24 de janeiro de 2013

Comer em Portugal é uma arte

Polvo à Lagareiro, prato típico de Portugal
Polvo à Lagareiro. Nem precisa de legenda

Vamos ser francas: qualquer roteiro turístico na terrinha exige que a gente sucumba ao maior número possível de tentações culinárias. Comer em Portugal é uma arte.

Só a ideia de viajar ao país já abre meu apetite — normalmente, já começo a salivar quando faço o check-in no voo (pela internet, 72 horas antes de embarcar 😜).

Cais da Ribeira, Porto, Portugal
O Cais da Ribeira, no Porto, tem uma grande oferta de restaurantes. Pesquisando um pouquinho, come-se muito bem neste lindo cartão postal

Eu tinha planejado falar da comilança que foi essa viagem a Portugal aos pouquinhos, em vários posts, para não chocar o caro leitor com cenas explícitas da esbórnia.

Mas, pensando bem, quem é que quer saber de pequenas porções, quando o assunto é comer em Portugal?

restaurantes na Praça do Giraldo, em Évora, Portugal
Mesmo no inverno, os restaurantes da Praça do Giraldo, em Évora, mantém mesas ao ar livre. Foi lá que fiz uma refeição memorável na cidade

Do simples ao requintado, Portugal arrasa na cozinha. Na comida de rua, nos pratos caseiros servidos nas tasquinhas modestas, nos restaurantes badalados, tudo é uma festa.

Olha só quanta coisa boa eu provei em Portugal:


O que comer em Portugal

Prato de camarões-tigre em um restaurante português
Olha só o tamanho desses camarões-tigre...

Tem coisa melhor que castanhas assadas? São a cara do inverno português. Feitas na hora, em carrinhos que se multiplicam pelas esquinas e que a gente localiza de longe, pela fumaça.

Aqui no Brasil, cozidas, as castanhas portuguesas são prato típico da mesa de Natal (e dá um trabalho danado tirar a pele fininha que fica por baixo da casca).

Assadas, como são servidas na terrinha, as castanhas são muito mais fáceis de despelar, saem quentinhas dos braseiros e aquecem as mãos e a alma. Puro deleite, a partir de € 2 a dúzia.

Carrocinha de castanhas assadas em frente ao Elevador da Glória, em Lisboa
Carrocinha de castanhas assadas em frente ao Elevador da Glória, em Lisboa

Outro motivo para amar a mesa portuguesa é o meu fraco incontrolável por peixes e frutos do mar.

bacalhau é um clássico (faz 20 dias que voltei para casa e ainda não decidi de qual receita eu gosto mais: EspiritualCom Natas? Gomes de Sá? E olha que eu testei, testei, testei...), mas o cardápio é muito mais extenso.

O que dizer das ameijoas, bichinhos de concha tão singelos quanto irresistíveis? Que tal Polvo à Lagareiro (ao forno, com batatas ao murro e muito azeite)?

Sardinhas assadas, prato típico de Portugal
As sardinhas bem que tentaram se entrincheirar atrás da batata, para escapar à minha sanha, mas foi inútil 😀

Ou camarões tigre (gigantescos) grelhados, generosamente regados com azeite de oliva e o toque certinho de alho?

Essas duas últimas maravilhas foram o nosso cardápio num adorável almoço no Cais da Ribeira, no Porto, no Restaurante Avó Maria.

Arroz de mariscos servido em Setúbal e o porto pesqueiro da cidade
Este arroz de mariscos que comi em Setúbal (esq) estava maravilhoso. À direita, o porto pesqueiro da cidade, onde chegam todas as delícias que vão parar nos pratos dos restaurantes

Do arroz de mariscos eu nem vou falar de novo (pra não sair correndo para o aeroporto), mas já contei direitinho, no post sobre Setúbal. É só ir lá e conferir.

Foi em Setúbal, também, que provei a primeira sessão de camarões tigre e comi um pudim de pão daqueles de rolar no chão de pura felicidade.

Outro de responsa foi o pudim de laranja, provado no restaurante O Serenata, em Coimbra, que também já foi devidamente louvado,

pudim de laranja, doce português
Pudim de Laranja - acompanhado de vinho do porto, claro

Uma viagem a Portugal jamais seria completa sem sardinhas na brasa. Para eles, é um prato de verão, saboreado nas ruas, o peixinho inteiro, saído direto do fogareiro, geralmente sobre uma fatia de pão. O prato é a cara da Festa de Santo Antônio, em Lisboa, uma celebração deliciosa.

No inverno, quem nos socorre com as sardinhas são as tascas da Alfama e da região do Castelo de São Jorge, como o Comidas de Santiago, lugar despretensioso no simpático Largo do Contador-Mor.

Restaurante Comidas de Santiago, na Alfama, Lisboa
No tradicional bairro da Alfama, provei excelentes sardinhas assadas no Restaurante Comidas de Santiago (à direita)

As bichinhas chegam à mesa inteiras, cheirosas, suculentas, um requinte de simplicidade — e, claro, cheias de Ômega 3, colesterol bom etc. Valem a travessia do Atlântico.

Ainda no capítulo salgados, não poderia deixar de citar as migas à alentejana, outra excelsa simplicidade. Estava na Praça do Giraldo, completamente absorvida pela beleza de Évora, quando o cheiro do prato me inspirou outras levitações.

Para resumir, as migas à alentejana são apenas carne de porco feita em panela de barro, servida com sobras de pão (as migas) devidamente desmanchadas no caldo resultante do cozimento da carne.

Depois de provar, a gente se dá conta de que não tem vocabulário suficiente para exaltar o requinte de algo tão básico. Só indo lá para provar e entender.

migas à alentejana, prato típico de Évora, Portugal
Migas à Alentejana, bela lembrança de Évora

Caso o querido leitor esteja estranhando eu ainda não ter falado nos doces, é porque fiz questão de deixar a sobremesa para o final, comme il faut. Portugal é inacreditável nesse quesito.

Que o digam as maravilhosas queijadas servidas na despretensiosíssima Pastelaria Casulo, pertinho do meu hotel e onde a praga do expresso que não é expresso (é só café sem gosto feito numa máquina) ainda não pegou.

Pois além de fazer um café no coador de pano digno dos melhores botequins do Rio de Janeiro, a Pastelaria Casulo serve uns docinhos que parecem saídos do fogão da nossa avó. Sem nenhuma frescura, sem qualquer pedigree, mas bons pra caramba.

Fábrica de Pastéis de Belém, Lisboa
Fábrica de Pastéis de Belém, a confeitaria mais famosa de Lisboa

Como viajamos na época de Natal, tive o prazer de provar (e adorar) os filhoses (já falei deles aqui) e o Bolo Rei, típicos das festas de fim de ano em Portugal.

Na aparência, o Bolo Rei é bem parecido com nossa rosca de Natal, mas o sabor é bem mais próximo do panetone, com as mesmas frutas cristalizadas no recheio (e na decoração).

Doce de gemas com nozes da tradicional pastelaria Suíça, no Rossio, Lisboa
Doce de gemas com nozes da tradicional pastelaria Suíça, no Rossio

É bom, mas confesso que não me inspirou maiores delírios (devo ser o único ser na face da terra que não liga muito para panetone...)

Reparem que estou aquecendo e pegando o embalo, ainda não cheguei à parte de sair flutuando de puro arrebatamento gustativo.

Fábrica de Pastéis de Belém, Lisboa
Os pastéis de Belém foram inventados no Mosteiro dos Jerónimos. A receita tem ingredientes "secretos" e leva intermináveis romarias de turistas e locais à fábrica da iguaria

Essa fase começa com os pastéis de nata, talvez a experiência mais obrigatória de uma visita a Lisboa.

Os pastéis de nata devem ser provados, é claro, na Fábrica de Pastéis de Belém, a tradicionalíssima casa fundada em 1837 e que, desconfio eu, é a grande responsável por tanta gente visitar o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém, que ficam nas redondezas.

Pastéis de Belém, doce típico de Portugal
Hummmmmm, pastéis de Belém....

Na primeira vez que estive em Belém, fui bem, moderada e comi só três pasteizinhos. Azar o meu, que passei sete anos e meio com saudade.

Desta vez, não vou revelar a quantidade consumida, mas devo dizer que não me limitei ao carro chefe da casa, num inesquecível café da manhã de véspera de Natal. O bolinho (que lá se chama pastel) de bacalhau da Fábrica de Pastéis também bate um bolão.

O problema é que Portugal não para por aí. Pense em pastéis de Santa Clara de Coimbra, em toucinho do céu, em travesseiros de Sintra, nos papos de anjo e no pão de ló do Porto...

pastelaria especializada em doces conventuais na Rua Augusta, Lisboa
Os doces conventuais são uma grande (e deliciosa) tradição portuguesa. Esta é a pastelaria Ferrari, na Rua Augusta, que tem um cardápio variado de maravilhas produzidas em conventos

Cada cidade portuguesa tem sua especialidade de doce. Cada convento ou mosteiro português inventou e, ao longo dos séculos, elevou à perfeição a sua receita para aproveitar as gemas que sobravam do processo de engomar a roupa branca com as claras.

Acho que seriam necessárias umas oito encarnações e dedicação exclusiva em todas elas para alguém conseguir provar todos os maravilhosos doces portugueses. (o que não me impediu de tentar...).

Na impossibilidade de fazer um tour completo por esses sabores (alguém lembra de Asterix e Obelix na Volta da Gália?, É uma das minhas histórias em quadrinhos favoritas...), dá para tentar uma espécie de "intensivão" em doces portugueses na Pastelaria Suíça, no Rossio.

Ginginha do Rossio, Lisboa
Para acompanhar toda essa comilança, que tal uma ginjinha? A bebida é feita com uma espécie de cereja amarga, tipicamente portuguesa. Em Lisboa, a tradicional casa Ginjinha do Rossio funciona desde 1840

Já contei sobre os bolinhos de gema e os biscoitos de limão que encontrei em Fátima, mas volto a lembrá-los como exemplo das surpresas que o país nos reserva... 

E, para arrematar, louvo os rebuçados de ovos que descobri na Évoralforge uma lojinha fofa de comidinhas e artesanato, em Évora. As balinhas são especialidade de Portalegre, outra cidade alentejana. 

 Despeço-me saboreando o último dos ovos moles de Aveiro que trouxe da viagem, trincando a casquinha fininha de hóstia e deleitando-me como creme de gemas e açúcar que está quase me levando para o céu...

Onde comer e beber em Portugal

⭐Restaurante Avó Maria
Cais da Ribeira n° 30, Cidade do Porto

⭐Comidas de Santiago
Largo do Contador-Mor nº 21, Lisboa, pertinho do Castelo de São Jorge.

⭐Évoralforge
Rua da Alcárçova de Baixo nº 1, Évora

⭐Pastelaria Casulo
Rua 1º de Dezembro nº 120-C, em frente à Praça dos Restauradores, Lisboa

⭐Pastelaria Suíça
Praça D. Pedro IV (Rossio) nº 96 a 104, Lisboa.

⭐Fábrica de Pastéis de Belém
Rua Belém 84, Lisboa.

⭐A Ginjinha do Rossio
Largo de São Domingos n° 8, Lisboa.




A Europa na Fragata Surprise

Curtiu este post? Deixe seu comentário na caixinha abaixo. Sua participação ajuda a melhorar e a dar vida ao blog. Se tiver alguma dúvida, eu respondo rapidinho. Por favor, não poste propaganda ou links, pois esse tipo de publicação vai direto para a caixa de spam.
Navegue com a Fragata Surprise 
Twitter | Instagram | Facebook

4 comentários:

  1. Hum, puide sentir o cheirinho das castanhas no ar!!! A mesa portuguesa é deliciosa, primorosa. Não provei o pudim de pão, que amo de paixão (o pampa gaúcho é farto em comida portuguesa)!! Abraços,

    Paula do Mochilinha Gaúcha

    ResponderExcluir
  2. Paula, até hoje eu sonho com os doces portugueses. Como este é o Ano de Portugal no Brasil, vou torcer para pintar um festival de guloseimas aqui em BSB.
    Abs

    ResponderExcluir
  3. Hummmmm, somente esses dias descobri essa maravilha de "fragata". Amei!!! E estou devorando todos os links. Parabéns! Me diz uma coisa, você provou os deliciosos quindins de Mafra???? São absurdamente deliciosos, lindos... Enfim, ainda sonho com eles kkkkkk. Bj grande. Obrigada por me mostrar tantos outros lugares que quero conhecer, e relembrar alguns que já conheci. Está sendo ótimo, vou voltar para minha leitura kkkkkkkk

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Eliane, obrigada por navegar com essa fragatinha :)

      Não provei os quindins de Mafra, infelizmente :(

      Visitar a cidade é um dos meus planos mais acalentados -- culpa do livro de Saramago, "O Memorial do Convento", me favorito entre os que li dele.

      Ainda não calhou de dar certo essa visita a Mafra, mas agora já acrescentei os quindins à minha lista de motivos.

      Bjo

      Excluir