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O antigo Hotel Paris, no nº 1161, um dos expoentes art nouveau da Avenida de Mayo |
Atualizado em setembro de 2022
Um dos meus programas preferidos na capital argentina é admirar o charme de sua arquitetura do final do Século 19 e começo do Século 20. As fachadas de casarões e edifícios daquela época são a feição mais visível de uma Buenos Aires europeia, a metrópole que começava a se desenhar, cosmopolita e elegante.
E para ver essa marca portenha, nada melhor do que um roteiro pela Avenida de Mayo e a visita guiada ao Palácio Barolo, um dos seus edifícios mais famosos.
A Avenida de Mayo não é cenário de um tango famoso, como a Avenida Corrientes em A media luz, mas é a mais emblemática das vias portenhas, cartão de visitas de uma cidade que quis se despedir do Século 19 celebrando sua pujança econômica.
Em Buenos Aires, é a Avenida de Mayo que melhor expressa uma época em que o Ocidente estava enamorado pelo “progresso” e pela modernidade.
Muito dessa arquitetura de Buenos Aires permanece muito bem preservada e rende passeios deliciosos. O roteiro pela Avenida de Mayo é perfeito para ser combinado com a visita ao Palácio Barolo, um tour que termina em no alto de sua torre, a 100 metros de altura.
E para ver essa marca portenha, nada melhor do que um roteiro pela Avenida de Mayo e a visita guiada ao Palácio Barolo, um dos seus edifícios mais famosos.
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A Avenida de Mayo refletida na fachada do Palácio Barolo |
Em Buenos Aires, é a Avenida de Mayo que melhor expressa uma época em que o Ocidente estava enamorado pelo “progresso” e pela modernidade.
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Olha o charme dessas sacadas em forma de proas de barcos. A Fragata amou! |
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Saguão do Palácio Barolo. O edifício inteiro é um escândalo de bonito |
⭐ Visita guiada ao Palácio Barolo
O Palácio Barolo, na Avenida de Mayo, é um delírio neogótico bancado por um ricaço italiano, o pecuarista Luís Barolo.
A construção tem toda uma simbologia calcada em A Divina Comédia, de Dante Alighieri. O poema épico transformado em cânone arquitetônico.
O Palácio Barolo foi inaugurado em 1926 e recentemente restaurado e devolvido a seu esplendor.
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Decoração do Palácio Barolo: o interior da cúpula e (abaixo) uma escadaria |
O edifício, candidato a mausoléu do poeta, está dividido em três partes: inferno, purgatório e céu, como A Divina Comédia. Quanto mais alto o andar do prédio, menos decoração — expressão da vaidade terrena — e mais luz natural ilumina os ambientes, simbolizando a aproximação de valores mais celestiais.
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Detalhes da fachada do Palácio Barolo, na Avenida de Mayo |
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Inspirado na Divina Comédia, de Dante, o Palácio Barolo é uma belíssima extravagância |
O arquiteto Mario Palanti projetou também um edifício gêmeo do Pálácio Barolo, o Palácio Salvo, em Montevidéu, inaugurado em 1928. Fica na esquina da Avenida 18 de Julio com a Praça Independencia.
Os 100 metros de altura do Palácio Barolo extrapolam o gabarito original da Avenida de Mayo. Para construir o prédio nesse tamanho, Barolo teve que requerer uma licença especial e pagar uma compensação em dinheiro, exigida pela Prefeitura de Buenos Aires.
Mas os 100 metros de altura não são à toa. Eles representam os 100 cantos de A Divina Comédia.
Já a cúpula do Palácio Barolo foi inspirada em um templo hindu dedicado ao amor, representando a reunião de Dante e Beatriz no Paraíso, na terceira parte da Divina Comédia.
Mas os 100 metros de altura não são à toa. Eles representam os 100 cantos de A Divina Comédia.
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Buenos Aires vista do farol do Palácio Barolo, a 100 metros de altura |
Simbologias à parte, o interior do Barolo é muito bonito, especialmente no “inferno”, com toda sua decoração intrincada e citações à maçonaria.
A subida até o mirante da torre e ao farol do Palácio Barolo — uma gaiolinha envidraçada com uma vista fantástica, mas que é capaz de apavorar que tenha fobia de altura — compensam a simplicidade dos andares superiores, “a caminho do paraíso”.
A subida até o mirante da torre e ao farol do Palácio Barolo — uma gaiolinha envidraçada com uma vista fantástica, mas que é capaz de apavorar que tenha fobia de altura — compensam a simplicidade dos andares superiores, “a caminho do paraíso”.
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A cidade nas lentes do Farol do Palácio Barolo |
O Palácio Barolo só pode ser visto em visitas guiadas, que são realizadas às segundas, quartas, quintas, sextas e sábados. Os horários variam de acordo com o dia da semana. Consulte o site para se programar.
O percurso dura cerca de 60 minutos. As visitas custam 4.200 (R$ 182/ R$ 110) pesos para não residentes na Argentina. Estudantes e aposentados não residentes pagam 3.200 pesos (R$ 139/ R$ 84).![]() |
Um elevador do Palácio Barolo e o ponto de encontro para quem faz a visita guiada, ao lado do quiosquinho onde são vendidos os ingressos, no saguão do edifício |
O Palácio Barolo também recebe visitas noturnas que podem ser combinadas com espetáculos de tango, concertos de violoncelo e até jantar, sempre com degustação de vinhos.
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A cúpula do Palácio Barolo (esq) foi inspirada em um templo hindu dedicado ao amor. À direita, a cúpula vermelha do Edifício La Inmobiliaria |
As visitas noturnas ao Palácio Barolo são realizadas às
segundas, quartas, quintas, sextas e sábados e custam 4.900 pesos para não
residentes na Argentina (R$ 213/ R$ 128) Saiba mais sobre os tours
no Palácio Barolo.
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As manifestações políticas também são uma tradição da Avenida de Mayo |
Um pouquinho da História da Avenida de Mayo
Antes do tombamento de 1997, o tempo e as mudanças da moda fizeram seus estragos na Avenida de Mayo.
Mesmo assim, ainda hoje é possível compreender a imponência do conjunto arquitetônico que queria expressar a “Argentina moderna” do final do Século 19.
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A encantadora arquitetura da Avenida de Mayo é o cartão postal da Buenos Aires Belle Époque |
O caminho percorrido por Buenos Aires entre sua condição de aldeia colonial até o posto de metrópole do Hemisfério Sul passou pela Avenida de Mayo, o primeiro bulevar da América do Sul.
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A antiga sede do jornal Crítica tem a única fachada art déco da avenida. Hoje o edifício abriga repartições da Polícia Federal Argentina |
Hotéis de luxo, lojas caras, residências requintadas, escritórios de políticos e advogados poderosos, redações de jornais, teatros, cafés... O novo bulevar virou o ponto de encontro de intelectuais, artistas e socialites de Buenos Aires.
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Antigo Hotel Majestic, edifício de 1905, no nº 1301 |
A abertura da Avenida de Mayo foi inspirada na grande reforma urbanística aplicada em Paris pelo Barão Haussmann, na segunda metade do Século 19.
O prefeito de Buenos Aires na época, Marcelo T. de Alvear, queria dotar a cidade com um cartão de visitas cosmopolita — na época, isso era sinônimo de “europeu”. E lá se foram abaixo vários quarteirões de construções coloniais.
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Cafés históricos ainda estão em plena atividade na Avenida de Mayo, como o Bar Los 36 Billares (esq) e o legendário Café Tortoni |
Se em Paris os desalojados pela reforma do Barão Haussmann foram os pobres que ocupavam maltratadas construções medievais, em Buenos Aires o traçado da nova Avenida de Mayo passaria literalmente pelo quintal dos ricos, que mantinham suas mansões e chácaras naquele trecho de terra entre as avenidas Rivadavia e Hipólito Yrigoyen.
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Nenhuma a menos: simbolicamente a Avenida de Mayo ganha o nome de Maria Belén Morán, vítima de mais um feminicídio na Argentina |
Para expressar o peso simbólico da obra, as demolições começaram em um 25 de Maio e a inauguração foi celebrada em um 9 de Julho, as datas das “duas independências” da Argentina.
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Faixa em uma repartição pública da Avenida de Mayo celebra o direito ao casamento igualitário na Argentina: o bulevar do Século 19 abraça o Século 21 |
Manifestações políticas na Avenida de Mayo
Desde sua inauguração, a Avenida de Mayo é palco de manifestações políticas e é bem possível que você encontre alguma concentração desse tipo por lá — em julho, mesmo com a cidade em ritmo de férias, topei com duas, em dias diferentes.
Os argentinos são, em geral, muito politizados e mobilizados e costumam expressar seus descontentamentos e demandas em protestos de rua que costumam ser barulhentos, mas pacíficos. Se você topar com uma dessas concentrações, fique tranquila. Só participa quem quer e a vida segue.
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Terraços "secretos" da Avenida de Mayo vistos da torre do Palácio Barolo |
Como chegar à Avenida de Mayo
O centenário bulevar teve a primazia de ser servido pela primeira linha de metrô de Buenos Aires, inaugurada em 1913.
Por baixo da Avenida de Mayo circula a Linha A do Subte (de “subterrâneo”. É assim que os portenhos chamam seu metrô ), com seis estações (Plaza de Mayo, Peru, Piedras, Lima, Saenz Peña e Congreso).
A Linha C do metrô tem a estação Avenida de Mayo, interligada à estação Lima.
O que ver na Avenida de Mayo
A Avenida de Mayo começa na Praça de Mayo, onde estão a Casa Rosada (sede da Presidência da República), o Obelisco do 25 de Maio (data da instalação do primeiro governo do país independente da Espanha), o Cabildo (antiga sede dos governos coloniais) e a Catedral.
Os dois quilômetros da Avenida de Mayo terminam no edifício do Congresso Nacional, onde funciona o Parlamento Argentino.
O centenário bulevar teve a primazia de ser servido pela primeira linha de metrô de Buenos Aires, inaugurada em 1913.
Por baixo da Avenida de Mayo circula a Linha A do Subte (de “subterrâneo”. É assim que os portenhos chamam seu metrô ), com seis estações (Plaza de Mayo, Peru, Piedras, Lima, Saenz Peña e Congreso).
A Linha C do metrô tem a estação Avenida de Mayo, interligada à estação Lima.
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A Estação Sáenz Peña do metrô é perfeita para começar o passeio no sentido Congresso - Praça de Mayo. Logo na saída, você verá a cúpula do Palácio Barolo |
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O trecho final da Avenida de Mayo visto do terraço do Palácio Barolo, com o Congresso Nacional Argentino ao fundo |
A Avenida de Mayo começa na Praça de Mayo, onde estão a Casa Rosada (sede da Presidência da República), o Obelisco do 25 de Maio (data da instalação do primeiro governo do país independente da Espanha), o Cabildo (antiga sede dos governos coloniais) e a Catedral.
Os dois quilômetros da Avenida de Mayo terminam no edifício do Congresso Nacional, onde funciona o Parlamento Argentino.
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O Palácio Barolo fica no final da Avenida de Mayo, bem perto do Congresso Nacional |
Mas é preciso olhar para cima, pois os pavimentos térreos dos imponentes edifícios estão ocupados por comércios muitas vezes sem graça e alguns até caidinhos.
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A "fachada mais bem conservada do bairro de Montserrat" fica na Avenida de Mayo |
Eu prefiro começar meu passeio pela Avenida de Mayo no lado do Congresso e terminá-lo na Praça de Maiyo, onde tem muita coisa para e onde gosto de esticar a visita.
Para quem inicia a caminhada na “ponta legislativa” da Avenida de Mayo, uma das primeiras atrações é o Palácio Barolo. Antes dele, porém, preste atenção ao Edifício La Inmobiliaria, que ganhou esse nome da empresa de seguros que era sua proprietária.
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O Teatro Avenida, de 1908 |
Mais adiante está o Teatro Avenida (nº 1222), um sobrevivente da época em que o bulevar fervilhava de casas de espetáculo. O teatro é de 1908 e apresentava montagens de zarzuela, um tipo de opereta popularíssima na Espanha.
O palco do Teatro Avenida também recebia dramas: Bodas de Sangue, de García Lorca, foi encenado lá, com supervisão do autor.
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O palco do Teatro Avenida recebeu a estreia mundial de A Casa de Bernarda Alba, obra-prima de Lorca |
Na sequência do passeio pela Avenida de Mayo vêm o Bar Los 36 Billares (nº 1265), inscrito na lista de bares notáveis pela Prefeitura de Buenos Aires, o antigo Hotel Paris, um escândalo de beleza art nouveau, e o Hotel Castelar, contemporâneo da época de ouro da Avenida de Mayo que sobrevive em grande estilo.
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No térreo do edifício nº 953 da Avenida de Mayo funcionou uma famosa casa de instrumentos musicais |
Mais adiante, a antiga sede da Casa América, loja de instrumentos musicais, e o legendário Café Tortoni, onde você certamente vai querer fazer uma pausa.
E não deixe de prestar a atenção ao Palácio Vera, considerado o edifício art nouveau mais importante da cidade (fica no número 769).
E não deixe de prestar a atenção ao Palácio Vera, considerado o edifício art nouveau mais importante da cidade (fica no número 769).
Saiba mais sobre os cafés e bares históricos neste post:
Buenos Aires: a memória boêmia dos cafés, bares e confeitarias "notáveis"
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Pronto, você chegou à Praça de Maio, que é assunto para outro post 😉.
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