10 de novembro de 2019

Barcelona: o que ver no Museu Nacional de Arte da Catalunha (MNAC)

Baldaquino de Tavernoles no MNAC de Barcelona
O Baldaquino de Tavernoles, pequena aldeia catalã, é do Século 13 e representa a ascensão de Cristo

Se você está procurando um super programa em Barcelona, já achou: o Museu Nacional de Arte da Catalunha (MNAC) é uma das melhores atrações que encontrei, nas minhas três visitas à cidade.

O MNAC tem um acervo respeitabilíssimo, comparável aos dos museus de primeira linha europeus. Ele está instalado no Palau Nacional, em Montjuïc, com fácil acesso de metrô ou funicular.

Cartazes da Guerra Civil Espanhola no MNAC de Barcelona
Coleção de cartazes da Guerra Civil Espanhola do MNAC: o encontro da arte com a política pode ser muito instigante

Coleção de móveis modernistas no MNAC de Barcelona
A coleção de mobiliário modernista do MNAC também é linda

Os espaços expositivos do Museu Nacional de Arte da Catalunha são bem organizados e com bom apoio informativo.

As coleções têm ênfase na produção de artistas catalães, desde o período Românico, passando pelo Gótico e Renascentista, até desembocar no espetáculo que assumiu o Modernismo naquele pedaço de mundo.

Super agradável e fácil de percorrer, o Museu Nacional de Arte da Catalunha merece estar no topo da sua lista de passeios em Barcelona. Experimente e aposto que você também vai amar.

Veja as dicas do Museu Nacional de Arte da Catalunha:


Afrescos da Catedral de Urgel, do Século 12, no MNAC de Barcelona
Afrescos da Catedral de Urgel, do Século 12, retratando os apóstolos André e Pedro (esq), Maria e São João

Museu Nacional de Arte da Catalunha


Baldaquino da Igreja de Sant Cristòfol de Toses (Século 13) e a Majestade de Battló
Baldaquino da Igreja de Sant Cristòfol de Toses (Século 13) e a Majestade de Battló
⭐Coleção Românica
Um dos grandes destaques do MNAC é sua respeitadíssima Coleção Românica, estilo que dominou a arte europeia nos séculos 11 ao 13. É o maior acervo desse período de toda a Europa e apontado como o melhor do mundo.

A Coleção Românica do MNAC reúne telas e esculturas sacras do período e o destaque é o precioso acervo de afrescos e pinturas murais que, originalmente, adornavam as paredes de capelas e igrejas de diversas áreas de Catalunha — deslumbrante é eufemismo pra descrever.

Baldaquino da Igreja de Sant Martí de Tost, do Século 13
Baldaquino da Igreja de Sant Martí de Tost, do Século 13

Para exibir esses afrescos e murais, o MNAC reproduz as naves de igrejas e capelas. Assim, o visitante pode ter uma ideia bem precisa do impacto visual das obras em seu contexto original.

O acervo também conta com peças de altares e um elemento bem característico do período, os baldaquinos, também ricamente decorados.

Afresco "O apedrejamento de Santo Estevão", do Mestre de Boí (Século 12)
O apedrejamento de Santo Estevão, do Mestre de Boí (Século 12)
A Coleção Românica do MNAC tem obras absolutamente arrebatadoras, como a imagem do Cristo crucificado conhecida como Majestade de Batlló, do Século 12.

As majestades são uma forma românica de de representação de Jesus na cruz como símbolo de triunfo sobre a morte.

Outra peça impressionante do acervo é o afresco O apedrejamento de Santo Estêvão, do Mestre de Boí, também do Século 12. O mural era parte da decoração de uma igreja de Boí, nos Pireneus.

A Cabeça de Cristo, de Jaume Cascals, e uma peça de altar retratando a Anunciação e a Epifania de Reis, do ateliê dos mestres Ferrer e Arnau Bassa, Século 14
A Cabeça de Cristo, de Jaume Cascals, e uma peça de altar retratando a Anunciação e a Epifania de Reis, do ateliê dos mestres Ferrer e Arnau Bassa, Século 14

⭐Acervo Gótico
Nesta seção, a gente descobre que a arte catalã pode até ter mudado de estilo, a partir do Século 14, mas não perdeu o esplendor.

O acervo Gótico do Museu Nacional de Arte da Catalunha é uma grande oportunidade pra se conhecer alguns mestres que deixaram o nome na história, como Guillem TimorBartolomeu de RobióJaume Cascals (os três do Século 14) e Bernat Martorell (Século 15), só pra citar os que mais me impressionaram.

Peças da Coleção Gótica do MNAC de Barcelona
Peças da Coleção Gótica do MNAC

⭐Coleção Modernista
Depois de deixar a Idade Média, passar pelo Renascimento e pelo Barroco (onde o destaque é um São Paulo pintado por Diego Velázquez), está na hora de mergulhar em um espetáculo que está muito mais perto de nós e que me fala muito ao coração.

A Catalunha foi pródiga em gênios que marcaram o Modernismo e o MNAC nos apresenta um espetáculo imperdível em sua Coleção Modernista. 


Mulher com chapéu e gola de pele, de Pablo Picasso, no MNAC de Barcelona
Mulher com chapéu e gola de pele, de Pablo Picasso, estrela do acervo Modernista do MNAC

Se a ênfase dos acervos de outras épocas é o sacro, a sessão modernista mostra a vida, em todas as suas dimensões.

Tem pintura e escultura, mas também tem mobiliário, artes decorativas e um acervo espetacular de artes gráficas, posters de propaganda comercial e política, com destaque para o período da Guerra Civil Espanhola.

"Retrato de meu pai", de Salvador Dalí, e "Exibição pública de uma pintura", de Joan Ferrer Miró
Retrato de meu pai, de Salvador Dalí, e Exibição pública de uma pintura, de Joan Ferrer Miró — que não é o Miró mais famoso, mas um pintor do Século 19

Uma das grandes estrelas da Coleção Modernista do Museu Nacional de Arte da Catalunha é a Mulher com chapéu e gola de pelede Pablo Picasso. A tela, de 1933, retrata Marie-Thérèse Walter, mulher e musa do artista por cerca de 10 anos.

Mas você também vai ver o design de Antoni Gaudí, presente em peças de mobiliário e fulgurante no portão de ferro que ele desenhou para a Casa Vicens, uma de suas obras arquitetônicas em Barcelona.

O portão, uma aspereza-felpuda cheia de pontas bem que pode ter inspirado o Iron Throne de Game of Thrones 😉.

O portão da Casa Vicens, de Antoni Gaudí
O portão da Casa Vicens, de Gaudí

O Museu Nacional de Arte da Catalunha também me apresentou à pintura de caras brilhantes, como Marià FortunySantiago Rusiñol e Isidre Nonell, e ao trabalho do ilustrador Alexandre de Riquer i Ynglada, francamente Art Nouveau.

Curti imensamente o sotaque impressionista das cenas domésticas pintadas por Pere Torné i Esquius, que também foi um prolífico ilustrador, com preferência pelos livros infantis. Também gostei muito do neoimpressionismo dos retratos pintados por Joaquim Sunyer. 


Retrato de Maria Llimona, de Joaquim Sunyer (1917), e o Retrato de Pilar, de Rafael Barradas (1919)

Retrato de Maria Llimona, de Joaquim Sunyer (1917), e o Retrato de Pilar, do uruguaio Rafael Barradas (1919)


A série Gitanas, de Isidre Nonell
A série Gitanas, de Isidre Nonell

Pra vocês não pensarem que só homens fazem arte, o Museu Nacional de Arte da Catalunha nos apresenta a instigante pintura de Olga Sacharoff, artista russa (georgiana) que adotou Barcelona no início do Século 20 como lar e inspiração.

Olga foi colaboradora de Francis Picabia na revista 391 (1917-1924), uma espécie de ninho do Dadaísmo, que tinha ainda Man Ray, Marcel Duchamp e Guillaume Apollinaire ano time da redação.

Obras de Olga Sacharoff no Museu Nacional de Arte da Catalunha, Barcelona
Olga Sacharoff: tem mulher no acervo do MNAC — e ela faz muito bonito

A arte de Sacharoff flertou com o Dadaísmo, o Cubismo, o Expressionismo Alemão, o Surrealismo e a Pintura Naïve. Ela também participou animadamente do Noucentisme, movimento que buscava uma reaproximação com o Classicismo de inspiração mediterrânea.

A visita ao Museu Nacional de Arte da Catalunha foi minha primeira oportunidade de contato, cara a cara, com a produção do Noucentisme e eu fiquei bem impressionada.


Espectadores, pintura de Francesc Domingo no Museu Nacional de Arte da Catalunha, Barcelona
Uma das obras do MNAC que mais gostei: Espectadores, de Francesc Domingo (1930), um dos marcos do Noucentisme

Nou, em catalão significa igualmente "novo" e "nove". O nome do movimento propunha um jogo de palavras entre a novidade que pretendia representar e a catalanização da expressão italiana Novecento, ou seja, o Século 20.

O pintor uruguaio Joaquín Torres Garcia, assíduo frequentador dos posts da Fragata, era um dos integrantes do círculo do Noucentisme, em seus primórdios.

Detalhe da decoração das Galerias Laietanas no Museu Nacional de Arte da Catalunha, Barcelona
Detalhe da decoração das Galerias Laietanas, ninho do Noucentisme

Além das obras dos artistas ligados ao movimento, o MNAC reproduz parte da decoração das Galerias Laietanas.

Abertas na Gran Via de les Corts Catalanes, em 1915, a galeria foi ponto de encontro, vitrine, editora e “academia” do Noucentisme. Seu porão era uma espécie de clube onde se encontravam os artistas ligados ao movimento para tertúlias infinitas.

⭐Acervo fotográfico - o imenso Agusti Centelles
Pensa que acabou? Pois é, eu também, mas fui surpreendida por um acervo fotográfico maravilhoso.

O resultado é que acabei descobrindo mais um fotógrafo pra gostar tanto quanto eu gosto de Robert Capa. As imagens capturadas por Agustí Centelles durante a Guerra Civil Espanhola são arrebatadoras, coisa de gênio, mesmo.

Fotografia de Agustí Centelles: um combatente na Frente de Aragão na Guerra Civil Espanhola
Fiquei apaixonada pela fotografia de Agustí Centelles

Centelles (1909 - 1985) foi um imenso fotojornalista. Cobriu a Guerra Civil Espanhola no front, lado a lado com os combatentes — naquele tempo, jornalistas iam ver o que estava acontecendo, ao invés de apurar matéria pelas redes sociais 😉.

Ele esteve nas batalhas de Teruel e de Belchite, foi prisioneiro de um campo de refugiados na França e, após a derrota republicana, acompanhou a Resistência n Francesa na luta contra a ocupação nazista. De volta à Espanha após a guerra, foi expurgado do jornalismo pela perseguição franquista e trabalhou com publicidade.

Grande parte da obra jornalística de Centelles ficou escondida na França até a queda do franquismo. Uma parte importante desse acervo agora está à vista do público no Museu Nacional de Arte da Catalunha — um gigantesco motivo pra você visitar o MNAC.

Coleção de cartazes modernistas do Museu Nacional de Arte da Catalunha, Barcelona
É propaganda, eu sei, mas eu penduraria qualquer um desses cartazes na minha parede com o maior prazer

⭐Coleção de cartazes do MNAC
Mais um show de bola do acervo do Museu Nacional de Arte da Catalunha, a coleção de cartazes — mais de 1.000 peças, contando a reserva técnica — é um interessantíssimo mergulho na vida cotidiana catalã, a partir do final do Século 18.

Foi nessa época que Barcelona ganhou sua Escola Gratuïta de Disseny i Nobles Arts, um liceu de artes de ofícios que treinou e revelou gente talentosíssima.

Cartazes republicanos da época da Guerra Civil Espanhola,  Museu Nacional de Arte da Catalunha, Barcelona
Cartazes republicanos da época da Guerra Civil Espanhola

No Século 19, o Modernismo e o Noucentisme abraçaram essa expressão artística sem preconceito — um exemplo é Ramon Casas, grande ilustrador. Salvador Dalí e Joan Miró também transitaram por esse terreno.

A coleção mostra de tudo um pouco: cartazes de espetáculos artísticos, publicidade de remédios, bebidas e cosméticos, propaganda política. As peças são lindas e merecem mesmo estar em um museu tão bacana quanto o MNAC.

Salão Oval do Palau Nacional, Barcelona
Salão Oval do Palau Nacional

⭐Palau Nacional
A sede do Museu Nacional de Arte da Catalunha é o Palau Nacional (Palácio Nacional), construído para abrigar a Exposição Internacional de Barcelona de 1929. Depois de morrer de paixão pelo acervo, não deixe de dar uma volta para explorar o edifício, que tem espaços notáveis.

O imenso Salão Oval, por exemplo, é impressionante. Com 2,3 mil metros quadrados, o espaço lembra uma arena de touros e foi concebido para sediar grande eventos, como concertos e cerimônias oficiais. A arquibancada que o cerca acomoda 1.300 espectadores.

Decoração interna da cúpula do Palau Nacional, Barcelona
A famosa cúpula do Palau Nacional

Detalhe da decoração do Salão Oval (esq) e da Sala da Cúpula no Museu Nacional de arte da Catalunha, Barcelona
Detalhe da decoração do Salão Oval (esq) e da Sala da Cúpula

A cafeteria do MNAC funciona no Salão Oval e é um ótimo lugar para uma pausa durante a visita.

Não deixe de ver, também, a Sala da Cúpula, que evoca igrejas monumentais — a Basílica de São Pedro, em Roma, e a Catedral de Saint Paul, em Londres, por exemplo — e cujas pinturas homenageiam os povos que estão na gênese da Espanha — fenícios, gregos, celtas, ibéricos, cartagineses, romanos, visigodos e mouros.

Painel de Joan Miró no Museu Nacional de Arte da Catalunha, Barcelona
Painel de Miró para a IBM

Um dos destaques desse espaço é um painel de Joan Miró concebido para a sede da empresa IBM.

E, sim, claro, aproveite a bela vista de Barcelona que as escadarias e o terraço do Palau Nacional propiciam aos visitantes.

Palau Nacional, sede do MNAC Barcelona
No alto da Montanha de Montjuïc, o Palau Nacional também oferece uma bonita vista para Barcelona

Barcelona vista de Montjuïc


⭐Museu Nacional de Arte da Catalunha (MNAC)
Palau Nacional, Parc de Montjuïc, s/n, Metrô Plaça d’Espanya (linhas 1 e 3) ou Funicular de Montjuïc.

➡️ Horários: de outubro a abril, o MNAC abre de terça a sábado das 1oh às 18h. Domingos e feriados, das 10h às 15h. De maio a setembro, o horário do domingo é o mesmo, mas o encerramento é às 20 horas, de terça a sábado.

➡️ Ingresso: €12. A entrada é válida para duas visitas ao longo de um mês, a partir da data da compra.

Telas da coleção modernista do Museu Nacional de arte da Catalunha, Barcelona
Pere Torné Esquius retratou seu cenário doméstico. À direita, Mulher de perfil com quimono, de Eduardo Chicharro

➡️ Como chegar ao MNAC
Cheguei ao Museu Nacional de Arte da Catalunha de metrô. Desci na Estação Plaça d’Espanya e caminhei os 950 metros que a separam do MNAC, encarapitado no Palau Nacional, no topo da elevação de Montjuïc — parte da subida é feita por escadas rolantes, portanto, não há muito sofrimento no percurso.

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