15 de agosto de 2022

9 centros culturais e museus de Montevidéu

Museu Juan Manuel Blanes, Montevidéu, Uruguai
O Museu Blanes fica um pouquinho fora do circuito mais turisticão de Montevidéu, mas merece muito a visita

O Uruguai pode até ser um país pequenininho, em território e população, mas é imenso no talento de seus artistas. Imagine que na Cidade Velha de Montevidéu você consegue visitar três museus dedicados a três pintores geniais, caminhando menos de 300 metros entre eles.

Essa trinca sensacional é um dos destaques entre os centros culturais e museus de Montevidéu: o Museu Torres García, o Museu Gurvich e o Museu Figari.

Museu Nacional de Artes Visuais de Montevidéu
O Museu Nacional de Artes Visuais exibe um timaço de artistas uruguaios
 

Mas a coisa não para por aí. Antes de mergulhar no intensivão da obra desses três gênios, você pode ter um panorama mais geral das artes plásticas uruguaias (e ficar apaixonada) visitando o excelente Museu Nacional de Artes Visuais, no Parque Rodó, e o belo Museu Manuel Blanes, instalado em uma quinta do Século 19 e cercado por jardins super românticos.

O cardápio de centros culturais e museus de Montevidéu, sozinho, já justifica planejar uma visita mais esticada à cidade do que os clássicos dois dias que a gente costuma dedicar aos passeios na capital uruguaias — eu fiquei 9 dias por lá e aposto que ainda descobriria algum museuzinho que valesse a espiada.

Exposição sobre rituais indígenas em El Salvador no MAPI de Montevidéu
Adorei esta exposição sobre rituais indígenas em El Salvador no MAPI 

Centro de Fotografia de Montevidéu
O Centro de Fotografia de Montevidéu fica no caminho da turistagem, a Avenida 18 de Julio, e tem entrada gratuita
 
O Museu Nacional de Artes Visuais e o Museu Torres Garcia já ganharam posts exclusivos — e vários outros museus citados aqui também mereceriam uma postagem mais detalhada.

Mas pra facilitar a sua organização, reuni aqui os seis museus e três centros culturais que visitei em Montevidéu e que super recomendo para o seu roteiro na cidade. Além dos já citados, este post tem informações sobre o Museu de Arte Pré-colombiana e Indígena (MAPI), do Centro Cultural El Entrevero/Subte, o Centro de Fotografia de Montevidéu e a Fundação Mário Benedetti.

Museu de Arte Pré-Colombiana e Indígena de Montevidéu
Achados arqueológicos no Museu de Arte Pré-Colombiana e Indígena, na Cidade Velha

Dessas 9 atrações que listei aqui, seis têm entrada gratuita. Tem coisa melhor do que uma cidade cheia de museus bacanas que não cobram ingresso?

Aproveite as dicas e eu garanto que seu roteiro em Montevidéu vai ficar muito mais prazeroso com essas atrações.


Centros culturais e museus de Montevidéu



"O Juramento dos 33 Orientais", quadro do pintor uruguaio Juan Manuel Blanes

O Juramento dos 33 Orientais, a tela mais famosa de Juan Manuel Blanes, retrata a decisão de independentistas uruguaios de combater "o jugo do Império do Brasil" — pra quem não lembra, o Uruguai chegou a ser uma província disputada por nosso país

Museu Juan Manuel Blanes, Montevidéu, Uruguai
Uma das salas principais do museu é dedicada às obras mais importantes de Blanes

Museu Juan Manuel Blanes
Avenida Millán nº 4015, El Prado
🕒 Horário: de terça a domingo, das 14h às 18h.
Entrada gratuita

Localizado no Bairro de El Prado, 8 km ao Norte do centro de Montevidéu (e a 10 km de Punta Carretas), o Museu de Belas Artes Juan Manuel Blanes pode parecer um pouquinho fora de mão para quem está turistando em Montevidéu, mas é facílimo chegar lá, com ônibus parando literalmente na porta.

"O Derrotado", tela de Juan Manuel Blanes
O Derrotado (acima) e A Cativa. A ternura nessas telas de Blanes ganhou meu coração

Some-se a isso a entrada gratuita e acho que acabei de obliterar qualquer desculpa que você teria para deixar de ver esse belo museu.

O Museu Blanes está instalado em um casarão neoclássico — a antiga Quinta de Raffo, de 1870 — cercado por um romanticíssimo jardim e é dono de um acervo muito bacana.

Museu Juan Manuel Blanes, Montevidéu, Uruguai
Fiz esta foto do Museu Blanes na parada do ônibus que me levou de Punta Carretas até lá

Museu Juan Manuel Blanes, Montevidéu, Uruguai

Museu Juan Manuel Blanes, Montevidéu, Uruguai
O Museu Blanes foi instalado em uma quinta do Século 19 e inaugurado em 1930

São mais de 4 mil pinturas e desenhos e 200 esculturas, com destaque para as obras do “dono da casa”, Juan Manuel Blanes (1830 – 1901), o mais conhecido pintor uruguaio do Século 19 — eu penso nele como o equivalente aos brasileiros Pedro Américo e Victor Meireles, pelo tom épico/nacionalista de grande parte de seu trabalho.

Antes desta visita a Montevidéu, eu só tinha ouvido falar, vagamente, da arte de Blanes. Esperava encontrar um pintor apenas empostado e solene, mas fiquei muito tocada com a empatia que ele convida a gente a sentir dos deserdados e vulneráveis que ele retrata. 

 Demônio, mundo e carne, de Juan Manuel Blanes


"As Manolas", tela de Pedro Blanes Viale
As Manolas, de Pedro Blanes Viale, que é meio contemporâneo, mas não é parente do Blanes "dono da casa"

Já tinha ficado muito comovida com A Paraguaia, tela que vi no Museu Nacional de Artes Visuais. No Museu Blanes, achei especialmente tocante o desânimo de um gaucho que parece retornar de uma batalha em O Derrotado e a desolação de A Cativa. 

Só por isso, a visita a Museu Blanes já estaria valendo. Mas o acervo tem muito mais.

Tela de Pedro Figari no Museu Juan Manuel Blanes, Montevidéu
Pedro Figari, o grande pintor do Candombe, também gostava de retratar os bailes gauchos da campanha uruguaia

Tela de Pedro Figari no Museu Juan Manuel Blanes, Montevidéu

Por exemplo, uma coleção alentada e bonita até dizer chega de obras de Pedro Figari, um cara que parece decidido a me manter apaixonada por pintores uruguaios, não bastasse Joaquín Torres García, que também está representado no acervo do Museu Blanes — como eu vivo repetindo, museu bom tem que ter Torres García, né?

O Museu Juan Manuel Blanes foi inaugurado em 1930, em comemoração ao centenário da Independência do Uruguai — uma de suas principais obras, aliás, é O Juramento dos 33 Orientais, de Blanes, uma espécie de Grito do Ipiranga uruguaio.

A coleção de obras de Pedro Figari no Museu Blanes é uma festa para os olhos

Tela de Pedro Figari no Museu Juan Manuel Blanes, Montevidéu
E uma cena de candombe de Pedro Figari não poderia faltar

A inspiração inicial do museu era abrigar obras do Século 19, mas, aos poucos, o acervo foi recebendo peças mais recentes. 

O resultado, pela diversidade de artistas e gerações presentes na coleção, é que o Museu Blanes acaba sendo um delicioso complemento à visita ao Museu Nacional de Artes Visuais (MNAV), sem dúvida o grande mosaico das artes plásticas uruguaias.

Museu Juan Manuel Blanes, Montevidéu
Achei o Museu Blanes muito bonito 

Museu Juan Manuel Blanes, Montevidéu

Vi no site do Museu Blanes que a coleção também inclui obras de Courbet, Vlaminck, Dürer, Rembrandt, Miró, Picasso, Goya, Gaugin e outros europeus, mas não encontrei essas peças em exposição.

No fundo do Museu Blanes fica um elogiado jardim japonês. Pena que o espaço é fechado quando chove — no dia da minha visita, caiu a única chuva que peguei em Montevidéu, um alentadíssimo aguaceiro.

Como chegar ao Museu Blanes: partindo de Punta Carretas, pegue o ônibus 522 (direção Peñarol), que tem diversas paradas na Calle 21 de Setiembre. Após cerca de 50 minutos de viagem, esse coletivo deixa você  literalmente de cara para o museu. 

Desça na parada Museo Juan Manuel Blanes e daí é só atravessar a rua. Para retornar, é só tomar o mesmo ônibus, que para em frente ao portão do museu. 

Outras possibilidades de transporte são o ônibus 181 (partindo do Boulevard España, esquina com Roque Graseras) e o ônibus 582 (partindo da Calle Juan Benito Blanco, esquina com 21 de Setiembre).

Obra do pintor José Gurvich, Museu Gurvich, Montevidéu
A paisagem  e personagens do Cerro na obra de José Gurvich: que presente eu ganhei de Montevidéu explorando a obra desse artista maravilhoso!

"Personagens do Cerro, Museu Gurvich, Montevidéu

Obra do pintor José Gurvich, Museu Gurvich, Montevidéu
Gurvich foi discípulo de Torres García e exercitou o Universalismo Contrutivo com muita personalidade

Museu Gurvich
 Peatonal Sarandí nº 522/524, Ciudad Vieja
 
🕒 Horários: de segunda a sexta, das 10h às 18h. Sábados, das 11h às 15
💲 Ingresso: 220 pesos

Nascido na Lituânia, em 1927, José Gurvich chegou ao Uruguai com a família, aos 5 anos de idade, fugindo da perseguição religiosa movida contra os judeus no Leste Europeu.

Ele cresceu no Barrio Sur, ainda hoje um guardião da tradição do Candombe em Montevidéu, onde as moradias baratas também concentraram muitos imigrantes.

Cerâmicas de José Gurvich, Museu Gurvich, Montevidéu
Além da pintura, Gurvich também se dedicou à gravura, à escultura e à cerâmica

"Construtivo com Espiral", obra de José Gurvich no Museu Gurvich de Montevidéu
Construtivo com espiral, de 1960

A Montevidéu proletária e as tradições judaicas vivenciadas na infância e juventude são temas recorrentes na obra desse que foi o mais destacado dos discípulos artísticos de Joaquín Torres García, em cujo ateliê Gurvich foi aceito em 1944.

Já adulto, o pintor mudou-se para o Cerro de Montevidéu, outra área majoritariamente proletária e povoada por imigrantes e que tem visível protagonismo em sua obra.

Obras de José Gurvich, Museu Gurvich, Montevidéu

O romance e o aconchego familiar são temas muito presentes no trabalho de Gurvich. À esquerda, a escultura Casal (1956). À direita, o Casal Cósmico (1966), uma das obras mais conhecidas do artista


Obra do pintor uruguaio José Gurvich
A vida rural das comunidades judaicas Leste Europeu também inspirou a obra de Gurvich

Essa trajetória do artista está muito bem retratada no excelente Museu Gurvich, que compõe — com o Museu Torres García e o Museu Figari — a trinca de atrações mais espetaculares da Cidade Velha de Montevidéu.

O Museu Gurvich foi inaugurado em 2005 e, desde 2015, funciona em um edifício da Peatonal Sarandí (Rua de Pedestres Sarandí) que passou por uma super remodelação para abrigar as mais de 200 obras do artista que compõem seu acervo. O resultado dessa reforma é um museu muito bacana: bonito, bem organizado e com roteiro expositivo muito didático.

"O Anúncio de Sara", obra do pintor uruguaio José Gurvich

Na década de 50, Gurvich viveu uma temporada em um kibutz, em Israel. O reencontro com as raízes judaicas inspirou diversas obras inspiradas na tradição religiosa de seu povo. Em O Anúncio de Sara (1969) ele retrata a confirmação da gravidez tardia da mulher do patriarca Abraão


"Em memória de meu pai", obra do pintor uruguaio José Gurvich
Em Memoria de Meu Pai, de 1970, pintado logo após o falecimento do pai do artista

Eu conhecia quase nada da obra de Gurvich e saí de lá com a sensação de ter mergulhado na trajetória do artista, compreendendo o contexto de sua obra e os afetos que inspiraram sua pintura. Adoro quando um museu me toma pela mão e me leva em uma viagem tão rica e tão bela.

Sim, porque a beleza da obra de Gurvich é de deixar a gente com os olhos meio marejados, especialmente quando ele retrata o imaginário das tradições judaicas e os personagens dos bairros de trabalhadores de Montevidéu, como o Cerro.

"O Homem Cósmico", obra do pintor uruguaio José Gurvich
O Homem Cósmico (1970)

"Projeto para Monumento com Ponte", de José Gurvich
Projeto para Monumento com Ponte (1972). Gurvich passou o finalzinho da vida em Nova York. Foi lá que um ataque cardíaco fulminante abreviou tão precocemente a vida do artista, aos 47 anos de idade

Museu Gurvich, Montevidéu
Painel no foyer do Museu Gurvich. Abaixo, a recriação do ateliê do artista

reprodução do ateliê de José Gurvich, Museu Gurvich, Montevidéu

O Museu Gurvich se organiza como um centro cultural completo, voltado para as artes plásticas. Além da coleção permanente, que ocupa três pavimentos do edifício, promove exposições temporárias no quarto andar do prédio — eu vi uma mostra lindíssima da pintora Bertha Luísi, também discípula de Torres García.

Além disso, o museu está sempre movimentado com debates, palestras, seminários e cursos, especialmente sobre artes visuais.

Lindo e imperdível, esse Museu Gurvich.

"Emigração", obra do pintor Uruguaio Pedro Figari
Emigração (1932): um dos meus grandes planos em Montevidéu era conhecer mais a obra de Pedro Figari. Agora, me pergunto por que demorei tanto pra dar esse mergulho

"Lua de Mel", obra do pintor uruguaio Pedro Figari

Lua de Mel, um dos quadros que eu mais curti no Museu Figari

  

Museu Figari
Calle Juan Carlos Gómez nº 1427, Ciudad Vieja
🕒 Horários: de terça a sexta, das 13h às 18h. Sábados, das 10h às 14h. Fecha aos domingos, segundas e feriados.
Entrada Gratuita

Já contei aqui na Fragata que há um tempão eu estava bem curiosa pra ver mais e mais de perto a arte de Pedro Figari (1861-1938), pintor que já tinha me chamado a atenção com uma única tela (Candombe, de 1921) exposta no Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires (Malba)

Cena de Candombe pintada por Pedro Figari
 
Cena de Candombe pintada por Pedro Figari
Cena de Candombe pintada por Pedro Figari
Três cenas de Candombe pintadas por Pedro Figari. O artista contribuiu para dar visibilidade à cultura africana no Uruguai

Essa passagem mais recente por Montevidéu me permitiu um delicioso mergulho na obra de Figari, um cara que fez arte, refletiu e teorizou sobre a arte, além de atuar como jornalista, professor filósofo e advogado — ele teve papel militante destacado na abolição da pena de morte no Uruguai, em 1907.

Figari passou grande parte de sua vida adulta no exterior (na França, principalmente), mas sua arte está impregnada da alma uruguaia. E essa alma vai muito além do clichê da “Suíça Sul Americana” que se tenta gravar como a identidade do Uruguai.

"Dia de Trilha", pintura de Pedro Figari
Dia de Trilha (1921), retrata uma dança dos Pampas uruguaios
 
Em A Desculpa, o tema é um salão colonial

Se até os anos de 1980 a cultura de matriz africana no país era tratada como invisível — na prática, proscrita e reprimida —  imaginem o impacto da obra de Figari, que fez do dia a dia e da celebração dos negros um dos temas mais caros de sua pintura quando o Século 20 mal engatinhava.

Fazendo poesia com a cor — seu traço manchado é sempre destacado pelos estudiosos — Figari retratou as tradições populares do país, dos afrodescendentes e também a presença indígena na identidade nacional e os ecos coloniais na cultura dos gauchos. O resultado é inebriante.

"Viejo Verde", pintura de Pedro Figari

Viejo Verde (algo como sugar daddy, acima), No povoado (abaixo) e Não vá, pai (mais abaixo) 

 
"No povoado", pintura de Pedro Figari

"Não vá, pai", pintura de Pedro Figari

Felizmente, os melhores museus de Montevidéu têm belas coleções da obra de Pedro Figari, como o Museu Nacional de Artes Visuais e o Museu Blanes. Mas isso não dispensa a visita ao Museu Figari, cujo acervo é uma escancarada celebração à obra do artista.

Inaugurado em 2010, o Museu Figari ocupa um predinho de 1914, na Cidade Velha, a poucos passos de duas outras instituições imperdíveis no bairro, o Café Brasilero e a Livraria Linardi y Risso — se você combinar as três visitas, aposto que vai ter um dia sensacional.

"Romantismo", pintura de Pedro Figari
Achei Romantismo uma obra sensacional. Abaixo, uma das salas do museu, que funciona em um edifício de 1914

Museu Figari, Montevidéu

Além do alentado acervo de obras de Figari, o museu promove mostras temporárias, palestras e cursos sobre artes plásticas.

Um projeto que achei sensacional e cujo resultado estava sendo exposto, quando visitei o museu, foi a coletânea de obras de alunos das escolas que visitam a instituição, inspiradas na estética do artista.

Figuras inspiradas na pintura de Pedro Figari
As obras dos estudantes da Oficina Bilú ganharam o direito de serem expostas junto aos trabalhos de Figari que as inspiraram
 
Bolsa pintada com personagens de Pedro Figari

A Oficina Bilú: Figari em Nós resultou em esculturas, quadros, camisetas e diversos objetos marcados pela beleza do olhar do pintor refletido pelos olhos dos alunos. Taí uma excelente iniciativa pra despertar na garotada o gosto pela arte e revelar talentos.

Máscaras usadas em folguedos de mouros e cristãos em El Salvador
Máscaras e trajes usadas em folguedos de mouros e cristãos em El Salvador em exposição no MAPI de Montevidéu

Máscaras usadas em folguedos de mouros e cristãos em El Salvador

Museu de Arte Precolombiana e Indígena (MAPI)
Calle 25 de Mayo nº 279, entre Colón y Pérez Castellano, Ciudad Vieja
🕒 Horários: de segunda a sábado, das 10:30h às 18h.
💲 Ingresso: 150 pesos. Estudantes brasileiros pagam 80 pesos

Cercado por atrações famosas da Cidade Velha, o Museu de Arte Pré-Colombiana e Indígena de Montevidéu acaba ofuscado pelos vizinhos famosos e não costuma entrar nos roteiros de passeios na capital uruguaia.

Museu de Arte Pré-Colombiana e Indígena de Montevidéu
O MAPI se dedica a preservar e exibir a cultura dos povos originários das Américas, antes e depois de Colombo

Museu de Arte Pré-Colombiana e Indígena de Montevidéu
 
Instalado em um belíssimo edifício em estilo eclético, que já funcionou como centro de saúde, o museu vai parecer modesto em acervo para quem já visitou colossos como o Museu do Ouro de Bogotá, o Museu Nacional de Antropologia da Cidade do México ou o Museu Larco de Lima

Mas, antes de torcer o nariz para esse espaço também dedicado à arqueologia e à etnografia dos originários das Américas, é bom saber que seu acervo tem cerca de 1.200 peças de mais de 60 culturas, dos Incas aos Charruas, dos Astecas aos Guaranis e também promove exposições temporárias bem interessantes.

Museu de Arte Pré-Colombiana e Indígena de Montevidéu
O edifício onde funciona o MAPI é muito bonito
 
Museu de Arte Pré-Colombiana e Indígena de Montevidéu

Pena que pouco desse patrimônio esteja em exposição. Uma das salas do MAPI é, naturalmente, dedicada aos povos que habitaram o território do que hoje é o Uruguai. Outra traça um panorama das diversas culturas que habitaram e ainda habitam as Américas.

Gostei imensamente das duas exposições temporárias que estavam em cartaz no MAPI. Uma delas era dedicada à pintura de peles de animais (bisões, principalmente), características dos indígenas das Planícies da América do Norte, como os Sioux, os Apaches e os Cheyennes.

Exposição sobre indígenas da América do Norte em Montevidéu
Uma das mostras temporárias do MAPI era sobre a arte de povos indígenas da América do Norte

Exposição sobre indígenas da América do Norte em Montevidéu
 
A outra mostra temporária era Os Outros Rostos de El Salvador, uma coleção de máscaras, trajes e adereços usadas em rituais e folguedos de origem pré-hispânicas e também sincretizados por evangelizadores, após a ocupação espanhola da América Central.

Um dos rituais mais difundidos, ainda hoje, é a Dança dos Historiantes, a versão salvadorenha das danças de mouros e cristãos presentes em toda a América de colonização ibérica — como as Cavalhadas de Pirenópolis (GO).

Navegando pelo site do MAPI, vi que é comum o museu realizar mostras temporárias dedicadas a diversas culturas originárias presentes pelo planeta, como os Aborígenes Australianos, os povos indígenas do México, as culturas autóctones do Canada e muito mais. Só a chance de ver exposições como essas já vale a visita ao MAPI.

Museu Nacional de Artes Visuais de Montevidéu
O MNAV tem entrada gratuita e um acervo maravilhoso

Museu Nacional de Artes Visuais (MNAV)
Avenida Tomás Giribaldi nº 2283, esquina com Julio Herrera, Parque Rodó

🕒 Horário: de terça a domingo, das 13h às 20h
Entrada gratuita 

O MNAVé um museu tão, mas tão bacana, que se você tiver que escolher apenas um para visitar em Montevidéu, eu recomendo que seja ele. Já contei toooodos os motivos para meu entusiasmo lá no post exclusivo que dediquei a esse baita museu. Siga o link aí do título e divirta-se. 😊

Museu Torres García Montevidéu

Pra mim, não existe viagem a Montevidéu sem visita ao Museu Torres García

Museu Torres García

Peatonal Sarandí nº 683, Ciudad Vieja
🕒 Horários: de segunda a sexta, das 10h às 19h. Sábados, das 11h às 17h. Fecha aos domingos.
💲 Ingresso: 110 pesos

Se você é nova/o aqui na Fragata, preciso avisar que sou arriada dos quatro pneus pela obra do pintor uruguaio Joaquín Torres García — possivelmente, o artista mais citado aqui no blog, depois dos Beatles. Se você não é nova/o por aqui, releve este milionésimo arroubo de paixão.

Dito isso, é claro que o Museu Torres García ganhou um post só pra ele, onde eu tento explicar (e mostro, com uma montanha de fotos) os motivos desse irredutível xodó. Basta seguir o link aí no alto e você chega lá.

Centro Cultural El Entrevero/ Subte, Montevidéu
Aposto que em algum momentos de seu passeio você vai passar pelo Subte. Aproveite a programação cultural e a sombra convidativa da Plaza Fabini

Plaza Fabini, Montevidéu

Centro Cultural El Entrevero/Subte
Plaza Juan Pedro Fabini s/n, na Avenida 18 de Julio, esquina com Julio Herrera y Obes, Centro
🕒 Horários: de segunda a sábado, das 12h às 20h. Fecha domingos e feriados.
Entrada gratuita

Exposição "Infância na Ditadura", Montevidéu
Presa política reencontra a filha ao ser libertada da prisão

A dica sobre o Centro Cultural El Entrevero, apelidado de Subte (a palavra platense para “metrô”) eu pesquei no blog Viver em Uruguay, escrito pela baiana Mile Cardoso, que é local em Montevidéu. E que dica bacaninha! Comprovei o que Mile tinha falado: tem sempre algo interessante acontecendo por lá.

Exposição "Infância na Ditadura", Montevidéu
O barquinho feito por um preso político da ditadura para seus filhos. À direita, Gabriela, sequestrada pela Operação Condor (articulação das ditaduras do Cone Sul). Seu pai e sua mãe foram assassinados

O centro cultural parece mesmo uma estação de metrô brotando do gramado da simpaticíssima Plaza Fabini, um recanto bem arborizado no meio do vai e vem da Avenida 18 de Julio. Aposto que você vai passar por lá em algum momento dos seus passeios por Montevidéu. Fique ligada na programação e aproveite que o Subte tem entrada gratuita.

No nível da rua, o espaço do Subte é pequenininho, mas no amplo subsolo o espaço expositivo é bem generoso.

Foi lá que vi uma exposição bem sucinta, mas acachapante: Infância na Ditadura, uma pequena coleção de memórias dilacerantes. Os breves relatos de meninos e meninas colhidos pela voragem do regime ditatorial que infelicitou o Uruguai entre 1973 e 1985 fazem companhia a brinquedos, livros de história e outros objetos feitos pelos pais e mães dessas crianças, presos políticos.

A exposição Infância na Ditadura era complementada por uma programação de palestras, conversas, apresentações musicais e exibição de filmes.

"Avis Rara", exposição do artista plástico uruguaio Ulises Beisso
Rara Avis, exposição de Ulises Beisso em El Entrevero

No subsolo de El Entrevero estava em cartaz a retrospectiva Rara Avis, dedicada ao trabalho do artista plástico Ulises Beisso (1958-1986) que me pareceu bem interessante — mas confesso que eu estava meio atordoada pela exposição anterior pra curtir as obras de Beisso como elas mereceriam.

Centro de Fotografia de Montevidéu
O acervo de fotografias da Cidade de Montevidéu merece uma visita

Centro de Fotografia de Montevidéu

Avenida 18 de Julio nº 885, entre Andes e Convención, Centro
🕒 Horários: de segunda a sexta, das 10h às 18:30h. Sábados, das 9:30h às 14:30h
Entrada gratuita

Menos de 300 metros adiante de El Entrevero/Subte e cerca de uma quadra antes da Plaza Independência (onde ninguém que visita Montevidéu deixa de dar uma passada) está o Centro de Fotografia de Montevidéu, mantido pela Prefeitura e dono de um acervo interessantíssimo de imagens da cidade, com registros desde que o primeiro daguerreotipo aparecenaem Montevidéu.

Centro de Fotografia de Montevidéu
Esta imagem dos anos 1940 foi feita de uma das janelas do edifício que hoje abriga o Centro de Fotografia de Montevidéu. Abaixo, um Carnaval dos velhos tempos

Centro de Fotografia de Montevidéu

Este acervo está agora aberto ao público, que pode explorar as imagens online e ver uma seleção de fotos mais significativas ampliadas, expostas nesse simpático centro cultural. Embora meu barato seja mesmo escrever, sou louca por fotografia e me diverti imensamente nessa visita, conhecendo técnicas antigas de registro de imagem, vendo equipamentos que eu nem imaginava que existiam e vendo cenas de uma Montevidéu de outras eras.

Se você curte fotografia e história, ou se tem curiosidade de ver o cotidiano de décadas passadas, aposto que vai amar o Centro de Fotografia de Montevidéu.

Fundação Mario Benedetti, Montevidéu
Torci muito para ter alguma programação literária na Fundação Mario Benedetti

Fundação Mário Benedetti
Calle Joaquín de Salterain nº 1293, esquina com Guaná, Cordón
🕒 Horários: segundas, das 10h às 13h e das 14h às 17:30h. De terça a sexta, das 10h às 13h e das 14h às 19:30h. Sábados, das 9h às 19:30h
Entrada gratuita

Criada para preservar e divulgar a obra do grande autor uruguaio, a Fundação Mário Benedetti funciona em uma típica casa do Bairro de Cordón — antiguinha e linda. Mantém uma biblioteca e um pequeno museu com objetos e móveis que pertenceram ao escritor. Geralmente, a fundação oferece visitas guiadas, mas dei o azar de passar por lá em um dia de reunião da equipe.

Como essa não será minha última visita a Montevidéu, não vai faltar oportunidade de ouvir versos de Benedetti lidos em torno da mesa onde ele costumava tomar o café da manhã.

A Fundação Mário Benedetti foi criada sob a supervisão do escritor. Uma de suas exigências foi que a instituição trabalhasse próxima às entidades de direitos humanos, apoiando principalmente as investigações sobre os desaparecidos durante a ditadura uruguaia. 

A fundação também confere anualmente o Prêmio Internacional Mario Benedetti à luta pelos direitos humanos e a solidariedade. Em 2017, o homenageado foi o teólogo e ativista brasileiro Leonardo Boff.


Atrações

O Uruguai na Fragata Surprise
Colónia del Sacramento
Punta del Este

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