O Bairro Lastarria tem um arzinho Belle Époque que eu acho o traço
mais sedutor de Santiago |
A dois passos da movimentadíssima Avenida Libertador Bernardo O’Higgins, a principal via do Centro de Santiago, o Bairro Lastarria é um recanto de charme arquitetônico, boa gastronomia, ótima opção de passeios e de hospedagem.
Claraboia de um casarão do Bairro Lastarria transformado em
centro de lojas de design e moda |
Na arquitetura, Lastarria preserva muitos edifícios em
estilo eclético, art nouveau e algumas pinceladas de art-déco. Para fazer
companhia — e contraponto — à pedra e à cal, o bairro é dono de algumas das
áreas verdes mais queridas de Santiago, como o histórico Cerro Santa Lucia e o agradabilíssimo
Parque Florestal, limite Norte do bairro.
O trânsito e as buzinas podem estar pegando fogo
na Alameda (como os santiaguinos chamam a Avenida Libertador
O'Higgins), que Lastarria não se abala.
O agradável Parque Florestal marca o limite Norte do Bairro Lastarria |
Lastarria é de uma cordialidade rara em regiões centrais de grandes metrópoles, mesmo as que tratam bem de seus centros antigos, e é uma das minhas áreas favoritas em Santiago. Veja que delícia de bairro e o que fazer por lá:
Bairro Lastarria, Santiago do Chile
A rigor, Lastarria é uma rua — a Calle José Victorino
Lastarria — e algumas quadras de suas transversais, encravada no bairro de
Bellavista, área conhecida por seus museus e sua boemia.
Esse Lastarria é um boêmio muito do sossegado |
Mas o estado de espírito Lastarria foi conquistando terreno, avançando esses limites e ganhando personalidade jurídico-geográfica (😊) própria.
Algumas ruas de Lastarria ainda têm calçamento de paralelepípedo, há canteiros de flores por toda parte e vigora a estrita observância à mania de colocar bancos de jardim em qualquer cantinho de calçada.
A Igreja de Vera Cruz em foto de 2012. Hoje ela está fechada ao público, depois dos protestos do estallido social |
A Feira de Antiguidades do Bairro Lastarria cresceu e se diversificou, mas continua muito simpática |
Santiago do Chile nasceu no atual território de Lastarria. A cidade foi fundada lá mesmo por Pedro de Valdívia, em 1541, no nosso velho amigo Cerro Santa Lucia, que o povo Mapuche chamava de Huelén.
Os casarões do Bairro Lastarria são muito estilosos
|
Apesar do pezinho do bairro no Século 16, grande parte das
construções que se vê hoje em Lastarria são do finalzinho do Século 19 e começo
do Século 20, quando Santiago era o lar de algumas das maiores fortunas do
planeta.
Eu falei dos terremotos, que de tempos em tempos obrigam
Santiago a repaginar sua arquitetura, mas é bom lembrar que o dinheiro, em seu furor de reformas e modificações — a força
da grana que ergue e destrói coisas belas — também deu uma contribuição
decisiva para que as feições do Centro Antigo de Santiago carreguem raros traços
do período entre os séculos 16 e 18.
O Cine El Biografo exibe filmes fora do circuitão |
A arquitetura do Bairro Lastarria é típica da virada do
século passado |
Os muito ricos do Século 19 — as fortunas do sal, do cobre e
do salitre — moravam a Oeste de Lastarria, no aristocrático Barrio Brasil,
mas os casarões de Lastarria também são testemunhas da prosperidade da capital
chilena na virada do século passado.
O bairro conserva aquele arzinho Belle Époque que, para mim,
é o traço mais sedutor de Santiago. Chique, sem dúvida, mas com uma tradição
boêmia que vem de longe.
Que tal uma pausa no passeio? A Plazuela Vera Cruz está lá para isso mesmo |
Não é à toa que as atrações do Bairro Lastarria encantam públicos muito mais amplos que os maníacos por belas fachadas e ruas sossegadas, tipo eu.
Duas áreas verdes famosas, duas estações de metrô e muita coisa bacana pra fazer. O Bairro Lastarria é uma delícia |
➡ Para ver a programação dos cinemas, os horários dos museus e os endereços das lojas, consulte o portal Barrio Lastarria.
No feriado das Fiestas Pátrias de 2022, o Bairro Lastarria estava animado |
Como é de praxe entre os conquistadores, a primeira providência dos colonizadores espanhóis em relação ao Cerro (“Morro”) Santa Lucia, local de fundação da cidade de Santiago, foi dotá-lo de algumas fortificações.
Uma torre de vigia do Castillo Hidalgo clicada na minha primeira visita a Santiago, em fevereiro de 2002 |
Chegando a atingir 70 metros de altura, esse “parque elevado” tem 65 mil metros quadros de área cheia de mirantes, fontes, terraços, alamedas, um castelo (o Castillo Hidalgo), áreas para piquenique e diversos jardins.
Centro Cultural Gabriela Mistral
Avenida Libertador Bernardo O'Higgins nº 227, metrô Universidad Católica
O espaço foi construído no governo de Salvador Allende para sediar uma conferência da ONU. A ditadura de Pinochet transformou o lugar em sede da junta militar. Com a reconstrução da democracia no Chile, foi transformado em centro cultural e nomeado em homenagem à primeira mulher distinguida com o Nobel de Literatura, a poeta chilena Gabriela Mistral.
A arte, a criatividade e a experimentação exorcizam o bodum da ditadura no complexo arquitetônico do GAM |
O espaço tem um restaurante bem reputado, livraria, salas de exposições e consertos e muito mais, com entrada gratuita. Sempre tem algo bacana para ver por lá.
MAVI, um lugar bacana para conhecer a produção recente das artes visuais chilenas |
Museu de Artes Visuais
José Victorino Lastarria nº 307, Plaza Mulato Gil De Castro
💲 Ingresso $ 2.000 pesos chilenos (R$ R$ 12)
Pra conhecer as artes plásticas chilenas no período mais recente, que tal dar um pulo no Museu de Artes Visuais (MAVI) de Santiago? O acervo do MAVI reúne obras da da segunda metade do Século 20 até o presente. Tem pintura, esculturas, fotografias e artes gráficas.
Livraria y Sebo El Cid Campeador
Calle Merced 345, Metrô Bellas Artes
El Cid Campeador é a ilha do tesouro para quem gosta de ler |
Apesar de simplesmente abarrotado de livros, o lugar é super organizado. O acervo é separado por temas, com autores em ordem alfabética e, ainda por cima, dá para pesquisar os títulos no computador.
A maioria das obras da Livraria El Cid Campeador está em espanhol, mas também há largas sessões com títulos em inglês e francês.
Na visita de 2012 a El Cid Campeador, garimpei as Obras Inmortales de Francisco de Quevedo — fazia um século que eu vinha procurando algo desse poeta espanhol do Século XVII, que, além de tudo, virou personagem das Aventuras do Capitão Alatriste. Também encontrei uma edição de El Siglo de las Luces, de Alejo Carpentier, que me deixou muito feliz.
A feirinha de Lastarria cresceu e se diversificou, mas continua muito simpática |
Plaza Mulato Gil de Castro
Quem está acostumado com as feiras de San Telmo (Buenos Aires), da Benedito Calixto (em São Paulo) ou de Waterlooplein (em Amsterdã) é capaz de tomar um susto: a Feira de Antiguidades de Lastarria faz um gênero, digamos, mais intimista.
Há dez anos, eram poucas barraquinhas e quase zero de muvuca — até nisso Santiago impõe sua elegância low profile. Hoje, o número de expositores cresceu bastante, mas ainda é um “mercado de pulgas minimalista”, no sentido de que não dá para enlouquecer abarrotando sacolas por lá.
Sessão nostalgia: a Feira de Antiguidades de Lastarria em 2012 |
Onde comer em Lastarria
Eu morri de dó de não ter conseguido voltar ao ótimo Bocanáriz (José Victorino Lastarria nº 276), uma grande memória gastronômica que me ficou da visita a Santiago em 2012 e que continua reputadíssimo.
Bocanáriz em foto de 2012: a casa continua super bem reputada |
Onde eu voltei — e voltei a me esbaldar—foi a El Bombón Oriental, que fica exatamente ao lado da Livraria El Cid Campeador, onde provei um dos grandes baklavas da minha vida. Misto de restaurante e confeitaria, o lugar é muito simples e caseiro, tocado por uma família turca.
Bombón Oriental: uma senhora baklava pra comer de garfo e se lambuzar mesmo assim 😋 |
Duas grandes refeições no Chipe Libre e no Ligúria |
A segunda ótima refeição que fiz em no Bairro Lastarria foi no Chipe Libre – República Independiente del Pisco (José Victorino Lastarria nº 282), onde me acabei nos mariscos com aji (molho apimentado típico do Peru).
Olha as estações de Bellas Artes e Universidad Católica marcadinhas no mapa do Metrô de Santiago |
Como chegar ao Bairro Lastarria
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Querida Cynthia, como sempre me deleito ao ler seus relatos e anoto dicas para um dia curti-las. Quando resolver visitar o Espírito Santo, me avise para que eu possa encontrá-la. Com carinho, do Gelson
ResponderExcluirOi, Gelson, quanto tempo! Pois é, o Espírito Santo está na minha lista há um tempão, faz quase uma década que estive aí pela última vez... Quando eu for, pode deixar que aviso :)
ExcluirConheci essa região de Santiago, caminhando, e é muito charmosa e agradável, como relatado aqui. Espero voltar quando possível.
ResponderExcluirLastarria e Providencia são dois bairros muito gostosos, né, Gelson? santiago pode não ser efervescente como Buenos Aires, mas é uma cidade muito legal.
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