Escaramuza Libros, em Cordón: as livrarias de Montevidéu não se contentam em ser ótimas. Elas insistem em ser bonitas |
As livrarias de Montevidéu não se acanham: elas não se escondem nos shoppings, se espalham por todas as áreas da cidade. Variam no porte e no espírito — tem as grandonas impessoais e as charmosinhas artesanais —, costumam ter equipes muito bem preparadas para orientar o cliente e acervos respeitáveis.
A chilena Gabriela Mistral, primeira mulher a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura, é homenageada na orla de Pocitos |
Se comprei pouco, namorei muito as livrarias de Montevidéu. Aposto que você também vai curtir. Veja algumas livrarias sensacionais que visitei em Montevidéu:
Livrarias de Montevidéu
Montevidéu, uma cidade que gosta de livrarias
Segundo a Câmara Uruguaia do Livro, a capital uruguaia tem “um dos melhores índices de livrarias per capita do mundo”. São mais de 60, para uma população de 1,5 milhão de pessoas (uma livraria para cada 25 mil habitantes).
Montevidéu ainda está longe de alcançar o recorde de Buenos Aires — a campeã mundial, com uma livraria para cada 3.800 habitantes — mas já faz uma bela figura.
Fundada em 1944, a Livraria Linardi y Risso, na Cidade Velha, é uma instituição montevideana |
O Uruguai tem a menor taxa de analfabetismo da América Latina (menos de 2% da população). Segundo o Centro Regional de Promoção de Livros da América Latina e Caribe da Unesco, foi o país que publicou o maior número de títulos por habitante, em 2017.
Esses dados explicam, em parte, o sucesso, a vitalidade e a longevidade das livrarias de Montevidéu. Mas não podemos esquecer a longa tradição leitora e literária do Uruguai, terra de escritores como Eduardo Galeano, Mario Benedetti (meu xodó) e Juan Carlos Onetti.
Com um pouco de organização psicológica dá pra garimpar livros a bons preços na muvuca da Feira de Tristán Narvaja |
Calle Sarandi nº 675, Cidade Velha
A livraria é tão bonita que eu quase me distraio do acervo. A escadaria e o vitral de Más Puro Verso compõem um dos cartões postais mais fotografados da Cidade Velha de Montevidéu |
O café do mezanino tem vista para o Teatro Solís |
A livraria só chegou em 2008, com um acervo bem variado — já fiz ótimas compras lá — que vai dos best sellers aos livros de arte. Para curtir a atmosfera e decoração belle époque da casa, faça uma pausa no café que funciona no mezanino.
Escaramuza: linda e inteligente |
Calle Pablo de Maria nº 1185, Cordón
Horário: Segunda a sábado, das 9h às 21h.
Não contente em ser linda, a Escaramuza Libros ainda faz
questão de existir como um centro de agitação cultural, sintonizada com a
tradição da vizinhança, o Bairro
de Cordón, promovendo oficinas sobre diversos temas — literatura, desenho,
música, cinema, fotografia e muito mais — para crianças, jovens e adultos.
Com vibe de centro cultural, Escaramuza Libros funciona em um casarão de 1903 e tem ambientes muito aconchegantes |
Aberta em 2016, a livraria funciona em uma casa de 1903, muito bonita e bem restaurada.
Decorada com uma baita elegância, Escaramuza tem um ambiente muito convidativo ao garimpo de livros: aconchegante, silencioso e com pessoal super bem treinado para atender à freguesia. E o acervo é de encher os olhos — e esvaziar as carteiras de bookaholics como eu.
Este café é um dos cantnhos mais simpáticos que encontrei em Montevidéu |
Pra completar, o café que funciona no pátio dos fundos é um
dos cantinhos mais simpáticos que encontrei em Montevidéu. Aliás, esse não é
um mero acessório à venda de livros. A Escaramuza faz questão de se identificar como uma livraria-café
onde se pratica “a convergência de dois mundos: o ofício de livreiros e a arte
da cozinha”, como aponta em seu site.
Morri de pena de não experimentar a parte da cozinha (só uma
medialuna, que estava ótima, para acompanhar o café), mas o que vi nas
prateleiras fez muito bem para minha alma.
A caverna de Ali Babá em plena Avenida 18 de Julio |
No porão da livraria, são realizadas oficinas literárias e outras atividades culturais. Lá também funciona o wine bar Teluria Vinoteca, especializado em vinhos alemães, além de uma sessão de livros usados.
Encontro às cegas com um livro: adorei a ideia |
Uma coisa que adorei na Puro Verso foi a proposta de um “Encontro às cegas com um livro”. Em um cantinho da livraria, diversos livros embalados em papel pardo oferecem apenas pistas do que o potencial comprador vai encontrar por trás do embrulho, convidando à descoberta de autores e obras.
Escolhi um livro que se identificava como obra “de uma autora venezuelana” sobre uma imigrante italiana, “a luta de uma mulher que não se deixa abater”. Só depois de comprar o volume e desfazer o embrulho é que conheci minha nova companhia: Serafina Altieri, obra da escritora Miriam Marinoni. Depois que eu ler eu conto como foi o resultado dessa blind date literária.
Minerva: aos domingos, um oásis sitiado pela muvuca |
Era lá que eu pretendia fuçar prateleiras no dia em que
visitei a feira. Mas caos é caos (por mais afetuoso que seja) e as marolas de
gente da Feira de Tristán Narvaja acabaram me navegando até a simpaticíssima
Minerva Libros.
Encontrei a livraria completamente sitiada por toda sorte de
utilidades, quinquilharias e tranqueiras à venda na feira e entrar no espaço
climatizado e silencioso da Minerva foi quase como atravessar o portal de
Nárnia.
O acervo é muito bom, o atendimento é amável e competente e
o espaço parece um oásis de ordem no meio da babel instaurada do lado de fora.
A Minerva organiza oficinas literárias sobre diversos temas
e autores e promove até saraus e apresentações musicais.
La Lupa: e não é que essa história de "escala humana" funciona mesmo? |
Peatonal Bacacay nº 1318 bis, Cidade Velha
Horário: de segundas a sextas-feiras, das 9:30h às 20:30h. Sábados, das 10h às 21h30.
Aproveita e combina a passada por La Lupa com um pulinho ao Café Bacacay, que é vizinho |
Clarice Lispector estava em destaque na vitrine de La Lupa |
A livraria promove exposições de artes visuais e fotografia, palestras e debates. Vale a pena checar a programação, quando você passar por Montevidéu.
Entrar em Linardi y Risso é como receber um abraço de livros |
Juan Carlos Gómez nº 1435, Cidade Velha
Até agora, eu vinha falando de boas livrarias de Montevidéu. Mas agora eu vou falar de uma pequena e bela catedral de livros.
Especializada em latino-americanos, Linardi y Risso se orgulha de ter tido como clientes gente como Eduardo Galeano, Pablo Neruda, Haroldo de Campos e Mário Benedetti.
A livraria está instalada no térreo de um edifício com origens no Século 18. Seu belo interior, com vigas à mostra e sólidas estantes de madeiras nobres, funciona como um abraço — a trilha sonora, que toca baixinho, também é de primeira.
Mas sensacional, mesmo, é seu acervo, que atrai pesquisadores e apaixonados por livros de todos os cantos do mundo. Além de livros novos, Linardi y Risso negocia livros usados, edições raras e também tem seu próprio selo editorial.
Aproveitei a aula e sai de lá feliz como uma criança, carregando os Contos Completos do querido Mario Benedetti e uma edição novinha de As veias abertas da América Latina, de Eduardo Galeano — deve ser o quinto ou sexto exemplar que já comprei, já que vivo dando a obra de presente a quem ainda não leu. Mas, desta vez, nem vem que não tem, viu pipôl. Vou reler e guardar para o resto da vida 😊.
El Virrey talvez não seja a livraria para ficar comparando cheiros de livros, mas tem ótimo acervo de autores uruguaios |
21 de Setiembre nº 11300, Punta Carretas
Instalada no ponto mais movimentado da 21 de Setiembre, uma das principais ruas de comércio de Punta Carretas, ela faz o gênero objetivo: tem o acervo muito bem organizado e atendentes competentes, o que facilita muito a vida do cliente.
O Uruguai na Fragata Surprise
Colónia del Sacramento
Punta del Este
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Mas os Contos Completos, do Benedetti você ainda não deu nenhuma vez, certo? Daí que.......
ResponderExcluirEsse é daqueles livros que a gente passa o resto da vida lendo :)
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