Logo na entrada da sala de exposições, uma avalanche do brilho de Segall com as obras Interior de Pobres (ao fundo, às esquerda), Eternos Caminhantes (ao centro) e Navio de Emigrantes (à direita) |
Além do acervo, o Museu Lasar Segall tem instalações adoráveis — o núcleo é a casa modernista onde viveu o artista, projetada por Gregori Warchavchik —, jardins aconchegantes e a vocação de funcionar como espaço vivo e democrático, sempre buscando atrair um público que não beberica coquetéis em vernissages, mas reconhece a beleza quando a vê.
Em Interior de Pobres (1921), Segall retrata a miséria e o desalento do povo alemão após a I Guerra |
Navio de Emigrantes (1939) |
Já fazia um tempinho que eu não visitava o Museu Lasar
Segall, mas tratei de matar a saudade na passagem mais recente por São Paulo. E
quer saber? Taí um lugar que eu gosto mais cada visita.
Funcionando a cerca de 500 metros de duas estações de metrô
(Vila Mariana e Santa Cruz) e com entrada gratuita, o Museu Lasar Segall é um
super programa e merece figurar no topo de todas as listas sobre o que fazer em
São Paulo.
Não tenha dúvida de incluir o meu museu favorito na Pauliceia no seu próximo roteiro na cidade. Veja as dicas para organizar sua visita:
Os jardins do museu exibem esculturas de Lasar Segall |
Visita ao Museu Lasar Segall
Schmertz (Dor), litografia de 1909 |
Na primeira vez que eu visitei o Museu Lasar Segall, já se vão algumas décadas, eu fui ver a arquitetura.
A casa que abriga o museu, projeto de Gregori Warchavchik (cunhado de Segall) inaugurado em 1932 era um dos grandes amores do meu amigo Luiz Otávio, o cara que me ensinou a cultuar os deuses da prancheta e da régua T.
E a boba aqui achou que ia só ver arquitetura... 😊 |
E aí, nessa inocente tarefa de ver um edifício — considerado um marco do modernismo em São Paulo — eu fui fisgada irremediavelmente pela arte de Lasar Segall (a arquitetura sempre dá lindos presentes ao meu olhar e este foi um dos mais generosos).
Depois deste primeiro encontro, a boba que achou que ia só ver arquitetura já perdeu a conta das visitas que fez ao Museu Lasar Segall e encontrou um de seus artistas favoritos no mundo.
Encontro (1924) |
O Museu Lasar Segall conta com uma alentada biblioteca, muito usada por pesquisadores de artes em geral, e um cinema com excelente programação, o Cine Segall. O percurso museológico é bem didático, com muitas informações sobre os quadros, as fases do artista e o contexto das obras.
A visita ao Museu Lasar Segall pode ficar ainda mais interessante se, antes de ir, você fizer uma liçãozinha de casa, acessando a visita virtual com audioguia, pra ter uma ideia das principais obras que verá ao vivo.
Mas o mais importante de tudo é ver Segall cara a cara. E o museu tem uma coleção de mais de 3 mil obras do artista (claro que apenas um pequena parcela delas está em exposição), além de documentos e fotografias. Isso faz da instituição um grande centro de estudos sobre o trabalho e a vida do nosso maior expoente do Expressionismo.
E digo nosso sem qualquer vacilação. É verdade que Segall já era um artista pronto e respeitado quando se mudou da Alemanha para o Brasil, mas acredito de verdade que ele se queria brasileiro — basta olhar o quadro Encontro (1924), onde o artista se autorretrata como um mestiço de pele escura, um ano após fixar residência no país.
Figura com Reposteiro (1954), da série Erradias |
Rua (1922) trata da prostituição em Berlim na Década de
20. A tela recria uma litografia feita por Segall para a série Bubu, do ano
anterior, inspirada no romance homônimo |
Mulheres do Mangue com Fonógrafo, xilogravura de 1929 |
Dois Nus (1930), obra pintada em Paris, mas ambientada
no Mangue, no Rio de Janeiro |
E Lasar Segall foi um brasileiro que teve lado. O lado dos trabalhadores, dos excluídos, dos anônimos. Os desenhos da série Mangue são considerados uma ruptura fundamental, pelo olhar compassivo, sem espetacularização ou caricatura, que dedica ao cotidiano de bordéis e cabarés do Rio de Janeiro.
Estudo para Campo de Concentração (1945) |
No alto e acima, dois detalhes de Navio de Emigrantes |
Ainda adolescente, mudou-se para a Alemanha para estudar
arte em Berlim e em Dresden. Em 1919, foi um dos fundadores do movimento Secessão
de Dresden, reunindo artistas de inspiração Expressionista e grande apego à temática
social.
Escultura Emigrantes (1934) e, ao fundo, tela Eternos Caminhantes |
Segall já era um artista consagrado quando se mudou para o Brasil, em 1923, com obras incorporadas às coleções de importantes museus da Alemanha.
Anos mais tarde, 49 desses trabalhos seriam apreendidos pelos nazistas e exibidos na infame mostra de Arte Degenerada (1937), um ataque raivoso ao Modernismo e demais formas de expressão artística que abraçasse um padrão estético destoante do natural.
Paisagem Brasileira (1925) é resultado do encontro de Segall com "o milagre da cor e da luz" no Brasil, como ele dizia |
E também tem as cores da Aldeia Russa, pintada em 1912 |
Uma parte dessas obras seria posteriormente destruída. Mas o esforço da família Segall conseguiu resgatar um conjunto de gravuras e a única tela sobrevivente da sanha nazista, Eternos Caminhantes (1919), um pouco de sua própria experiência de desterros e despertencimentos. A tela hoje é um dos grandes destaques no acervo do Museu Lasar Segall.
Eternos Caminhantes foi a primeira obra modernista
incorporada ao acervo do museu público de Dresden, em 1919. Em 1933 (ano da ascensão
do nazismo), foi incluída em uma exposição local de arte degenerada.
Ao final da II Guerra, a obra estava desaparecida e acreditava-se
que tivesse sido destruída até ser reencontrada em Paris, em 1954. O
desembarcou no Brasil em 1958, um ano após a morte de seu autor.
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