11 de junho de 2024

Atrações gratuitas em Madri - o Século de Ouro

Plaza Mayor de Madri

A Plaza Mayor é o coração da Madri antiga ou “Madri dos Áustrias”. Este espaço do Século 17 era palco de festas, celebração de conquistas militares e de autos de fé da Inquisição. A construção em amarelo é a Casa de la Panadería, que servia de camarote real


Quer fazer um passeio lindo sem gastar nem um tostão? Entre as muitas e maravilhosas atrações gratuitas em Madri esse "roteiro pelo Século de Ouro" é um jeito maravilhoso de mergulhar na história e nas belezas da capital espanhola.

Entre os séculos 16 e 17, Madri foi uma das cidades mais prósperas do planeta, quase uma "capital do mundo, centro de um "império onde o sol nunca se punha" — a cidade "paradoxal, singular e irrepetível", como definiu o escritor espanhol Arturo Pérez-Reverte. Tanto poder e tanto dinheiro lotaram a cidade de belezas que ainda hoje encantam olhos de locais e viajantes.

Casa de la Villa em Madri
A Casa de la Villa, foi inaugurada em 1692, como sede do governo de Madri (Ayuntamiento). A cidade tinha se tornado a capital da Espanha em 1561

Com este roteiro de atrações gratuitas em Madri pra ser feito a pé, você vai ver as memórias Século de Ouro, com destaque para a Plaza Mayor, a Colegiata de San Isidro (que já foi a catedral madrilenha), a Plaza de la Villa, o Palácio de Santa Cruz e um dos quadros mais bonitos de El Greco na Igreja de San Ginés. 

Veja os detalhes:

Roteiro de atrações gratuitas em Madri 

"Êxtase de São Francisco de Assis", de Murillo, em Madri
Inscrição do D. Quixote no Bairro de las Letras em Madri
Monumento a Cervantes em Madri
O Século de Ouro espanhol também foi marcado por uma produção artística irrepetível, como a pintura de Velázquez e Murillo e a literatura de Cervantes, o teatro de Lope de Vega e a poesia de Quevedo. Lá no alto, Êxtase de São Francisco de Assis, de Murillo. No centro, a abertura do D. Quixote gravada numa rua do Barrio de las Letras. Acima, o Monumento a Miguel de Cervantes na Plaza de España

O Século de Ouro em Madri

O Século de Ouro tem um pouquinho mais que 100 anos. A expressão se refere ao período que abarca o Século 16 e o primeiro quarto do Século 18 -  talvez o símbolo maior da espoliação das Américas.

Mas é certo que esse tempo, também, que foi a expressão de um impulso épico que fez tanta gente a se lançar aos mares e ao desconhecido e que, nas artes, pariu uma safra (essa sim, irrepetível) com Cervantes, Lope, Quevedo, Molina e Calderón... As construções e recantos dessa época compõem a  minha Madri preferida.

Centro Antogo de Madri
Pension de Peine, hotel no Centro Antigo de Madri
Um grande motivo pra passear pelo Centro Antigo de Madri é namorar as fachadas da área. Esta acima é da Pension del Peine, um hotel aberto em 1610 e até hoje em funcionamento
Rua dos Bordadores no Centro Antigo de Madri
Adoro as placas de rua no Centro Antigo de Madri

Essa parte do Centro Histórico é mais conhecida como "Madri dos Áustrias", em referência à dinastia dos Habsburgos, de origem austríaca, que reinou sobre a Espanha entre 1516 (com a subida ao trono de Carlos I, mais conhecido como o imperador romano-germânico Carlos V), até 1700, quando a morte de Felipe IV decretou a substituição dos Habsburgos pelos Borbón.

Madri, Livraria Gabriel Molina
Gabriel Molina, na Travessia de Arenal, uma das muitas livrarias encantadoras da Madri dos Áustrias

Como é a Madri dos Áustrias


Para aproveitar melhor esses cenários (eu só tinha dois dias na cidade), fiquei hospedada lá mesmo, em La Latina, reduto boêmio ao lado da Plaza Mayor, um dos bairros mais antigos e com uma das noites mais animadas da capital espanhola.

Bares descolados, restaurantes charmosos e pontos tradicionais, como o Mercado de San Miguel e o histórico restaurante El Botín prometem (e cumprem) farrinhas e refeições memoráveis, a hospedagem é bem em conta e você está a um pulo de quase tudo que interessa na cidade.

Uma das ruas mais antigas de Madri: Calle del Cordón
Calle del Cordón, uma das ruas mais antigas da cidade. Dizem que em um palácio desta rua San Isidro Labrador, padroeiro de Madri, trabalhou como criado

Nos tempos áureos da cidade, La Latina era onde vivia o povo de Madri, geralmente amontoado em casas de cômodos espremidas entre tabernas e corrales de comédias, os teatros de então.

O nome do bairro é uma referência a Beatriz Galindo, conhecida como La Latina por seu domínio desse idioma, uma mulher admirável que, em pleno Século 16, lecionou na prestigiada Universidade de Salamanca e notabilizou-se por seus conhecimentos filosóficos e de medicina.

La Latina foi professora de Isabel de Castela, outra mulher fundamental na história da Espanha — por falar nisso, um dos meus programas preferidos na Madri dos Áustrias é passar pela livraria feminista Mujeres de Madrid, que fica na vizinhança, e garimpar obras escritas por mulheres, sobre mulheres.

Libreria Mujeres de Madrid - Calle del Marqués Viudo de Pontejos nº 4. De segunda a sexta, das 10h às 14h e das 17h às 20h. Aos sábados, das 10:30 às 14h e das 17h às 20h.

Arco da Plaza Mayor de Madri
Seis grandes arcos dão acesso à Plaza Mayor de Madri
Plaza Mayor de Madri
Estátua equestre de Felipe III, integrante da Casa dos Áustrias que reinou na Espanha de 1578 a 1621
Plaza Mayor de Madri e Colegiata de San Isidro
A Plaza Mayor e a Calle de Toledo. Ao fundo, as torres da Colegiata de San Isidro

Roteiro pelo Século de Ouro em Madri

⭐ Plaza Mayor

A Plaza Mayor de Madri começou a ser construída em 1560, no local onde funcionava uma feira. Aos longo dos séculos, passou por diversas reformas até ganhar a forma de praça fechada, com fachadas simétricas e harmônicas — e uma beleza rara.

A Casa de la Panaderia, que se destaca com sua cor meio dourada e pinturas decorativas, de 1619, abrigava repartições públicas e funcionava como camarote real durante as cerimônias realizadas na praça. Também já foi sede da Real Academia de Belas Artes de San Fernando, da Real Academia de História, da Biblioteca e do Arquivo municipais.

Casa de la Panaderia na Plaza Mayor de Madri
Casa de la Panaderia na Plaza Mayor de Madri
Casa de la Panadería, sede de repartições públicas e camarote real
Plaza Mayor de Madri
Sob as arcadas da praça funcionam bares, restaurantes e lojas 
Plaza Mayor de Madri

Na Madri dos Áustrias, a Plaza Mayor era o centro da vida social e política da cidade. Lá funcionava um mercado, eram realizadas corridas de touros, representações teatrais e autos de fé da Inquisição e execuções de condenados. Era também o local das celebrações de vitórias militares, datas religiosas e festas várias.

Hoje, o local é um movimentado ponto turístico cheio de bares, restaurantes e lojas de souvenir. Meus roteiros pela Madri dos Áustrias geralmente começam pela Plaza Mayor

Plaza Mayor de Madri
Plaza Mayor de Madri
Plaza Mayor de Madri
Plaza Mayor de Madri

O intenso movimento turístico na Plaza Mayor muitas vezes desconsidera o fato de que mora gente ali. As faixas reclamando do barulho já fazem parte da paisagem da praça


Não canso de admirar a harmonia daquele conjunto, o retângulo imenso cercado pela imponência dos edifícios, que é humanizada pelos toques domésticos que escapam das centenas de janelas (sim, mora gente lá!), a elegância dos altíssimos arcos que conectam a praça ao movimento da cidade.

A única coisa que se deve evitar na Plaza Mayor é sucumbir aos restaurantes locais, geralmente caros e bem sofríveis. 

⭐ Colegiata de San Isidro

Calle de Toledo nº 37. 

Visitas diárias, das 7:30h às 14h e das 17h às 21h. (No verão, das 7:30h às 13h e das 19h às 21h). Visitas guiadas no segundo sábado de cada mês, das 9:30 às 10:15h.

Entrada gratuita.

Colegiata de San Isidro em Madri

O interior da Colegiata de San Isidro, erguida no Século 17 pelos jesuítas 

Saindo da Plaza Mayor pelo Arco de Toledo, uma curta caminhada leva à Colegiada de São Isidoro (Colegiata de San Isidro), igreja consagrada ao padroeiro de Madri.

Com o pomposo título oficial de Real Basílica Colegiata de San Isidro, ela funcionou como Catedral de Madri até o final do Século 20, quando a Catedral de Almudena foi consagrada como tal. Sua construção foi concluída em 1664 (já no finalzinho do período dos Áustrias) pela Ordem dos Jesuítas.

A igreja é considerada um dos edifícios mais representativos da arquitetura de sua época.

Colegiata de San Isidro em Madri
Colegiata de San Isidro em Madri
Colegiata de San Isidro em Madri

Gosto muito do interior da igreja, em um barroco ainda contido. Apesar da importância histórica, a Colegiata não parece uma atração turística, frequentada por moradores das redondezas, geralmente mais idosos.

Por isso, é importante guardar discrição, não sair disparando fotos, perturbando as orações. Em troca, o visitante vai se sentir quase de casa, em um ambiente aconchegante, apesar de sua grandiosidade.

Igreja de San Ginés em Madri
Igreja de San Ginés em Madri
Igreja de San Ginés em Madri
A Igreja de San Ginés tem uma história movimentadíssima e guarda uma obra-prima de El Greco

⭐Igreja de San Ginés

Calle Arenal nº 17

De segunda a sexta, das 8:45h às 13h e das 18hàs 20:45h. Sábados, das 8:45h às 13h e das 17:45h às 20:45h. Domingo e feriados, das 9:45h às 13:45h e das 17:45h às 30:45h. Visitas guiadas aos sábados.

Entrada gratuita.

Na direção oposta da Colegiata de San Isidro, saindo da Plaza Mayor pelo Arco de Ciudad Rodrigo, fica San Ginés, outra igreja importante no Século de Ouro - e com uma das histórias mais curiosas.

Igreja de San Ginés em Madri
Igreja de San Ginés em Madri
O pórtico de entrada da Igreja de San Ginés registra orgulhosamente que este foi o local do batismo do poeta Luís de Quevedo e do casamento do teatrólogo, poeta e novelista Lope de Vega, dois dos maiores nomes do Século de Ouro da Literatura Espanhola
Para chegar lá, saia da praça, atravesse a Calle Mayor e desça a Calle Bordaderos até encontrar uma vielinha, o Pasadizo de San Ginés.

No Século 17, a Igreja de San Ginés era o refúgio de todos os espadachins de aluguel, prostitutas e batedores de carteira de Madri (um equivalente ao Patiode los Naranjos da Catedral de Sevilla, na mesma época).

Passadiço de San Ginés em Madri
Passadiço de San Ginés em Madri
Chocolateria de San Ginés em Madri
O Pasadizo ("passagem") de San Ginés é famoso por suas banquinhas de livros usados e pela célebre chocolateria, aberta 24 horas

Os fora da lei se beneficiavam do Direito de Santuário (garantia de não ser preso, quando se estava em solo sagrado) oferecido pela paróquia. Nas madrugadas, eles deixavam o abrigo e enxameavam pelo velho callejón (beco, viela) fazendo negócios e vendendo seus serviços.

Hoje, a área é muito pacata, com banquinhas de livros novos e usados. Bem no cotovelo do Pasadizo fica a tradicionalíssima Chocolateria San Ginés, uma espécie de catedral do chocolate com churros, fundada no final do Século 19. A parada aí é obrigatória.

Mas antes ou depois do chocolate, não deixe de visitar por dentro a Igreja de San Ginés, onde uma preciosa obra de El Greco aguarda os visitantes em um cantinho discreto.

Trata-se de A Purificação do Templo (também chamada de A Expulsão dos Vendilhões do Templo), pintada pelo gênio do Maneirismo em 1609 (ele retratou essa cena do Novo Testamento outras seis vezes).

"A Purificação do Templo" de El Greco na Igreja de San Ginés em Madri
A Purificação do Templo (1609), de El Greco: vocês não imaginam minha felicidade de ter conseguido, finalmente, ficar cara a cara com esse quadro

O culto a San Ginés em Madri é antigo — teria sido trazido pelo conquistador da cidade frente aos mouros, Raimundo de Borgonha, no Século 11 — e historiadores apontam que já havia um templo dedicado a esse santo francês (São Genésio, em português), desde o Século 12. Genésio foi bispo católico em Arles, no Século 4º, martirizado pelos romanos.

Igreja de San Ginés em Madri
Igreja de San Ginés em Madri
Igreja de San Ginés em Madri
Igreja de San Ginés em Madri
O altar-mor (lá no alto) e altares laterais da Igreja de San Ginés

 A atual Igreja de San Ginés, porém, é mais recente, do Século 17. Ao longo de sua história, a construção enfrentou incêndios e outros percalços e chegou a ser usado por forças Republicanas como alojamento, durante a Guerra Civil Espanhola. Muito da decoração original da igreja se perdeu e hoje seu interior tem um sotaque francamente neoclássico.

Até recentemente, San Ginés tinha um horário de visitas super restrito—apenas aos sábados. Mas, para minha imensa felicidade, a encontrei aberta ao público em plena segunda-feira, agora em maio de 2024. Imaginem a alegria, de poder, finalmente, ver o quadro de El Greco cara a cara!

⭐ Convento das Descalças Reais

Plaza de las Descalzas, s/n

De Terça a sábado, das 10h às 14 e das 16h às 18:30. Domingos e feriados, das 10h às 15. Recebe apenas visitas guiadas em espanhol, que duram cerca de 60 minutos.

Ingresso:  € 8

Convento das Descalças Reais de Madri
Conventos das Descalças Reais, fundado pela mãe de D. Sebastião de Portugal

O Monastério das Descalças Reais é a única atração paga deste roteiro pelo Século de Ouro. Mas entrou como sugestão neste roteiro por sua importância na Madri dos Áustrias.

O convento foi fundado em 1559 por Juana de Áustria, irmã de Felipe II (e mãe do rei português D. Sebastião — aquele da Batalha de Alcácer-Quibir, que virou lenda e cujo retorno foi aguardado por gerações de portugueses, transformados em súditos da Espanha por conta de sua morte).

A dificuldade para incluir Las Descalzas no roteiro é que o convento só pode ser visto em visitas guiadas, com horários muito restritos. Mas a coleção de obras de arte guardadas no convento, assim como a suntuosidade de seus salões, podem ser um grande atrativo.

Convento das Descalças Reais de Madri

A congregação do Convento das Descalças Reais é composta por freiras de clausura da ordem das clarissas.

Grande parte das preciosidades no acervo das Descalzas vem de doações das freiras que viveram lá—o convento era notório como local de recolhimento de mulheres da alta aristocracia, viúvas ou filhas sem dote, como a própria Juana de Áustria e sua tia Maria, imperatriz do Sacro Império Romano-Germânico.

Casa de la Villa em Madri
A Casa de la Villa começou a ser construída em 1631

⭐ Plaza de la Villa

Visitas guiadas gratuitas à Casa de la Villa, às segundas-feiras, às 17 horas. A Casa Cisneros e o Palácio de los Lujanes não estão abertos ao público.

Seguindo a trilha do Século de Ouro, também é bacana dar uma passada pela Plaza de Villa, que foi o centro nervoso de Madri nos seu primeiros anos como capital, ainda no reinado de Felipe II.

Casa e Torre de Lujanes em Madri
A Torre e a Casa de Lujanes, apontada como a mais antiga ainda de pé em Madri
Plaza de la Villa em Madri
Plaza de la Villa em Madri
Plaza de la Villa com a Casa de la Villa em primeiro plano e o Palácio de Cisneros ao fundo

Três belos edifícios chamam a atenção na pequena praça: a Casa de la Villa (Século 17) antiga sede do Ayuntamiento (o governo local), a Casa de Cisneros (Século 16) o Palácio de los Lujanes (Século 15), apontado como uma das construções mais antigas da cidade ainda de pé em Madri.


Casa de Calderón de la Barca em Madri
Caminhar pela Madri dos Áustrias é tropeçar o tempo todo em referências que eu curto. Calderón de la Barca viveu nesta casa, no nº 61 da Calle Mayor

⭐ Palácio de Santa Cruz

Palácio de Santa Cruz em Madri
Palácio de Santa Cruz em Madri
Mesmo engolfado por construções mais altas, o Palácio de Santa Cruz ainda se destaca na paisagem de Madri

Do ladinho da Plaza Mayor fica o Palácio de Santa Cruz, que até o Século 18 foi uma prisão onde mofaram muitos dos perseguidos pela Inquisição, antes de arder nas fogueiras dos autos de fé realizados na grande praça madrilenha.

Hoje, o Palácio é sede do Ministério da Relações Exteriores da Espanha.

⭐Porta do Sol

A Porta do Sol mudou muito ao longo do tempo e perdeu aquele que foi seu edifício mais importante durante o Século de Ouro, o Mosteiro de San Felipe el Real. 

O mosteiro era patrocinado por muitos poderosos da época, mas sua relevância para a vida social madrilenha não decorria de sua função religiosa, e sim do que acontecia do lado de fora, em suas escadarias, que abrigavam o mais importante Mentidero de Madri.

Porta do Sol em Madri

No Século 17, o Facebook era ao vivo e funcionava na Porta do Sol


O mentidero é uma instituição tipicamente espanhola, um lugar de encontro, troca de notícias, opiniões e mexericos ( o termo tem origem no verbo mentir). Uma espécie de Facebook da época.

Maquete do Convento de San Felipe el Real em Madri
Placa assinala o mentidero de San Felipe em Madri
No alto, a maquete do Mosteiro de San Felipe. A placa na Porta do sol recorda seu mentidero, "onde as notícias circulavam antes mesmo dos fatos acontecerem"

Era nos mentideros que se estreitavam relações, se faziam contatos e negócios. Era absolutamente impossível enturmar-se em Madri sem frequentar as Escadarias de San Felipe, local onde os artistas encontravam patronos, que os candidatos aos favores reais buscavam apadrinhamento. Um lugar que fazia e destruía reputações.

Relógio da Porta do Sol em Madri
Edifício dos Correios na Porta do Sol em Madri
Só é Ano Novo em Madri quando aquele relógio lá no alto soa as 12 badaladas
Estátua do Urso e o Madronheiro na Porta do Sol em Madri
Outdoor do jerez Tio Pepe na Porta do Sol em Madri
A Porta do Sol tem alguns dos mais conhecidos cartões postais de Madri, como a estátua O Urso e o Madronheiro e o outdoor de Tio Pepe

O Mosteiro e Igreja de San Felipe el Real já não existe mais e agora só pode ser visto como maquete, no Museu de História de Madri. Uma placa na fachada de um edifício Porta do Sol lembra o velho mentidero, para alegria de nostálgicas como eu.

Hoje, a construção mais famosa da Porta do Sol é a Casa de Correos, uma das imagens mais reconhecíveis de Madri, com seu famoso relógio que marca as badaladas do Ano Novo. Outros cartões postais muito famosos da cidade também estão na Porta do Sol: o outdoor do jerez Tio Pepe e a estátua do Urso e o Madronheiro, árvore símbolo da cidade.

⭐ Casa Museu de Lope de Vega

Calle Cervantes nº 11 (Metrô: Puerta del Sol, Anton Martin ou Sevilla). 

De terça a domingo, das 10h às 18 horas (a última visita começa às 17h). 

Entrada gratuita. 

Casa Museu Lope de Vega em Madri
Museu Casa de Lope de Vega, no Barrio de las Letras

Na alta estação turística, é recomendável fazer reserva para ver a Casa de Lope de Vega. Permite apenas visitas guiadas em espanhol, inglês e francês, iniciadas a cada meia hora e com duração de 45 minutos (a última começa às 14 horas). Os grupos têm no máximo 10 visitantes. Para reservar, ligue para 91 429 92 16 ou mande um fax para 91 429 26 01.
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O ponto alto do meu último passeio pelo Século de Ouro foi a visita à Casa Museu de Lope de Vega. Lope é considerado o grande precursor da comédia espanhola e vivia em uma huerta (uma espécie de chácara) em uma região que, no Século 17, ficava afastada do Centro de Madri.

Hoje, a área é o Barrio de las Letras (Bairro das Letras), no caminho entre a Porta do Sol e o Passeio do Prado, e que ganhou este nome pela profusão de escritores geniais que viveram lá (Cervantes e Quevedo, só para citar mais dois).

Veja também esse roteiro muito legal: Um passeio no Barrio de las Letras

Lope de Vega é um personagem interessantíssimo. Dedicou-se com raro brilho a praticamente todos os gêneros literários, escreveu mais de 1.500 peças de teatro e era um pop star do Século de Ouro. Era um tremendo namorador, mas ordenou-se sacerdote. Era paparicado pelos poderosos, mas amargou um exílio. Foi soldado, intelectual e mundano.

Convento das Trinitárias Descalças em Madri
Biblioteca Nacional da Espanha em Madri
Biblioteca Nacional da Espanha em Madri

Lá no alto, o Convento das Trinitárias Descalças, onde vivia enclausurada a filha favorita de Lope de Veja. No centro e acima, Lope e Cervantes na entrada da Biblioteca Nacional de Espanha, com a estátua do rei Alfonso X de Castela


Sua filha preferida tornou-se freira enclausurada nas Trinitárias Descalças, convento que fica a poucos passos da casa do pai, e eles passaram anos conversando apenas por cartas. Quando ele morreu, a cortejo fúnebre parou diante de uma janela do convento para que Sor Marcela pudesse se despedir.

A Casa de Lope sofreu algumas alterações ao longo do tempo, mas ainda conta muito sobre a história de seu ilustre morador e sobre o modo de vida do Século 17.

A visita guiada é uma viagem deliciosa por momentos grandiosos e por peculiaridades domésticas daquele tempo.

Os ambientes têm mobiliário e objetos de época (naturalmente, não são os originais que pertenceram a Lope), que são percorridos enquanto a guia vai contando casos e contextualizando-os na História da Espanha. Adorei!

Leia também: Casas-Museus, a vida cotidiana de gente muito especial

Índice com todos os posts sobre museus e sítios arqueológicos publicados aqui na Fragata


Madri, Cava Baja e Arco de Cuchilleros
A Cava Baja é ligada à Plaza Mayor pelo mais famoso arco da praça, o de Cuchilleros

Jamais consegui explicar o meu carinho especial por Madri (se eu fosse mística, falaria de encarnações). Claro, a cidade é uma delícia, animada, bonita, com museus fantásticos e uma cozinha de rasgar a roupa. Mas sou capaz de citar outros 100 lugares do mundo que se adéquam à descrição e não chegam nem perto da capital espanhola no meu afeto: Madri me comove.

Talvez se ela fosse ainda a capital daquele império, não me despertasse essa ternura — sou daquelas que torce para os índios, mesmo que o mocinho seja Gary Cooper.

Acho que quem me toca, mesmo é o povo madrileño, sempre alijado do esplendor, mas que, na hora H, foi quem escreveu as partes mais bonitas da história, como no levante de 1808, contra as tropas napoleônicas, e na resistência obstinada e quase eufórica da Guerra Civil. Madrid, te amo!

Um guia para o Século de Ouro em Madri


Um guia bacana para percorrer a rota do Século de Ouro é o livro de Juan Eslava Galán Viaje a los Escenarios del Capitán Alatriste, da Editora Aguilar (já falei dele aqui).

Além de listar e descrever os principais monumentos da Madri dos Áustrias, o autor oferece todo um contexto histórico pelos lugares frequentados pelo famoso personagem da série de livros de Arturo Pérez-Reverte (sim, sou fã assumida do capitão, apesar de implicar com as posições políticas de seu autor).

Alatriste é um soldado pobre alistado na poderosa infantaria espanhola do Século 17, os famosos Tércios, que foi uma das grandes responsáveis pela manutenção do poderio do "império onde o sol nunca se punha". Além das batalhas regulares, ele se mete em todo tipo de aventura, de onde sempre sai esfolado, quebrado e mais sarcástico em relação à sua época e sua vida. 

Hospedagem em La Latina

⭐Hostal la Macarena
Cava de San Miguel nº 8

Hostal Macarena, Madri
La Macarena, minha "casa" na última passagem por Madri

Em 2014, escolhi esse hostal em La Latina a partir de uma dica do blog Turomaquia. Amei a localização, a dois passos do Arco de Cuchilleros, acesso à Plaza Mayor, em uma região lotada de bares e restaurantes interessantes e ao ladinho do Mercado de San Miguel.

O quarto single do Hostal Macarena é pequenininho e não fui premiada com um dos belos balcões que você vê na foto (o meu balcãozinho dava para o interior do prédio), mas a cama era confortável e o banheiro tinha um tamanho bem razoável. O quarto conta com as comodidades básicas (TV, secador de cabelo, calefação, etc).

A recepção funciona 24 horas, o Wi-Fi é gratuito e funciona bem direitinho. As diárias no single, em janeiro de 2014, custaram €50. Em junho de 2024, as diárias estão custando € 79. 


Hospedagem comentada – índice reúne todos os posts sobre o tema publicados no blog

A Espanha na Fragata Surprise - post-índice

Mais dicas de Madri
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A Europa na Fragata Surprise

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