Café Brasileiro, na Cidade Velha de Montevidéu: o lugar é lindo, a comida é boa e o pedigree boêmio é notável
Não bastassem todos os outros encantos, a capital uruguaia tem um atrativo irresistível pra mim: os bares e cafés de Montevidéu sabem ter charme, aconchego e atmosfera como é raro a gente ver por aí. Moderníssimos ou históricos, descolados ou tradicionais, a capital uruguaia tem um elenco generoso de lugares gostosos para um drinque, uma refeição ou para simplesmente sentar, ver a vida passar e observar as pessoas.
A Cidade Velha de Montevidéu tem tantos bares e cafés lindinhos que dá vontade de passar a viagem toda visitando cada um |
Adoro o charme do Bar Café Tabaré, um veterano em Punta Carretas |
Outra é la merienda, aquele café da tarde meio primo do chá das cinco britânico, cercado de docinhos, biscoitos e outros pequenos requintes — uma refeição leve que ajuda a manter a tradição uruguaia de jantar mais tarde do que nós, brasileiros.
Aproveitei muito a hora da merenda no tradicional Café Oro del Rhin, que tem uma filial em Punta Carretas |
Os bares e cafés de Montevidéu não têm contraindicação. Veja algumas dicas de cantinhos deliciosos na cidade para merendar, bebericar, farrear ou simplesmente curtir uma refeição:
Bares e Cafés em Montevidéu
Hora da boemia
Tabaré: um grande bar, desde 1919 |
Como o site do Tabaré faz questão de destacar, a casa começou como um misto de armazém e bar de pescadores, quando Punta Carretas ainda era uma localidade remota, uma vila pesqueira com construções esparsas.
O Café Bar Tabaré se orgulha de ter sido frequentado por Carlos Gardel e o legendário capitão da Seleção Uruguaia de 1950, Obdulio Varela — “O Chefe Negro” que comandou seu time na vitória sobre o Brasil, em pleno Maracanã, feito que pode até ter sido ofuscado pelos 7x1 de 2014, mas que tem uma carga épica muitíssimo maior.
Esse Tabaré Spritz aí da foto, com suco de pomelo, estava muitíssimo gostoso |
O mezanino do bar também serve de palco para atrações musicais |
Eleito em 2009 entre os 100 melhores bares do mundo, Tabaré é uma casa para boêmios legítimos. O porão e o mezanino do bar são palco para apresentações de música ao vivo muito concorridas, mas vale a passada por lá a qualquer hora. Dizem que a comida lá é ótima, mas eu estava muito entretida com a parte líquida do cardápio para experimentar 😁.
Os drinques custam na casa do 400 pesos (R$ 50), mas, se você gosta de cerveja (não é o meu caso, vai gastar bem menos por lá.
El Mingus: amor ao jazz e à boemia |
El Mingus é aconchegante e tem ótima trilha sonora |
O plano original era bater o ponto lá na terça-feira, quando a casa realiza uma jam sesssion muito concorrida e elogiada. Mas nesse dia eu estava morta com farofa dos passeios diurnos e o Jazz dançou. A boa notícia, porém, é que El Mingus também é muito bacana sem música ao vivo.
Cheguei cedo para a happy hour e a esquina da San Salvador com Joaquín Requena, onde está El Mingus, já estava animadíssima — as mesinhas da calçada lotaram rapidinho.
Os croquetes acompanharam lindamente o meu uisquinho |
O público de El Mingus é majoritariamente jovem, a conversa é animada, os preços são moderados e o atendimento é de primeira. No interior do bar, a decoração aposta no visual clássico/rústico, super aconchegante, com iluminação discreta, e trilha sonora excelente.
Os croquetes de arroz com cogumelos (280 pesos/R$ 35) acompanharam muito bem o velho Johnny Walker (210 pesos/R$ 26 a dose).
Mas a casa é bem mais que um boteco acolhedor. O ambiente é despretensioso, mas muito bem cuidado. A carta de drinques é inventiva — o dry martini é ótimo, sem modernagens — e o menu de tapas é bem interessante.
Esses croquetes de presunto cru estavam excelentes |
Experimente as croquetitas de jamón crudo con aioli (croquetes de presunto cru com molho aioli, 410 pesos/R$ 52), deliciosas. Os drinques ficam na faixa dos 300 pesos (R$ 38) e os pratos variam entre 650 pesos (R$ 83) e 890 (R$ 113). Para gastar menos, experimente os sanduíches e as pizzas.
Fundado em 1877, como orgulhosamente anuncia a inscrição em sua vitrine, o Café Brasilero vem sustentando seu século e quase meio de sucesso com um segredo exposto às claras, na cara do freguês: acompanhar o tempo sem perder a essência.
História na veia para acompanhar o café |
Essa mágica está expressa na decoração linda — com o sotaque art nouveau que sapateia no meu coração — no atendimento cordialíssimo e na atmosfera acolhedora, que convida à leitura esquecida do relógio — suspeito que é possível até ler os dois volumes de Guerra e Paz em uma daquelas mesas, sem ser perturbada por um garçom tentando empurrar mais um pedido ou brandindo a conta.
É delicioso mergulhar na beleza sossegada do Café Brasileiro, aconchegada entre os painéis de madeira nobre que revestem suas paredes, ouvindo o eco das conversas animadas que Mario Benedetti e Eduardo Galeano tiveram em rodas de amigos.
Café Bacacay: tradição boêmia e vista para o lindão Teatro Solís |
A casa é um “clássico em duas etapas”: já foi um botequim concorrido,
até ganhar um banho de loja, na década de 1990, acompanhando o processo de
revitalização da Cidade Velha de Montevidéu.
Em sua segunda encarnação, iniciada nos anos 90, o Café Bacacay ganhou uma pegada moderninha/industrial |
Em ambas encarnações, o Café Bacacay sempre fez muito
sucesso entre jornalistas, escritores e militantes políticos — um de seus
frequentadores fiéis era Eduardo Galeano.
Além desses atributos, o Café Bacacay também tem preços
muito razoáveis e faz um dry martini de primeira (se você quiser saber se um
bar é bom, peça o dry martini. Se for bem feito, pode confiar — ou abstrair
todo o resto).
Opção de almoço na Cidade Velha
O Café La Farmacia é lindo e tem ótimos preços |
Instalado numa antiga farmácia de 1870, o café preservou toda a decoração do lugar, com belíssimos armários de madeira nobre e portas envidraçadas, onde as prateleiras dos remédios são hoje ocupadas por potes de compotas e geleias, bebidas, grãos de café de diversas procedências e apetrechos para preparar a rubiácea.
Só o visual já vale a passadinha no Café La Farmacia |
Mas essa tortilha de batatas também fez a minha cabeça |
As mesas de mármore, as amplas vitrines abertas para o cotidiano de um trecho nada turístico da Cidade Velha e o piso de ladrilho hidráulico complementam a ambientação charmosíssima e muito acolhedora do Café La Farmácia, essa perolazinha montevideana.
A carta de cafés é sofisticadíssima, com grãos de diversas procedências — o Uruguai não é um produtor de café, o que, em parte explica o preço salgado da bebida por lá. Eu, totalmente viciada em café, mas pouco entendida da versão cafeística da enochatice, gostei muito da minha pedida, embora não tenha anotado o pedigree.
O que anotei, mesmo, foi o meu almocinho perfeito: tortilha de batatas, acompanhada de saladinha de folhas. Com a água mineral, a refeição ficou em 300 pesos (R$ 40).
Desde 2019, o Baar Fun Fun está instalado no complexo do Banco de Desenvolvimento da América Latina, atrás do Teatro Solís |
Um clichê turístico
Até que o Baar Fun Fun pode ser uma boa alternativa na happy hour |
Eu evitei o quanto pude, mas acabei sucumbindo, nesta quarta visita a Montevidéu. Tiquei da lista e bora adiante.
Tinha a esperança de encontrar ecos do tradicionalíssimo boliche (no Uruguai e na Argentina: “casa noturna”, geralmente animada por música ao vivo e funcionando até altíssimas horas) onde Gardel gostava de varar a madrugada quando estava em Montevidéu.
Ledo engano. Inaugurado em 1885, com sua primeira sede no Mercado Central, o Baar Fun Fun (diga fun fun, mesmo, e não fã fã) já foi totalmente pasteurizado de sua velha aura boêmia.
A carta de drinques e, abaixo, minha pedida para bebericar e petiscar. Os preços do Baar Fun Fun não matam ninguém do coração |
Instalado no moderno complexo que abriga a sede do Banco de Desenvolvimento da América Latina, o Baar Fun Fun até que monta um cenário interessante — ainda que meio forçado —com as paredes recobertas por cartazes de shows, propagandas antigas e outros recuerdos.
O pequeno palco do Baar Fun Fun repete a decoração da casa |
Hora de la merienda
Medialuna gigante, quadrado de merengue e submarino: merendar na Oro del Rhin é uma tradição desde 1927 |
Aberta em 1927, a confeitaria Oro del Rhin era um badalado
ponto de encontro da Montevidéu elegante que vicejou no início do Século
passado. Hoje, ainda muito viva, ela é bem mais que um recuerdo desse período.
Para comprovar, basta dar um pulo na unidade da casa na 21
de Setiembre (que eles chamam de “sucursal de Pocitos”, embora os olhos
turísticos a localizem em Punta Carretas). O lugar é movimentado o dia inteiro,
mas ferve na hora de la merienda, com grupos conversando animadamente até a
hora da casa fechar.
O palmier é delicioso e a bomba de zabaione, também |
Famosa por sua sessão de pâtisserie, Oro del Rhin também serve saladas, sanduíches, milanesas e outras refeições leves, perfeitas para um almocinho rápido.
Fiquei freguesa da paradinha no final da tarde para merendar
na Confeitaria Oro del Rhin. Curti muito a ótima bomba de zabaione (130
pesos/R$ 17), a sensacional palmita (palmier, 110 pesos/R$ 14) e o cuadrado de
merengue (155 pesos/ R$ 20), pão de ló coberto com suspiro. A medialuna da casa
é enorme e pode ser servida simples (95 pesos/R$ 12) ou com recheios. O café
expresso custa 105 pesos (R$ 13,80) e o submarino (chocolate derretido no leite
quente) custa 155 pesos/R$ 20.
A confeitaria tem mais duas unidades em Montevidéu, no shopping Punta Carretas e a herdeira da casa original, no Centro, na esquina de Colonia com Constitución, a menos de 300 metros da Plaza Independencia.
Hospedada a três quadras deste templo à versão platense dos croissants, sucumbi docemente à devoção dos uruguaios e elegi Medialunas Calentitas (literalmente: "meias-luas quentinhas") como meu point de café da manhã e eventuais merendas, sempre na simpática varandinha rente à calçada. E, bora combinar, é difícil encontrar jeito mais gostoso de começar o dia.
Instalada em uma casa da Rua 21 de Setiembre, uma das principais de Punta Carretas, Medialunas Calentitas está sempre movimentada. Os moradores da vizinhança parecem adorar o lugar, com toda razão.
Submarino com medialunas: bom dia, Montevidéu! |
E a gente nem percebe o vai e vem de clientes, porque o serviço é super eficiente. O maior trabalho do freguês é escolher entre as muitas opções do cardápio: tem medialuna grande, pequena, doce, salgada, sem recheio, com... E todas sempre perfeitas, quentinhas (como promete o nome da casa), saltando do forno.
Ótimo lugar, com bons preços — considerando o custo de vida em Montevidéu. O café doble (duplo) custa 170 pesos/R$ 22. A medialuna pequena com presunto e queijo custa 100 pesos/R$ 13, a grande, também com presunto e queijo, custa 190 pesos/R$ 24 e as medialunas simples, 50 pesos/R$ 6,50. Experimente também o submarino, chocolate derretido no leite quente, um clássico platense (170 pesos).
La Pasiva já foi um clássico de Montevidéu. Com endereços em diversos pontos da cidade, é uma opção na pausa para o café |
Eu adorava a unidade de La Pasiva que ficava na esquina de Ejido com a Avenida 18 de Julio, com sua decoração retrô lembrando um diner chique dos anos 50 — essa casa, infelizmente, virou um Burger King.
Prefiro meus scones sem orégano, mas a pausa para o café era sempre simpática |
Nessa temporada em Montevidéu, fiz algumas pausas em unidades de La Pasiva e achei que a casa já não tem a qualidade de épocas passadas. Mas, como é onipresente pela cidade, ainda vale a parada para o café com scones —preferia que não levasssem orégano.
O café custa 115 pesos (R$ 15) nas agradáveis mesinhas ao ar livre da Plaza del Entrevero (Plaza Fabini, Centro) ou 95 pesos (R$ 12) nos salões de outras unidades da rede. O par de scones custa 79 pesos (R$ 10).
Foi no The Lab Coffee Roasters do Museu Nacional de Artes Visuais que eu provei o melhor chocolate dessa temporada em Montevidéu |
A rede The Lab Coffee Roasters tem seis endereços em Montevidéu e eu adorei a unidade instalada nos jardins do Museu Nacional de Artes Visuais, ótima opção não só pra quem vai ver o lindo acervo do MNAV, como também para quem está passeando pelo Parque Rodó.
Monumento Cósmico: é um luxo merendar contemplando Torres García |
O Uruguai na Fragata Surprise
Colónia del Sacramento
Punta del Este
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