A Pont Neuf e aquela luz que só existe em Paris |
Música deste post: Feeling Alright, Joe Cocker
Já que o envelhecer é inexorável, façamo-lo com estilo: adoro passar aniversário em Paris. Finalzinho de março, tempinho frio, cidade mais vazia... Perfeito.
O Boulevard Saint-Michel (esq), foi meu vizinho de porta nessa temporada no Quartier Latin |
Tempo bom pra devorar livros e mais livros nas mesas dos cafés ou num banco de praça (de preferência, onde bata sol).
Claro que teve passeio de barco pelo Rio Sena, um jeito delicioso de ver Paris |
Vitrine em Montmartre |
Com todo o direito à preguiça e a recusar programas que podem até “contar para o currículo”, mas que não me acrescentariam nada no capítulo prazer.
Por exemplo, dar meia volta, na porta do museu, se a fila estivesse grande. Ou gazetear o almoço no bistrô descolado para devorar um pacote de macarrons da Ladurée...
Caminhar sem compromisso por Paris é um prazer indescritível. Na imagem, a Pont Notre Dame, que liga a Île de la Cité à Rive Droit, a margem direita do Sena |
O Palácio da Justiça (acima) guarda um dos mais belos tesouros de Paris, a Sainte Chapelle (abaixo) |
Mas encasquetei. E a hospedagem no Quartier Latin tem lá suas vantagens: começar o dia lendo o jornal no jardim do Hôtel de Cluny, um cantinho que adoro, e visitar muuuuitas vezes as tapeçarias da Dama e o Unicórnio, expostos no Museu Nacional da Idade Média, que funciona lá.
O Jardin de Cluny e o Museu da Idade Média (abaixo) meu favorito em Paris |
E tem coisa melhor do que a certeza de que a última visão de Paris, todas as noites, será a beira do Sena, com Notre Dame de um lado e Pont Neuf do outro?
E andar na rua é constatar que as francesas conhecem 417 formas de amarrar uma echarpe, 325 jeitos de levantar a gola do casaco e pelo menos 218 maneiras de puxar uma mecha de cabelo para trás da orelha. Não dá pra competir...
Banca de livros usados em Saint Germain-des-Prés |
É, principalmente, encontrar referências: uma rua por onde transitou um personagem, uma placa que sinaliza a antiga morada de um poeta ou homenageia um combatente da Resistência.
Andar na rua em Paris é também olhar os franceses, que devem aprender no Jardim de Infância aquele jeito de inclinar a cabeça, a la Belmondo.
Junte tudo isso a uma casquinha de sorvete de framboesa da Berthillon e a felicidade está completa...
Eu sou encantada pela Place des Vosges |
Mas este aniversário aniversário em Paris não foi só flanar. A França estava ardendo. No dia em que cheguei, ainda encontrei os vestígios da imensa manifestação da véspera.
Mais de 130 cidades tiveram marchas inflamadas contra a chamada Lei do Primeiro Emprego, uma tentativa do governo conservador de Dominique de Villepin de flexibilizar direitos trabalhistas, a pretexto de “facilitar” o acesso dos jovens ao mercado de trabalho.
A calma reinava nos Jardins do Palais Royal |
A greve foi forte, paralisou diversos serviços, afetou o
tráfego aéreo e os transportes públicos. Mas no dia seguinte, quando desembarquei em Paris, estava tudo de volta ao normal.
Meu voo pousou no horário e não tive dificuldades de pegar o RER do Aeroporto Charles de Gaulle até o centro — quer dizer, não tive mais dificuldades que o normal, porque aquele trem lotado, com mala, ninguém merece...
Tinha gente comparando essas mobilizações de 2006 em Paris às famosas barricadas de 1968. Descontado o grande exagero, foi mesmo impressionante ver a quantidade de gente nas manifestações realizadas durante minha estadia na cidade.
Eu amei, claro. Jornalistas são bichos estranhos, mais confortáveis na turbulência que na calmaria.
O fato é que Paris me pareceu muito mais viva, desde que cheguei do aeroporto, emergindo do buraco de metrô no mesmo Boulevard Saint Michel celebrizado por aquela primavera lá de 68, tempo em que as pessoas eram realistas e reivindicavam o impossível, como ensinava uma célebre pichação.
Meu voo pousou no horário e não tive dificuldades de pegar o RER do Aeroporto Charles de Gaulle até o centro — quer dizer, não tive mais dificuldades que o normal, porque aquele trem lotado, com mala, ninguém merece...
Tinha gente comparando essas mobilizações de 2006 em Paris às famosas barricadas de 1968. Descontado o grande exagero, foi mesmo impressionante ver a quantidade de gente nas manifestações realizadas durante minha estadia na cidade.
Eu amei, claro. Jornalistas são bichos estranhos, mais confortáveis na turbulência que na calmaria.
Passear às margens do Sena é um dos grandes programas de Paris |
O fato é que Paris me pareceu muito mais viva, desde que cheguei do aeroporto, emergindo do buraco de metrô no mesmo Boulevard Saint Michel celebrizado por aquela primavera lá de 68, tempo em que as pessoas eram realistas e reivindicavam o impossível, como ensinava uma célebre pichação.
Em tempo: cerca de 10 dias, inúmeras manifestações e mais duas jornadas de greve geral após a minha chegada, o governo francês recuou e retirou a proposta da Lei do Primeiro empregos. Eu recebi a notícia em Amsterdã, pra onde tinha dado uma escapadinha de quatro dias, e comemorei um bocado.
Musée National du Moyen Age- Musée de Cluny- 6 place Paul Painlevé. Das 9:15h às 17:45h (fecha às terças). Entrada: 8,50 €Berthillon- 29-31 Rue Saint Louis en l'Ile.
Ladurée- A matriz fica no nº 75 da Avenue des Champs-Elysées. Confira outros endereços no site.
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