Bela arquitetura, excelentes museus, bons restaurantes e livrarias: a Cidade Velha de Montevidéu é um programão |
Se você vai à capital uruguaia, aposto que já colocou no topo de sua lista de passeios a Cidade Velha de Montevidéu.
E faz muito bem: o bairro concentra muitas das principais atrações montevideanas, é uma vizinhança muito simpática e perfeita para ser explorada a pé — além de ser bastante plana, tem muitas peatonais (ruas exclusivas para pedestres).
Eu viajo na arquitetura da Cidade Velha de Montevidéu |
As noivas da Sarandí: eu topei com pelo menos uma meia dúzia de casamentos passeando pela peatonal. É que naquela rua fica um cartório muito concorrido |
Meu recente roteiro
em Montevidéu — 9 lindos dias — incluiu não apenas um, mas vários dias de passeios
pela Cidade Velha. Aproveitei os museus sensacionais do bairro, ótimos
restaurantes, cafés históricos lindos e livrarias de fazer a gente perder a
cabeça. E curti imensamente namorar a bela arquitetura da área.
A Cidade Velha de Montevidéu é um Centro Histórico muito peculiar, comparado com outros conjuntos de origem colonial nas Américas.
Não
espere encontrar aquela uniformidade arquitetônica que se vê no Pelourinho,
em Paraty,
Quito ou Cusco. Mas o
bairro incorporou o passar do tempo com muita personalidade, mesclando feições de
diversos estilos em suas fachadas sem desafinar a harmonia.
Grafite na Peatonal Sarandí e (abaixo) a Plaza Constitución, que foi a Praça Maior da Montevidéu colonial |
Pra mim, aliás, o maior encanto da Cidade Velha de Montevidéu é mesmo o “conjunto da obra”.
Ela não é nada cenográfica e, apesar de ter se tornado mais evidentemente turística, desde a minha última visita, há 11 anos, ainda consegue até preservar ecos de lugar onde mora gente — experimente ver as crianças do bairro brincando nos balanços e gangorras da Praça Zabala e você vai entender.
Altares da Catedral de Montevidéu |
A seguir, veja como aproveitar os encantos da Cidade Velha de Montevidéu e as dicas práticas de suas excelentes atrações:
O que ver na Cidade Velha de Montevidéu
A Cidade Velha de Montevidéu corresponde ao que já foi a
cidade colonial, povoação iniciada em 1723 — um broto, comparada com a minha
Salvador, de 1549 —, dentro de uma muralha da qual, hoje, só resta a
fotografadíssima Puerta de la Ciudadela.
O Museu Figari, dedicado a um dos grande pintores uruguaios, é uma atração imperdível da Cidade Velha |
Quando uma padaria vira atração turística. Dê uma passadinha pela Confitería 25 de Mayo e depois me diga se não é uma visita ao éden |
Na virada do Século 19 para o século 20, as muralhas foram derrubadas, a cidade recebeu um potente sopro de modernidade — bem conveniente à capital da “Suíça da América Latina" de 100 anos atrás — mas até hoje a Cidade Velha de Montevidéu permite ao visitante perceber os ares da cidade colonial.
O sotaque da colônia espanhola pode ser percebido no traçado
das ruas — o tabuleiro de xadrez bem certinho, traçado a régua — e na antiga Praça Mayor, onde estão as
sedes do poder político e do poder religioso (o Cabildo e a Catedral).
O Edifício Ferrando é uma pérola art nouveau na Calle Sarandí e abriga a muy instagramável Livraria Más Puro Verso. O painel refletido nas vidraças é a fachada lateral do Museu Gurvich |
Não é obrigatório, mas é muitíssimo provável que você chegue à Cidade Velha atravessando a Puerta de la Ciudadela (Porta da Cidadela) último vestígio remanescente do que foi a muralha de Montevidéu.
Porta da Cidadela, a fronteira entre Montevidéu colonial e a cidade que floresceu na virada do Século 20 |
Postada na Plaza Independencia, a Porta da Cidadela demarca o limite físico e simbólico entre a Montevidéu colonial (a Cidade Velha) e a capital que recebeu o Século 20 com ares cosmopolitas e costumes muito mais avançados do que suas vizinhas da América do Sul.
Já falei um bocadinho sobre a Porta da Cidadela — e as importantes construções de seu entorno, como a Plaza Independencia, o Palácio Salvo e o Teatro Solís — neste post: 10 atrações em Montevidéu.
Se volto ao tema, é porque é preciso passar através a Porta da Cidadela para chegar ao assunto deste tópico, a Rua de Pedestres Sarandí (Peatonal Sarandí), a “Quinta Avenida da Cidade Velha” — na verdade, não precisa atravessar a porta. É possível contorná-la, também, mas eu não resisti à gaiatice.
Quando caminhar pela Peatonal Sarandí, não esqueça de olhar para o alto: você vai ver detalhes lindos nos edifícios |
⭐Peatonal Sarandí
Ao longo dos pouco mais de 1.200 metros da Peatonal Sarandi se alinham algumas das principais atrações da Cidade Velha. Logo na primeira quadra, estão o Museu Torres García, em estilo art-déco, e o belo Edifício Ferrando, uma joia art nouveau onde hoje funciona a Librería Más Puro Verso.
A menos de 200 metros de distância um do outro, o Museu Gurvich e o Museu Torres Garcia (abaixo) são dois banquetes visuais |
Quase em frente a esses dois edifícios fica uma charmosa fonte meio Belle Époque onde, felizmente, ninguém teve a ideia de pregar cadeados, como fizeram com a pobrezinha da Fuente de los Candados, lá na Avenida 18 de Julio.
É também neste ponto da Sarandí que começa a transversal Peatonal Bacacay, que leva ao Teatro Solís, passando pela La Lupa Libros, pela Confitería Bacacay (ótimos doces) e pelo boêmio Café Bacacay.
Montevidéu foi a primeira cidade da América do Sul a ter uma praça homenageando a diversidade sexual |
⭐Praça da Diversidade Sexual
Quando passar em frente ao Museu Torres García e da Livraria Más Puro Verso, preste atenção ao bequinho que vem logo em seguida, fechando a quadra. Ele se chama Pasaje de Policía Vieja e dá acesso a um espaço muito sossegado e tocante: a Praça da Diversidade Sexual.
O triângulo da escultura remete ao símbolo que os nazistas impuseram aos prisioneiros homossexuais |
A praça é um recanto meio escondidinho, cercada por belas fotografias e obras de arte, tem uma espécie de mesa comunitária com banquetas que os trabalhadores e trabalhadoras da região usam, na hora do almoço.
A criação da Praça da Diversidade Sexual foi fruto da mobilização de diversas organizações de Direitos Humanos e representantes da comunidade LGBTIQIA+ para lembrar as vítimas do preconceito e da homofobia.
Este bequinho transversal à Sarandí da acesso à praça |
⭐Arquitetura da Cidade Velha de Montevidéu
Ô, desfile bonito, viu? |
Mas não se limite à passarela principal da Calle Sarandí. Qualquer passeio pela Cidade Velha de Montevidéu é um percurso encantador por construções art-déco, art nouveau, ecléticas e neoclássicas. As ruas transversais e recantos como a Plaza Zabala também são uma festa arquitetônica. O melhor, portanto, é programar uma caminhada sem pressa e sem rumo muito definido.
Este predinho art-déco na Calle Washington me deixou apaixonada |
Duas beldades da Calle Sarandí: acima, art nouveau. Abaixo, art-déco |
Um trechinho muito fotogênico da Cidade Velha são os seis quarteirões da Calle Washington, a partir da Plaza Zabala, descendo em direção ao Porto. Aproveite para bebericar e petiscar no ótimo Bar Álvarez (esquina da Washington com a Pérez Castellano).
Ainda na 25 de Mayo, uns "bolinhos de noiva" danadinhos de bonitos |
⭐Plaza Constitución/Matriz
Qualquer passeio pela Cidade Velha de Montevidéu vai convidar você a fazer uma
pausa à sombra dos plátanos da Plaza Constitución, popularmente chamada de
Plaza Matriz (Praça da Matriz), em referência à presença da Catedral de
Montevidéu.
Esses quiosques de inspiração Belle Époque são um encanto no Centro e Cidade Velha de Montevidéu. Não poderia faltar um na Plaza Constitución. Abaixo, a romântica fonte no centro da praça |
Ela é a antiga Praça Maior de Montevidéu, logradouro inescapável nas cidades coloniais espanholas, onde se costumava edificar as sedes do poder político (no caso, o Cabildo) e do poder religioso (a Igreja Matriz, alçada a Catedral, dedicada à Imaculada Conceição e aos dois padroeiros de Montevidéu, Santiago e São Felipe).
Gosto especialmente da romântica fonte no centro da Plaza
Constitución e já fiz boas compras na feirinha de antiguidades que costuma
funcionar por lá.
A elegância neoclássica da Catedral de Montevidéu |
⭐Catedral de Montevidéu
Aberta de segunda a sábado, das 9h às 18h. Domingos, das 10 às 12:30h
Visita gratuita
O templo que hoje contempla a Plaza Constitución já não é tem
as mesmas feições da época da fundação de Montevidéu, mas ocupa o mesmo terreno
da igreja matriz consagrada em 1740. A primeira construção desabou e foi
refeita, numa obra que se estendeu de 1790 a 1804.
Batistério da Catedral de Montevidéu |
Ainda que não repita o esplendor barroco de outras igrejas da América Colonial, a Catedral de Montevidéu surpreende pela beleza sóbria |
Numa América Ibérica tão cheia de igrejas impressionantes, a Catedral de Montevidéu certamente não é o edifício religioso mais destacado, mas não deixou de me surpreender. Sem os volteios e arrebatamentos do barroco que a gente geralmente associa às igrejas coloniais, ela tem feições neoclássicas discretas e elegantes.
O interior da Catedral é muito bonito e vale a visita.
O Cabildo de Montevidéu em imagem do início do Século 20 |
Calle Juan Carlos Gómez nº 1362, Plaza Constitución
Visitas de segunda a sexta, das 12:30h às 17:45, e aos sábados, das 11h às 17h.
Cabildo, vocês já sabem, era o parlamento colonial das cidades espanholas nas
Américas. Como era de costume, esse centro de poder secular costumava ser
edificado na praça principal das povoações, compartilhando o espaço com o
símbolo de poder religioso — a igreja matriz, que podia ou não ser uma
catedral.
Atualmente, o edifício abriga o Museu e Arquivo Histórico Municipal do
Cabildo, que além de uma coleção permanente de obras de arte, documentos e
mobiliário, organiza mostras temporárias bem interessantes.
O edifício atual do Cabildo de Montevidéu, em estilo neoclássico, é bem mais
recente do que a povoação da cidade, inaugurado em 1812, quando o Vice-Reino do
Rio da Prata já estava em plena ebulição pela independência — dois anos antes,
a Revolução de Maio (18 e 25 de maio de 1810), em Buenos Aires, se consagraria
como a primeira revolta independentista da América do Sul a obter sucesso,
ainda que temporário.
Montevidéu não aderiu à Revolução de Maio e permaneceu leal ao Império
Espanhol, o que levou os colonizadores a transferirem para a cidade o posto de
capital do Vice-Reino do Rio da Prata. O Cabildo da Cidade, portanto, virou o
centro de um poder que se estendia por um território (ainda que em disputa) que
hoje corresponde à Argentina, Bolívia, Paraguai e Uruguai.
A Praça Zabala é a mais bonita da Cidade Velha |
⭐Praça Zabala
A meia quadra da Peatonal Saraní (suba pela Calle Alzáibar ou pela Calla Zabala), a Plaza Zabala é a mais bonita e sossegada da Cidade Velha de Montevidéu. Inaugurada em 1890, seu nome é uma homenagem ao fundador da cidade (devidamente retratado na estátua equestre que se destaca entre as árvores frondosas) e suas feições são claramente Belle Époque.
O entorno da Praça Zabala ainda tem uma cara muito residencial. Cercada por prédios de apartamentos e algumas construções antigas notáveis — como o Palácio Taranco, hoje sede do Museu de Artes Decorativas — ela é um dos recantos mais agradáveis da Cidade Velha, com um parquinho infantil onde as crianças da redondeza se esbaldam.
Pátio Mainumby: uma antiga ruína deu lugar a um pequeno oásis na Calle Sarandí |
Peatonal Sarandí, entre as ruas Alzáibar e Zabala.
Aberto 24 horas
Dedicado a resgatar espécies de plantas nativas (“mainumby” é o nome guarani de uma delas), o espaço recebe uma série de atividades para crianças, e sedia exposições artísticas e abriga uma horta comunitária.
Ótimo lugar para uma pausa nas caminhadas pela Cidade Velha de Montevidéu.
Café Brasilero: charme, história e ótima comida |
⭐ Comer e beber na Cidade Velha de Montevidéu
As dicas do Mercado do Porto, dos excelentes restaurantes Estrecho e Jacinto e da inenarrável Padaria 25 de Mayo estão aqui > Onde comer em Montevidéu
Já as informações sobre o fofo Café la Farmacia os históricos Café Brasilero e Café Bacacay e o mega-blaster turístico Baar Fun Fun você encontra neste post > Bares e cafés em Montevidéu
Café Bacacay.
Linardi y Risso (esq) e Más Puro Verso: duas livrarias que já valem a visita à Cidade Velha de Montevidéu |
⭐ Livrarias da Cidade Velha de Montevidéu
Um dos grandes prazeres de um passeio pela Cidade Velha de Montevidéu é garimpar as ótimas livrarias do bairro. Eu visitei e fiz a festa na decana Librería Linardi y Risso, uma catedral dos livros inaugurada em 1944, na ótima e muy instagramável Librería Más Puro Verso (que tem um simpático café no mezanino) e na pequenina e cheia de personalidade La Lupa Libros.Outras livrarias muito bem reputadas na Cidade Velha são a Moebius Libros (J. Perez Castellano nº 1432, aberta diariamente das 10h às 19h), que vende livros usados, quadrinhos, camisetas e objetos de decoração descolados.
Tecnicamente, a Librería El Galeón (Plaza Independencia nº 1382, aberta de segunda a sexta, das 11h às 18h) está fora da Cidade Velha, mas tem tudo a ver com a vibe do bairro. Ela se apresenta como uma “livraria-antiquário”, especializada em obras raras, mapas, gravuras, fotos e postais.
Bailongo (1925), no Museu Figari. Abaixo, América Invertida ou O Sul é o Norte (1943), a obra mais conhecida de Torres García e destaque do museu dedicado ao maior dos pintores uruguaios |
⭐Museus da Cidade Velha de Montevidéu
A Cidade Velha de Montevidéu tem três museus absolutamente
imperdíveis para quem curte artes plásticas. Cada um deles é dedicado a um
grande pintor — e o Uruguai tem um elenco notável de artistas dos pincéis.
Pra mim, o Museu Torres García, o Museu Gurvich e o Museu
Figari formam a trinca de ouro das atrações da Cidade Velha. Joaquín Torres
García (que leitores frequentes da Fragata já estão carecas de saber que é um
dos meus favoritos na vida) é o mais famoso dos pintores uruguaios. José Gurvich,
seu discípulo, também foi um artista sensacional. E a obra de Pedro Figari é um
espetáculo.
Composição de Nova York I (1971), no Museu Gurvich. Abaixo, o Museu de Arte Pré-colombiana e Indígena |
Esses três museus ficam muito pertinho um do outro, mas não recomendo que você os visite todos no mesmo dia. Muita beleza junta acaba saturando o olhar. Reserve um dia para cada um deles.
Também vale conferir a programação de mostras temporárias do
Museu de Arte Pré-Colombiana e Indígena (MAPI). O famoso
Museu do Carnaval (Rambla 25 de Agosto nº 1825), no Mercado do Porto, estava
fechado nos dias em que estive em Montevidéu, mas ele é muito bem recomendado.
Fiquei devendo uma visita ao Museu de Artes Decorativas,
instalado no belo Palácio Tarranco, de cara para a fofa Plaza Zabala (Calle 25
de Mayo nº 376, aberto de segunda a sexta, das 12:30h às 17:30, entrada
gratuita).
Para ver as dicas e muitas fotos do Museu Torres García, o
post é este > Montevidéu
– Museu Torres García
Para saber mais (e ver muuuuitas fotos) sobre o Museu
Figari, Museu Gurvich e Museu de Arte Pré-Colombiana e Indígena, dê uma olhada
aqui > 9
Centros Culturais e Museus de Montevidéu
Viagem de 2011
O Uruguai na Fragata Surprise
Colónia del Sacramento
Punta del Este
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