As casinhas coloridas penduradas nos cerros são |
Ô, cidade pra gostar de cores e detalhes, essa Valparaíso |
Nesse retorno ao Chile, é claro que fiz um bate e volta a Valparaíso para rever suas cores, ladeiras e precipícios.
Passei um dia delicioso, ouvindo o pio das aves marinhas e explorando os encantos boêmios do lugar que permanece como o meu favorito em terras chilenas.
Bate e volta a Valparaíso
Para explorar Valparaíso, é preciso ter disposição para subir ladeiras. Os detalhes fofos pelo caminho compensam o esforço |
Dicas práticas de Valparaíso
Um pouquinho da história de Valparaíso
O movimento dos barcos é a essência de Valparaíso desde seu bercinho. Os primeiros habitantes daquelas paragens foram os indígenas Changos, nômades que se deslocavam em canoas, o que lhes valeu a descrição de "ciganos do mar", dada pelo historiador chileno Vicuña MacKeena.Para o povo Chango, aquela terra era Alimapu, "o país queimado" — talvez uma trágica antevisão da razia que os espanhóis fariam em toda a região de Valparaíso, no Século 16, dizimando a população nativa.
Os britânicos foram os principais responsáveis pela povoação
dos morros (cerros) de Valparaíso |
As escadarias nos cerros Alegre e Concepción ajudam a vencer as pirambeiras |
Foi a forte presença britânica, que começou a crescer a partir do Século 18, que moldou as feições de Valparaíso.
Cerro Concepción é um encanto de vilas floridas penduradas
nas alturas |
Mary Graham, viajante e escritora inglesa, grande amiga da Princesa Leopoldina, viveu em Valparaíso (e preferia a companhia dos locais à de seus compatriotas). Graham registrou o dia a dia da cidade em um livro de memórias.
Palácio Baburizza, no Paseo Yugoslavo. O terremoto de 2010 fez estragos na praça, mas as obras de recuperação estavam em pleno vapor em julho de 2012 |
O que fazer em Valparaíso
No meu retorno a Valparaíso, em julho de 2012, o Paseo Yugoslavo ainda mostrava as marcas deixadas pelo forte terremoto que sacudiu a Costa Chilena em 2010.
A praça ainda estava sendo rasgada por tratores nos consertos das redes subterrâneas de água e esgoto. Morri de pena, mas agora o lugar já está tinindo, outra vez.
Paseo Gervasoni: que tal parar para um drinque no terraço do
hotel? |
Suba o funicular para o Cerro Concepción e um dos primeiros encantos que você vai encontrar é o Paseo Gervasoni, em frente ao famoso hotel com o mesmo nome.
Com névoa de inverno e tudo, o lugar é puro verão, graças às cores de suas fachadas, às flores em vasinhos espalhados por toda parte e ao saxofonista entreouvido através de alguma janela.
O sotaque napolitano do Paseo Gervasoni (esq) e um
mirante florido próximo à Estação do Funicular de Cerro Concepción |
O desenho na fachada desta casinha reproduz a paisagem |
A câmera de lambe-lambe acentua o tom nostálgico do Paseo Yugoslavo |
Calle Merlet nº 195. Acesso pelo Funicular Cordillera, na calle Serrano. De terça a domingo, das 10h às 18 horas. Entrada gratuita.
Valparaíso dedica um museu ao controvertido Almirante Cochrane, patrono das marinhas chilena e brasileira.
O museu funciona num dos casarões mais antigos de Valparaíso, no Cerro Cordillera. Embora tivesse sido construída para ser residência do velho lobo do mar, Cochrane jamais morou na propriedade, que acabou abrigando o primeiro observatório astronômico do Chile, fundado em 1843.
Prepare a câmera: é raro encontrar uma casinha nos morros de Valparaíso que não mereça um clique |
Cá para nós, uma cidade que deve tanto de sua personalidade ao mar deveria ter um espaço mais robusto dedicado à memória naval.
Como chegar a Valparaíso
É muito fácil ir de Santiago a Valparaíso. Várias empresas de ônibus fazem a rota, a partir do Terminal de Buses, integrado à estação de Metrô Uiversidad de Santiago, na linha vermelha (cuidado para não confundir com as estações Universidad Católica ou Universidad de Chile).Os ônibus de Santiago a Valparaíso saem a cada 15 minutos.
A passagem do ônibus custa cerca de 4.300 pesos (US$ 7). Ao comprar o bilhete ida e volta, é possível deixar o horário de retorno em aberto e regressar a Santiago sem pressa.
Valparaíso é muito romântica |
Mas também é um ótimo destino para viajantes-solo |
Viajei de Santiago a Valparaíso com a Tur Bus. Para minha grata surpresa, consegui um assento na janelinha, no segundo andar (nem todos os carros têm dois andares e eu não planejei nada. Foi sorte, mesmo...). A paisagem na estrada é bacana e a viagem passou que eu nem percebi.
O tempo de viagem da capital a Valparaíso é de quase duas horas, com direito a ver montanhas e a bela mata da Reserva Florestal Peñuelas.
A vida real frequenta muito as ladeiras de Valparaíso |
Transporte em Valparaíso
Da rodoviária para as atrações da cidade, não precisa pegar táxi. A parada dos micro-ônibus (600 pesos a passagem) está a 50 metros à direita da estação.
Avise ao motorista que quer descer em Reloj Turri, a poucos passos do funicular (diga “ascensor”) para o Cerro Concepción.
A estação e (abaixo) o trajeto a bordo do Ascensor
Concepción |
Para socorrer quem precisa se deslocar pra baixo e para cima, há 22 elevadores (funiculares), servindo aos diversos cerros (morros) da cidade.
Os mais famosos são Ascensor El Peral (de 1902), que para do ladinho do Paseo Yugoslavo, o Ascensor Concepción (de 1883), que dá acesso aos cerros Alegre e Concepción, e o Ascensor Artillería (de 1893), que conecta a parte baixa da cidade com o Paseo 21 de Mayo, talvez o mirante mais bonito de Valparaíso.
Um pátio sossegado do Cerro Alegre |
Onde comer em Valparaíso
Calle Urriola 464, Cerro Alegre
Depois de visitar o Paseo Iugoslavo, descendo a pirambeira da Calle Urriola, dei de cara com o simpático Kiseki Sushi Bar. Aí eu pensei: "Tem lugar melhor para experimentar um japinha que numa cidade portuária?".
Pedi temakis com salmão, jaiba (caranguejo) e camarão, que combinaram às mil maravilhas com o pico sour.
Os korokés (bolinhos de purê de batata com recheio de carne) com molho teriaki estava crocantes e muito saborosos — além de quentinhos, necessidade básica, depois de enfrentar a ventania nas ladeiras de Valparaíso.
O Kiseki Sushi Bar é despretensioso, mas muito confortável, com atendimento muito simpático e trilha sonora de primeira (não é que a gravação de Dream a Little Dream of Me de John Pizzarelli é páreo para a de Mamma Cass?).
O WiFi gratuito do restaurante é uma mão na roda para botar as redes sociais em dia, enquanto se descansa do sobe e desce pelos cerros da cidade.
Almocei muito bem por 7.700 pesos (R$ 30), com bebidas incluídas.
Casarão no Cerro Concepción |
Valparaíso e a Fragata Surprise
Para quem tem um blog chamado A Fragata Surprise, voltar a Valparaíso é um pouquinho como voltar para casa.Foi nessa cidade portuária do Chile, há mais de uma década, que comecei a descobrir a existência da HMS Surprise, a embarcação/personagem que transportou a dupla Abrey&Maturin pelos oceanos, nos livros de aventura escritos pelo irlandês Patrick O’Brian.
Quem me apresentou a Jack Aubrey foi um marujo que existiu de verdade. O Almirante Thomas Cochrane é um velho conhecido dos livros de História, por conta de sua participação na Guerra de Independência da Bahia (1822-1823).
Comprei um livro sobre ele, na minha primeira passagem por lá, em 2002. Da biografia do almirante de carne e osso, cheguei ao capitão da literatura (e ao amor por uma embarcação que virou nome de blog).
É que o personagem de Aubrey foi inspirado em Cochrane. Ambos foram expulsos da Marinha Britânica, acusados de usar informações privilegiadas para ganhar dinheiro na bolsa de valores, quando eram membros da Câmara dos Lordes.
O personagem real e o da ficção amargaram o ostracismo dando uma mãozinha mercenária às guerras de independência da América do Sul. Foi isso que os trouxe às águas de Valparaíso.
Cochrane lutou do lado certo na Bahia, mas barbarizou os Cabanos no Pará. De qualquer maneira, ele colocou Valparaíso no meu mapa e a Fragata na minha vida.
O Chile na Fragata Surprise
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