La Pedrera, uma das obras mais famosas de Gaudí e maior
ícone do Passeig de Gràcia |
O Modernismo em barcelona também é um baita personagem — e vá ser bonito assim lá na Catalunha.
Poucas cidades do mundo têm sua identidade tão imediatamente associada a um arquiteto como Barcelona a Antoni Gaudí — creio o outro grande exemplo é Brasília, que basta a gente pensar nela para lembrar de Oscar Niemeyer.
Casa Lleó Morera, do arquiteto Domenèch i Montaner |
E quando digo Modernismo, é bom lembrar que a cara de Barcelona saiu de muitas pranchetas. Gaudí foi um gênio, mas não foi o único.
Tem dois caras que merecem estar no mesmo panteão que ele: Lluís Domènech i Montaner, autor do escandalosamente lindo — e profundamente humano — Hospital de la Santa Creu e Sant Pau, e Josep Puig i Cadafalch, que assina, entre outras, a Casa Amatller.
Tem Modernismo no Bairro Gótico, também. Olha só essas
fachadas lindas. Depois de explorar o Passeig de Gràcia, deixe Barcelona
surpreender você |
Preciso avisar que não há a menor chance de alguém esgotar as rotas do Modernismo em Barcelona em uma viagem — nem em duas, nem em três, meu caso, ou mesmo em 10. E isso é uma grande notícia, porque sempre vão sobrar motivos para um retorno.
O Ajuntament de Barcelona (a Prefeitura) tem uma lista de 120 construções que merecem ser vista em uma Rota do Modernismo, com várias possibilidades de itinerário.
Cliquei essas fachadas lindas passeando pela Carrer de
Provença, transversal do Passeig de Grácia |
Neste post, organizei um roteiro pelo Modernismo em Barcelona no Passeig de Gràcia, a maior passarela modernista da cidade, e arredores. Ele contempla os grandes clássicos e outros encantos na vizinhança desses highlights.
Dois espetáculos do Eixample — a Basílica da Sagrada Família, de Gaudí, e o Hospital de la Santa Creu e Sant Pau, de Domenèch i Montaner — ganharam posts exclusivos.
O modernismo nas Ramblas também ganhou um post só pra ele. Veja: O que fazer nas Ramblas de Barcelona
Qualquer caminhada pelo Eixample é um grande safári
modernista |
O Passeig de Gràcia é um banquete para o olhar |
O Modernismo está tão entranhado na paisagem e na alma da cidade que ele mesmo se encarrega de vir ao encontro da visitante, se apresentar e bancar o cicerone por todos os cantos.
Vá além do mapa e abrace a surpresa. Permita-se, porque vai ser lindo. Bora?
Duas pop stars do Modernismo em Barcelona: a Casa Amatller, com o telhado em degraus, e a Casa Batlló |
Roteiro do Modernismo em Barcelona
Para começar o roteiro nos Jardins de Salvador Espriu e Casa Fuster, desembarque na Estação Diagonal e caminhe 240 metros na direção Norte. Na outra ponta do Passeig de Gràcia, a estação Plaça de Catalunya é perfeita para quem quer começar o passeio na extremidade Sul do bulevar.
O que ver no Passeig de Gràcia
Friso na fachada de um edifício do Passeig de Gràcia |
O Passeig de Gràcia passou a ser O endereço elegante da cidade. A maioria de suas casas modernistas é da virada do século 19 para o 20.
Jardins de Salvador Espriu, na ponta Norte do Passeig de
Gràcia |
Sua fachada em pedra clara é sustentada por colunas com capitéis em delicados motivos florais — uma das marcas do Modernismo Catalão, assim como de vários de seus primos, como o Jugendstil e a Art Nouveau. Nos andares superiores, as janelas se alongam em um desenho gótico-contido com sotaque mourisco muito bonito.
Casa Fuster, última obra de Domènech i Montaner em Barcelona |
⭐ Um desvio na Avinguda Diagonal
A uma quadra do Passeig de Gràcia, a Casa Comalat é apontada como um dos grandes exemplares da arquitetura modernista em Barcelona |
Obra de Puig i Cadafalch, a Casa de les Punxes é um escândalo de bonita |
Ainda na Avinguda Diagonal, vale a parada para ver o Palau Baró de Quadras |
Vida doméstica à moda do Modernismo em Barcelona, em um dos
apartamentos de La Pedrera. Abaixo, o terraço da construção |
Se você só tiver tempo, grana ou paciência para visitar uma única casa dessa área, que seja La Pedrera. A sujeita é linda por fora, mas percorrer um de seus apartamentos — ter um vislumbre do que seria a rotina doméstica dentro da obra — é um dos grandes programas oferecidos por Barcelona.
⭐ Casa Millà/La Pedrera
Passeig de Gràcia n° 92
Os apartamentos de La Pedrera estão voltados para um pátio
interno (no alto, à esquerda). E o terraço da casa de Gaudí é uma viagem |
De novembro a fevereiro, das 9h às 18:30h. Visita noturna das 19h às 21h.
No período de Natal e ano Novo (26/12 a 3/1) os horários de abertura e encerramento seguem o calendário do verão.
➡️ Ingressos a partir de € 22.
Casa Casas-Carbó |
Um pouquinho antes de chegar e se extasiar com as ondas do mar que se insinuam na fachada de La Pedrera, não deixe de reservar um tempinho pra ver a Casa Ramón Casas, ou Casa Casas-Carbó, no nº 96 do Passeig de Grácia (tem uma loja Massimo Dutti no térreo, pra facilitar sua localização).
Projeto do arquiteto Antoni Rovira i Rabassa, a Casa Casas-Carbó foi inaugurada em 1898. Foi a residência do pintor Ramón Casas e chama a atenção pelo balcão em pedra talhada que se debruça sobre o bulevar (deve ter sido um baita camarote, em tempos idos).
Ensanduichado entre duas casas famosas, o nº 94 do Passeig
de Grácia tem belíssimos balcões |
⭐Hotel Majestic
Passeig de Gràcia nº 68
O Hotel Majestic é um dos meus xodós no Passeig de Gràcia |
Passeig de Gràcia nº 66
A entrada do edifício, um hall aberto, é sustentado por colunas, com uma bela escadaria aos olhos de quem passa na calçada. E os balcões da casa são de romance.
Este balcão da Casa Vídua Marfà é de romance |
Um dos motivos do meu encantamento com a Casa Vídua Marfà é seu desenho escancaradamente gótico — o medievalismo é uma característica fortíssima do Modernismo Catalão.
Mas adoro o medieval-estilizado do Modernismo Catalão, que sempre me lembra as ilustrações de contos de fadas de livros do Século 19 e está super bem representado na casa da viúva.
A Casa Amatller e a Casa Batlló juntinhas no Quadrat d'Or.
Fiz essa foto em uma viagem anterior, quando as árvores desfolhadas do inverno
não impediam a visão de "corpo inteiro" das duas beldades |
⭐Quadrat d'Or
O nome vem da reunião naquele trechinho de alguns dos exemplares mais notáveis do Modernismo em Barcelona. Lá estão, quase abraçadinhas, a Casa Batlló (obra de Gaudí no nº 43 do Passeig de Grácia), a Casa Amatller (de Puig i Cadafalch, nº 41) e a Casa Lleó-Morera (de Domènech i Montaner, nº 35).
A Casa Lleó Morera e sua famosa janela |
Dependendo do narrador, o Quadrat D'Or também é chamado de "Quarteirão da Discórdia", em alusão aos egos dos arquitetos, que parecem duelar pelo título de fachada mais impressionante da quadra.
As três obras mais famosas do Quarteirão da Discórdia ofuscam as menos famosas Casa Mulleras (de Enric Sagnier, no nº 37) e a Casa Bonet (de Marceliano Coquillat, no nº 39). As duas ficam ensanduichadas pela trinca célebre.
Casa Amatller, de Josep Puig i Cadafalch |
⭐ Casa Amatller
Passeig de Gràcia nº 41
➡️ Horário: abre todos os dias do ano, das 10h às 18h. As visitas são feitas com horário marcado e duram 45 minutos.
➡️ Ingressos: a partir de € 16,15 para compra online.
A Casa Amatller é a decana entre as estrelas do Quadrat d’O. Ela é o resultado da reforma modernista de um imóvel que já existia no local. A obra, encomendada a Puig i Cadalfalch, foi inaugurada em 1900.
A inspiração da Casa Amatller é evidentemente neogótica, mas esse neo se inspira muito mais na vertente germânica ou flamenga, basta ver fachada em degraus, tão característica de cidades como Lübeck (Alemanha), Bruges ou Bruxelas (Bélgica).
A Casa Amatller também amarrou o laço amarelo na fachada. É
um símbolo de solidariedade aos independentistas catalães presos |
O dono da casa, Antoni Amatller, era dono de uma muito bem-sucedida fábrica de chocolates — as embalagens do Chocolate Amatller se davam ao luxo de ser ilustradas até pelo gênio da Jugendstil Alphonse Mucha.
Além de muitíssimo rico, Amatller era sintonizado com o espírito da Belle Époque, uma época em que o progresso tecnológico e o avanço industrial provocavam um incontrolável frisson de otimismo — plenamente justificado, para quem era dono das máquinas e fábricas, aliás.
Passeig de Gràcia nº 43
➡️ Horário: diariamente, das 9h às 21h.
➡️ Ingressos a partir de € 25 (o preço varia de acordo com a modalidade da visita).
Gaudí não construiu a Casa Batlló, ele reformou um edifício que já existia. E virou a construção do avesso, naturalmente. Foi graças a esse trabalho que ele foi contratado para projetar La Pedrera.
Cheia de signos mais os menos velados — as ninfeias na fachada, as máscaras venezianas nos balcões, as referências cifradas ao mar — a Casa Batlló é de uma beleza arrebatadora, Não é à toa que recebe mais de 1 milhão de visitantes por ano.
A Casa Amatller e a Casa Batlló estão abertas à visitação. Se você tem planos de vê-las por dentro, é bom comprar ingressos com antecedência pra evitar a fila da bilheteria. Veja as dicas no final do post.
A Casa Lleó Morera é pura poesia... |
⭐Casa Lleó Morera
Uma pena, porque Domenèch e Montaner fez questão de empregar os maiores talentos em artes decorativas para complementar o projeto arquitetônico da casa, inaugurada em 1906. Gente como o escultor Eusebi Arnau e o mosaicista italiano Mario Maragliano, por exemplo.
Esta decoração é um postal fotografadíssimo de Barcelona |
Se servir de consolo, é possível fazer um tour virtual pelo interior da Casa Lleó Morera. E tem sempre a opção de ver o mobiliário original do imóvel no excelente Museu Nacional de Arte da Catalunha (MNAC).
A casa Lleó Morera é uma das grandes estrelas do Passeig de Grácia. As colunas ricamente decoradas de seu pavimento térreo, a delicadeza do entalhe de seus balcões, a janela oriel (um tipo de bay window) que se debruça sobre a rua e o templete que se ergue de seu terraço são detalhes imediatamente reconhecíveis, cartões postais popularíssimos de Barcelona.
A etérea obra Nuvem e Cadeira ocupa todo o terraço da
Fundação Tàpies |
Carrer de Aragó nº 225
➡️ Horário: de Terça a domingo, das 10h às 19h (sexta fecha às 20h, domingo, às 15h).
➡️ Entrada: € 8.
A construção foi projetada por Lluís Domènech i Montaner e inaugurada em 1885. Originalmente, foi sede da Editora Montaner i Simon e hoje abriga um centro cultural fundado pelo próprio Antoni Tàpies, grande referência das artes plásticas dos anos 60 e 70.
A casa abriga uma pequena exposição permanente do artista e também mostras temporárias.
Acho a Casa Malagrida uma das mais bonitas do Passeig de Gràcia |
⭐Casa Malagrida
Passeig de Gràcia nº 27
Pronto, chegamos a outro chamego que eu tenho no Passeig de Gràcia. A Casa Malagrida pode não ser tão atrevida quanto muito de suas vizinhas famosas, mas eu a considero uma das construções mais bonitas entre as que estão perfiladas às margens do bulevar modernista de Barcelona.
A "torre coroada" da Casa Malagrida consegue se
destacar na paisagem apesar da concorrência da vizinhança ser inclemente |
A Casa Malagrida, inaugurada em 1908, foi projetada pelo arquiteto Joaquim Codina por encomenda de um milionário que fez fortuna na Argentina — daí os condores que aparecem na decoração. Dizem que o interior da casa é precioso, mas ela não está aberta à visitação.
O jogo visual proposto pelos balcões da casa é lindo, mas a construção é famosa mesmo pela “torre coroada” do sótão, arrematada por uma espécie de cúpula que se destaca na paisagem do Passeig de Gràcia — o que é uma proeza e tanto, considerando a concorrência na vizinhança.
As torres das Casas Rocamora avisam que o roteiro do
modernismo está chegando ao fim |
⭐ Casas Rocamora
Passeig de Gràcia nº 6-14
O conjunto de moradias das Casas Rocamora é uma das maiores construções do Passeig de Gràcia. O projeto é dos arquitetos irmãos Joaquín y Bonaventura Bassegoda i Amigó e inaugurado em 1917.
O grande trunfo das Casas Rocamora são suas torres de ilustração de contos de fadas, revestidas em cerâmica cor de laranja.
O Passeig de Gràcia visto do último andar de El Corte Inglés
da Plaça de Catalunya. Em destaque, as torres das Casas Pascual i Pons e das
Casas Rocamora |
Quando avisto essas torres, já sei que estou chegando à Plaza de Catalunya e que meu roteiro pelo Passeig de Gràcia está chegando ao fim — ou ao recomeço, porque nada me impede de dar meia-volta e percorrer o desfile modernista todinho, outra vez.
A Europa na Fragata Surprise
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