Nas pegadas de Hemingway, Paris fica ainda mais especial. Na imagem, o Quai d'Orleans, em foto de abril de 2006 |
Tenho uma relação bastante ambígua com guias de viagem — e algumas prateleiras deles em casa. Gosto dos mapas, endereços e descrições objetivas, que ajudam a organizar a caminhada. Mas minha grande inspiração para sair pelo mundo é a Literatura. Minhas melhores jornadas são as viagens inspiradas em livros.
Um guia de viagem, tomado ao pé da letra, vira uma angustiante lista de tarefas, transformando cada jornada numa interminável gincana — na ansiedade de completar a lista de pontos turísticos, a gente não vê a vida nem sente a atmosfera ao redor.
Mesmo os lugares mais arrebatadores precisam do encantamento que já trazemos conosco para ficarem realmente especiais.
Eu fui a Ronda (esq) inspirada em Por quem os sinos dobram, de Hemmingway. À pequenina Dürnstein, na Áustria, quem me levou pela mão foi Ricardo Coração de Leão, cujas aventuras eu conheci lendo Robin Hood |
E quem melhor do que a Literatura para prover esse encantamento prévio? Se você já experimentou, sabe do que estou falando. Se ainda não, aposto que vai amar o mundo das viagens inspiradas em livros.
Veja alguns dos roteiros que a Literatura já me inspirou:
Foi arrepiante visitar as Termas Romanas de Bath e os Assembly Rooms, cenários de momentos decisivos de Persuasão, meu livro favorito de Jane Austen |
Viagens inspiradas em livros
Paris de Hemingway, Fitzgerald e Cia.
O restaurante La Coupole, no Boulevard Montparnasse, foi cenário de muitos encontros da chamada "Geração Perdida" |
Sempre tem uma exceção que confirma a regra: minha inspiração para escrever este post foi o delicioso guia de viagem (que a gente lê como uma crônica histórica/cultural) E foram todos para Paris (Editora Casa da Palavra, 126 páginas, R$ 39,90), do jornalista Sérgio Augusto.
O livro segue as pegadas dos escritores Ernest Hemingway, Scott Fitzgerald e outros farristas ilustres que fizeram da Paris dos anos 20 do século passado um dos ícones mais cultuados da boemia, da produção artística e da ruptura com padrões de comportamento.
O Café de Flore, numa esquina do Bulevar Saint-Germain, onde Hemingway rabiscou muitas de suas histórias |
O filme Meia Noite em Paris, de Woody Allen, recria essa época e não fez tanto sucesso por acaso.
Devorando as 126 páginas do livro de Sérgio Augusto, adorei “rever” alguns dos meus cantinhos favoritos em Paris, além de descobrir um monte de outros lugares bacanas para explorar nas próximas visitas. Porque a verdade é que eu não resisto a essas “jornadas sentimentais”.
Shakespeare and Company, "ressurreição" da livraria que foi ponto de encontro da Geração Perdida |
É um guia para evocar farras homéricas, muito debate sobre o sentido da vida e da arte e uma produção, sobretudo literária, que ajudou a desenhar o Século 20.
Mais roteiros literários em Paris
Mas é claro que Paris sugere mil outros roteiros literários (e cinematográficos). Basta lembrar de os Três Mosqueteiros, de Alexandre Dumas, Nossa Senhora de Paris e Os Miseráveis, ambos de Victor Hugo (cuja casa você pode visitar, na Place des Vosges), As Ligações Perigosas (que eu já reli umas quatro vezes), de Choderlos de Laclos...
Sem esquecer, é claro, de Suave é a Noite (meu livro favorito quando eu tinha uns 18 anos), de F. Scott Fitzgerald, e de O Sol também se levanta e Paris é uma Festa, de Hemingway, pra não deixar de citar a turma que inspirou este post.
Algumas das minhas jornadas sentimentais em ParisO escritor Victor Hugo morou na Place des Vosges, onde está a estátua de Luís 13, o rei a quem serviram Athos, Portos, Aramis e D'Artangnan, criados por Dumas |
Montmartre, o bairro que seduziu Van Gogh e Picasso
Shakespeare and Company: a livraria da Geração Perdida
Inspiração literária em Nova York
Em nenhum deles, porém, encontra-se a memória das tertúlias da escritora Dorothy Parker, da atriz Talullah Bankhead e todas as demais línguas ferinas da Round Table.
Esse grupo de intelectuais irreverentes se reuniu no Algonquin, entre 1919 e 1929, para desafiar a Lei Seca e acabar convertendo o lugar numa espécie de sucursal americana da Paris evocada por Sérgio Augusto em seu guia.
(Pra vocês terem uma ideia de como era essa galera, ouçam só o conselho do escritor Nathanael West a sua amiga Dorothy Parker, depois de mais uma tentativa de suicídio dela: “Dorothy, essa mania de suicídio vai acabar fazendo mal à sua saúde”).
100 anos depois, lá estava eu, brindando a Dorothy Parker e à Round Table com um martini mais seco do que o texto da minha padroeira. À esquerda, minha bíblia: se você ainda não leu, corra pra ler 😉 |
Naquela época, em Nova York, já estava ficando impossível encontrar um bar ou restaurante onde se pudesse fumar e eu, disciplinada, levantei do balcão com um cigarro e um isqueiro nas mãos, rumo à calçada, para umas tragadas.
O barman me olhou como se eu fosse de marte e empurrou um cinzeiro na minha direção: “Fique à vontade. Aqui é o Algonquin”. Mais de 60 anos depois de abolida a Lei Seca, o lugar que fazia vista grossa às fartas doses de bourbon consumidas pela turma de Miss Parker em xícaras de chá continuava o mesmo...
"Pra onde vão os patos do lago do Central Park no inverno?" A pergunta de Holden Caulfield sempre me acompanha nos passeios pela área verde mais famosa de Nova York — e torna tudo mais divertido |
Nova York no cinema - e o cinema em Nova York
Viagens e Cinema: combinação deliciosa
Inspiração
Trilha sonora para Nova York
Nova York sempre lembra mais Cinema do que Literatura, apesar do caminhão de livros ambientados na cidade. Mas é lá que está outro dos meus cenários literários do coração: é no Central Park, a área verde mais famosa da Big Apple, que se desenrola parte considerável da aventura — mais divagações do que ações — de Holden Caulfield, me ídolo juvenil retratado em O Apanhador no Campo de Centeio, de J. D. Sallinger.
"Pra onde vão os patos do lago do Central Park no inverno?" é uma das questões que rondam a cabeça de Holden, enquanto ele tenta botar ordem na bagunça que armou em sua vida — fugiu da escola/internato onde levou bomba e veio zanzar, perfeitamente invisível, pelo burburinho novaiorquino.
Sallinger escreve como um deus e foi (como Dorothy Parker), um dos culpados por eu ter inventado de ganhar a vida batucando teclinhas. Procurar os patos do lago do Central Park em um dia gelado sempre renova meu aconchego a essa decisão.
A inspiração da Fragata Surprise
Foi a Literatura que inspirou e batizou este blog. Eu amo histórias do mar e A Fragata Surprise é homenagem à série de livros (20 + 1 inacabado) do escritor irlandês Patrick O'Brian.
O'Brian narra as aventuras da HMS Surprise, uma fragata britânica, durante as guerras napoleônicas. (HMS é a sigla para His/Her Majesty's Ship, ou "navio de sua majestade", e identifica as embarcações pertencentes à Marinha Real Britânica).
O comandante da HMS Fragata Surprise é o capitão Jack Aubrey, brilhante como navegador e combatente, mas quase um bocó em terra firme.
A seu lado, o astuto e meio atrapalhado socialmente Stephen Maturin, metade catalão, metade irlandês, acumula as funções de médico de bordo, naturalista e espião britânico.
Também enfrentei uma uma greve geral na França, em 2006, tentando chegar ao castelo de Ricardo na Normandia — e acabei me apaixonando por Rouen, a cidade que ele mais amou e sempre chamou de lar.
Veja o relato: Rouen, a cidade onde repousa o coração do Leão
Vocês já devem estar carecas de saber que eu adoro a capital espanhola. Um jeito muito especial de saborear a cidade é esquadrinhar cada esquina da Madri dos Austrias para estar perto do Capitão Alatriste, criado pelo escritor Arturo Pérez-Reverte.
O'Brian narra as aventuras da HMS Surprise, uma fragata britânica, durante as guerras napoleônicas. (HMS é a sigla para His/Her Majesty's Ship, ou "navio de sua majestade", e identifica as embarcações pertencentes à Marinha Real Britânica).
Paul Bettany e Russel Crowe a bordo da Fragata Surprise em uma cena de O Mestre do Mares - O Lado Mais Distante do Mundo, filme inspirado na série de livros de Patrick O'Brian |
O comandante da HMS Fragata Surprise é o capitão Jack Aubrey, brilhante como navegador e combatente, mas quase um bocó em terra firme.
A seu lado, o astuto e meio atrapalhado socialmente Stephen Maturin, metade catalão, metade irlandês, acumula as funções de médico de bordo, naturalista e espião britânico.
A Surprise é uma fragata velha, sempre correndo o risco de ser desmontada para virar lenha. É a destreza de seu comandante e a competência de sua tripulação que fazem a bichinha navegar como uma danada, lépida e elegante, e a tornam avassaladora em combate.
Os livros de Patrick O'Brian na minha estante |
Patrick O'Brian escreve divinamente — consegue fazer um texto recheado de termos náuticos fluir como uma límpida e sedutora correnteza — e, embora não seja um blockbuster, tem uma verdadeira seita de ardentes adoradores (se não for pleonasmo), entre os quais eu me incluo totalmente.
Os seis primeiros livros da série da Fragata Surprise foram traduzidos para o português. Em 2003, essas aventuras chegaram ao cinema no delicioso O Mestre dos Mares - O Lado Mais Distante do Mundo, de Peter Weir, com Russel Crowe no papel de Jack Aubrey e Paul Bettany como Stephen Maturin.
Dürnstein, no Danúbio, uma cidade lindinha que visitei seguindo a trilha de Ricardo Coração de Leão |
A herança de Robin Hood
Um dos meus primeiros livros de cabeceira foi Robin Hood, uma adaptação para crianças que ganhei quando estava sendo alfabetizada.
Há várias versões da história do bandoleiro saxão que enfrentou a tirania dos nobres normandos e de seu rei João Sem Terra — uma delas, bem divertida, escrita por Alexandre Dumas — e o cinema também se esbaldou com o personagem.
Há várias versões da história do bandoleiro saxão que enfrentou a tirania dos nobres normandos e de seu rei João Sem Terra — uma delas, bem divertida, escrita por Alexandre Dumas — e o cinema também se esbaldou com o personagem.
De tanto ler e reler sobre o mitológico personagem de Robin, acabei fã de Ricardo Coração de Leão, o monarca recalcitrante que preferia ser senhor feudal na Normandia do que rei da Inglaterra (dizem que ele nunca aprendeu a falar inglês) e gostava muito mais de batalhas do que de governar.
Rouen é mais lembrada como o local do martírio de Joana D'Arc, mas era a cidade mais querida pelo Coração de Leão |
Seguindo as pegadas de Ricardo Coração de Leão, desci o Rio Danúbio de barco para visitar a minúscula e encantadora Dürnstein, local de cativeiro do rei na sua volta da Cruzada.
Veja como foi: De barco pelo Danúbio, na rota de Ricardo Coração de Leão
Veja como foi: De barco pelo Danúbio, na rota de Ricardo Coração de Leão
Veja o relato: Rouen, a cidade onde repousa o coração do Leão
Cenários das aventuras do Capitão Alatriste: a Plaza Mayor, com a estátua de Felipe IV. Abaixo, a Calle San Justo e a Igreja de San Ginés, onde se abrigavam os fora-da-lei de Madri no Século 17 |
A Madri do Capitão Alatriste
Vocês já devem estar carecas de saber que eu adoro a capital espanhola. Um jeito muito especial de saborear a cidade é esquadrinhar cada esquina da Madri dos Austrias para estar perto do Capitão Alatriste, criado pelo escritor Arturo Pérez-Reverte.
A série das aventuras de Reverte tem sete livros (até agora) e narra as peripécias e desventuras de Diego Alatriste, um soldado da então imbatível infantaria espanhola do Século 17, o chamado Século de Ouro do Império Espanhol.
Alatriste — pobre, realista às raias do cinismo, leal e corajoso — sobrevive como pode do parco soldo do exército de Sua Majestade Felipe IV de Habsburgo (da "Dinastia dos Áustrias", como dizem os espanhóis) e de uns frilas como espadachim de aluguel.
Arco de Cuchilleros e Cava Baja de San Miguel, em La Latina. Alastriste vivia em um corral (pensão/cortiço) aí do ladinho, na antiga Calle Arcabuzes, hoje Calle San Bruno |
Em sua aventuras pelo vasto império controlado por seu país, Alatriste testemunha e participa de episódios decisivos da história da Espanha. Duro, mas sem jamais perder a ternura.
As aventuras do Capitão Alatriste foram traduzidas para o português e os livros não são difíceis de encontrar. Eu super recomendo.
Dois posts pra quem quer seguir os passos do Capitão Alatriste:
A série também foi adaptada para um filme com Viggo Mortensen no papel do Capitão Alatriste (e eu gostei muito).
Em janeiro de 2015, a rede espanhola Telecinco estreou uma série, com 13 episódios previstos para a primeira temporada, recontando as aventuras de Alatriste — e confesso que ando virando a internet do avesso pra ver se consigo encontrar para assistir 😉.
Um bom guia de Madri para quem curte a série de Pérez-Reverte ou tem curiosidade sobre essa época da História é o livro Viaje a los escenarios del Capitán Alatriste, de Juan Eslava Galán (Editora Aguilar - Espanha 2006, 220 páginas), um roteiro que faz pelas aventuras do soldado espanhol o mesmo que Sérgio Augusto fez com as andanças da Geração Perdida por Paris.
Quando comprei o livro de Galán (em 2012), estava esgotado no fornecedor e eu achei um exemplar usado, na Amazon. É uma deliciosa descrição dos lugares e da época em que viveu o personagem de Arturo Pérez-Reverte.
O guia de Galán tem roteiros por Madri, Sevilha, Breda, Nápoles e Cádiz, essenciais para quem quer sonhar com o Século 17, o esplendor do Império Espanhol, as intrigas, os duelos e as aventuras de Alatriste.
Em janeiro de 2015, a rede espanhola Telecinco estreou uma série, com 13 episódios previstos para a primeira temporada, recontando as aventuras de Alatriste — e confesso que ando virando a internet do avesso pra ver se consigo encontrar para assistir 😉.
Um bom guia de Madri para quem curte a série de Pérez-Reverte ou tem curiosidade sobre essa época da História é o livro Viaje a los escenarios del Capitán Alatriste, de Juan Eslava Galán (Editora Aguilar - Espanha 2006, 220 páginas), um roteiro que faz pelas aventuras do soldado espanhol o mesmo que Sérgio Augusto fez com as andanças da Geração Perdida por Paris.
Quando comprei o livro de Galán (em 2012), estava esgotado no fornecedor e eu achei um exemplar usado, na Amazon. É uma deliciosa descrição dos lugares e da época em que viveu o personagem de Arturo Pérez-Reverte.
O guia de Galán tem roteiros por Madri, Sevilha, Breda, Nápoles e Cádiz, essenciais para quem quer sonhar com o Século 17, o esplendor do Império Espanhol, as intrigas, os duelos e as aventuras de Alatriste.
Hemingway em Havana - cuidado com o que você deseja
Sim, eu sou fã da Revolução Cubana, um movimento que deu dignidade à pequena ilha do Caribe.
Confesso, porém, que em minha visita a Havana eu estava mais inspirada por aquele bebum que escrevia feito um demônio e conseguia ser mais épico na vida real do que seus personagens. Ernest Hemingway, of course.
Claro que era um sósia, um francês que já estava de saco cheio de assustar as pessoas com sua semelhança com Hemingway. Passada a taquicardia, rendeu o meu melhor ataque de riso em viagens.
Veja a história: Havana: meu encontro com "Hemingway"
Confesso, porém, que em minha visita a Havana eu estava mais inspirada por aquele bebum que escrevia feito um demônio e conseguia ser mais épico na vida real do que seus personagens. Ernest Hemingway, of course.
De tanto evocar a criatura, quase morri do coração quando Papa Hemingway atendeu meu pedido e “apareceu” bem na minha frente, no restaurante La Floridita, que ele colocou no mapa afetivo de todos os boêmios do planeta.
Claro que era um sósia, um francês que já estava de saco cheio de assustar as pessoas com sua semelhança com Hemingway. Passada a taquicardia, rendeu o meu melhor ataque de riso em viagens.
Veja a história: Havana: meu encontro com "Hemingway"
Os Buddenbrook - Lübeck, Alemanha
O primeiro romance de Thomas Mann, publicado em 1900, é o relato da lenta a decadência de uma poderosa família de comerciantes de Lübeck, importante porto comercial na região do Mar Báltico.
As contradições de Tonie Buddenbrook — tão apegada e tão sufocada pelas convenções de sua época e sua classe social — marcaram meus vinte e poucos anos.
Mas foi a ternura e a melancolia de Thomas Mann descrevendo sua cidade natal que despertaram meu amor incondicional por ele e por Lübeck.
As contradições de Tonie Buddenbrook — tão apegada e tão sufocada pelas convenções de sua época e sua classe social — marcaram meus vinte e poucos anos.
Lübeck é um sonho de linda |
Mas foi a ternura e a melancolia de Thomas Mann descrevendo sua cidade natal que despertaram meu amor incondicional por ele e por Lübeck.
A cidade de Thomas Mann, que visitei em 2005, é um encanto medieval que parece ter sido desenhada para ambientar contos de fadas. Vale a esticada de Berlim até lá.
Veja algumas dicas de Lübeck:
Acredite se quiser: não encontrei sequer uma edição em português de Os Buddenbrook disponível na internet.
O Portão de Brandembrugo, em Berlim, em foto de junho de 2005 |
Três livros para inspirar passeios em Berlim
Berlim, de Joseph Roth (Companhia das Letras, 2006), Adeus a Berlim, de Christopher Isherwood (Brasiliense, 1985) e O último homem em Berlim, de Gaylord Dold (Best Seller, 2006).
De todas as cidades e épocas encantadas, eu que eu escolheria para viver seria Berlim, na virada dos Anos 20 para os Anos 30 do Século passado. Boemia, transgressão, fumaça e absinto...
Essa cidade, que morreu em 1933, com a ascensão do nazismo, é difícil de reconhecer na Berlim de hoje, tão ferida pela guerra e pelo muro (e tão bonita, na reconstrução pós-Reunificação). Mas ainda é possível ouvir seu eco.
Essa cidade, que morreu em 1933, com a ascensão do nazismo, é difícil de reconhecer na Berlim de hoje, tão ferida pela guerra e pelo muro (e tão bonita, na reconstrução pós-Reunificação). Mas ainda é possível ouvir seu eco.
Adeus a Berlim, de Isherwood (coleguinha de Hemingway e Fitzgerald nas farras parisienses) inspirou o filme Cabaret (1972).
O livro de de Dold é um romance policial ambientando no apagar das luzes da festa, decretado pela chegada dos nazistas ao poder.
O livro de Roth, jornalista badalado em sua época, é uma série de artigos sobre a cidade, a política e os costumes.
Outros passeios por Berlim
Um dos passeios mais bacanas que fiz em Londres (uma cidade que não economiza neste quesito) foi a visita ao Globe Theater, reconstrução cuidadosa e muito fiel do teatro que pertenceu à companhia de William Shakespeare, combinada com um tour guiado por Southwark, área que no Século 16 era o reduto do teatro elisabetano.
Saiba mais: The Globe Theater e a trilha de Shakespeare em Londres
O livro de de Dold é um romance policial ambientando no apagar das luzes da festa, decretado pela chegada dos nazistas ao poder.
O livro de Roth, jornalista badalado em sua época, é uma série de artigos sobre a cidade, a política e os costumes.
Outros passeios por Berlim
The Globe, o Teatro de Shakespeare em Londres
Em Londres, não perca a visita ao Teatro Globe |
Um dos passeios mais bacanas que fiz em Londres (uma cidade que não economiza neste quesito) foi a visita ao Globe Theater, reconstrução cuidadosa e muito fiel do teatro que pertenceu à companhia de William Shakespeare, combinada com um tour guiado por Southwark, área que no Século 16 era o reduto do teatro elisabetano.
Saiba mais: The Globe Theater e a trilha de Shakespeare em Londres
Casa da Família Lorca na Huerta de San Vicente, uma visita impactante em Granada |
A Casa de García Lorca em Granada
Granada, a cidade da Alhambra e de esplendores mouros e renascentistas, é também o berço de um dos maiores poetas e dramaturgos da Espanha, Federico García Lorca. A casa da família do poeta, hoje um museu, pode ser vista em visitas guiadas super competentes, um mergulho comovente no cotidiano de um artista extraordinário.
Lorca foi assassinado pela milícia de extrema direita em 1936, início da Guerra Civil Espanhola.
Saiba mais: A casa de Garcia Lorca, em Granada
Saiba mais:
Troia: o poder da palavra
Micenas, terra de gigantes
Adoro Jane Austen e ela foi uma das grandes inspiradoras da minha primeira viagem à Inglaterra — disputando esse título com os Beatles, os maiores amores da minha vida.
Foi essa escritora genial quem colocou as cidades de Winchester e Bath e a vila de Chawton no meu roteiro — e me deu de presente esses três lugares lindos de fazer o coração saltitar.
Lorca foi assassinado pela milícia de extrema direita em 1936, início da Guerra Civil Espanhola.
Micenas e Troia, cenários da Ilíada de Homero
Há quase 4 mil anos, Micenas era a capital de um poderoso império da Idade do Bronze |
A Grécia Antiga — histórica e mitológica — foi o universo
dos meus primeiros e mais cultuados heróis e ocupou o lugar que deveria ter
sido do universo dos contos de fadas. Meu pai adorava contar histórias de Hércules,
Perseu, Andrômeda e Atena. Minhas tias Duda e Sulinha liam mitologia grega pra
me botar pra dormir.
Então, vocês podem imaginar como foi arrebatador atravessar
a Porta dos Leões, na cidade de Micenas, e pisar as ruas de Troia, na viagem que fiz à Grécia e à Turquia, em 2012.
O Sítio Arqueológico de Micenas está a 120 km de Atenas e a
23 km de Nafplio — é fácil chegar até lá de transporte púbico, a partir dessas
duas cidades — e ainda é uma visão poderosa, 3.600 anos depois do esplendor da
Civilização Micênica.
A visita a Troia, na Turquia, foi um dos grandes presentes que a vida me deu |
Diz a lenda que Micenas foi fundada por Perseu, construída por gigantes liderados por este que é um dos maiores heróis da mitologia.
Depois de Perseu e seus descendentes, Micenas teria sido governada pela Dinastia dos Átridas — da qual fizeram parte Agamémnon, rei de Micenas e comandante dos helenos na Guerra de Troia, e Menelau, rei de Esparta, marido de Helena.
A Micenas histórica foi a sede de um poderoso império que, na Idade do Bronze, dominava o Leste do Mediterrâneo, movimentando uma vasta frota marítima dedicada às conquistas e ao comércio.
As ruínas de Troia, na Turquia, estão a 540 km de Istambul e me deram um trabalhinho maior para visitá-las. Mas nunca na vida as horas de estrada — mais de 10, contando a ida e a volta —, o sono interrompido às 4:30h da manhã para pegar a van e outros perrengues compensaram tanto.
Troia: o poder da palavra
Micenas, terra de gigantes
Na trilha de Jane Austen: Bath, Chawton e Winchester
Bath é um sonho de cidade e é cenário da vida e da obra de Jane Austen |
Foi essa escritora genial quem colocou as cidades de Winchester e Bath e a vila de Chawton no meu roteiro — e me deu de presente esses três lugares lindos de fazer o coração saltitar.
Jane Austen passou os últimos oito anos de vida neste chalé em Chawton, hoje um museu |
Jane Austen nasceu em Steventon (em Hampshire, 23 km ao Sul de Winchester), em uma família aristocrática empobrecida (como as irmãs Bennett, de Orgulho e Preconceito). Quando o pai, um pastor anglicano (como Edward Ferrars, em Razão e Sensibilidade) se aposentou, a família mudou-se para Bath, um exílio muito lamentado por Jane (como Anne Elliot, em Persuasão).
Ela até podia não gostar de Bath, que achava um ambiente fútil, mas colocou esse refúgio elegante no mapa afetivo de seus milhões de leitores, principalmente pelos momentos decisivos de Persuasão, ambientados na cidade — meu coração se derramava em cada esquina por estar cara a cara com os cenários do meu livro favorito de Austen.
Foi na casinha de Chawton que Jane deu a forma final a seus romances mais celebrados, escrevendo em uma mesinha acanhada, que ainda está lá, como parte do acervo do Museu Casa de Jane Austen. Em 1817, já muito doente, transferiu-se para Winchester para ficar perto do médico que a tratava.
Ela morreu em Winchester, em 18 de julho de 1817, aos 41 anos e está sepultada na magnífica Catedral normanda da cidade, a primeira capital da Inglaterra.
Saiba mais:
Uma tarde na casa de Jane Austen em Chawton.
Jane Austen em Bath: dois cenários de romance
Do tempo de Jane Austen: a arquitetura georgiana em Bath
Um passeio a pé por Winchester
A Catedral de Winchester e outros encantos medievais
Se é para repetir uma cena de cinema, prefiro mil vezes a coragem de um banho na Fontana di Trevi, como Marcelo Mastroianni e Anita Ekberg fizeram em La Dolce Vita, de Fellini — só não arrisquei, até hoje, porque costuma dar cadeia 😀.
O cinema, na verdade, nunca está muito longe de mim nas caminhadas por aí. Às vezes, a evocação é óbvia, como na visita ao Teatro Massimo, em Palermo (Sicília), cenário do desfecho eletrizante de O Poderoso Chefão 3 (The Godfather - Part III, 1990), filme que fecha a magnífica trilogia de Francis Ford Coppola.
Outro exemplo é Salzburgo (Áustria), que pode até ser a terra de Mozart, mas pra mim é muito mais a cara de A Noviça Rebelde (The Sound of Music, 1965, direção de Robert Wise).
Um roteiro pelos cenários de A Noviça Rebelde em Salzburgo é um tremendo clichê, mas é uma delícia.
A maior parte do tempo, porém, a referência cinematográfica é menos explícita, mas sempre poderosa.
Foi impossível não lembrar da melancolia de A Filha de Ryan (Ryan's Daughter, 1970), meu filme favorito de David Lean, sentindo no rosto o vento que fustiga a paisagem estonteante dos Cliffs of Moher, sucessão de penhascos que parecem infinitos, na Costa Oeste da Irlanda, e que serviu de locação a esse drama sobre o ódio entre britânicos e irlandeses no início do Século 20.
Na Sicília, O Leopardo (Il Gattopardo, 1963, Luchino Visconti) me levou pela mão a cada deslocamento pela zona rural da ilha e pelos becos de Palermo.
A lembrança do coro grego debochado que Woody Allen usou para pontuar as cenas de Poderosa Afrodite (Mighty Aphrodite, 1985) me fez ter um ataque de riso incontrolável diante do venerando palco do Teatro Grego de Taormina, um senhor com pelo menos 2.400 anos de idade.
Viagens e Cinema: combinação deliciosa
Continue viajando
Ela até podia não gostar de Bath, que achava um ambiente fútil, mas colocou esse refúgio elegante no mapa afetivo de seus milhões de leitores, principalmente pelos momentos decisivos de Persuasão, ambientados na cidade — meu coração se derramava em cada esquina por estar cara a cara com os cenários do meu livro favorito de Austen.
Orfã de pai, pobre e sem perspectivas, Jane, a mãe e a irmã
Cassandra acabaram indo viver em um chalé (como a mãe e as filhas Dashwood, em
Razão e Sensibilidade) na propriedade de Chawton, em 1809. A terra foi herdada
por seu irmão Edward, adotado por parentes ricos sem herdeiros (como Frank
Churchill, em Emma).
No alto, a casa onde Jane Austen passou seus últimos dias,
em Winchester. Acima, o túmulo da escritora, na famosa catedral da cidade |
Foi na casinha de Chawton que Jane deu a forma final a seus romances mais celebrados, escrevendo em uma mesinha acanhada, que ainda está lá, como parte do acervo do Museu Casa de Jane Austen. Em 1817, já muito doente, transferiu-se para Winchester para ficar perto do médico que a tratava.
Ela morreu em Winchester, em 18 de julho de 1817, aos 41 anos e está sepultada na magnífica Catedral normanda da cidade, a primeira capital da Inglaterra.
Saiba mais:
Uma tarde na casa de Jane Austen em Chawton.
Jane Austen em Bath: dois cenários de romance
Do tempo de Jane Austen: a arquitetura georgiana em Bath
Um passeio a pé por Winchester
A Catedral de Winchester e outros encantos medievais
Cinema também inspira viagens
Roman Holiday (em português, A Princesa e o Plebeu, de 1953, direção de William Wyler) fez muito mais por Roma do que qualquer guia de viagem, ao mostrar o encontro de um repórter boêmio (Gregory Peck) e uma princesa europeia entediada com os compromissos da realeza (Audrey Hepburn) na capital italiana.
As aventuras de Peck e Hepburn por Roma até hoje me provocam suspiros e uma vontade enorme de estar em cada um daqueles lugares.
As aventuras de Peck e Hepburn por Roma até hoje me provocam suspiros e uma vontade enorme de estar em cada um daqueles lugares.
A cena mais famosa do filme é a visita dos dois à Boca da Verdade, quando Peck enfia a mão na boca da máscara explicando a Hepburn que o “monstro” morde os mentirosos.
Meio século depois da estreia de Roman Holiday, as filas no adro da Igreja de Santa Maria in Cosmedin, onde fica a Boca da Verdade, continuam imensas. Pena que a maioria dos visitantes se contente com isso e deixe de entrar numa das igrejas mais bonitas de Roma.
O mascheronne e o belos afrescos da Igreja de Santa Maria in Cosmedin |
Meio século depois da estreia de Roman Holiday, as filas no adro da Igreja de Santa Maria in Cosmedin, onde fica a Boca da Verdade, continuam imensas. Pena que a maioria dos visitantes se contente com isso e deixe de entrar numa das igrejas mais bonitas de Roma.
Veja as dicas aqui: Roma - a Boca da Verdade
Se é para repetir uma cena de cinema, prefiro mil vezes a coragem de um banho na Fontana di Trevi, como Marcelo Mastroianni e Anita Ekberg fizeram em La Dolce Vita, de Fellini — só não arrisquei, até hoje, porque costuma dar cadeia 😀.
No alto, o Teatro Massimo de Palermo, palco do gran
finale da trilogia de Coppola. Acima, o Nonnberg, em Salzburgo,
convento onde a (nem tão) rebelde Maria Von Trapp foi noviça |
O cinema, na verdade, nunca está muito longe de mim nas caminhadas por aí. Às vezes, a evocação é óbvia, como na visita ao Teatro Massimo, em Palermo (Sicília), cenário do desfecho eletrizante de O Poderoso Chefão 3 (The Godfather - Part III, 1990), filme que fecha a magnífica trilogia de Francis Ford Coppola.
Outro exemplo é Salzburgo (Áustria), que pode até ser a terra de Mozart, mas pra mim é muito mais a cara de A Noviça Rebelde (The Sound of Music, 1965, direção de Robert Wise).
Um roteiro pelos cenários de A Noviça Rebelde em Salzburgo é um tremendo clichê, mas é uma delícia.
Os Cliffs of Moher, na Irlanda |
A maior parte do tempo, porém, a referência cinematográfica é menos explícita, mas sempre poderosa.
Foi impossível não lembrar da melancolia de A Filha de Ryan (Ryan's Daughter, 1970), meu filme favorito de David Lean, sentindo no rosto o vento que fustiga a paisagem estonteante dos Cliffs of Moher, sucessão de penhascos que parecem infinitos, na Costa Oeste da Irlanda, e que serviu de locação a esse drama sobre o ódio entre britânicos e irlandeses no início do Século 20.
A beleza sem maquiagem de Palermo, Sicília |
A lembrança do coro grego debochado que Woody Allen usou para pontuar as cenas de Poderosa Afrodite (Mighty Aphrodite, 1985) me fez ter um ataque de riso incontrolável diante do venerando palco do Teatro Grego de Taormina, um senhor com pelo menos 2.400 anos de idade.
Teatro Grego de Taormina: o ataque de riso foi culpa de Woddy Allen |
Viagens e Cinema: combinação deliciosa
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Muito bom! Congrats
ResponderExcluirExcelente! Adorei, Cintia! Bjo
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