22 de maio de 2016

Viagens e Cinema: combinação deliciosa

Filmes que inspiram viagens
O Cinema é danado pra inspirar roteiros de viagem. E assistir a um filme na cidade onde ele foi ambientado é uma senhora experiência

Música deste post: Cinema Olímpia, Caetano Veloso

Muita gente tem o Cinema como inspiração para seus roteiros de viagem. Eu, por exemplo, sou viciada nisso.

Mas você costuma assistir filmes quando está viajando? Tem gente que acha um sacrilégio — “Imagina ficar duas horas fechada em uma sala escura, com uma cidade inteirinha para explorar”.

Mas a dobradinha viagens e cinema, eu juro, é mais gostosa que goiabada com queijo. Ir ao cinema é um dos meus grandes prazeres em viagens.

Um bom filme fica muito mais saboroso quando visto na atmosfera que o inspirou e funciona como poderoso tempero dos passeios que virão a seguir.

Cinemas na área de Leicester Square, Londres
Em Londres, a área de Leicester Square é famosa pelos teatros, mas também preserva uns cinemões com a mágica de antigamente

Quando estou viajando, também gosto de aproveitar a oportunidade de ir a cinemas que preservam a atmosfera que nenhuma sala de shopping center consegue reproduzir, aqueles cinemões de antigamente, que sabiam criar o clima para o mergulho na mágica.

Sem contar que ir ao cinema é bom em qualquer lugar — especialmente quando está passando aquele filme que você morre de vontade de ver na tela grande, e não na telinha da sua TV.

Dê só uma olhada nas minhas "aventuras cinematográficas" pelo mundo e aproveite para se inspirar para novos roteiros  — e começar a rimar cinema e viagens, assim como a gente já faz com os museus, monumentos e restaurantes.

Ideias para combinar viagens e cinema


Berlim e o filme "Adeus, Lenin"
Adeus, Lenin é uma delícia de filme que ficou muito mais saboroso assistido em Berlim. Acima, o ator Daniel Brühl, que interpreta o protagonista Alexander. Abaixo, o monumento a Karl Marx e Friedrich Engels, no Centro da capital alemã



O prazer de ver o filme certo no lugar certo

⭐Um filme para ver em Berlim: Adeus, Lenin
Adeus, Lenin
, é um filme divertidíssimo em qualquer lugar do mundo. Mas as desventuras do jovem que tenta esconder da mãe (comunista convicta, recém-despertada do coma) que a Alemanha Oriental não existe mais ficaram infinitamente mais interessantes porque as assisti em Berlim, em 2003, quando as cicatrizes da divisão da cidade ainda eram bem visíveis.

Ouvir os alemães gargalhando daquilo tudo foi um complemento incrível à minha experiência por lá.

⭐Um filme pra ver em Curaçao: Tula, a Revolta
Outra experiência marcante foi ver Tula: The Revolt (Jeroen Leinders, 2013), sobre a rebelião de escravos em Curaçao, em 1795.

Assisti essa produção holandesa, falada em inglês, exatamente em Willemstad, capital do país, e foi emocionante saber um pouco mais sobre uma história tão forte, tão pouco conhecida fora da ilha, com a certeza de estar sentada na plateia  ao lado de descendentes daqueles heróis.

Curaçao, a história de Tula e a rebelião de escravos de 1795

Desses presentes que as viagens nos dão: conhecer uma história de luta pela liberdade exatamente onde ela aconteceu


A maior das coincidências é que logo pela manhã, antes de curtir uma praia inenarrável em Kanepa Grandi (Grote Kneip), eu tinha destinado um tempinho para visitar o museu dedicado ao tema, na antiga Fazenda Kneip, onde o africano Tula liderou um levante que acabaria se espalhando por toda a banda Oeste de Curaçao.

Ao voltar da praia e consultar a programação do cinema (viu como é importante fazer isso?) dei de cara com o filme em cartaz, a dois passos do meu hotel.

Para saber mais sobre essa história, leia este post: 
Museu Tula homenageia luta contra escravidão


Blow Up, filme de Michelangelo Antonioni ambientado em Londres

Em Blow Up, David Hemmings interpreta um fotógrafo de moda que vive e respira o astral de Notting Hill. Abaixo, a muvuca do do Mercado de Portobello Road, que ainda agita as ruas do bairro aos sábados 


Mercado de Portobello Road, Notting Hill, Londres


⭐Um filme pra ver em Londres: Blow Up
Blow Up, de Antonioni, já era um dos meus filmes favoritos, mas ficou infinitamente mais querido depois que o revi em Londres (pena que não deu pra repetir a cena com os Yardbirds, Jeff Beck na guitarra, tocando no nightclub).

Como vocês já deve estar carecas de saber, Blow Up é uma alegoria da fervilhante Londres dos anos 60/começo dos 70 (a Swingin' London). Ainda que seu roteiro seja baseado em um conto do argentino Julio Cortázar ambientado em Paris, o filme captura perfeitamente a atmosfera legendária da cidade naquela época.

É claro que a Swingin' London não está mais lá, 50 anos depois, mas os cenários, sim. Nunca fui a Maryon Park, onde se desenvolvem momentos chaves da ação — ele fica ao Sul do Rio Tâmisa, próximo à Thames Barrier —, mas muito do astral do filme é construído em torno da contracultura, que fazia do bairro de Notting Hill um dos seus epicentros.

"Irma, la Douce", filme ambientado em Montmartre e Pigalle, em Paris
Jack Lemmon e Shirley McLaine em Irma, La Douce, filme que ficou grudado pra sempre nas minhas memórias de Montmartre. Abaixo, escadarias que são a marca do bairro parisiense

Bairro de Montmartre, Paris

⭐Um filme para ver em Montmartre, Paris: Irma, la Douce
O mesmo vale para Irma, la Douce, que revi em um cineminha mambembe em Montmartre (Paris): o filme ficou muito mais saboroso quando assistido em seu cenário.

Em Irma, la Douce, de 1963, Shirley McLaine é Irma, prostituta do bairro de Pigalle envolvida com o policial Nestor (Jack Lemmon), que morre de ciúme dela e acaba inventando um cliente exclusivo — ele mesmo, disfarçado de inglês rico — para não “dividir” Irma com mais ninguém. 

Como é frequente na obra do genial Billy Wilder, Irma, la Douce é uma comédia divertidíssima, mas com aquele travo de quase-sarcasmo do mestre.

Depois de ver esse filme, a ironia fina de Wilder sobre a boemia parisiense no imediato pós-guerra virou minha companheira inseparável em qualquer caminhada que eu faça por Pigalle, Montmarte e vizinhanças.

Roma: A Fontana de Trevi no filme "A Doce Vida"
Marcello e Anita na Fontana di Trevi, em Roma

Fontana di Trevi, Roma
A Fontana di Trevi continua linda, mas hoje Marcello e Anita não teriam a mesma privacidade para a dança que imortalizou o cenário, com a muvuca de turistas 😁— e é bom avisar que entrar na fonte é proibido e pode dar prisão

Fontana di Trevi, Roma

⭐ Um filme para ver em Roma: A Doce Vida
Outra experiência poderosa foi assistir (pela milésima vez, é verdade) La Dolce Vita em RomaSaí da sessão “ouvindo” a música de Nino Rota e por um triz não entrei na Fontana de Trevi, como faz Anita Ekberg no filme.

A caminhada de volta ao hotel foi inesquecível, mesmo que Marcello Mastroianni não tenha aparecido para dançar comigo — sou tão fã de Fellini que um dos meus planos de viagem mais acalentados é passar uma temporada em Rimini, terra natal do diretor, fazendo a "arqueologia" de sua composição nostálgica em Amarcord.

Filmes de Etore Scola ambientados em Roma
Ver Roma pelos olhos do grande Ettore Scola é um deleite especial


Roma, Paris e Nova York, as queridinhas do cinema
Associar Cinema a Roma, Paris e Nova York, aliás, é até covardia. As três “estrelam” uma quantidade infindável de produções.

Ver esses filmes ambientados nessas cidades no sofá de casa já é uma viagem. Agora, imaginem que alegria é mergulhar neles sabendo que, quando as luzes se acenderem, você vai continuar transitando por aqueles cenários...

Audrey Hepburn e Gregory Peck em "A Princesa e o Plebeu", filme ambientado em Roma
A Princesa e o Plebeu: faça como Audrey Hepburn e descubra Roma na garupa da lambreta de Gregory Peck

Se eu já tenho o hábito de conferir a programação de cinema em toooodos os lugares por onde passo, nessas cidades falo isso com disciplina obsessiva.

Imagine o prazer de estar em Roma e ver a cidade eterna pelos ângulos viscerais de Nós que nos amávamos tanto (meu filme preferido na vida!), Um dia muito especial, e Feios sujos e malvados, de Ettore Scola, ou de Roma, de Fellini, Roma, cidade aberta, de Roberto Rossellini e Ladrões de Bicicleta, de Vittorio de Sica — só para ficar nos grandes diretores italianos.

O melhor city tour de Roma é uma sessão de Roman Holiday. Acima, Audrey Hepburn e Gregory Peck na Escadaria Espanhola, cenário que o filme ajudou a lotar de turistas até hoje

Escadaria Espanhola, Roma, Itália

Escadaria Espanhola, Roma, Itália

Audrey Hepburn e Gregory Peck na Boca da Verdade, em Roma
A famosa cena na Boca da Verdade atrai milhares de pessoas à Igreja de Santa Maria in Cosmedin, uma das mais antigas de Roma

Boca da Verdade, Roma
Vocês nem imaginam a paciência que eu tive que ter pra fotografar o mascherone da Boca da Verdade sem ninguém na frente 😁

Boca da Verdade, Roma

⭐Filmes que valem por um city tour em Roma
E tem, claro, Roman Holiday (A Princesa e o Plebeu), o melhor city tour de Roma que você vai fazer na vida, A Fonte dos Desejos (Three Coins in the Fountain, de 1954), e o Candelabro Italiano (Rome Adventure, de 1962), pra ficar no romantismo ingênuo, mas tremendamente fotogênico, das produções hollywoodianas daquela época.

"A Fonte dos Desejos", filme ambientado em Roma
A Fonte dos Desejos (acima) reforça a lenda: jogar uma moeda na Fontana de Trevi é batata pra assegurar o retorno a Roma. Candelabro Italiano é um filminho ingênuo onde a Itália aparece escandalosamente fotogênica

"Candelabro Italiano", filme ambientado em Roma

Se você quiser reviver a famosa cena de Audrey Hepburn e Gregory Peck na Boca da Verdade, vai gostar de ler este post: Roma: a Boca da Verdade



Veja também: Post-índice com mapa e todas as atrações em Roma

⭐Um filme para ver em Nova York: Bonequinha de Luxo
Em Nova York, foi uma felicidade indescritível ver Breakfast at Tiffany’s (Bonequinha de Luxo) pela primeira vez na tela grande (já tinha visto na TV) em uma sessão no MoMA (Museu de Arte Moderna).

Como o museu fica a apena  quatro quadras da famosa joalheria — que funciona como "catedral" da personagem Holly Golightly (Audrey Hepburn) — subir a Quinta Avenida até a mitológica vitrine, depois da sessão, foi um dos passeios mais gostosos que já fiz.

Quer mais dicas de cenários cinematográficos para inspirar sua viagem? Dá uma olhada:
Nova York no cinema - e o cinema em Nova York

"Bonequinha de Luxo", filme ambientado em Nova York
Acima, Holly Golightly (Audrey Hepburn) em seu elegantérrimo café da manhã diante da Tiffany's. Abaixo, euzinha diante da vitrine da joalheria celebrizada no filme, em foto de 1995

Joalheria Tiffany's, Nova York

⭐Paris: inesgotável para o cinema
Quando o assunto é cinema, Paris é mesmo uma festa  (com o perdão pelo furto do bordão de Hemingway). A começar por seus cinemas não-comerciais e cineclubes, salinhas quase íntimas, onde é possível ver filmes de todas as partes do mundo que passam ao largo do circuito convencional.

Minha melhor temporada em Paris foi em 2006. Passei três semanas na cidade indo ao cinema praticamente todos os dias. Essa é uma das minhas viagens mais inesquecíveis. Ir ao cinema naquela cidade é tão parte do deleite quanto ir a um bom bistrô, caminhar na beira do Sena ou visitar seus museus.

Quai de La Tornelle, Paris

O passeio romântico de Woody Allen e Goldie Hawn pelo Quais de La Tournelle acaba em uma dança, em Todos dizem eu te amo 


"Todos dizem Eu te amo", filme de Woody Allen ambientado em Paris

"Antes do pôr do sol", filme ambientado em Paris

As fotogênicas margens do Sena também servem de locação para o reencontro de Ethan Hawke e Julie Delpy em Antes do pôr do sol, o meu favorito da trilogia estrelada pela dupla


Pont Neuf, Paris

O frisson em Paris já começa com a consciência de que estou no país dos irmãos Lumière, que inventaram isso tudo.

A França também é a terra da mitológica Cahiers du Cinema (revista que já teve colaboradores do calibre de Claude Chabrol, François Truffaut e Jean-Luc Godard).

Caminhar por Paris é respirar o mesmo ar que soprou a Nouvelle Vague, uma das escolas de Cinema mais bacanas ever. Hollywood que me perdoe, mas a cidade do Cinema, pra mim, é capital francesa. 

No capítulo sobre filmes ambientados em Paris, tem de tudo — o cinema americano, por exemplo, adora uma comédia romântica bobinha com locações em Paris.

Jean Paul Belmondo e Jean Seberg em "Acossado", filme de Jean-Luc Godard

Jean Paul Belmondo (o homem mais charmoso que já caminhou sobre a terra) é sempre um grande motivo para ir ao cinema. Acima, ele e Jean Seberg em Acossado, meu filme favorito de Godard. Abaixo, em uma cena da superprodução Paris está em chamas?, sobre a libertação da cidade da ocupação alemã


Jean Paul Belmondo em "Paris está em chamas?"

Filmes ambientados em Paris: A Invenção de Hugo Cabret
A invenção de Hugo Cabret, de Martin Scorsese (esq) e o Museu D'Orsay, uma antiga estação de trem, como a cenário principal do filme

Eu tenho uma lista de filmes que ainda espero rever em um cinema parisiense:

O Último Tango em Paris (Bernardo Bertolucci, 1972)
Antes do pôr do sol (Richard Linklater, 2004)
Meia-noite em Paris e Todos dizem eu te amo (Woody Allen, 2011 e 1996),
Funny Face (Cinderela em Paris, de Stanley Donen, 1957)
A Invenção de Hugo Cabret (Martin Scorcese, 2011)
Acossado (A bout de souffle, de Godard, 1960)
A Rainha Margot (Patrice Chéreau, 1994)
Sinfonia de Paris e Gigi (de Vincent Minelli, 1951 e 1958)
A última vez que vi Paris (dramalhão baseado em Babilônia de Revisitada, de Scott Fitzgerlad, dirigido por Richard Brooks, 1954)
Paris está em chamas? (René Clément, 1966)

E essa é só a lista de hoje. Se eu puxar pela memória, vou escrever até a semana que vem 😉.

Para um passeio na companhia dos personagens de Meia-Noite em Paris, leia este post:
Jornadas sentimentais: roteiros literários e cinematográficos

Gene Kelly e Leslie Caron em "Um Americano em Paris", filme de Vincent Minelli

A atriz e bailarina francesa Leslie Caron estrelou dois musicais de Vincent Minelli ambientados na capital francesa, Sinfonia de Paris (acima, com Gene Kelly) e Gigi


Leslie Caron como "Gigi", filme musical de Vincent Minelli ambientado em Paris

Elizabeth Taylor e Van Johnson no filme "A última vez que vi Paris"
A chamada Geração Perdida fez de Paris o seu refúgio. Acima, Van Johnson e Elizabeth Taylor em A última vez que vi Paris, melodrama inspirado em um conto de um dos expoentes do grupo, F. Scott Fitzgerald. Abaixo, Owen Wilson e Marion Cotillard em Meia-Noite em Paris, onde um escritor contemporâneo acaba transportado para a época de Fitzgerald, Hemingway e sua turma

Owen Wilson e Marion Cotillard no filme "Meia-Noite em Paris"

Cinema: tiro e queda para "acertar" o fuso horário
Nem sempre calha de encontrar em cartaz um filme bacana ambientado na cidade que estou visitando. Mas motivos outros pra pegar um cineminha não faltam.

Você sabia que cinema é o melhor “remédio” para ajustar o fuso horário? É o meu truque clássico. 

Depois de uma noite no avião, o primeiro dia no destino é sempre difícil: costumo morrer de sono lá pelas seis da tarde. Se tirar um cochilo, sei que vou acordar no meio da noite e desregular o sono mais ainda. Nessas horas, o cinema me salva.

Daniel Craig como James Bond
Quando o desafio é ficar acordada, em chamo Bond, James Bond

"Operação Skyfall", filme de 007 com Daniel Craig

Claro que não dá pra assistir um filme de Igmar Bergmann. Tem que ser algo bem agitado, de preferência com pancadaria e perseguições eletrizantes.

Acho que assisti a todos os James Bond com Daniel Craig nessas condições (e quem dorme com Craig na tela?). Quando saio da sessão, lá pelas 20 horas, é o tempo de comer alguma coisa leve e já chegar no hotel para cair no soninho, por volta das 10 da noite — e acordar cedinho no dia seguinte, quando a luz está ótima para fotografar.

O jet lag vai embora e os dias seguintes transcorrem como se eu tivesse vivido a vida toda naquele fuso horário.

Empire Cinema, em Londres
O Empire, em Londres, cinemão como nos bons tempos

Empire Cinema, em Londres

Quando a sala de cinema é o espetáculo
Sou fã da pompa dos velhos cinemas, que eram pensados — com seus tapetes, veludos, candelabros e cortinas — para ir conduzindo o espectador ao mundo mágico que se apresenta na tela.

No antigo Cine Guarani (hoje Espaço Glauber Rocha, na Praça Castro Alves, em Salvador), a caminhada pelo longo corredor atapetado até a sala de projeção era parte da mágica, quando minha Tia Nilda me levava às as matinês de Tom e Jerry, nos anos 60.

O Centro de São Paulo tinha alguns cinemas maravilhosos, como o Marabá (na Avenida Ipiranga, hoje restaurado e dividido em cinco salas). Infelizmente, a maioria desses cinemas do Centrão paulistano foi convertida em igrejas evangélicas.

Nova York e Buenos Aires eram pródigas nessas salas com telas quilométricas, balcões e foyers elegantes. Infelizmente, os da capital argentina, concentrados na Calle Lavalle, estão morrendo aos poucos, como os do Brasil.

Mais recentemente, encontrei salas assim em Londres, na região de Picadilly Circus/ Leicester Square, famosa pela atividade teatral.

A maioria desses cinemas londrinos é da década de 30, quando a moda na cidade era construir verdadeiros picture palaces ("palácios para ver filmes").

Felizmente, muitos deles ainda estão lá, do mesmo jeitão, mesmo que suas salas gigantescas tenham sido divididas em espaços menores.

E se você pensa que a preservação da atmosfera mítica prejudica o avanço tecnológico, está redondamente enganada: na minha última visita a Londres, assisti uma projeção em Imax no Empire, em Leicester Square, que me mostrou outra dimensão do cinema. O filme era uma bobagem — Guardiões da Galáxia —, mas a experiência foi incrível.

Também sou fã dos "cineminhas artesanais", salas quase clandestinas, minúsculas, com programação de cineclube — onde mais a gente pode ver grandes clássicos do cinema em tela grande e no escurinho? Paris tem (ou tinha?) um monte desses pequenos templos de adoração à sétima arte. 

Quando eu morava em São Paulo (na década de 90), adorava o Cineclube Oscarito, no Bixiga, que tinha sessão da meia-noite e tudo.

Em Munique, consegui finalmente assistir Let's get lost (documentário sobre Chet Baker) em uma salinha no porão de um edifício antigo, transformado num misto de república de estudantes e centro cultural. Você chegava, catava uma cadeira, comprava uma cerveja e se aboletava para ver o filme. Até hoje não consegui decidir se gostei mais da experiência ou do filme com Chet, que eu passei uma década tentando encontrar pra assistir.

Electric Cinema, em Portobello Road, Londres
O Electric tem muita história pra contar

O mitológico Electric Cinema de Londres
Talvez nenhum outra sala de Londres possa ser comparada ao mitológico Electric Cinema, em Portobello Road, Notting Hill.

Fundado em 1910, o Electric Cinema nasceu chique, depois virou quase um pulgueiro, até ser adotado pela Contracultura e o Movimento Hippie, que fizeram do bairro uma das mecas descoladas dos anos 60 e do Electric um dos templos do Cinema alternativo — com direito a ser citado em verso de Caetano Veloso, que foi vizinho da sala, em seu exílio londrino.

Fechado no começo dos anos 90, o Electric ressurgiu no começo do Século 21 como um espaço luxuoso — onde você escolhe se vai assistir à projeção sentada em uma poltrona fofinha, com pufe para colocar os pés, ou reclinada em um sofá ou simplesmente desabada em uma cama de veludo.

Para saber mais sobre o Electric Cinema e Notting Hil, dê uma olhada neste post:
Pelos mercados de Londres

Cine Theseion, sala ao ar livre em Atenas, Grécia
Há quase 100 anos, os atenienses assistem clássicos no Cine Theseion, uma sala ao ar livre com vista para a Acrópole 

Os cinemas ao ar livre de Atenas
Mas nem só de pompa se fazem salas de cinema inesquecíveis. Os cines Paris e Thision, em Atenas, são duas instituições da capital grega. Se você quiser fazer um programa tipicamente ateniense, tem que passar por um deles — eu fui a ambos, do mesmo jeito que eu iria a um museu, a uma igreja ou a um templo.

Cine Paris, sala ao ar livre em Atenas, Grécia
O doce dilema no Cine Paris, em Plaka: olho para a tela ou para a Acrópole? (a foto tremeu de emoção 😁)

Cine Paris, sala ao ar livre em Atenas, Grécia

São dois cineminhas ao ar livre, com quase 100 anos de idade, pequenos, íntimos, frequentados por muitos locais e, tcharan... vista para a Acrópole. Uma delícia de programa, que eu contei em um post aqui no blog: 

Cinema ao ar livre em Atenas: Bogart & manjericão 

Você curte ir ao cinema quando está viajando? Qual o filme que já inspirou você a viajar? Estou curiosa, conte pra mim na caixinha de comentários :)

O Cinema na Fragata Surprise
Jornadas sentimentais: roteiros literários e cinematográficos
Roma: a Boca da Verdade
Paris ao ar livre: 4 maneiras deliciosas de "respirar" a cidade
Bath, a cidade das pedras preciosas
Curaçao: Museu Tula homenageia luta contra escravidão
Cinema ao ar livre em Atenas: Bogart & manjericão 

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8 comentários:

  1. Mastroianni foi um ótimo guia a nos levar por Itália e França, mas em mim tocou fundo Viagem ao fim do mundo, de Manoel de Oliveira. Também foi o último filme do Marcello. Pra ficar só em Portugal, tem ainda O céu de Lisboa, do Wim Wenders.
    Amei esse texto, já ensaiei, mas nunca entrei em um cinema em viagem fora do Brasil.
    Outra coisa deliciosa é assistir filmes ambientados em lugares onde você já esteve. Valeu!

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    1. Uma coisa que ainda não fiz, mas está na lista, é ver um filme de Almodóvar em Madri :)

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  2. Que delícia de post, Cynthia! Sou/era da turma que acha/achava um sacrilégio ir ao cinema durante uma viagem, mas lendo esse post, definitivamente mudei de ideia! Maravilha!
    Beijos

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    1. Obrigada, Ana :) Experimente, que aposto que você vai ficar fã. Beijo

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  3. O melhor post da Fragata. De fazer o leitor submergir sem sentir qualquer falta de ar - ou, por outra, saboreando a doce asfixia de juntar cinema, viagem e poesia.

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  4. Adorei o post Cyntia. Eu costumava ir mais ao cinema durante as viagens, ultimamente não tenho ido tanto. Mas sempre me lembro de ter ido no cinema Empire na Leicester Square também e quando eu assisti "Tudo sobre Minha Mãe" em Paris. Tá certo que meus filmes não casam tão bem como os destinos como os seus, mas é sempre uma emoção. Beijos.

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    1. Cinema e viagens são duas das grandes alegias da vida, né Fabio? Juntos, então... :) Bjo

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