![]() |
Beale Street: para a comunidade negra de Memphis, ela era a
Broadway, a 5ª Avenida e Wall Street |
Afinal, Beale Street é o coração da comunidade negra que botou Memphis e o Tennesse no mapa.
É a rua que se reivindica — com absoluto direito — como o Lar do Blues e pista onde engatinharam o Rhythm'n'Blues e o Rock’n’Roll.
![]() |
Que outra rua do mundo pode esnobar o título de Lar do Blues? |
Então, se liga nessas dicas para aproveitar o melhor da Música em Memphis e de Beale Street:
Música em Memphis - Beale Street
Para a comunidade negra de Memphis, Beale Street foi a 5ª Avenida, a Broadway, Wall Street e o Bairro da Luz Vermelha — tudo ao mesmo tempo e muito — ao longo da primeira metade do Século 20.
Nascida com o título mais graduado de Avenida Beale, a via que iria entrar para a mitologia ocidental como o lar do Blues nasce na margem do Rio Mississipi e se estica 1.800 metros terra adentro.
Nesse percurso de menos de 2 km, Beale Street, originalmente, três setores bem demarcados, Próxima à margem do rio, a região das docas era dominada por armazéns e escritórios das firmas de comércio de algodão — Memphis era o maior entreposto do produto nos EUA, já antes da Guerra Civil Norte-Americana.
![]() |
Antes da farra, Beale Street de cara lavada, cuidando dos
afazeres da manhã |
Foi no miolo da Beale Street que a grande população afro-americana de Memphis estabeleceu su ponto de referência, a partir da Abolição da escravatura EUA. Ali vicejou uma comunidade praticamente autônoma e autossuficiente — com bancos, igrejas, escolas, comércio e entretenimento próprios numa cidade hiper segregada.
Sim, Beale Street era um gueto pobre, permanentemente acossado pela violência racial. Mas também era um território onde os egressos das plantações de algodão do Delta encontravam oportunidades de trabalho e tinham acesso a confortos mínimos, inimagináveis para a população negra nas fazendas da região do Mississipi.
![]() |
O trecho fervido de Beale Street começa na esquina onde está
o histórico Orpheum Theater. Foi lá que assisti Joe Bonamassa — momento
estonteante na minha existência |
Entre moradias precárias e cotidiano violento — nos anos 30, Beale Street tinha o mais alto índice de homicídios dos EUA — o ramo do entretenimento ia de vento em popa e a música era o centro de tudo.
Segundo o futuro Rei do Blues, ele se sentiu muito pequenininho diante de tanta gente boa que tocava em Memphis, em sua primeira chegada à cidade, em 1946.
Nada disso, porém, impediu a decadência de Beale Street. Nos anos 70, o lugar parecia um caso perdido. Mas, novamente, a força da comunidade estava lá para encontrar um plano de revitalização.
Talvez essa revitalização tenha deixado na Rua do Blues um sotaque meio cenográfico. Mas basta entrar em qualquer casa de Beale Street e deixar a música rolar pra a alma da velha vizinhança voltar.
![]() |
Geralmente, ver um show em Beale Street é só questão de chegar e se aboletar |
Beale Street - modo de usar
As atrações musicais de Beale Street estão concentradas em um trecho de 500 metros, entre o Orpheum Theter, na Main Street, e a South 4th Stret, esquina onde está a Casa Museu de W C Handy, considerado o pai do Blues profissional.
É nesses 500 metros que se acotovelam as casas de shows, cafés, lojas de souvenir, diners e outros negócios, um trecho movimentadíssimo de dia e muito bem policiado à noite.
A música começa cedo em Beale Street. Às 11 horas da manhã já tem shows rolando e as apresentações se estendem até depois da meia-noite.
![]() |
O velho e querido Johnny
Cash jamais poderá ser acusado de ser blueseiro, mas também
tem seu altarzinho em Beale Street |
O melhor jeito de escolher o que assistir em Beale Street é o mesmo ouvidômetro que eu usei como guia em Nova Orleans e Nashville. Pare na porta, escute o que está tocando dentro da casa noturna e decida se quer entrar para ver o show.
Digo isso pra fazer uma recomendação: antes de viajar, preste atenção ao calendário de eventos culturais de Memphis, porque sempre tem uma estrela de primeira grandeza passando pela cidade — quem não quer tocar na Cidade do Blues, afinal? Compre ingresso com antecedência, pela internet, e se jogue 😊.
Mais uma dica: confira também a programação cultural do bairro de Cooper-Young, a vizinhança mais descolada de Memphis. Eu não tive tempo, mas da próxima vez é por lá que vou me esbaldar.
![]() |
Confira a programação musical nos anúncios em cavaletes nas
calçadas e use o ouvidômetro para decidir o que vai ver |
Onde ouvir música em Nova Orleans - Jazz e outras maravilhas
Beale Street na palma da mão
Se você for do tipo organizado, que gosta de tudo planejadinho, não precisa ficar à mercê desse método artesanal do ouvidômetro.
O aplicativo gratuito oferecido pela Downtown Memphis Comission informa sobre o calendário das apresentações musicais — a tempo de fazer uma pesquisinha básica na internet pra ver as referências sobre os artistas e decidir o que quer assistir.
O app também fornece informações sobre a história da Beale Street — ótimo para um tour autoguiado —, dicas de bares, lojas e restaurantes.
Beale Street app para IPhone
Beale Street app para Android
![]() |
A BB King's Blues Club All Star Band em ação e o letreiro do
clube, um dos cartões postais de Beale Street |
Onde ouvir música em Beale Street
⭐BB King's Blues Club
🏠 143 Beale Street
🕒 Segundas, terças e quartas, das 11 h à meia-noite. Quintas, sextas e sábados, das 11h até 1h da manhã. Domingos, das 9h à meia-noite.
Aberto em 1991 e batizado em homenagem à lenda da voz e da guitarra, o B.B. King’s Blues Club de Memphis pode até ser turístico demais — eu gostei mais do astral da filial de Nova Orleans — mas é daquele tipo de lugar que a gente tem que bater o ponto.
Essa é a casa-mãe da rede que se espalha por várias cidades americanas, uma espécie de Hard Rock Café do Blues, bem mais autêntico, com “elenco próprio” ( bandas da casa), boa comida — é possível que haja gente que vá a Memphis para comer, mas este, definitivamente, não foi o meu caso — e serviço profissional (a.k.a eficiente, mas frio).
![]() |
O BB King's Blues Club sempre atrai muito público, mas a casa é grande e não há muita dificuldade de encontrar um cantinho pra ver os shows |
O clube vive lotado, especialmente na hora das apresentações da BB King’s Blues Club All Star Band, uma das atrações cativas da casa, que geralmente encerra o programa da noite, várias noites por semana — os caras fazem mesmo um show muito competente.
![]() |
Os shows do BB King's Blues Club começa às 11 da manhã |
Se você entende bem inglês — com sotaque do Sul — e quer fazer um tour musical, as apresentações de Memphis Jones podem ser uma aula divertida. Ah, sim, e não se esqueça que músico ruim não vai pra Memphis, então, nem preciso dizer que o cara manda direitinho.
![]() |
Eric Hughes e banda, no palco do Rum Boogie Cafe, um dos ótimos shows que assisti em Memphis |
💲Depois das 19 horas, são cobrados US$ 5 de couvert, adicionados à conta.
Bati ponto no Rum Boogie Cafe nas quatro noites que passei em Memphis e foi a casa cuja programação musical mais me agradou.
Aberto em 1985, o Rum Boogie também adota o esquema de “elenco próprio” — eu gostei muito dos shows de Eric Hughes e de Vince Johnson & the Plantation Allstars —, serve comida cajun — o gumbo é bem gostoso — e ainda por cima tem áreas para fumantes.
![]() |
O Rum Boogie Cafe fica na esquina da Beale Street com a Highway 61 e tem até lugar para fumantes |
O Rum Boogie Cafe se orgulha de estar bem na esquina da Beale Street com a 3rd Street, que, na verdade, é um trecho urbano da mitológica Highway 61, a rodovia por onde os blueseiros chegaram a Memphis ou seguiram até Chicago, nos dois grandes êxodos que levaram 6 milhões de pessoas do Delta do Mississípi para uma vida menos miserável.
Espere ouvir um pouquinho de tudo no Rum Boogie Cafe: tem Blues, Southern Rock, Rock’n’Roll e até Country.
A parede atrás do palquinho mambembe do Rum Boogie Café está decorada com algumas relíquias, guitarras e violões que pertenceram a gente como Elvis Presley, Stevie Ray Vaughan, Bo Diddley, Joe Walsh, Carl Perkins, Booker T e Gregg Allman, só para citar alguns.
![]() |
Blind Mississippi Morris costuma se apresentar no Blues City Cafe. Ele é uma das grandes feras da gaita de Blues da atualidade |
O cara que eu mais queria ver em Memphis — depois de Joe Bonamassa, of course — era o gaitista de Blues Blind Mississippi Morris, que é atração cativa do Blues City Cafe pelo menos três vezes por semana.
Morris é uma estrela em Beale Street e além, apontado como um dos grandes da harmônica da atualidade.
Não deu certo ver o show (na noite que coincidiu minha estada na cidade e a apresentação dele, a casa fechou até as 22h para um evento particular e eu acabei tomando outro rumo), mas mesmo assim eu gostei da vibe do Blues City Café, um dos mais tradicionais palcos musicais da Beale Street.
Gente do quilate de BB King, Jerry Lee Lewis, Albert King, Charlie Watts (dos Rolling Stones) e o Lynrd Skynrd já deu sua canja no palco do Blues City Café.
O lugar é mais comportado, atrai um público de roqueiros e blueseiros grisalhos — muitos chegam pilotando suas Harley Davidson — que curtem, além da música, a cozinha tipicamente sulista da casa.
Na noite em que fui ao Blues City Cafe, entrei num debate interminável sobre quem merecia mais estar no Hall da Fama do Blues: eu advoguei pelo gênio irlandês Rory Gallagher, os tiozinhos das Harleys eram todos do time de Stevie Ray Vaughan.
No fim, firmamos um consenso: “Todos dois e mais Duane Allman”.
Inaugurada em 1947, com repertório Country & Western, a Rádio WDIA acabaria por se converter na principal emissora de música voltada para o público afro-americano nos EUA e a campeã de audiência em Memphis — Elvis Presley foi um ouvinte cativo.
Em 1954, considerado o “Ano Zero” do Rock’n’Roll, as ondas da WDIA alcançavam o Delta do Mississipi, o Golfo do México e alguns estados do Meio-Oeste.
A WIDIA continua no ar, orgulhosa de seu slogan "The heart and soul of Memphis" ("O coração e a alma de Memphis") e fazendo sucesso.
![]() |
Placa afixada pelo serviço do Patrimônio Histórico do Tennessee em frente aos estúdios da Rádio WDIA |
Além de difundir a música negra dos EUA, a WDIA tem engajamento direto com ações de promoção da cidadania, por meio de um fundo beneficente. Desde o sistema de transporte escolar para crianças negras com dificuldade de locomoção, criado nos anos 50, passando por bolsas de estudo, apoio à prática esportiva e a programas de moradia para a comunidade afro-americano.
A WDIA foi uma das primeiras instituições a trabalhar pela criação do Museu Nacional dos Direitos Civis, instalado no Lorraine Motel, local do assassinato de Martin Luther King.
Bagagem prática: 2 semanas, 2 estações e uma mala de mão
Ingressos nos Estados Unidos: como organizei meu roteiro musical
O que fazer em Memphis, a cidade do Blues
Graceland, a casa de Elvis Presley em Memphis
Memphis - Museu Nacional dos Direitos Civis
Onde comer em Memphis
Dicas de Memphis - informações práticas organizar a viagem
Transporte em Memphis - como chegar e como circular pela cidade do Blues
A melhor época para visitar Memphis - festivais de música e outros eventos
Todas as dicas de Nashville
Todas as dicas de Nova Orleans
Os Estados Unidos na Fragata Surprise
Miami
Nova York
Orlando
Curtiu este post? Deixe seu comentário na caixinha abaixo. Sua participação ajuda a melhorar e a dar vida ao blog. Se tiver alguma dúvida, eu respondo rapidinho. Por favor, não poste propaganda ou links, pois esse tipo de publicação vai direto para a caixa de spam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário