Port Vell e a Rambla del Mar: o primeiro dia do meu roteiro em
Barcelona foi uma longa caminhada de reencontro com a cidade |
Este roteiro em Barcelona, portanto, teve muitas estreias. Mas quem disse que eu resisti à reprise dos clássicos da capital catalã?
Uma das muitas fachadas encantadoras do Bairro de Gràcia,
onde me hospedei as três primeiras noites em Barcelona |
Passei cinco dias inteiros na cidade. Se você está indo pela primeira vez, procure montar um roteiro em Barcelona com uma folga de tempo parecida com essa.
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Em cinco dias, é possível transitar com calma pela imensa diversidade de Barcelona, que vai das mais recentes tendências — na gastronomia, nas artes, nas festas — a memórias que chegam ao tempo da colonização romana, há quase 2.000 anos.
Passando pelo Modernismo Catalão, é claro, essa exuberante e atrevida tradução local da Art Nouveau.
O interior da Catedral de Barcelona é apenas celestial. Quando montar seu roteiro no Bairro Gótico, coloque-a no topo de sua lista |
Barcelona foi uma potência comercial e militar mediterrânea durante a Idade Média. Essa prosperidade sempre favoreceu as belas construções.
Barcelona também tem a tradição de ser insurgente e resistente. Basta lembrar da Guerra da Sucessão Espanhola (Século 18), do enfrentamento à ocupação de Napoleão (Século 19) e da luta contra o franquismo, durante a Guerra Civil (1936-1939).
Bairro Gótico: no alto, uma livraria da velha guarda. Acima,
o tradicional dragão, símbolo de Barcelona, na aldrava de um edifício |
Uma história dessas não passa em branco por uma cidade. E ela é uma super inspiração para um roteiro em Barcelona.
Essa história nos leva pela mão nas ruas do Bairro Gótico, na arquitetura apaixonante do Eixample e no charme de El Born — mas não esqueça de reservar um tempo para o Século 21, porque ele está a mil por hora nessa cidade que está sempre na vanguarda.
Veja mais: Roteiro do Modernismo em Barcelona - o Passeig de Gràcia
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"Tapear", comer e beber em Barcelona - 15 dicas
Roteiro do meu "intensivão" no primeiro dia em Barcelona: segundo o GoogleMaps, eu caminhei 5,9 km — mas o aplicativo não viu as voltas que eu dei para cumprir esse percurso 😉 |
Caminhei muito mais do que os 5,9 km do passeio que tracei no Google Maps pra reproduzir aqui no blog — mas como explicar a um aplicativo que flanar não é um verbo que se conjuga em linha reta?
Como um disco dedicado aos maiores sucessos de um grande artista, eu também já tinha ouvido (muito) todas as faixas desse meu primeiro dia de roteiro em Barcelona. Mas acho que nem preciso explicar o prazer de, depois de tanto tempo, reconhecer cada acorde e cantar junto, sabendo as letras de cor.
La Pedrera, de Gaudí, a grande estrela do Passeig de Gràcia |
Comecei o passeio na Carrer Gran de Gràcia, onde eu fiquei hospedada e que desemboca no célebre Passeig de Gràcia, já no Bairro do Eixample.
O Passeig de Gràcia é o mitológico bulevar modernista de Barcelona. É lá que se perfilam alguns dos edifícios mais representativos desse estilo arquitetônico: La Pedrera (no nº 93 da avenida) e a Casa Batllò (no nº 43), ambas de Gaudí, a Casa Amatller, de Puig i Cadafalch (no nº 41) e a Casa Lleó-Morera, de Domènech i Montaner (nº 35).
A Casa Amatller (esq) e a Casa Batlló, no Passeig de Gràcia |
⭐Da Plaça de Catalunya ao Bairro Gótico
Descendo o Passeig de Gràcia, cheguei à Plaça de Catalunya, onde aproveitei para comprar um chip de celular no variadíssimo magazine El Corte Inglés (o chip da Orange custou € 20, com 15 giga no pacote).
A Plaça de Catalunya vista do último andar de El Corte
Inglés |
No último andar de El Corte Inglés funciona uma espécie de praça de alimentação, com várias comidinhas interessantes e uma vista muito legal para as torres e telhados do Passeig de Gràcia e a Plaza de Catalunya.
Devidamente conectada à internet, segui para o Bairro Gótico pelo Portal del Angel — adiei o reencontro com as Ramblas, que começam na Plaça de Catalunya, para escapar das eternas multidões de turistas.
No alto: as ruas de El Call têm uma poesia que eu não sei
explicar... Acima, a agulha da torre da Catedral de Barcelona |
Mas é sempre um prazer explorar recantos menos famosos, ter tempo para andar sem rumo certo, garimpar detalhes.
Olha mais um dragãozinho fofo de Barcelona. Este fica numa
ruazinha muito estreita de El Call |
Experimente perambular por El Call, o gueto judeu de Barcelona até o Século 14. É lá que as ruas do Bairro Gótico parecem mais estreitas e poéticas.
Veja esse roteiro no Bairro Gótico
⭐El Born
A Via Laietana é a fronteira entre o bairro Gótico e outra área de Barcelona que adoro, o bairro do Born, ou La Ribera. Na idade média, era reduto de pescadores, estivadores e marujos. Hoje é uma vizinhança muito charmosa — há uns 10 anos, não havia nada mais descolado em Barcelona.
A Igreja de Santa Maria del Mar deve ser a faixa mais
tocada no meu disco de Barcelona. Sei de cor e não canso |
No Born ficam a rua medieval mais preservada de Barcelona, a Carrer de Montcada, endereço do Museu Picasso, e a comovente "catedral do mar", a Basílica de Santa Maria del Mar, do Século 13.
No alto, detalhe da porta principal e, acima, a fachada da
Igreja de Santa Maria del Mar |
Ainda que meu roteiro em Barcelona, neste primeiro dia, fosse só para flanar sem compromisso, não resisti a entrar em Santa Maria del Mar e esquadrinhar cada cantinho dessa igreja tão bela e tocante.
➡️ Quando você for visitá-la, reserve cerca de 1h30, especialmente se quiser subir às torres e ao terraço da igreja para contemplar uma linda vista de Barcelona.
Saiba mais sobre Santa Maria del Mar e outras igrejas lindas de Barcelona:
1.000 anos de história em 10 igrejas de Barcelona
El Cap ou A Cabeça de Barcelona, obra do artista
Pop Roy Lichtenstein, na "esquina" do Bairro Gótico com o mar |
O símbolo mais conhecido do encontro de Barcelona com o
Mediterrâneo é o Monumento a Cristóvão Colombo, no finalzinho das Ramblas |
Do Born à beira d’água é um pulinho. Quando dei por mim, estava perambulando pelo Passeig de Colom (Passeio de Colombo), uma clássica promenade de orla marítima, e por Port Vell, o antigo porto de Barcelona que agora é uma baita área de lazer.
Essa é uma escala que não dispenso em Barcelona: a marina está sempre cheia de veleiros ancorados e a Fragata adora encontrar os parentes 😊.
Saiba mais: Barcelona e o mar: roteiro pela história marítima da cidade
Já que a caminhada meio em devaneio me levou até o mar, lá fui eu encerrar o dia no Museu Marítimo de Barcelona, uma das minhas paixões na cidade — o dia era só pra flanar, mas quem resiste a um museu marítimo?
O museu traça um panorama interessantíssimo da relação histórica de Barcelona com o mar. Fiquei cerca de duas horas no museu, vendo embarcações antigas e curtindo o delicioso jardim onde funciona um café — e o aceso ao jardim é grátis, tá?
Saiba mais: O que ver no Museu Marítimo de Barcelona
Depois desse intensivão sentimental por Barcelona, só tive forças pra subir as Ramblas, com sua muvuca de sempre.
Meu destino era o Mercado da Boqueria, onde umas tacinhas de cava (espumante catalão) acompanhadas de fatias de jamón (presunto) me devolveram as forças para pegar o metrô, voltar pra a pensão e encerrar meu primeiro dia de roteiro em Barcelona.
Barcelona vista das escadarias do MNAC, em Montjuïc |
2º dia: Museu Nacional de Arte da Catalunha e passeio por Montjuïc
Se você ficou cansada só de ler meu roteiro do primeiro dia em Barcelona, imagina eu, que andei feito uma camela 😊. É por isso que resolvi maneirar muito no segundo dia.
Fui conhecer uma senhoríssima atração de Barcelona: o Museu Nacional de Arte da Catalunha (MNAC).
Veja detalhes: Barcelona: o que ver no Museu Nacional de Arte da Catalunha (MNAC)
E nem precisa andar tanto em Barcelona. Veja essas dicas:
Transporte em Barcelona: como chegar e como circular pela cidade
Tela de El Greco e um afresco românico expostos no MNAC |
O MNAC tem um dos melhores acervos de Arte Românica (século 11 ao 13) do mundo, uma coleção Modernista de rasgar a roupa — pintura, escultura, mobiliário, peças decorativas e artes gráficas — e um acachapante tesouro em fotografias, com trabalhos de gente como Agusti Centelles.
Gostei tanto do MNAC que fiquei cerca de cinco horas por lá, contando as pausas na cafeteria. Depois, aproveitei para passear por Montjuïc.
A coleção de mobiliário modernista do MNAC é muito legal |
3º dia: dois espetáculos do Modernismo Catalão
A Sagrada Família é a obra mais famosa de Antoni Gaudí em
Barcelona |
Detalhe da decoração modernista do Hospital Sant Pau |
Na minha última visita à cidade, o Hospital Sant Pau ainda não estava aberto à visitação. Ele foi, com certeza, a novidade mais deslumbrante que Barcelona me apresentou nessa temporada. Dediquei umas 3h30 a ele — teria ficado mais, mas a atração fecha às 18:30h.
O Hospital Sant Pau é um conjunto arquitetônico espetacular.
Não perca essa super atração de Barcelona |
4º dia - Fundação Miró e mais Modernismo
Depois de uma escapada maravilhosa até Valência, voltei a Barcelona, já em ritmo de fim de viagem e despedidas.
E vocês acreditam que eu ainda não tinha visitado a Fundação Joan Miró? Aproveitei meu quarto dia na cidade pra sanar essa lacuna.
Fundação Miró: adorei!! |
Sou muito fã da Arte Surrealista de Miró — ele toca muito mais meu coração do que Salvador Dalí, seu eu estiver autorizada a dizer isso sem apanhar no meu próprio blog 😄.
Sem contar que Miró foi uma espécie de "irmão mais velho artístico" do meu xodó, o uruguaio Joaquín Torres García (que disputa com El Greco o título de pintor mais citado na Fragata).
Pra mim, são passarinhos. O título da tela é apenas Pintura |
Pois essa estreia em Barcelona fez muito bem pra minha alma: amei a Fundação Miró. Mais do que um museu, ela é um centro de estudos e promoção da Arte Contemporânea. Foi criada pelo próprio Miró, com obras doadas pelo artista à cidade de Barcelona.
É uma aula muito lúdica (Miró não ia querer diferente).
A visita à Fundação Miró é pra ser feita sem pressa. Aprendi muito sobre o artista, amei o edifício e a vista para Barcelona.
Saiba mais: Barcelona - Montjuïc e a Fundação Miró
Ô, coisa boa é um safári arquitetônico... |
Depois desse mergulhinho surrealista, voltei ao Eixample para mais um safári de fachadas modernistas pelas Rambla de Catalunya e outras paralelas e transversais do Passeig de Gràcia. As construções podem não ser tão famosas, mas batem um bolão.
Vestígios de Barcino, a Barcelona Romana, e um altar da Igreja de Santa Maria del Pi, no Bairro Gótico |
5º dia - Museu de História de Barcelona e despedida do Bairro Gótico
Meu último dia em Barcelona foi pura jornada sentimental. Flanei um bocadinho pelo Eixample (estava hospedada na Carrer de Valencia) e toquei para o Bairro Gótico para me enroscar sem pressa por recantos que sempre me provocam uma felicidade nostálgica que eu gosto muito de sentir.
Adoro me perder por aí |
Foi um dia de revirar as poucas velhas livrarias que ainda resistem ao avanço das lojas de souvenir de baixa qualidade, de namorar vitrines de antiquários e voltar a me encantar com a quietude da Plaça de Sant Felip Neri, a me comover com a bela sóbria da Igreja de Santa Maria del Pi.
E já que soltei a franga das reprises de grandes clássicos, encerrei o passeio caminhando por uma rua de Barcino, a Barcelona dos romanos, que fica no subsolo do meu queridinho Museu de História de Barcelona.
Cabia mais coisa neste roteiro em Barcelona? Claro que sim. Mas deixaria pouco tempo para o melhor da cidade, que é andar à toa, tapear e bebericar sem pressa e sentir o pulso da cidade.
A Europa na Fragata Surprise
"Flanar não é um verbo que se conjuga em linha reta " . Poesia gótica em seu estado mais puro. Cuidado Augusto dos Anjos!!!
ResponderExcluirKenneth
Encantado com o texto ágil e inteligente da autora somado às lembranças de Barcelona, tão querida, que tive o privilégio de conhecer há 30 anos ciceroneado por um catalão e retornar em 2017 para matar saudades represadas. Viajei novamente pelo delicioso texto e minhas diletas memórias. Obrigado Cynthia. Ganhou mais um admirador.
ResponderExcluirObrigada, Mário, é um prazer tê-lo como passageiro deste Fragata :)
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