentos artísticos e políticos. Eles atravessam décadas reunindo gente e mantendo vivas características que fazem da capital argentina uma cidade única e sedutora.
Eu, é claro, me esbaldo nessa tradição a cada temporada portenha e sempre bato o ponto em lugares como o Bar Británico, Café Dorrego (que no final mudou de nome para “Café y Bar Plaza Dorrego”) e a Confeitaria Las Violetas.
Neste post você vai encontrar um roteirinho com oito desses cafés, bares e confeitarias históricas de Buenos Aires que merecem a visita. Siga o mapa e divirta-se.
Bares, cafés e confeitarias históricas de Buenos Aires
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Bar Los 36 Billares, na Avenida de Mayo, e o Café La Poesia,
em San Telmo: duas instituições portenhas que seguem firmes e fortes |
Leia também: Comer e beber em Buenos Aires
Os critérios para entrar na lista vão muito além da antiguidade. Os 73 Bares Notáveis de Buenos Aires são reconhecidos pelo seu valor arquitetônico, histórico e cultural e pela sua presença na história viva da cidade, de um bairro ou de uma comunidade.
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El Hipopótamo já passa dos 110 aninhos e continua em plena
forma |
Mas estar na lista de notáveis pode ser a porta para a preservação, como se vê na história de Las Violetas e do Bar Británico. Foi também o caso da querida Confitería Ideal, point de famosas milongas, fechada em 2017 para uma longa reforma e reaberta agora, em julho de 2022.
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Depois de um quarto de século em ruínas, a Confitería del Molino está pronta para voltar aos dias de glória |
Veja a minha lista de bares, confeitarias e cafés de Buenos Aires para colocar no seu próximo roteiro:
Avenida de Mayo nº 590, entre Perú e Bolívar
Diariamente, das 6h às 23h
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London City: com o cerco turístico ao Tortoni, acho que os portenhos que circulam pela Avenida de Mayo fugiram todos pra lá |
Cada vez mais enxotados do Café Tortoni pelo excesso de turistas, os portenhos que curtem um café histórico não ficaram sem teto na Avenida de Mayo. A apenas 300 metros de distância, na direção da Praça de Maio, o London City é quase um oásis livre de selfies, perfeito para uma pausa na histórica via do Centro de Buenos Aires.
Misto de café, bar e confeitaria, o London City tem serviço profissionalíssimo, bons drinques, opções para almoço, jantar ou merenda. A decoração não trai o nome da casa: a sobriedade dos painéis de madeira tem mesmo uma cara londrina.
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Prestes a completar 70 anos, o London City é um broto entre seus coleguinhas notáveis, mas sabe se comportar como gente grande |
Aberto em 1954, o London City é quase um broto, comparado com a maioria de seus coleguinhas na lista de bares, cafés e confeitarias históricas de Buenos Aires, mas o caçula se comporta como gente grande quando se trata de oferecer aos frequentadores aquele sossego para ler o jornal, papear com os amigos ou pensar na vida.
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O melhor chocolate quente da minha mais recente temporada portenha e a elegância dos mármores e madeiras nobres no London City |
E foi lá que tomei o melhor chocolate quente da minha gelada temporada de setembro/2022 em Buenos Aires.
Aberta diariamente, das 6h à 1h da manhã. Aceita American Express.
Tão bonita quanto o Café Tortoni (a decoração das duas casas foi concebida arquiteto catalão Antonio Estruch) Las Violetas é muito menos turística do que o famoso café da Avenida de Mayo.
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Antes de tomar posse de sua mesa, espere pegar alguma fila
na porta da Confeitaria Las Violetas. Mas é rápido |
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Maria Callas no chá da tarde de Las Violetas |
Como cheguei na hora do chá, escolhi o menu Maria Callas (completíssimo), uma alentada bandeja com sanduíches, scones, torradas, geleias, tortas e docinhos, acompanhada por chá, chocolate (minha escolha) ou café. Tudo bem gostoso. Custou R$ 70 na minha visita de 2017 e serve três pessoas com folgas.
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Fala se o Bar Británico não é fofo |
Avenida Brasil 399 (esquina com Defensa), San Telmo.
Aberto diariamente das 7h da manhã às 3 da madrugada.
Não aceita cartões.
Aposto que há uma penca de lugares no mundo, cidades inteiras, que não carregam nem um décimo do enredo do Bar Británico.
Sou fã de carteirinha desse pedacinho da história de Buenos Aires e pra mim não existe passar pela cidade sem bater o ponto por lá, provar as célebres empanadas da casa e matar umas horinhas lendo o jornal e comentando o noticiário com os ocupantes das mesas vizinhas.
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O Bar Británico e o café El Hipopótamo ficam frente a frente, mas não concorrem: eles se somam para fazer do encontro da Avenida Brasil com Defensa uma esquina muito especial de San Telmo |
Fundado no comecinho do Século 20, o Bar Británico foi batizado em alusão aos trabalhadores da ferrovia que partia da Plaza Constitución, ali pertinho, muitos deles ingleses, como a empresa que operava a linha de trens.
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O menu do dia do Bar Británico sempre oferece opções
interessantes a bons preços |
O Bar Británico não escapou à perseguição das diversas ditaduras que assombraram a Argentina — durante a Guerra das Malvinas, em 1982, quando a Argentina tentou retomar a posse do arquipélago, ocupado pelos ingleses desde as Guerras Napoleônicas, chegou a ser obrigado a mudar de nome para não “homenagear o inimigo”.
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Pra mim, não existe passar por Buenos Aires sem pedir a
benção à empanada do Británico |
O intento, porém, deu de cara com a firme mobilização de moradores de San Telmo, frequentadores em geral — um elenco que incluía artistas famosos e políticos proeminentes. O despejo durou quase um ano, mas o bar ressurgiu restaurado e tão vivo quanto antes.
O Bar Británico vale como farra, como experiência antropológica ou pra anotar no currículo acadêmico. Só não deixe de ir. Ah, as empanadas continuam gostosas.
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Meu primeiro amor em Buenos Aires foi o charme antiguinho do
Bar Dorrego |
Plantado no coração de San Telmo, o Café e Bar Dorrego foi meu primeiro amor em Buenos Aires.
O boteco que se orgulhava de ter servido de palco para uma legendária tertúlia protagonizada pelos escritores Jorge Luis Borges e Ernesto Sábato (imortalizada em uma foto exibida em lugar de honra na parede do bar) e chegou aos 140 anos de idade sempre reunindo gente interessante.
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Se tem gente à vontade pra achar que Elvis não morreu, não exijam que eu sepulte o Bar Dorrego tão cedo 😊 |
Essa origem persistiu na decoração, especialmente nas caixas de madeira que armazenavam produtos a granel, que permaneciam penduradas em uma das paredes. O mobiliário ainda era o original de quando o lugar se transformou em bar.
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Essas mesinhas na Praça Dorrego agora são apenas um retrato
na parede — e como doem 😌 |
Quando não estava muito frio, havia serviço também em mesas distribuídas pela Praça Dorrego, do outro lado da rua, à sombra de árvores centenárias.
Mas nada se comparava a bebericar um cálice de xerez no salãozinho acanhado do Bar Dorrego, com seu piso xadrez, mesas gastas e cadeiras meio bambas.
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Café La Biela, homenagem aos ases do volante |
Diariamente, das 7h às 2h da manhã.
Aceita Visa, Mastercard e American Express.
Decano dos cafés históricos de Buenos Aires, o La Biela funciona desde 1850, quando a Recoleta era ainda um bairro afastado do centro, prestes a se tornar refúgio das famílias mais ricas da cidade, que se mudavam de San Telmo para evitar os mosquitos e a epidemia de febre amarela que atormentava os portenhos.
Fundado como Café La Viridita e posteriormente rebatizado como Aero Bar (em referência aos pilotos da aviação civil que formavam parte da sua clientela) ganhou o nome de La Biela (“A Biela) quando já tinha 100 aninhos de idade.
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Bastou o frio dar uma treguazinha, olha lá o povo ocupando a
área externa do Café La Biela |
Além dos ases do volante (Emerson Fittipaldi e Jackie Stewart entre eles), La Biela também recebia visitas dos escritores Jorge Luis Borges e Adolfo Bioy Casares.
Eu gosto mais de La Biela no verão, quando se pode sentar à sombra de uma frondosíssima árvore que fica ao lado do café.
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O salão do La Biela |
Como estava hospedada bem pertinho, sempre dava uma passadinha no La Biela e até jantei lá uma noite.
Pedi a milanesa de ternera, que estava apenas comestível (a do Lamas, no Rio, é infinitamente melhor), mas a conta, com bebidas, não pesou no orçamento: R$ 43.
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O concorrido e irresistível Tortoni. A fila na porta do café
mais famoso de Buenos Aires fala português |
De segunda a sábado, das 8h à 1h da manhã. Aos domingos, das 9h à 1h.
Aceita Visa, Mastercard e American Express.
Favorito de dez entre dez forasteiros que visitam Buenos Aires, o Café Tortoni está sentindo o impacto do turismo excessivo em seus belos salões.
A fila permanente na porta já não permite que os frequentadores possam pedir um café e deixar o tempo correr lendo o jornal — o que é, afinal, a grande graça de se frequentar um café de verdade.
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Os belos salões do Café Tortoni andam numa vibe meio
linha de montagem, mas ainda vale dar uma passadinha pelo "velho
senhor" |
Você chega, senta, faz o pedido e, se começar a demorar muito, já vai ser discretamente pressionada pelos garçons para consumir mais alguma coisa ou bater em retirada.
Uma pena, porque o Tortoni é um dos lugares mais bonitos para uma pausa relaxada em Buenos Aires.
Apesar da “linha de montagem” resultante do excesso de frequentadores, eu não abro mão de dar uma passadinha no Café Tortoni quando vou a Buenos Aires.
Adoro sua decoração escancaradamente Belle Époque, seus mármores — os verdadeiros e os falsos — seus vitrais e a pompa com que os garçons mais velhinhos ainda atendem a clientela.
As tertúlias de La Peña atraiam frequentadores do quilate da poeta Alfonsina Storni, do pianista Arthur Rubinstein, do escritor siciliano Luigi Pirandello, do filósofo José Ortega y Gasset e... Jorge Luis Borges (já reparou que Borges aparece na história de quase todos os cafés deste post? Ô, boêmio...😊).
Enquanto as atividades de La Peña aconteciam na Bodega (o porão do Tortoni), o salão fervilhava com celebridades como Carlos Gardel, Juan Manuel Fangio e o poeta e dramaturgo espanhol Federico García Lorca.
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El Hipopótamo: pouca fama e um tremendo bom astral |
Diariamente, das 7h às 2h da manhã (sextas e sábados, estica até as 4h).
Aceita American Express.
O fato de estar localizado na calçada em frente ao Bar Británico talvez roube muito da cena do Hipopótamo. Mas esse bar fundado em 1909 também bate um bolão no quesito boteco-histórico-charmoso-e-cheio-de-histórias.
Vou menos lá do que gostaria quando estou na cidade, mas ele é um dos meus queridinhos portenhos, uma das certezas de que a farra vai longe, com seu largo horário de funcionamento, também até as três da manhã.
Assim como o Bar Dorrego,o Hipopótamo também entrou na boemia como armazém onde se vendiam bebidas. Aos poucos, os gêneros a granel foram dando espaço para a farra e pronto, eis mais um bar para a lista de notáveis.
Dizem que era o favorito de Ernesto Sabato. Em tempos mais recentes, o cineasta Juan José Campanella, de O Segredo dos seus Olhos e Luna de Alvellaneda é uma das celebridades portenhas que bate o ponto por lá.
Funciona nos mesmos horários da bilheteria, que fica no mesmo espaço: de segunda a sábado, das 10h às 20h. Domingos, até as 17h.
Este café é o único deste post que não está na lista oficial dos notáveis reconhecidos pela Prefeitura de Buenos Aires.
Ele está instalado na antiga entrada das carruagens, na lateral do Teatro Colón, construída para que os elegantes não precisassem tomar chuva ao chegar para os espetáculos.
Esse acesso também tinha uma espécie de passagem secreta que permitia às viúvas e enlutadas em geral entrarem no teatro sem o olhar escrutinador da sociedade sobre elas — mesmo de luto, quem resiste a um concerto no Teatro Colón, né?
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O Café do Teatro Colón é um bom aperitivo para este deslumbramento aqui |
Não espere muito dos itens de confeitaria, mas vale pedir uma taça de vinho e curtir a atmosfera.
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Oi, Cyntia. Tudo bem? :)
ResponderExcluirSeu post foi selecionado para o #linkódromo, do Viaje na Viagem.
Dá uma olhada em http://www.viajenaviagem.com
Até mais,
Bóia – Natalie