24 de janeiro de 2020

O que ver no Museu Marítimo de Barcelona

Galera Real da Batalha de Lepanto no Museu Marítimo de Barcelona
Galera Real da Batalha de Lepanto no Museu Marítimo de Barcelona
Com um mitológico tritão como figura de proa, a estrela do Museu Marítimo de Barcelona é a Galera Real espanhola usada na Batalha de Lepanto (1571)


Em uma cidade que tem tanta coisa maravilhosa pra ver, o Museu Marítimo de Barcelona conseguiu a façanha de ser uma das minhas atrações favoritas.

Até reconheço que sou suspeita — ninguém tem um blog chamado A Fragata Surprise sendo indiferente às histórias do mar — mas aviso que não sou um caso isolado. Nem de internação 😉.

O Museu Marítimo de Barcelona está instalado nos antigos Estaleiros Reais da cidade (Drassanes, em catalão), fundados no Século 13 e essenciais para a economia catalã: nunca é demais lembrar que Barcelona foi uma grande potência marítima e comercial durante a Idade Média.

Exposição "7 Barcos, 7 Histórias" no Museu Marítimo de Barcelona

A sensacional exposição 7 Barcos, 7 Histórias é uma das atrações do Museu Marítimo de Barcelona


O museu foi criado durante a 2ª República Espanhola, em 1936. Boa parte de seu acervo veio da Escola Náutica de Barcelona, fundada no Século 18 e dona de uma importante coleção de maquetes, cartas náuticas e bibliografia sobre as artes da navegação e a história naval.

Veja por que eu gosto tanto do Museu Marítimo de Barcelona e recomendo a visita:

Museu Marítimo de Barcelona
Museu Marítimo de Barcelona
Por entre as frestas de um casco de embarcação, o visitante assiste um vídeo recriando o trabalho nos Estaleiros Reais de Barcelona durante a Idade Média

O que ver no Museu Marítimo de Barcelona


Minha primeira recomendação: leia sobre o museu antes de ir até lá. 

O site do Museu Marítimo de Barcelona é tão cheio de informações que a leiturinha básica que sempre faço antes de iniciar a exploração desse tipo de instituição quase vira uma pós graduação 😁, daquelas de perder a hora de entrar para a visita, refestelada nos deliciosos jardins do museu.

E olha que essa foi minha segunda visita 😉.

Museu Marítimo de Barcelona
O estaleiro do Século 13 foi restaurado e adaptado para a instalação de um museu moderno, interativo e muito instigante


Instalações do Museu Marítimo de Barcelona

Os Estaleiros Reais (Drassanes Reials) foram importantíssimos para Barcelona. A instalação militar não só construía as embarcações (galeras, na época) da Coroa de Aragão como ainda funcionava como estrutura defensiva da cidade.

De frente para o mar, integrado às muralhas de Barcelona, o complexo dos Estaleiros Reais era um vasto conjunto de fortificações, arsenais e oficinas. Um respeitável senhor que hoje tem mais de 700 aninhos de História.

Maquete do Porto de Barcelona no Museu Marítimo de Barcelona
Maquete do Porto e da Cidade de Barcelona no Século 15


Um jeito bacana de ver a evolução e funções dos Estaleiros ao longo dos séculos é assistir um filminho bem interessante, que faz parte do percurso expositivo do Museu Marítimo.

A construção foi mudando de cara e se adaptando às necessidades. Aliás, até a linha da praia mudou de lugar diante de Barcelona.

Galera Real da Batalha de Lepanto no Museu Marítimo de Barcelona
Os vãos no interior do velho estaleiro chegam a alcançar os 13 metros de altura. Na imagem, a popa da luxuosa e belicosa Galera Real


Os vãos no interior do edifício chegam a ultrapassar os 13 metros de altura. Sob eles, o visitante percorre as diversas etapas e aspectos da profunda relação entre Barcelona e o mar. 

Entre pinturas, objetos recuperados de naufrágios, maquetes de embarcações (como da Santa Maria, a nau de Colombo) e interessantes ex-votos, ofertados a santos por quem escapou da volubilidade do mar, a gente vai se enredando na narrativa do museu.

Jardins do Museu Marítimo de Barcelona
Os jardins do museu, com acesso gratuito e super sossegados, abrigam um agradável café e espaços para uma pausa na muvuca da vizinhança


O espaço, muito amplo e cheio de luz, é um convite à exploração. É bom ir ao Museu Marítimo de Barcelona com tempo. Só as salas de exposição ocupam mais de 10 mil metros quadrados.

Lembre-se que ainda há as muralhas e bastiões, os jardins do museu, sombreados por laranjeiras e donos de um silêncio surpreendente — do outro lado de seus muros, passa a movimentada Avigunda de las Drassanes.

Um espaço bem especial são os Jardins do Baluarte, que acompanham as muralhas do velho estaleiro e se debruçam sobre a avenida.

Submarino do Século 18 no Museu Marítimo de Barcelona
Um dos encantos dos jardins do Museu Marítimo é essa fofura de submarino do Século 18

Acervo do Museu Marítimo de Barcelona

A grande estrela em exposição no Museu Marítimo de Barcelona é a reprodução, em tamanho natural, da Galera Real, do Século 16, nau capitânia da Armada Espanhola, na época.

Foi a bordo da Galera Real que, em 1571, D. Juan de Áustria, meio-irmão do rei Felipe II, comandou as forças da Liga Santa contra os Otomanos, na decisiva Batalha de Lepanto — combate que teve Miguel de Cervantes como soldado, em uma embarcação anônima.

Galera Real da Batalha de Lepanto no Museu Marítimo de Barcelona
Galera Real da Batalha de Lepanto no Museu Marítimo de Barcelona
A Galera Real era um colosso de 60 metros de comprimento, 6,20 metros de largura e impulsionada pelo esforço de 290 remadores


A galera foi construída lá mesmo, nos Estaleiros Reais de Barcelona, em 1568. Tinha 60 metros da proa à popa, 6,20 metros na maior largura e seu gurupés ultrapassava os 2 m de comprimento.

A bordo da embarcação, 290 remadores, 400 soldados e nove canhões faziam dela uma máquina de guerra respeitável, em seu tempo.

Galera Real da Batalha de Lepanto no Museu Marítimo de Barcelona
Galera Real da Batalha de Lepanto no Museu Marítimo de Barcelona
Galera Real da Batalha de Lepanto no Museu Marítimo de Barcelona
A galera foi construída lá mesmo, nos Estaleiros Reais de Barcelona, mas sua suntuosa decoração foi obra de artesãos de Sevilha


A réplica da Galera Real exposta no museu é em tamanho natural e foi cuidadosamente recriada, com acompanhamento de historiadores navais.

Você pode ver a galera de todos os ângulos que quiser, graças às plataformas instaladas junto à popa e à murada de estibordo da embarcação (eu poderia dizer na parte de trás e a murada do lado direito da Galera Real, mas acho que vocês já perceberam que eu estou atacada 😀).

Galera Real da Batalha de Lepanto no Museu Marítimo de Barcelona

A Fragata se sentiu uma casquinha de noz navegando ao lado da Galera Real


As galeras foram embarcações típicas do Mediterrâneo, construídas em diversas variações (como as trirremes romanas). Ao contrário do que a gente vê nos filmes, originalmente seus remadores eram, em geral, soldados, não escravos.

O uso de prisioneiros de guerra ou criminosos sentenciados como remadores foi uma prática que começou a ser disseminada a pelas potências militares e comerciais da Europa Ocidental do Século 16 — a Espanha, entre elas. 

É possível, portanto que entre os remadores da Galera Real estivessem muitos cativos escravizados. Essa é uma lembrança que desromantiza bastante a visão da Galera Real.

Galera Real no Museu Marítimo de Barcelona
Eram necessários 290 remadores para impulsionar a galera real


Mas a réplica da embarcação histórica é absolutamente fascinante, além de um desbunde de bonita. Resista a tentação de dedicar atenção apenas a ela, pois tem muito mais pra ver no Museu Marítimo de Barcelona.

O percurso expositivo do museu está dividido em sessões temáticas, onde o roteiro histórico está apoiado em mapas, documentos históricos e objetos náuticos de época, mas também em painéis interativos, e vídeos que tornam a visita realmente estimulante.

Maquetes de embarcações do Museu Marítimo de Barcelona
Maquetes de embarcações do Museu Marítimo de Barcelona
Maquetes de embarcações do Museu Marítimo de Barcelona

O museu exibe dezenas de maquetes de embarcações de diferentes tipos, funções e épocas. Só essa viagem já vale o ingresso


Em uma das exposições, "A Catalunha Além do Mar", a gente aprende um pouco sobre como a região se transformou em um próspero polo industrial no Século 19, apoiando seu crescimento econômico no comércio marítimo — mas sabendo ir além dele.

Outra sessão bacana é a exposição do esqueleto da embarcação Les Sorres X, do Século 14. Ele é um achado arqueológico escavado em Castelldefels, na periferia de Barcelona, durante as obras de construção do Canal Olímpico para os Jogos de 1992.

Restos da embarcação do Século 14 no Museu Marítimo de Barcelona

O esqueleto do Les Sorres X, achado arqueológico que deixou os estudiosos saltitantes


A descoberta de Les Sorres X é importante porque é uma das raras embarcações mercantes medievais já encontradas na área do Mediterrâneo — e, segundo os arqueólogos navais, prova que os barcos mudaram muito pouco na região, entre o Século 14 e o Século 20.

O Museu Marítimo de Barcelona também administra a Escuna Santa Eulália, barco-museu de 1919 que fica atracado em Port Vell e eu visitei em 2011.

O ancoradouro da Santa Eulália é quase em frente ao museu, um pouco adiante (para o Norte) da Rambla del Mar. São cerca de 400 metros de caminhada.

Escuna Santa Eulália em Barcelona
Escuna Santa Eulália em Barcelona
O ingresso do Museu Marítimo de Barcelona inclui a visita à Escuna Santa Eulália, que fica ancorada em Port Vell


Mas genial mesmo é a exposição "7 Barcos, 7 Historias" que, a partir de embarcações de tipos e épocas diferentes, fala do impulso irrefreável dos humanos de se lançarem ao mar, seja por curiosidade, esperança, desespero ou lucro.

La está a Victoria, a nau capitânia da frota de Fernão de Magalhães, aquele português que circum-navegou o planeta entre 1519 e 1522 e não caiu da borda da Terra nem nada — vai que ela é redonda, né? 😁

Também estão lá um transatlântico (o Royal Edward), um batel (balandre, em catalão, embarcação de pequeno porte), um cargueiro moderno...

Exposição "7 Barcos, 7 Histórias" no Museu Marítimo de Barcelona

Contêineres funcionam como espaço expositivo para a narrativa 7 Barcos, 7 Histórias


Em vídeos deliciosos, quem conta as aventuras dessas embarcações são passageiros e tripulantes, interpretados por atores e construídos com base em personagens reais, resgatados a partir de cartas e documentos. Uma grande viagem.

Enfim, pra quem tem um blog chamado A Fragata Surprise, passar uma tarde inteirinha no Museu Marítimo de Barcelona é como navegar em um sonho. 

Mas, descontada a minha absoluta parcialidade, acho que gente normal também vai sempre delirar com um centro de conhecimento que sabe ser lúdico, belo e didático.

Museu Marítimo de Barcelona

Museu Marítimo de Barcelona
Avinguda de les Drassanes s/n, Metrô Drassanes (L3) ou Paral-Lel (Linhas 2 e 3)

🕒 Horários do museu: de segunda a domingo, das 10 às 20h.

Horários da Escuna Santa Eulália: entre abril a outubro, de terça a sexta e aos domingos, das 10h às 20:30. Aos sábados, das 14h às 20:30h. Entre novembro e março, o encerramento das visitas é às 17:30h.

💲 Ingressos: para ver o museu e a Escuna Santa Eulália, o preço é de € 10. Para ver apenas a escuna, a entrada é € 3. Acesso grátis aos domingos, após as 15 horas.

Cafeteria e Restaurante Norai
De segunda a sexta, das 9h às 20h. Sábados e domingos, das 10h às 20h.

Todas as dicas de Barcelona

Siga o link ou clique nos ícones do mapa pra ver muito mais sobre a cidade.


A Espanha na Fragata Surprise

A Europa na Fragata Surprise

Curtiu este post? Deixe seu comentário na caixinha abaixo. Sua participação ajuda a melhorar e a dar vida ao blog. Se tiver alguma dúvida, eu respondo rapidinho. Por favor, não poste propaganda ou links, pois esse tipo de publicação vai direto para a caixa de spam.
Navegue com a Fragata Surprise 

Nenhum comentário:

Postar um comentário