Barcelona é sinônimo do Modernismo, mas eu me amarro no
Bairro Gótico. Na imagem, a torre da Catedral, do Século 13 |
Barcelona também é o “trópico europeu”, na luz exuberante da Barceloneta e de Port Vell. É o terceiro mundo dos becos do Raval...
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O arco "gótico" da Carrer del Bisbe é um acréscimo
feito em 1929 ao Palácio do Governo da Catalunha |
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Sede da Prefeitura de Barcelona, a Casa de la Ciutat é um
palácio do Século 14 e conserva uma bonita fachada lateral medieval. Sobre a porta, a imagem do Arcanjo Rafael, atribuída a Pere Sanglada |
O fato é que cartagineses, laietanos, romanos, mouros, visigodos e francos passaram por Barcelona e deixaram um pouquinho de seu sangue, de seu idioma e de seu tempero na alma da cidade. As pegadas mais visíveis dessas trajetórias estão no Bairro Gótico.
Todos esses conquistadores/colonizadores impulsionaram Barcelona, essa bela à beira-mar. Eles foram a correnteza que direcionou a cidade para o comércio e a exploração naval. No Século 12, a vocação se confirmou e a capital catalã se consolidou como potência marítima no Mediterrâneo.
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Os artistas de rua são uma presença constante no Bairro
Gótico |
Roteiro no Bairro Gótico de Barcelona
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Esta casa de mágica é apontada como a mais antiga do mundo ainda em funcionamento. Fica na Carrer de la Princesa nº 11 |
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A marca dos grafites sem cerimônia nas fachadas é uma característica do Bairro Gótico |
Essas atrações de Barcelona ganharam um post específico, que complementa este daqui. Dá uma olhada: 1.000 anos de história em 10 igrejas de Barcelona
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8 anos separam essa fotos da mesma porta de um casarão do Bairro Gótico. No alto, com a pichação descuidada, em 2011. Acima, após o restauro, em um clique de 2019 |
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O Bairro Gótico parece girar em torno da Catedral de
Barcelona |
É impressionante a quantidade de vezes que a gente emerge de uma ruela tortuosa qualquer para dar de cara com uma de suas paredes quase milenares.
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O interior da Catedral de Barcelona é de arrepiar de lindo |
A Catedral de Barcelona que vemos hoje foi construída entre os séculos 13 e 15. Ela é o terceiro templo cristão erguido naquele local.
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Guardo até hoje o ingresso da minha primeira visita à
Catedral de Barcelona. O preço do bilhete dobrou, mas o gasto continua a valer
muito a pena |
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Fico impressionada com a quantidade de vezes que saio de uma
rua qualquer do Bairro Gótico e dou de cara com a Catedral |
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A Cripta de Santa Eulália na Catedral de Barcelona |
A catedral é enorme. Seu conjunto ocupa quase 7 mil metros quadrados do coração do Bairro Gótico, entre a Pla de la Seu (“Praça da Sé”), Carrer de Santa Llúcia, Carrer del Bisbe (“Rua do Bispo”), Carrer de la Pietat e a Carrer dels Comtes.
Mas foi só quando entrei na Catedral que as dimensões do edifício me acertaram em cheio — uma vastidão preenchida por milhares de detalhes tingidos num tom de dourado que vem dos candelabros, lampiões e dos vitrais que filtram a luz externa. E também dos douramentos das talhas, claro 😉.
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São tantos detalhes que daria para passar um dia inteiro admirando a Catedral de Barcelona |
Reserve pelo menos duas horas para ver a Catedral de Barcelona com calma, pois são muitos detalhes e espaços pra esquadrinhar. Só o corpo principal da igreja deixa a gente tonta de tantos altares laterais, entalhes, vitrais, imagens...
Próxima ao altar-mor, abaixo do piso da Catedral, está a cripta de Santa Eulália. Seus restos mortais estão guardados em um ataúde de alabastro.
E não deixe de ver o belíssimo claustro gótico da Catedral, onde 13 cisnes nadam na maior elegância em um espelho d'água. O número 13 é uma alusão à idade de Santa Eulália quando foi martirizada.
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Os entalhes em mármore no Coro da Catedral são belíssimos |
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Imagem da Virgem de Montserrat |
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Os cisnes de Santa Eulália tinham acabado de tomar um belo
banho na fonte do Claustro da Catedral, quando fiz esta foto |
➡️ Visitas à Catedral de Barcelona
Domingos e feriados, a entrada é gratuita na Catedral e no Claustro, das 8:30h às 13:45h. Das 14h às 17, a entrada é paga (7 €).
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A Plaça del Rei, em frente ao Palácio Real, foi pensada para
sediar torneios de cavaleiros |
A Plaça del Rei, diante do Palácio Real de Barcelona (Palau Reial Major), foi projetada no Século 14 para a realização de torneios de cavaleiros — francamente, não consigo pensar em nada mais medieval/sessão da tarde do que isso 😊. (E não confunda a Plaça del Rei com a Plaça Reial, vizinha das Ramblas).
O palácio é, na verdade, um conjunto de edificações do Século 14 que reúne o impressionante Salò del Tinell, salão cerimonial da corte catalã, a Torre do Rei Martí, o Palácio de Lloctinent e a Capela de Santa Ágata.
O Palácio de Lloctinent tem um pátio lindíssimo. O edifício abriga o Arquivo Geral da Coroa de Aragão (Arxiu de la Corona d'Aragó).
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Pátio do Palácio de Lloctinent, parte do complexo do Palácio Real |
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A Capela de Santa Ágata (acima) e a Torre do Rei Martí (no
alto) também são dependências do Palácio Real |
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A principal unidade do MUHBA está instalada no conjunto
monumental da Plaça del Rei |
⭐Museu Histórico de Barcelona (MUHBA)
Plaça del Rei, s/n
De terça a sábado, das 10h às 19h. Domingos, das 10h às 20h.
Entrada: € 7, válida para todas as unidades do MUHBA
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Bem-vind@s ao ano 50 antes de Cristo — e a gente chega lá de
elevador |
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Plataformas permitem que o visitante caminhe pelas ruas de
Barcino sem impactar os vestígios arqueológicos |
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O percurso por Barcino é super didático. O visitante
realmente compreende o que está vendo |
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No alto, um tear encontrado nas escavações de Barcino. Acima,
maquete de uma casa romana |
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O "passeio pelas ruas de Barcino" é muito bem sinalizado e explicado. Muitos dos objetos escavados na cidade romana estão expostos no local onde foram encontrados (no alto) |
Você vai ver restos da muralha romana de Barcelona, oficinas, residências e muitos objetos recuperados nas escavações. Tudo devidamente explicado e contextualizado. Viagem é isso, o resto é reles deslocamento espacial 😊.
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Esculturas da época romana escavadas em Barcelona |
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Mas nem tudo no MUHBA é romano. Estas esculturas, por
exemplo, são medievais e estão expostas no Salò del Tinell |
O Museu da História de Barcelona não se limita ao Palácio Real. Ele tem 16 espaços museológicos, vários deles no Bairro Gótico, como os restos de um Templo de Augusto, a Via Sepulcral Romana e o Centro de Interpretação de El Call, o bairro judeu (veja no mapinha no final do post).
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Vestígios de elementos decorativos encontrados no Sítio
Arqueológico de Barcino |
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Pisos em mosaico da velha Barcino |
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Placa dos primórdios do Cristianismo em Barcelona |
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Ainda tenho o ingresso da minha primeira visita ao Museu
Histórico de Barcelona, em 2011 |
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Esta passagem sobre as muralhas do Palácio Real era usada
pelos condes de Barcelona e sua corte para chegarem à Capela de Santa Ágata |
Nesta mesma praça, a Casa de l’Ardiaca (Casa do Arquidiácono da Catedral) guarda em seu interior restos da muralha romana. O edifício agora é a sede do Arquivo Histórico de Barcelona e pode ser visitado de segunda a sexta, das 9h às 20:45h, e aos sábados, das 9h às 13h. A entrada é gratuita.
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Reconstrução parcial do aqueduto romano, na Plaça Nova |
Com o mesmo ingresso que você comprou para ver o MUHBA na Plaça del Rei, visite a Via Sepulcral Romana, na Plaça de la Villa de Madri (a cerca de 300 metros da Plaça Nova) e os vestígios do Templo de Augusto, na Carrer de Paradis nº 10, entre 10h e 19h.
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Na Idade Média, El Call tinha os edifícios mais altos de
Barcelona — e, possivelmente, as ruas mais estreitas |
Estudiosos apontam que mais de 4 mil pessoas viviam nas ruas estreitas de El Call no Século 14 — o que explica o fato de a área ter os edifícios mais altos da Barcelona medieval.
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Eu vejo muita poesia nas ruas de El Call |
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Nesta casa de El Call funcionou uma das sinagogas do bairro,
na Idade Média |
Hoje, esse trecho do Bairro Gótico é um dos mais sossegados e é um prazer perambular por suas ruazinhas muito estreitas. Possivelmente, é a área que melhor preserve a aura medieval em Barcelona.
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A Casa de la Ciutat preserva a fachada lateral em estilo
Gótico (no alto e no centro), mas ganhou uma reforma em estilo neoclássico na
fachada principal acima), voltada para a Plaça de Sant Jaume |
Plaça Sant Jaume (entrada pela transversal Carrer Ciutat)
Aberta à visitação apenas aos domingos, das 10h às 13:30h. A entrada é gratuita.
Mais uma visita maravilhosa nesse roteiro pelo Bairro Gótico de Barcelona, a Casa de La Ciutat é a sede do Ajuntament (Prefeitura) da cidade.
Mas na Carrer de Ciutat, uma rua lateral, você vai encontrar a bela fachada gótica do edifício. É aí que está a entrada de visitantes da Casa de la Ciutat, por sinal.
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No Saló del Cent, o Conselho de Barcelona se reúne desde o
Século 14 |
O Consell de Cent (“Conselho dos Cem) era um misto de parlamento e tribunal medieval de Barcelona, instituído na primeira metade do Século 13. Tinha poderes para decidir sobre assuntos como tributos e normas sobre o comércio.
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A Deusa, de Josep Clarà, fita o pátio central do edifício |
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O pátio central e a galeria superior da Casa de la Ciutat
preservam os traços góticos |
Durante seus primeiros 100 anos de existência, o Consell de Cent não teve casa própria. Só em 1369, a Casa de la Ciutat começaria a ser construída.
O Conselho funcionou até a derrota catalã na Guerra de Sucessão Espanhola, no começo do Século 18, quando a Dinastia Borbón anulou todas as expressões políticas da autonomia da Catalunha.
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A Casa de la Ciutat é um compêndio de sete séculos da artes
decorativas |
No andar térreo da ca, preste atenção no pátio e nas obras de arte expostas. São peças modernistas, como Mulher, de Miró, que fazem um contraponto extremamente agradável ao cenário gótico.
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Palau de la Generalitat, sede do governo da Catalunha desde
o Século 14 |
Plaça de Sant Jaume s/n
A sede da Presidência do Governo da Catalunha é um dos raros edifícios oficiais da Europa a manter sua mesma função desde a inauguração. Construído na Idade Média, o Palau de la Generalitat de Catalunya é sede de governo desde sua inauguração, em 1396.
Isso é um grande motivo de orgulho para os catalães, sempre ciosos de sua identidade e autonomia.
É praticamente inevitável transitar pelo Bairro Gótico sem dar de cara com o Palau de la Generalitat, que domina a paisagem da Plaça de Sant Jaume — e também com as frequentes manifestações políticas que se organizam diante de suas portas. Coisas da democracia, como o velho palácio.
As feições atuais do palácio são neoclássicas, mas ele ainda guarda pátios e salões que relembram sua origem medieval. Uma de suas grandes atrações é a Capela de Sant Jordi, do Século 15, que pode ser vista em uma visita guiada.
A famosa Pont del Bisbe (a passarela “gótica” construída em 1929 sobre a Carrer del Bisbe) liga o Palau de la Generalitat à Casa dels Canonges.
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A torre da Catedral espia o pátio do museu por entre as laranjeiras |
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O Museu Frederic Marès herdou o antigo Verger (pomar) do
Palácio Real, espaço para o lazer ao ar livre da corte dos Condes de Barcelona |
A entrada no museu é gratuita no primeiro domingo de cada mês, nas tardes dos demais domingos (das 15h às 20h), e nos feriados de Santa Eulália (12/02), Corpus Christie La Mercè (24/09), além do Dia Internacional dos Museus (18/05).
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O Museu Frederic Marès tem o pátio mais lindo que eu vi em
Barcelona |
Na verdade, chamar de jardim é pouco: tratava-se de um espaço verde destinado ao lazer da corte, cercado por pavilhões avarandados e pórticos. No centro do pátio, ainda hoje vicejam laranjeiras.
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O café no pátio do museu é um grande lugar para uma pausa na
muvuca do Bairro Gótico |
Não é preciso pagar ingresso para ter acesso a esse pátio e, até por isso, ele virou um dos meus refúgios preferidos, um oásis na muvuca do Bairro Gótico, à sombra das torres da Catedral. Entre abril e setembro, um café ao ar livre funciona lá.
Dentro do edifício, o Museu Frederic Marès exibe uma coleção reunida pelo artista catalão, com ênfase na escultura — que era sua especialidade.
São peças que datam desde a antiguidade até o Século 19. Parte da obra de Marès também está exposta no museu.
A Espanha na Fragata Surprise
A Europa na Fragata Surprise
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Passei alguns dia na cidade e dei aquela geral, passeando sem rumo. Mas foi no Gótico que me perdi. Andei, andei e fotografei. Foram deliciosos passeios pelas ruelas do Gótico, especialmente após anoitecer - horário em que fica ainda mais especial. Foi paixão! Abraços.
ResponderExcluirBom, eu sou suspeita, né Paula? Eu tenho mania e paixão pelo Século 12. Troco qualquer farra por uma visita a um claustro medieval :)
ExcluirTambém é a minha Barcelona preferida! Amo!
ResponderExcluirA região mais fascinante de uma cidade espetacular. Não é pouco, né?
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