7 de janeiro de 2011

Praça de Maio, a casa da alma argentina


Praça de Maio: obelisco e Casa Rosada, Buenos Aires
A Praça de Maio, o Obelisco e a Casa Rosada:
um cenário e muitas histórias


Música deste post: Libertango, Astor Piazzola

Atualizado em junho de 2019

Fim de tarde de sexta-feira e mais um protesto irrompe na Praça de Maio. São cerca de 100 manifestantes, todos muito jovens, com as faixas e cartazes de praxe, denunciando a tortura e o assassinato... de milhares de cães, recolhidos pela carrocinha da Prefeitura de Buenos Aires.

Zoonosis = carcel para animales”, afirma o panfleto xerocado, distribuído pelo grupo.

Com todo respeito aos cãezinhos sem dono — nada me enternece mais do que cara de cachorro carente — mas encarei a manifestação como um sinal alvissareiro.

Protesto na Praça de Maio, Buenos Aires, Argentina

Sinal dos tempos: em 2011 a manifestação na Praça de Maio denuncia maus-tratos a animais...


Na primeira vez que vim a Buenos Aires, em 1978, a Praça de Maio era “não-recomendada” aos turistas, por conta de um grupo de mulheres de lenços brancos na cabeça, que clamavam por notícias de seus filhos desaparecidos.

Em plena ditadura e apenas um mês depois da conquista da Copa do Mundo, a Argentina oficial de então queria esconder do mundo a coragem e a ira santa daquelas Madres da Praça de Maio que marcaram o país para sempre.

Cabildo de Buenos Aires, Praça de Maio
Torre do Cabildo e à esquerda, o Edifício da Siemmens com seus "colossos" (no detalhe, abaixo)

Colossos do Edifício Siemmens, Buenos Aires

Muitos anos depois, numa sexta-feira de Carnaval de 2002, vi a Praça de Maio ferver nos panelaços contra o curralito, logo após a deposição do presidente De La Rua.

E muitas outras histórias passaram por essa praça, porque a Praça de Maio é a sede da alma argentina.

O que ver na Praça de Maio, Buenos Aires


Cabildo de Buenos Aires, Praça de Maio

O Cabildo, local da proclamação da Independência da Argentina


Foi na Praça de Maio, no Edifício do Cabildo, que irrompeu a Revolução de 1810, primeiro movimento pela Independência da Argentina.

Também foi na Praça de Maio que Evita Perón inflamou multidões, que Maradona foi proclamado deus e que todos os governos da Argentina souberam exatamente qual era a opinião dos portenhos a seu respeito.

Catedral de Buenos Aires

Catedral de Buenos Aires: muitos signos em 20 mil metros quadrados


Hoje, os defensores dos direitos dos animais dividem as atenções, democraticamente, com os e ex-militares que reivindicam ser reconhecidos como ex-combatentes da Guerra das Malvinas (1982) e mantêm um acampamento na Praça de Maio, desde fevereiro de 2008.

A sede do governo é logo ali, na Casa Rosada. A História está em toda parte na Praça de Maio. Mas não há nada de solene aqui: turistas tiram fotos, portenhos passam apressados, manifestantes vêm e vão com suas bandeiras.

Casa Rosada e Praça de Maio, Buenos Aires

Enquanto rola a manifestação, tem gente que namora, papeia...


Ela não é a mais bonita, nem a mais aprazível, mas a Praça de Maio é a minha praça preferida em Buenos Aires, apesar de seu espaço meio inóspito, sem sombra, um descampado cercado de tráfego frenético por todos os lados. É um forno no verão, um ventódromo no inverno. 

Mas quem resiste à Praça de Maio, sabendo que é aqui que esta Buenos Aires sem papas na língua se expressa, que esse povo aguerrido solta os bichos e que o coração portenho se derrama nas celebrações?

⭐El Cabildo
Rua Bolívar, 65, Monserrat

Aberto às terças, quartas e sextas, das 10:30h às 17h. Quintas, das 10:30h às 20h. Sábados, domingos e feriados, das 10:30h às 18h.

Cabildo de Buenos Aires

Pátio interno do Cabildo de Buenos Aires


Quando Baires atendia pelo quilométrico nome de Trinidad y Puerto de Santa María de los Buenos Ayres e era capital do vice-reinado do Rio da Prata, o Cabildo era sua sede administrativa — nas cidades coloniais espanholas, o Cabildo era uma espécie de câmara de vereadores. 

O primeiro edifício do Cabildo de Buenos Aires foi inaugurado em 1610, no mesmo local do atual, que é uma construção do Século 18.

Cabildo de Buenos Aires, Praça de Maio
A visita guiada ao Cabildo é um jeito bacana de aprender sobre a Revolução de Maio, que dá nome à praça mais famosa de Buenos Aires

Hoje, as salas do Cabildo de Buenos Aires abrigam uma exposição sobre os primórdios da cidade e sobre a Revolução de Maio de 1810, quando os portenhos destituíram o vice-rei nomeado pela Espanha e instalaram um governo local. O movimento resultou na deflagração da Guerra da Independência da Argentina e a autonomia do país foi consolidada seis anos depois, em 9 de Julho de 1816.

Se quiser saber mais sobre a Revolução de Maio que dá nome à praça e é considerada a “primeira Independência da Argentina”, experimente ver o Cabildo em uma visita guiada (em espanhol). 

Praça de Maio, Buenos Aires
Todo dia é dia de manifestação na Praça de Maio

Os horários das visitas guiadas ao Cabildo são, às terças, quartas e sextas, às 11h e às 15:30h. Às quintas, os horários são 11h, 15:30h e 17h. Aos sábados, domingo e feriados as visitas são às 11h, 12:30h, 15:30h e 16h45.

O ponto de encontro das visitas guiadas ao Cabildo é o hall principal do edifício.

Casa Rosada, Buenos Aires

Durante o governo Macri, a Casa Rosada viveu cercada de grades - e de protestos


⭐ Casa Rosada 
Calle Balcarce 50, Monserrat

Recebe apenas visitas guiadas aos sábados, das 10h às 18 h, com início a cada 15 minutos. A visita é gratuita e precisa ser reservada na página oficial da Casa Rosada (essa visita foi suspensa durante a pandemia e até setembro/2022, ainda não tinha sido retomada. Cheque no site quando for a Buenos Aires)

Imprima o comprovante da reserva, que deverá ser apresentado na entrada da Casa Rosada, junto com um documento com foto.

Já houve um tempo em que foi mais fácil chegar perto e fotografar a Casa Rosada. Atualmente, com a Argentina atravessando uma tremenda crise econômica e com o governo de Mauricio Macri cada vez mais impopular, prepare-se para encontrar uma barreira de grades na ponta Leste da Praça de Maio, onde está a sede do governo do país.

Desde o Século 16, o local onde se assenta hoje a Casa Rosada tem sido o centro do poder no país. Na época da colônia, era aqui que estava a Fortaleza Real, que servia de vigia ao tráfego de embarcações no Rio da Prata e de gabinete para governadores e, posteriormente, vice-reis.

Protesto na Praça de Maio, Buenos Aires
O protesto aí nesta foto é de 2017

A Casa Rosada foi construída após a independência da Argentina e ganhou esse nome graças à pintura aplicada em seu exterior: uma mistura de cal e sangue bovino, muito usado na época. 

O palácio da Praça de Maio ainda abriga o gabinete dos presidentes da Argentina. É por isso que só pode ser visitado aos sábados.

Durante o tour guiado à Casa Rosada, os visitantes têm acesso a vários espaços cerimoniais e salões que homenageiam personagens históricos da Argentina e da América Latina. É a oportunidade de ver a arquitetura interior do edifício e sua pompa decorativa.

Catedral de Buenos Aires, Praça de Maio
As colunas gregas da Catedral de Buenos Aires são uma das imagens mais marcantes da Praça de Maio

⭐ Catedral Metropolitana de Buenos Aires
Avenida Rivadavia, esquina da Calle San Martín

Visitas de segunda a sábado, das 7:30h às 18:45h. Sábados e domingos, das 9h às 18:45h.

Como toda cidade colonial espanhola, Buenos Aires cresceu ao redor de uma plaza mayor (que hoje é a Praça de Maio), onde estavam dispostas as sedes do poder político (a Fortaleza Real e o Cabildo) e do poder religioso, a Igreja Matriz, hoje Catedral Metropolitana.

Catedral de Buenos Aires

Catedral de Buenos Aires
A Catedral de Buenos Aires levou mais de um século em construção e sei interior mistura estios decorativos, com predominância do Barroco. Abaixo, o Mausoléu do General San Martín, herói da Independência da Argentina

Mausoléu no General San Martín na Catedral de Buenos Aires

Mas a Catedral que se vê hoje na Praça de Maio, com suas colunas gregas, é bem mais jovem que os primórdios da cidade, uma obra iniciada no Século 18 e que se arrastou por mais de 100 anos.

Catedral de Buenos Aires, Praça de Maio
A Praça de Maio tem quase zero de grama e de sombra. Ao fundo, a Catedral

A primeira vez que eu entrei na Catedral de Buenos Aires, em 1978, a igreja estava tomada por faixas em branco e celeste, as cores da bandeira do país, emulando uma euforia à beira do desvario — e que tinha uma estranha coerência com os militares vestidos de preto e armados até os dentes no interior do espaço religioso.

Eram os tempos da ditadura de Videla e a Argentina tinha acabado de ganhar uma Copa do Mundo em casa.

Acampamento de ex-combatentes nas Malvinas, Praça de Maio, Buenos Aires

Acampamento de veteranos da Guerra das Malvinas (1982) na Praça de Maio, em janeiro de 2011


Só na segunda vez que visitei a Catedral de Buenos Aires eu pude, enfim, apreciar sua cúpula coberta de afrescos, seu belo piso em mosaico e seu altar barroco. Pude, finalmente, ver o túmulo do General San Martín, herói da Independência da Argentina, do Chile e do Peru.

Quando entrar na Catedral de Buenos Aires, não procure a magnificência dourada dos belos templos coloniais brasileiros. Mas não deixe de fazer uma visita.

Siga o mapa: todas as dicas de Buenos Aires que você vai encontrar na Fragata, organizadas por endereço, com fotos e links para as postagens específicas



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Um comentário:

  1. Linda crônica, querida. Mas, pra ficar perfeita pra mim, a trilha sonora havia de ser o Preludio al año 3001, que dice: "renaceré {...) de un sideral subterráneo, Plaza de Mayo a Saturno, o de una bronca de obreros en el sur"...
    Beijos, saudades.

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