O Desfiladeiro do Tajo e a Ponte Nova de
Ronda, prodígio de engenharia do Século 18 |
Desde que comecei a planejar a viagem à Andaluzia, meu roteiro mudou um monte de vezes. Ronda era a única escala inegociável no percurso (e olha que a região tem maravilhas como Sevilha, Granada e Córdoba).
Meu fascínio por Ronda talvez tenha começado com Ernest Hemingway, que, sem citar a cidade, imortalizou-a em uma das cenas mais fortes de Por quem os sinos dobram, um livro que eu adoro.
Meu fascínio por Ronda talvez tenha começado com Ernest Hemingway, que, sem citar a cidade, imortalizou-a em uma das cenas mais fortes de Por quem os sinos dobram, um livro que eu adoro.
Também pode ter sido “herança” do cineasta Orson Welles, que amou tanto Ronda que fez questão de que suas cinzas fossem levadas para lá, após sua morte, em 1985.
O fato é que de tanto namorar fotografias do célebre Tajo — o desfiladeiro que corta Ronda ao meio, que chega a 100 metros de profundidade — seria impossível abrir mão de ver de perto essa imagem que, há décadas, instigava minha imaginação.
Ronda teve um papel fundamental na definição de um estilo de
tauromaquia e foi berço de de grandes toureiros. Mas prefiro ver a Plaza de
Toros de Ronda como um playground para crianças |
Primeiro, porque o Desfiladeiro do Tajo é realmente uma visão arrebatadora, daquelas que a gente quer pra a vida toda.
A Cidade Nova de Ronda tem belas construções do Século 18,
como as igrejas do Socorro (no alto) e de La Merced |
Segundo, porque Ronda é muito, mas muito mais que um abismo — mesmo que esse abismo seja uma das coisas mais bonitas que eu já vi na vida.
Veja como foi minha visita a Ronda:
Atrações de Ronda que valem esticar a estadia
Ronda ainda conserva vários trechos de suas muralhas |
Antiga colônia grega e importante praça forte muçulmana, Ronda é um primor arquitetônico de muralhas, palácios, igrejas e ruelas medievais.
Ver o sol andaluz mudando a cor das montanhas que cercam a cidade, ao longo do dia, foi um dos espetáculos mais comoventes de todos os meus maravilhosos 20 dias de viagem pela Andaluzia.
Encontrei Ronda enfeitada para a Festa de Reis (6 de
janeiro), celebradíssima em toda a Espanha |
Por tudo isso, eu faço uma enfática sugestão: não vá a Ronda de passagem (sei que muita gente visita a cidade em breves escalas, em roteiros de carro pelos Pueblos Blancos).
Reserve no mínimo dois dias inteiros para ver a cidade. Juro que você não vai se arrepender.
Ver o pôr do sol na Alameda de Ronda, de cara para as
montanhas, é um espetáculo que deixa a gente muda |
No passado, essa situação geográfica de Ronda era a alegria de bandoleiros e contrabandistas que elegeram a região como refúgio, dado o difícil acesso.
Os fora da lei se foram, mas as escarpas ferozes dos arredores de Ronda continuam compondo a moldura exata para a beleza arrebatadora da cidade.
A Alameda de Ronda é tãããão romântica... |
O melhor lugar para admirar esse horizonte privilegiadíssimo de Ronda é na Alameda.
Esse jardim, construído no Século 19, debruça sobre o penhasco sobre o qual se assenta a cidade e oferece vistas impressionantes para o vale aos pés de Ronda, para as serras ao longe e, é claro, para o famoso Desfiladeiro do Tajo.
Alguns mirantes da Alameda de Ronda se projetam com tanta ousadia sobre o abismo que é quase impossível domar a vertigem para chegar até a balaustrada. Mas a beleza do lugar não deixa a gente recuar, apesar do intenso frio na barriga.
Esse jardim, construído no Século 19, debruça sobre o penhasco sobre o qual se assenta a cidade e oferece vistas impressionantes para o vale aos pés de Ronda, para as serras ao longe e, é claro, para o famoso Desfiladeiro do Tajo.
Alguns mirantes da Alameda de Ronda se projetam com tanta ousadia sobre o abismo que é quase impossível domar a vertigem para chegar até a balaustrada. Mas a beleza do lugar não deixa a gente recuar, apesar do intenso frio na barriga.
Pra quem gosta do friozinho na barriga, a Alameda de Ronda tem mirantes pendurados no abismo |
O Paseo de Orson Welles homenageia o diretor de Cidadão
Kane, que adorava a cidade e cujas cinzas repousam em Ronda |
Hemingway e Orson Welles também são homenageados, cada um com seu paseo.
A Alameda de Ronda rende caminhadas gostosas, com um certo tom nostálgico, sempre com uma paisagem deslumbrante. O lugar é lindo a qualquer hora, mas ao cair da tarde é de fazer até um coração de pedra levitar...
A trilha que desce até a base do Desfiladeiro
do Tajo oferece uma vista espetacular para Ronda e o vale aos pés da
cidade |
Trilha do Desfiladeiro do Tajo
Depois de ver o Desfiladeiro do Tajo do alto, complemente seu deslumbramento descendo até sua base (foi como eu fiz a foto de abertura deste post).
A descida é feita por um caminho pavimentado com pedras, nem sempre muito regular, que parte da Plaza Maria Auxiliadora, um simpático larguinho arborizado, no final da Calle Tenório.
A descida é feita por um caminho pavimentado com pedras, nem sempre muito regular, que parte da Plaza Maria Auxiliadora, um simpático larguinho arborizado, no final da Calle Tenório.
A descida à base do desfiladeiro deixa a gente frente à frente com a escarpa de Ronda e com a Ponte Nova |
O mirante onde parei é improvisado e é preciso muita atenção para não escorregar e (toc, toc, toc) cair no abismo.
Fui só até a metade do caminho, este dente de
rocha (acima). A descida até que é fácil. Mas eu penei na volta, subindo a
encosta |
A paisagem na base do Desfiladeiro do Tajo, porém, vale qualquer risco (e o esforço da subida, na volta).
Para pegar o melhor ângulo do sol, deixe para fazer esse passeio a partir do meio da tarde, mas cuidado para não perder a hora. Não aconselho ver o pôr do sol lá em baixo, pois a subida no escuro deve ser pra lá de radical.
Para pegar o melhor ângulo do sol, deixe para fazer esse passeio a partir do meio da tarde, mas cuidado para não perder a hora. Não aconselho ver o pôr do sol lá em baixo, pois a subida no escuro deve ser pra lá de radical.
As primeiras fortificações em Ronda foram feitas pelos romanos, mas foram os árabes que dotaram a cidade de todo um cinturão de muralhas |
Muralhas de Ronda
Ronda começou a ser fortificada pelos romanos, no Século 2, logo após a expulsão dos cartagineses da Península Ibérica.
Ronda começou a ser fortificada pelos romanos, no Século 2, logo após a expulsão dos cartagineses da Península Ibérica.
Foram os mouros, porém, que melhor aproveitaram o relevo temperamental da cidade e converteram Ronda em um baluarte quase inexpugnável, a partir do Século 8, para guardar a rota que ligava Córdoba a Gibraltar e, de lá, para a África.
Acima, a Porta de Almocábar (de “Al-maqabir”,
"cemitério" em árabe), principal acesso à cidade durante o
domínio mouro. No alto, a Porta de La Xijara |
Parte das fortificações de Ronda ainda estão de pé, como o trecho de muralhas no bairro do Espírito Santo, onde se destaca a Porta de Almocábar, principal acesso à cidade na época moura.
A Porta de Felipe V emoldura Puente Viejo (abaixo), a ponte
mais antiga de Ronda |
É um passeio delicioso (apesar de muito íngreme), com belos edifícios de um lado e a vista para o vale ficando cada vez mais bonita.
Logo no começo da subida está a Igreja do Espírito Santo, do Século 15, uma das mais antigas de Ronda.
Igreja do Espírito Santo |
Mais adiante está o Museu do Bandoleiro, dedicado à história e ao mito romântico que envolve esse personagem tão característico das áridas serranias espanholas no Século 18, e o Minarete de San Sebastián, parte de uma mesquita do Século 14, que não existe mais.
Pertinho daí está a Porta de Felipe V, do Século 18, que controlava a travessia da mais antiga ponte sobre o Rio Guadalevín, e o acesso ao coração de Ronda.
Há controvérsias sobre a origem de Puente Viejo ("Ponte Velha" em espanhol): alguns historiadores afirmam que ela teria sido construída pelos romanos. O certo é que foram os mouros que construíram sua estrutura atual.
O que fazer em Ronda
A Espanha na Fragata Surprise - post-índice
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Puxa! Que lacuna na minha ronda por Andaluzia... Mas é um bom motivo para voltar. Rose Spina
ResponderExcluirRose, tem coisa melhor do que ter uma desculpa para voltar à Andaluzia? A minha é que eu não fui a Málaga, nem fiz a Rota dos Pueblos Blancos (só passei de ônibus, entre Cádis e Ronda). Beijo
ExcluirOi, Cyntia. Tudo bem? :)
ResponderExcluirSeu post foi selecionado para a #Viajosfera, do Viaje na Viagem.
Dá uma olhada em http://www.viajenaviagem.com
Até mais,
Natalie - Boia
Legal, Natalie!!!
ExcluirOlá!!!
ResponderExcluirTenho visto muitas coisas legais no seu site!!!
Vou fazer Espanha & Portugal de carro com minha Esposa, Tio e Tia, em Maio/Junho.
Pura Surprise! :-)
Parabéns e Obrigado,
Vladimir.
Obrigada a você, Vladimir. E aproveite muito a sua viagem. Portugal e Espanha são dois países encantadores.
ExcluirAbs
Oi Cyntia, como experimentado navegante desta fragata, nestes últimos dias passamos a adotá-la como bússola. É que em agosto, sol escaldante, dedicaremos nove dias a Andaluzia. No roteiro, três dias em Sevilha; um bate-volta a Córdoba, desde Sevilha. Daí em diante, motorizados, serão dois dias entre Arcos, Serra da Grazalema e Ronda, dois em Marbella, a pedido da patroa, e fechando o périplo com Alhambra, de Granada. Beijo grande. Adriano Corrêa
ResponderExcluirNossa, Adriano, queria ir junto. Morro de vontade de voltar à Andaluzia. Aproveite muito a viagem e não esqueça de passar por aqui para contar como foi:). Fico feliz de saber que a Fragata está sendo útil no seu planejamento.
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