Livraria El Ateneo Grand Splendid, a mais famosa de Buenos
Aires. Algumas estimativas dizem que recebe 1 milhão de visitantes por ano |
Mas Buenos Aires é a campeã mundial na relação livrarias por habitantes: uma para cada 3.800 moradores, de acordo com o World Cities Cultural Forum.
O resultado dessa fartura é que não conheço melhor lugar no mundo para garimpar livros do que Buenos Aires.
Mas também, quem é que resiste à beleza de El Ateneo? |
As livrarias de Buenos Aires transformam cada visita que faço à cidade em um mundo de descobertas. Novos e velhos autores que vão se somando aos meus caminhões de amores literários.
E tem o prazer de sentir o cheiro do papel impresso praticamente em cada esquina, a pechincha dos sebos — e o permanente pânico de incorrer no excesso de bagagem, na hora de voltar pra casa 😂.
Que o digam as multidões de turistas que passam pela El Ateneo Grand Splendid todas as semanas.
Nesta passagem pela cidade, dediquei um dia inteirinho para fuçar as livrarias de Buenos Aires.
As mais bacanas eu reuni neste post, que é pra você se inspirar e aproveitar — e fazer umas comprinhas, por que não? Bora passear? Dá uma olhada no mapinha abaixo para se localizar 😊.
5 livrarias em Buenos Aires pra seu roteiro
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Horários: De segunda a quinta, das 9h às 22h. Sextas e sábados, até meia-noite. Aos domingos, do meio-dia às 22h.
O Teatro Grand Splendid, que agora abriga a livraria, foi
inaugurado em 1919 |
As cortinas de veludo do Teatro Grand Splendid se abriram
para grandes estrelas, como Carlos Gardel |
Antes de entrar na Livraria Ateneo, pare um minutinho para ver os detalhes da fachada do edifício que abriga a livraria |
Basta prestar um pouquinho de atenção para perceber que uma parcela expressiva dos visitantes em El Ateneo está mais interessada em fotografar o esplendor de sua decoração perfeitamente preservada.
Ninguém fica imune à cúpula pintada por Nazareno Orlandi, aos douramentos que volteiam pelos camarotes e galerias do teatro, seus lustres e veludos.
As galerias do teatro agora acomodam livros |
E o palco abriga um café |
No antigo palco — onde Carlos Gardel se apresentou em diversas ocasiões — funciona um café (a empanada não vale a pena). No subsolo da livraria há um setor exclusivo para crianças.
Eu não gostei da empanada do café de El Ateneo, mas a torta de limão é boa |
A cúpula pintada por Nazareno Orlandi é uma das estrelas da Livraria El Ateneo Grand Splendid |
No quesito garimpo e compras, eu acho a Livraria El Ateneo muito parecida com uma megastore (o que, de fato, ela é).
O acervo da Ateneo Grand Splendid é vasto, sim, e a equipe é prestativa. Mas o clima é impessoal e não estimula muito a descoberta.
Se você perguntar por determinado autor, os funcionários vão localizar as obras em estoque em um computador, mas não vão esticar a conversa, apresentando outras possibilidades ou recomendando obras e escritores, como acontece em livrarias menores e mais “íntimas”.
Clásica y Moderna: enquanto forem folheados e
experimentados, estes livros permanecem vivos |
Horário: de segunda a sábado, das 9h à 1h da manhã.
Prestes a completar 80 anos, “Clásica”, como a chamam os habitués, é muito mais que uma livraria.
Clásica y Moderna é um pequeno centro cultural que promove espetáculos musicais, recitais de poesia e debates. Também é a sede de um charmoso café/restaurante que está inscrito na lista oficial de “bares notáveis” mantida pela Prefeitura de Buenos Aires.
Foi inaugurada em 1938, já herdeira de uma tradição livreira iniciada em 1916, a cargo da família Poblet. E a Livraria Clásica y Moderna já nasceu com vocação para ponto de encontro, convertendo-se rapidamente na sede de animadas tertúlias literárias.
Na década de 50, a livraria fervilhava de debates políticos e boemia, tradição interrompida pelas sucessivas ditaduras que assolaram a Argentina. Com a a redemocratização, nos anos 80, o hábito voltou.
O café-restaurante da Clásica está na lista de notáveis de
Buenos Aires |
Os exemplares se esparramam pelo piso, mesas e assentos disponíveis, com cara de que foram apalpados, folheados, experimentados.
No espaço apertado, os títulos de literatura ocupam o térreo e a não-ficção, com foco em historia, cinema e ciências humanas, se acomoda no mezanino.
Um diferencial da Livraria Clásica y Moderna é o atendimento. A funcionária que me recebeu parecia conhecer tanto de literatura argentina que saí de lá com a sensação de que tinha assistido a uma aula.
Não esperava menos de uma livraria que chegou ao ponto de abrir uma escola de extensão cultural para ministrar cursos na área de humanidades.
Librería de Ávila, a antiga Librería del Colegio, foi a primeira a
funcionar em Buenos Aires |
A antiga Librería del Colegio, hoje De Ávila, é a mais antiga de Buenos Aires, criada ainda no Século 18.
A livraria começou como uma botica (farmácia) que se viu de na contingência de vender livros e jornais, já que sua vizinhança com a Plaza Mayor (hoje Praça de Mayo) da cidade colonial a colocava no meio do burburinho político da futura insurreição pela independência do país e a sede por informações era grande na vizinhança.
A dois passos da Praça de Mayo, a Livraria de Ávila sempre
rende uma visitinha instigante |
Prateleiras, mesas, bancadas, gôndolas giratórias, vale tudo para acomodar o acervo na Livraria De Ávila.
Apesar do visual de tsunami, há lógica nesse emaranhado |
No subsolo, em meio a uma profusão de mesas e tabuleiros de livros em oferta, funciona um café literário.
Quando for à Livraria de Ávila, vá com tempo, porque o garimpo lá é animado.
Um sebo para grandes garimpos |
Horários: De terça a domingo, das 10h às 20h. Segundas, a partir das 14:30h.
Se eu disse que toda boa livraria precisa de um certo ar de caos controlado, El Rufián Melancólico deve estar entre as melhores do mundo.
Aqui, estamos a anos luz daqueles ambientes onde os livros se perfilam em posição de sentido para serem passados em revista pelos fregueses.
Não, pelo contrário, eles parecem se acotovelar e montar nos ombros dos outros, como na geral de um estádio de antigamente.
El Rufián Melancólico — um sebo, na verdade — é pequenininho. O espaço para circulação é mínimo e rapidamente o visitante entra no clima, trombando com livros, esculturas (o dono é artista plástico), velhos vinis e pôsteres irreverentes.
É como um cânion muito estreito formado por prateleiras meio bambas onde se acumulam livros raros, empoeirados e instigantes — e sempre à beira da avalanche 😊.
O lugar tem um pezinho no Cemitério dos Livros Esquecidos, como narrado na trilogia do escritor catalão Carlos Ruiz Zafón (já leu? Eu adorei).
Um lugar para ir e se deixar levar pela mão pelo turbilhão de lombadas à espera de um novo dono. El Rufián Melancólico é para apaixonados.
A casa mantém um blog sobre livros (claro) e outros temas: Librería El Fufián Melancólico.
A rede de Livrarias Cúspide tem algumas dezenas de lojas espalhadas pelas principais cidades argentinas — só na cidade de Buenos Aires são 11.
Profissionais e organizadas, as unidades da rede fogem da impessoalidade que diferencia o mero comércio de livros do ofício livreiro com um atendimento impecável. Os funcionários são muito bem informados e sempre têm uma boa sugestão de leitura.
Essa característica não é um mero detalhe. A minha tendência, ao entrar em uma livraria organizada e convencional seria ir direto ao que estivesse buscando, com aquela objetividade de quem leva uma lista de compras ao supermercado.
Mas é só engatar um dedo de prosa com os vendedores de Cúspide e já me baixa aquele espírito garimpeiro que costumo reservar para sebos obscuros e caóticos.
Os livros que comprei nesta visita a Buenos Aires
Já o jornalista Rodolfo Walsh é daquelas descobertas arrebatadoras. Operación Masacre é uma reportagem investigativa — arrancada, contra tudo e contra todos, da paixão e da disciplina de um grande repórter — sobre o assassinato de cidadãos comuns na esteira da repressão a uma tentativa de sublevação contra a ditadura militar (mais uma...) em curso no país em 1956.
Um grandíssimo livro que me absorveu completamente, a ponto de quase não querer sair do hotel.
Escrito nove anos antes de A Sangue Frio, de Truman Capote, o livro de Walsh é pioneiro do "romance-reportagem" que celebrizou a obra do americano, onde a crua realidade é narrada sem maquiagem, mas em grande estilo. Walsh foi assassinado em 1977 pela ditadura liderada por Jorge Rafael Videla.
As obras de Claudia Piñeiro e Rodolfo Walsh já têm tradução em português.
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Otimo, maravihoso pois valeu por uma nova viagem de turismo a Argentina
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