9 de julho de 2022

Museu Nacional de Artes Visuais de Montevidéu

Museu Nacional de Artes Visuais de Montevidéu
O Museu Nacional de Artes Visuais de Montevidéu é lindo, tem entrada gratuita e é facílimo de encaixar na sua rota turística

Que surpresa sensacional é o Museu Nacional de Artes Visuais de Montevidéu! Dono de um acervo super instigante, o MNAV tem entrada gratuita e é muito fácil de encaixar na rota turística pela capital uruguaia.

O MNAV está instalado no Parque Rodó, com ônibus na porta e a curta caminhada de Punta Carretas, onde a maioria dos turistas brasileiros gosta de se hospedar.

Traduzindo: você tem zero desculpa pra deixar o Museu Nacional de Artes Visuais fora do seu roteiro em Montevidéu. Visitei o MNAV logo no meu primeiro dia de passeios pela cidade e confesso que foi preciso me controlar pra não voltar lá todo dia — mas só consegui porque Montevidéu tem muitas coisas legais pra ver e fazer.

"Esporte", tela do pintor uruguaio Guillermo Laborde

Esporte (1923), de Guillermo Laborde: a elite preferia o tênis


"Partida de Furebol", quadro do pintor uruguaio Carmelo de Arzadun

Os trabalhadores se divertiam em uma Partida de futebol, como esta retratada por Carmelo de Arzadun, em 1919


O Museu Nacional de Artes Visuais de Montevidéu é uma deliciosa aula sobre a pintura uruguaia, que nós brasileiros conhecemos pouco, mas que brilha nas obras de Joaquín Torres García, José Gurvich, Pedro Figari e muitos outros. 

Se você tiver que escolher um único museu para visitar em Montevidéu, que seja o MNAV — mas eu torço sinceramente para que você não passe por esse dilema, porque ô cidade pra ter museus bacanas como a capital uruguaia. 

Já tem um post aqui na Fragata sobre o meu amado Museu Torres García e todas as dicas sobre os museus de José Gurvich, Pedro Figari e Juan Manuel Blanes estão numa postagem bem completinha com 9 centros culturais de Montevidéu que eu super recomendo.

Mas, agora, veja o que você vai encontrar no adorável MNAV e prepare-se para esse delicioso mergulho na arte dos nossos vizinhos orientales.

"As Ciganas", quadro do pintor uruguaio Rafael Barradas
Adorei reencontrar o pintor Rafael Barradas, autor de As Ciganas (1919), que já tinha me conquistado com trabalhos expostos no MNAC de Barcelona


Visita ao Museu Nacional de Artes Visuais de Montevidéu

Fachada do Museu Nacional de Artes Visuais de Montevidéu, no Parque Rodó
Cercada pelo verde do Parque Rodó, a sede definitiva do MNAV foi concluída na década de 70
Museu Nacional de Artes Visuais de Montevidéu

Os traços contemporâneos e do Museu Nacional de Artes Visuais de Montevidéu não entregam a idade, mas o MNAV é um senhor mais do que centenário.

Foi criado em 1911, ainda como Museu de Belas Artes, com seu então enxuto acervo espremido em uma das alas do Teatro Solís. Da mudança para o Parque Rodó, anos mais tarde, até que a atual sede ganhasse os traços — e a estrutura impecável — que vemos hoje, mais de seis décadas se passaram.

Parque Rodó visto do Museu Nacional de Artes Visuais de Montevidéu
Janelões do museu integram o espaço expositivo com o Parque Rodó

A quase totalidade do acervo do MNAV é de obras de artistas uruguaios. E feliz do país que pode preencher os vastos espaços expositivos de um museu com tanta inspiração.

A arte uruguaia é pouco difundida no Brasil — pra falar a verdade, fora os mexicanos como Frida Kahlo e Diego Rivera e o colombiano Fernando Botero, temos pouco contato com a produção artística dos nossos vizinhos latino-americanos. Entre os uruguaios, a exceção, talvez, seja Joaquín Torres García, o mais famoso dos pintores do paisito no mundo e o artista mais citado aqui na Fragata, depois dos Beatles 😊.

Obras de Joaquín Torres García no Museu Nacional de Artes Visuais de Montevidéu
Pra vocês não dizerem que eu estou demorando a falar de Torres García, olha só a parede que recebe os visitantes, logo na entrada da sala principal do MNAV 🧡

"Pintura", quadro de Joaquín Torres García no Museu Nacional de Artes Visuais de Montevidéu
E mais Torres García: acima, Pintura de 1928. O quadro na foto abaixo é Gare, do mesmo ano

"Gare", quadro de Joaquín Torres Garcia no Museu Nacional de Artes Visuais de Montevidéu

Essa, portanto, já seria uma grande razão para ir ao Museu Nacional de Artes Visuais de Montevidéu. Circulando por seu espaço amplo e luminoso, o visitante nem percebe que está tendo uma aula bem completinha sobre o que os danadinhos dos talentosos uruguaios e uruguaias andaram pintando no último par de séculos.

Coleção Juan Manuel Blanes no MNAV

Sim, o acervo do MNAV se concentra nos Séculos 19 e 20. Da “velha guarda”, o grande destaque é a obra romântica/épica de Juan Manuel Blanes (1830-1901), o equivalente uruguaio aos nossos Pedro Américo e Victor Meirelles.

"A Paraguaia", tela de Juan Manuel Blanes no Museu Nacional de Artes Visuais de Montevidéu

A desolação em A Paraguaia, de Juan Manuel Blanes, é de cortar o coração


Blanes tem um museu só dele em Montevidéu, no bairro de El Prado, mas está muito bem representado no acervo do MNAV. São nada menos do que 228 obras (nem todas estão em exposição) do chamado “pintor da pátria”.

Sua tela monumental Os 33 Orientais (que está no Museu Blanes) é uma espécie de Grito do Ipiranga uruguaio e retrata os combatentes, liderados por Lavalleja e Oribe, que enfrentaram o Império do Brasil para fazer do Uruguai um país autônomo.

"A Doma", tela de Juan Manuel Blanes no Museu Nacional de Artes Visuais de Montevidéu
Blanes: A Doma, de 1875

A Cruz de Madeira e Estudo, pintados por Blanes em 1875. Abaixo, duas telas da série Um dos três chiripas, de 1881. Chiripás são as calças típicas dos gauchos


"Um dos três chiripás", telas de Juan Manuel Blanes

Um aspecto importante na obra de Blanes é que o patriotismo que inspirava suas telas históricas não se limitava aos salões e efemérides.

Dá pra sentir a ternura do pintor pelos personagens anônimos que retrata nas séries sobre a vida e a lida nos Pampas, o cotidiano dos gauchos

Mas uma tela, em especial, me deixou comovida: a desolação de A Paraguaia, uma cena pós-batalha na guerra infame movida por Brasil, Uruguai e Argentina contra nosso vizinho.  

Saindo do Século 19 para os primeiros anos do Século 20, vale prestar atenção ao sotaque meio impressionista nas telas de Carlos Maria Herrera (1875-1914) e nas esculturas de Juan Manuel Ferrari (1874-1916).

"Maternidade", tela de Carlos Maria Herrera no Museu Nacional de Artes Visuais de Montevidéu
Maternidade (1905), de Carlos Maria Herrera. Abaixo, a escultura El Cafetero, de Juan Manuel Ferrari

"El Cafetero", escultura de Juan Manuel Ferrari no Museu Nacional de Artes Visuais de Montevidéu

Século 20: o Planismo uruguaio da gema

Mas quem faz mesmo a festa no espaço expositivo do MNAV é o Século 20, época em que artistas uruguaios gestaram dois movimentos artísticos interessantíssimos. O primeiro é o Planismo, com forte protagonismo da cor. Esse estilo vicejou nos anos de 1920 e 1930 e legou ao paisito sua primeira pintora profissional, Petrona Viera (1895-1960).

Essa vertente do modernismo à moda da Banda Oriental está muitíssimo bem representada no acervo do MNAV. Fiquei encantada com as cores de Carmelo de Arzadun (1888-1968), César Pesce Castro (1890-1977), Guillermo Laborde (1886-1940) e muitos outros artistas muito bacanas que só tive a oportunidade de descobrir nessa santa visita ao Museu Nacional de Artes Visuais de Montevidéu.

Guillermo Laborde no Museu Nacional de Artes Visuais de Montevidéu: cartaz da Copa de 1930 e "Retrato de Luis E. Pombo"
Laborde: cartaz da Copa de 1930 e Retrato de Luis E. Pombo (1928)

Volte lá nas fotos que abrem este post e me contem se esses artistas não valem um pulinho a Montevidéu só pra ver suas obras cara a cara. Ah, e Guillermo Laborde é o autor do poster oficial da 1ª Copa do Mundo de Futebol, disputada no Uruguai em 1930, uma obra simplesmente sensacional.

"Paisagem Metafísica", de Elsa Andrada, e "Composição", de Petrona Viera, no Museu Nacional de Artes Visuais de Montevidéu
Tem mulher nas artes, sim! À esquerda, Paisagem Metafísica (1989), de Elsa Andrada. À direita Composição, de Petrona Viera

Pinturas no Museu Nacional de Artes Visuais de Montevidéu
Os quadros à esquerda e ao centro se chamam "Cabeça de Homem" e foram pintados em 1926 por Gilberto Bellini e Carmello Rivello. À direita, o Retrato do Pintor Vieytes, de Guillermo Laborde, obra de 1938

"Os Imigrantes", de Rafael Barradas, no Museu Nacional de Artes Visuais de Montevidéu
Fiquei fã de Os Emigrantes (1912), de Rafael Barradas. O artista passou a maior parte da vida nessa condição, morando na Espanha. Emigrou jovem e só retornou a Montevidéu já doente, pouco antes de morrer

Torres García e seus discípulos

O segundo movimento artístico muito bem representado no MNAV (vocês já devem estar adivinhando) é o Universalismo Construtivo de Joaquin Torres García (1874-1949), que não só foi um pintor sensacional, mas também um mestre que ajudou a formar artistas incríveis, como José Gurvich, Bertha Luísi, Julio Alpuy e (seu filho) Augusto Torres. Os dois últimos têm obras em exposição no museu.

"Composição Construtiva" de Julio Alpuy e "Construção", de Augusto Torres, no Museu Nacional de Artes Visuais de Montevidéu
Composição Construtiva (1950), de Julio Alpuy, e Construção (1963), de Augusto Torres 

O acervo do Museu Nacional de Artes Visuais é o feliz proprietário de 41 obras de Torres García — quem acompanhou minha viagem a Montevidéu pelo Instagram me flagrou quase dando pulinhos aos entrar no MNAV e dar de cara com uma parede inteirinha com trabalhos do meu pintor-xodó. 

Um aspecto muito bacana dessa coleção é a gente ter contato com as diversas fases de Torres García, como sua Pintura Mediterrânea, um figurativo meio greco-romano, como se pode ver nos murais Composição, pintados em 1919, ou no quadro A Lavanderia.

"Paisagem de Praia", de Joaquín Torres García, no Museu Nacional de Artes Visuais de Montevidéu
Vai ter flood de foto, porque amor é amor 😊. Esta é a Paisagem de Praia, pintada por Torres García em 1924

Pintura Construtiva (1943)

Mural "Composição", de Joaquín Torres García, no Museu Nacional de Artes Visuais de Montevidéu
Os murais Composição, de 1919

"A Lavanderia", de Joaquín Torres García, no Museu Nacional de Artes Visuais de Montevidéu
A Lavanderia (1903)

Pedro Figari, paixão instantânea

Eu fui fisgada por Pedro Figari (1861-1938) quando vi um quadro dele chamado Candombe no Malba de Buenos Aires (um museu que eu visito toooooodas as vezes que passo pela capital argentina). Desde então, andava com muita vontade de conhecer mais a obra desse que é considerado, ao lado de Torres García, o grande o artista uruguaio do Século 20.

O acervo do MNAV não decepciona (mas só abre o apetite para a visita ao Museu Figari, na Cidade Velha de Montevidéu, com entrada gratuita).

"Toque de Oração", de Pedro Figari, no Museu Nacional de Artes Visuais de Montevidéu
Figari: a sinhá e a mucama ajoelham ao dobre dos sinos em Toque de Oração (1925). Abaixo, A Vida, pintado no mesmo ano
 
"A Vida", de Pedro Figari, no Museu Nacional de Artes Visuais de Montevidéu

Pedro Figari é fascinante. À primeira vista, suas telas parecem simples borrões. E aí a gente sintoniza o olhar e descobre um mundo que não costumava frequentar universo acadêmico das artes nem os salões da elite. A comunidade descendente de africanos, quase invisível no painel “europeu” que foi traçado sobre o Uruguai, é retratada por esse cara genial com um respeito e um afeto que arrebatam a gente. 

O Candombe, a dança/celebração afro-uruguaia com origens no Século 18, é um dos grandes temas de Figari, que também voltava seu olhar para a vida dos gaúchos nos Pampas e cenas domésticas da comunidade negra.

Acho que não preciso falar muito mais para convencer você a colocar o Museu Nacional de Artes Visuais de Montevidéu no seu roteiro, né? Mas é bom acrescentar que o MNAV realiza também exposições temporárias bem bacanas e tem um simpaticíssimo jardim, onde funciona um café. 

Jardim do Museu Nacional de Artes Visuais de Montevidéu
Antes ou depois da visita ao MNAV, vale a pausa para um café no sossegado jardim do museu
  
Avenida Tomás Giribaldi nº 2283, esquina com Julio Herrera e Reissig, Parque Rodó

🕒 Horário: de terça a domingo, das 13h às 20h
Entrada gratuita 


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