5 de março de 2022

Malta: Ilha de Gozo e a Cittadella

Cittadella, cidade fortificada na Ilha de Gozo, Malta
A beleza da Cittadella é um grande motivo para visitar a Ilha de Gozo

Malta não se resume à Ilha de Malta. Este país-arquipélago tem um monte de atrações interessantes fora de sua porção principal. Os exemplos mais conhecidos são a Lagoa Azul, na Ilha de Comino, e as praias perfeitas para o mergulho, os templos megalíticos e uma encantadora cidade murada, a Cittadella, principais atrações da Ilha de Gozo.

Gozo é a segunda maior ilha maltesa, com 67 km² de área (menos da metade da Ilha de Itaparica, na Bahia) e 37 mil habitantes. Ela bem que merecia mais tempo no meu roteiro em Malta, mas com apenas uma semana no país, optei por uma visita à Ilha de Gozo e à Cittadella esticando meu dia de banho de mar na Lagoa Azul. 

Catedral da Assunção, Cittadella, Ilha de Gozo, Malta
A Catedral da Assunção é o edifício mais visitado da Cittadella

Cittadella, Ilha de Gozo, Malta
Mas bom mesmo é explorar as ruas e fortificações da velha cidade murada

Ficou um passeio bem redondinho, um dos meus dias mais bacanas no país. Uma hora dessas em volto para ver as outras atrações da Ilha de Gozo, especialmente seus templos megalíticos. Por enquanto, fique com as dicas desse ótimo bate e volta em Malta:


Malta: Ilha de Gozo e a Cittadella

A primeira parte desse meu bate e volta em Malta foi a travessia até a Ilha de Comino para aproveitar o magnífico mergulho na Lagoa Azul. Esse relato ganhou um post exclusivo, que você confere seguindo o link. 

Travessia entre Malta e Gozo
A travessia entre Malta e Gozo é feita em 25 minutos, em ferries robustos e pouca chacoalhação no mar

Na volta da Lagoa Azul ao Porto de Cirkewwa, onde atracam as lanchinhas que vão para Comino, decidi que não fazia o menor sentido estar de cara para o ferry que vai para Gozo, ainda com muito dia pela frente, e não ir até lá para ver a Cittadella.

Afinal, o trajeto entre Sliema, onde eu estava hospedada, e Cirkewwa leva cerca de uma hora. Ainda que eu tivesse planejado dedicar um dia inteiro à Ilha de Gozo, mais vale um pássaro na mão do que dois voando. Era bem grande a chance de eu não ter tempo de voltar à ponta Norte da Ilha de Malta para realizar o passeio — o que acabou se confirmando. Lição nº 1: uma semana em Malta não é tanto tempo assim.

Victoria (Rabbat), capital da Ilha de Gozo, em Malta
A Cittadella (olha ela lá no fundo) fica na cidade de Victoria (ou Rabbat), capital da Ilha de Gozo

Então, foi só descer da lancha que me trouxe da Lagoa Azul e correr para a bilheteria do ferry que faz a rota Malta-Gozo, que tem partidas a cada 45 minutos. 

Cheguei à Ilha de Gozo por volta das 15 horas. Pulei no primeiro táxi e segui para a Cittadella, que fica na cidade de Victoria, capital da Ilha. Foi uma sábia providência, porque o transporte público de Gozo é bem ruinzinho. No retorno do passeio, esperei mais de meia hora no Terminal Rodoviário de Victoria por um ônibus que me levasse ao Porto de Mġarr, onde tomei a balsa de volta para a Ilha de Malta.

Cittadella de Gozo, Malta
Não é preciso pagar entrada para ter acesso à Cittadella

Muralhas da Cittadella, Ilha de Gozo, Malta
Das muralhas da Cittadella a gente contempla a ilha quase toda

Visita à Cittadella de Gozo

Não é preciso pagar ingresso e não há um horário delimitado de acesso à Cittadella. Ainda que nós, turistas, imaginemos a velha cidade amuralhada apenas como um complexo museológico, o lugar ainda preserva alguma vida real e tem algumas dezenas de moradores (mesmo caso de Mdina, ainda que a Cittadella seja menos povoada). 

Eu, porém, recomendo enfaticamente que você tire o escorpião do bolso e pague os € 5 do ingresso ao Centro de Visitantes da Cittadella, onde uma exposição multimídia oferece um intensivão sobre a história do lugar e fornece aquele contexto básico pra a gente compreender o que vai ver por lá. Ele funciona no subsolo da cidade murada (a entrada é bem sinalizada).

Cittadella, Ilha de Gozo, Malta
A Cittadella ocupa um dos pontos mais altos da Ilha de Gozo e o local já era habitado no Período Neolítico

Esse ingresso é válido por 30 dias e, além do Centro de Visitantes, dá acesso ao Museu de Arqueologia, às antigas masmorras e outras atrações. Atualização: o Centro de Visitantes funciona das 9h às 16:30h, no horário pós-pandemia.

Aprendi e anotei algumas coisinhas, na minha passagem pelo Centro de visitantes. A história da Cittadella se perde no tempo. A colina onde ela se assenta — com vista de 360 graus para praticamente toda a extensão da Ilha de Gozo — vem sendo habitada desde o Neolítico. Os cartagineses fizeram algumas fortificações no local, mas foram os romanos que transformaram o local em uma mistura de acrópole e fortaleza. 

Centro de Visitantes da Cittadella, Ilha do Gozo, Malta
Antes de explorar as ruas e muralhas da Cittadella, recomendo muito que você passe pelo Centro de Visitantes para uma aulinha introdutória à história do lugar

Cittadella, Ilha de Gozo, Malta
As atuais feições da Cittadella foram desenhadas a partir do Século 16

As fortificações que vemos hoje na Cittadella são mais "recentes", construídas a partir do Século 16.

Houve uma época em que toda a população de Gozo era obrigada a passar a noite dentro das muralhas da Cittadella, para se defender dos frequentes ataques de piratas à ilha. 

Mesmo assim, em 1551 a Ilha de Gozo viveria seu maior trauma, o sequestro de quase toda a sua população — cerca de 5 mil pessoas, na época — por piratas otomanos. Homens, mulheres e crianças foram levados como escravos e Gozo virou uma ilha fantasma, até ser repovoada por gente oriunda da Ilha de Malta. 

Cittadella de Gozo, Malta
Minha primeira visão da Cittadella, ainda a bordo do ferry que me levou a Gozo

Cittadella, Ilha de Gozo, Malta
De pertinho a Cittadella tem um encantador ar de mistério

A atração mais visitada na Cittadella é a Catedral da Assunção, com ingresso pago à parte (€ 4). Vale a pena, pois a decoração interior é muito bonita e o bilhete também é válido para o Museu da Catedral. 

O edifício barroco que vemos hoje, do Século 18, está no mesmo lugar onde os romanos construíram um templo dedicado a Juno e os bizantinos ergueram uma igreja dedicada à ascensão da Virgem Maria. 

O melhor da Cittadella, porém, é explorar suas ruelas e fortificações, sem muita obrigação de ticar monumentos em qualquer lista. O cair da tarde entre as muralhas é absolutamente lindo, com o sol deixando as pedras cada vez mais douradas. 

Antes da catedral, essa colina teve um templo dedicado à deusa Juno

Catedral da Assunção, Cittadella, Ilha de Gozo, Malta
A decoração barroca da catedral é do Século 18

Um parêntese sobre a Ilha de Gozo
O nome maltês de Gozo é Għawdex (pronuncia-se áu-desh). Os britânicos batizaram a capital e maior cidade da ilha de Victoria, mas os malteses a chamam pelo nome antigo, Rabat.

(Para não fazer confusão com a outra Rabat, que fica na Ilha de Malta, ao lado de Mdina, imitei os conterrâneos dos Beatles aqui neste post e chamei a cidade de Victoria).

Catedral da Assunção, Cittadella, Gozo, Malta
A Catedral da Assunção é uma das atrações pagas no interior da Cittadella, mas vale o ingrresso

Catedral da Assunção, Cittadella, Gozo, Malta

Como um país tão pequenininho consegue ter duas cidades com o mesmo nome? A explicação é simples: ar-Ribaāṭ, em árabe (idioma pai da língua maltesa), significa “lugar fortificado”. Olhando a quantidade de cidades amuralhadas em Malta, a gente até estranha que não haja mais Rabats por lá.

Balsa para a Ilha de Gozo, Malta
A viagem entre Malta e Gozo rende muitos cliques, mas a paisagem na chegada ao porto de Mgarr é realmente espetacular

Como chegar à Ilha de Gozo

Do Porto de Ċirkewwa, na Ilha de Malta — o mesmo de onde saem as lanchas para a Lagoa Azul —parte a balsa para o Porto de Mġarr, ao lado da cidade de Victoria/Rabat, capital da Illha de Gozo.

As embarcações da empresa Gozo Channel Lines partem tanto de Malta quanto de Gozo a cada 45 minutos e o serviço funciona direto, sem interrupções. Daria até pra esticar a farra em Victoria e voltar de madrugada para Malta 😈 — mas não faça isso, porque não vai ter ônibus que te leve do porto para as cidades nesse horário.

Balsa de Malta para a Ilha de Gozo
As balsas que fazem a travessia Malta-Gozo têm salões de passageiros confortáveis, mas é muito mais legal viajar ao ar livre

Aliás, se você estiver hospedada na Ilha de Malta e não alugou carro, uma boa providência na hora de organizar a visita à Ilha de Gozo é conferir os horários de ônibus entre a cidade de seu alojamento e o Porto de Cirkewwa e — mais importante ainda — de Cirkewwa para sua cidade.

Faça essa consulta no planejador de rotas da empresa de transporte público de Malta.

Os ferries que fazem a travessia de Cirkewwa para Gozo são bem robustos e estáveis. Isso significa que eles balançam pouco, boa notícia pra quem costuma enjoar, e estão pouco sujeitos a cancelamentos, em caso de mar agitado.

Porto de Cirkewwa, Malta
O Porto de Cirkewwa clicado da lanchinha que me trouxe da Lagoa Azul

Os salões de passageiros são espaçosos, com grande oferta de lugares para sentar e serviço de cafeteria/lanchonete. Eu achei mais gostoso ficar no convés, curtindo o vento e o azul do Mediterrâneo.

O trajeto entre Cirkewwa e Gozo é feito em 25 minutinhos. A passagem ida e volta custa € 4,65. Um detalhe curioso é que no meu embarque de Cirkewwa Mġarr fui informada que a viagem só me seria cobrada na volta.

Cittadella, Ilha de Gozo, Malta
Uma típica rua da Cittadella
 
Vi que há outra rota ligando as ilhas de Malta e de Gozo, partindo e retornando a Valeta. O serviço é operado pela Virtu Ferries (a mesma empresa que navega entre Malta e a Sicília) e pela Gozo Fast Ferries

Essas empresas que operam a partir de Valeta oferecem embarcações rápidas, para 300 passageiros e fazem o trajeto do Grand Harbour (em Valeta) ao Porto de Mġarr, em Gozo, em 45 minutos. O bilhete ida e volta custa € 12. Elas anunciam desconto nessa tarifa para quem tem o Talinja Card (cartão do serviço de transporte público de Malta).

Cittadella de Gozo, Malta
Levei cerca de três horas explorando a Cittadella, mas poderia ter ficado muito mais

Não fiz a viagem a Gozo a partir de Valeta por dois motivos. O primeiro é que emendei o passeio com o banho de mar na Lagoa Azul, em Comino, e teria que ir a Cirkewwa de qualquer jeito, para pegar a lancha. 

O segundo motivo é que minha viagem a Malta foi num mês de outubro e, apesar do calorão, o mar já não estava muito plácido naquelas bandas. As embarcações que fazem a linha Valeta-Gozo são pequenas, dizem que elas chacoalham que é uma beleza na maré agitada (tudo bem pra mim, que não costumo enjoar) e não é incomum, fora do verão, o serviço ser suspenso em função das más condições de navegação.  

Porto de Mgarr, Ilha de Gozo, Malta
Tem transporte de tudo quanto é tipo conectando o Porto de Mġarr a Victoria e à Cittadella. Mas se você escolher o ônibus, tenha paciência, porque os bichos demoram

Como ir do Porto de Mġarr para Victoria/Rabat e a Cittadella

O Porto de Mġarr é conectado à cidade de Victoria por ônibus regulares, táxis e ônibus turísticos (tem uma parada do ônibus hop-on hop-off bem sinalizada).

Como eu cheguei à Ilha de Gozo no meio da tarde, resolvi não perder tempo esperando o busão para me levar à Cittadella. Paguei € 5 de táxi para ir até lá, um trajeto de 7 km. Se tivesse ido de ônibus, ainda teria tido que encarar um ladeirão a pé, para chegar ao sítio histórico.

Táxi do porto para a Cittadella, em Gozo, Malta
Logo que desembarquei em Mgarr, pulei no primeiro táxi para a Cittadella


Victoria, Ilha de Gozo, Malta
Só na volta para o porto é que vi um pouco da cidade de Victoria. O cartaz no Teatro Astra (dir) me deixou com vontade de ir à ópera 

Na volta da Cittadella para o porto, caminhei até o terminal rodoviário de Victoria (650 metros, ladeira abaixo) e peguei o transporte, que levou cerca de 20 minutos para chegar ao terminal de Mgarr.

O retorno no ferry pra Malta foi bem tranquilo. O perrengue foi chegar ao Porto de Cirkewwa depois das 18 horas e pegar uma fila quilométrica pra o busão que me levaria a Sliema — era a multidão voltando da Lagoa Azul. 

Terminal Rodoviário de Victoria, Ilha de Gozo, Malta
O Terminal Rodoviário de Victoria fica a 650 metros da entrada da Cittadella

O ônibus, claro, partiu abarrotado e levou uma eternidade no trânsito, até chegar ao meu destino. Mas nada que estragasse a alegria de um dia fantástico.


Outras atrações da Ilha de Gozo
Eu tinha um motivo, digamos, sentimental para visitar Gozo: na mitologia grega, ela é Ogígia, a ilha onde viveu a ninfa Calipso. No relato de Homero, portanto, foi na costa de Gozo que Ulisses (Odisseu) naufragou, em sua longa jornada de retorno a Ítaca, depois da Guerra de Troia — vocês já sabem que eu sou fã do protagonista da Odisseia.

Victoria, Ilha de Gozo, Malta
A caminho do Terminal Rodoviário pela Triq ir-Repubblika, rua principal de Victoria, deu pra clicar uns casarões bem bonitões 

Victoria, Ilha de Gozo, Malta

Acolhido por uma apaixonadíssima Calipso, Ulisses passou sete anos em Ogígia, em doce prisão, até que o deus Hermes apareceu com o recado de Zeus ordenando a liberação do navegante, que só então pode seguir sua viagem de volta para casa.

Uma caverna na Baía de Ramla, na Costa Norte de Gozo, é apontada pela lenda como sendo o lar de Calipso. Era um local bem concorrido entre os visitantes, até ser interditada ao público por risco de desmoronamento — a mais famosa atração turística de Gozo, a Janela Azul, não foi poupada dessa sina: o fotografadíssimo arco de pedra, localizado no litoral Noroeste da ilha, desabou em 2017, devido à violência de uma tempestade.

Cinco mil anos antes da nossa era, já havia gente cavoucando a terra árida da Ilha de Gozo em povoações de agricultores originários da Sicília, que está a cerca de 80 km ao Norte.

Essas sociedades do Período Neolítico legaram a Gozo os Templos de Ġgantija, as construções megalíticas mais antigas de Malta — erguidos 3.600 a.C e 2.500 a.C. — e o círculo de pedras Xagħra, complexo funerário datado de 3.000 a 2.400 a.C.

Esse sítios arqueológicos estão abertos à visitação e já estão muito na minha lista, quando eu voltar a Malta.

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Um comentário:

  1. Que legal, parabéns pelo conteúdo. Nunca tinha ouvido falar sobre os detalhes desse lugar maravilhoso

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