27 maio 2018

Dicas práticas de Cusco

Praça de Armas de Cusco, Peru
Cusco é bacana? Visitei a cidade quatro vezes e ainda pretendo voltar. Isto responde sua pergunta?

Cusco é uma das cidades mais bonitas que meus olhinhos já viram. Um baita destino turístico pra quem curte história, arquitetura, paisagens e, principalmente, gente. Entre os tantos encantos da antiga capital dos incas, o mais cativante é o modo discreto e persistente do povo quéchua de preservar suas tradições milenares.

Sou apaixonada por Cusco, que já visitei quatro vezes — e pretendo continuar voltando. E a melhor maneira de declarar esse amor é dizer: vá a Cusco, aproveite a cidade e tente compreendê-la como um destino turístico em si, não um ponto de passagem.

Para ajudar no seu planejamento, reuni aqui todas as dicas práticas de Cusco necessárias para organizar sua viagem: como chegar, quantos dias ficar, como conviver com os efeitos da altitude, segurança, preços, câmbio, transporte e clima. Agora, é com você:


Dicas práticas de Cusco

A Igreja de São Francisco e uma porta cusqueña reunindo as paredes incas e os entalhes espanhóis
A Igreja de São Francisco e uma porta cusqueña reunindo as paredes incas e os entalhes espanhóis

Quantos dias ficar em Cusco
Tem muito coisa legal pra ver em Cusco. Para o bem dos seus olhinhos e do seu coração, não a trate como mero ponto de passagem para Machu Picchu e atrações do Vale Sagrado.

Dedique pelo menos três dias inteiros a Cusco e não vai se arrepender.

Lembre-se que altitude de 3.400 metros exige comedimento. Mesmo quem faz o estilo “mil atividades por dia de viagem” tem que baixar a rotação em Cusco. Você vai precisar de um tempinho para se adaptar e não é boa ideia sair na correria para ver todas as atrações de uma tacada só.

Se a ideia for visitar as atrações do Vale Sagrado em esquema de bate e volta, reserve mais um dia inteiro para esse passeio.

Paredes incas em uma rua de Cusco, Peru
As paredes incas, com suas pedras elegantemente talhadas, resistiram aos terremotos e à invasão espanhola

Como chegar a Cusco

➡️ De Lima a Cusco
Cusco está a 1.100 km de Lima e o melhor jeito de chegar lá, partindo da capital peruana, é de avião. São mais de 40 frequências diárias entre as duas cidades e o voo dura pouco mais de uma hora — fácil, rápido e indolor.

O preço da passagem aérea Lima-Cusco-Lima varia muito. Fiz algumas simulações e os valores para um bilhete de ida e volta estão oscilando entre os R$ 500 e os R$ 1.500, dependendo da época, da antecedência da compra e até do horário de partida — em geral, quanto mais cedinho sai o voo, melhor a tarifa.

Aeroporto de Cusco, Peru
A primeira visão de Cusco, pela janelinha do avião. À direita, o movimento de táxis em frente ao Aeroporto Internacional Alejandro Velazco Astete, batizado assim em homenagem ao piloto peruano pioneiro no sobrevoo dos Andes

Normalmente, é mais vantajoso comprar todos os trechos de voos no mesmo bilhete — no caso, uma passagem Brasil-Lima-Cusco-Brasil, por exemplo. Você faz isso usando a opção múltiplos destinos dos sites de busca de passagens aéreas.

A Latam e a Avianca são as duas companhias aéreas que nos dão essa opção, já que ambas operam também no Brasil — as outras companhias que fazem a rota Lima-Cusco operam apenas em trechos internos no Peru.

Artesanato típico de Cusco, Peru
É comum nas áreas turísticas encontrar pessoas em trajes típicos posando para fotos ou oferecendo as lhamas para lhe fazer companhia na selfie. Elas esperam receber entre US$ 1 e US$ 2 por isso. É uma forma de trabalho. Não pagar equivale a um calote

➡️ Ônibus de Lima a Cusco
Pode parecer tentador pagar passagem na casa dos R$ 100 para ir de Lima a Cusco de ônibus, mas é bom saber que a viagem dura entre 17 e 22 horas, com direito a atravessar a Cordilheira dos Andes — leia-se: muitas curvas, subidas e descidas.

Sinceramente? Acho uma roubada que só quem estômago forte e tempo sobrando deve cogitar.

Se quiser encarar, a empresa Expresso Internacional Palomino faz a rota Lima-Cusco com passagens a partir de 90 soles (R$ 100/ US$ 27) cada perna e faz a viagem em 18 horas. A Civa cobra a partir de 80 soles (R$ 89/ US$ 24) cada trecho e cobre o trajeto em 22 horas.

Igreja dos Jesuítas em Cusco, Peru
A Igreja dos Jesuítas (La Compañia), na Praça de Armas de Cusco

➡️ Como chegar a Cusco por outras rotas
Cusco recebe voos de La Paz (Peruvian Airlines) e Bogotá (Avianca) e das cidades peruanas de Arequipa, Juliaca e Puerto Maldonado.

Os trens da PeruRail conectam a cidade a Puno, no Lago Titicaca, e a Arequipa.

Para quem vem de Puno, há a opção de ônibus convencionais (6 horas de viagem) ou o ônibus turístico, que faz paradas interessantes pelo caminho, com direito a visitas guiadas a sítios arqueológicos e vilarejos (10 horas de viagem).

Uma das típicas ruelas do Centro Histórico de Cusco
Uma das típicas ruelas do Centro Histórico de Cusco

Cuidados com a altitude em Cusco
Você já deve estar careca de ouvir falar do mal-estar que a altitude provoca nos desacostumados turistas que visitam Cusco, o famoso soroche. É tudo verdade, mas não é nada incontornável. A 3.400 metros de altitude o ar é mais rarefeito — a gente respira menos oxigênio — e o corpo sente.

O primeiro dia é o mais crítico: não é incomum sentir sonolência, dor de cabeça e alguma falta de ar. Outros sintomas são a má digestão (vômito, náusea, enjoo), tonteira, cansaço e taquicardia.

Na maioria das vezes, são sintomas leves, que vão desaparecendo — desde que a gente respeite os limites do nosso corpo e não banque o super-herói,

➡️ Para lidar com o soroche, desacelere: ande devagar, respeite seus limites, tire um cochilo, se o corpo pedir (sono é um santo remédio).

➡️ Outro santo remédio: beber água. Muita, o tempo todo. Manter-se hidratada é fundamental.

➡️ Especialmente no começo, prefira comidas mais leves (a digestão fica muito mais lenta na altitude).

➡️ Use e abuse do chá de coca (mate de coca, como dizem os cusquenhos), que não dá barato nenhum, ajuda a digestão e alivia a dor de cabeça. Os hotéis costumam manter uma garrafa térmica com o chá à disposição dos hóspedes e qualquer café, lanchonete ou restaurante da cidade (qualquer meeeeesmo) oferece a bebida.

Balas de coca contra a altitude, Cusco, Peru
A vantagem das balinhas sobre o chá de coca
é que sempre  dá pra
 ter algumas no bolso

➡️ Uma alternativa ao chá são as balinhas de coca, vendidas por toda a parte. O pacotinho custa em média 3 soles.

➡️ Se a coisa apertar, em qualquer farmácia da cidade você encontra os comprimidos contra o soroche (sorojchi pills), que ajudam a domar o mal-estar.

➡️ Os hotéis de Cusco costumam manter cilindros de oxigênio à disposição dos hóspedes para amenizar qualquer mal-estar respiratório mais significativo.

➡️ Os efeitos da altitude variam de pessoa para pessoa e as crianças e os mais jovens tendem a sentir mais que os mais velhos.

➡️ Se você tem enxaqueca, hipertensão, problemas circulatórios significativos e outras condições que tendem a se agravar na altitude, é uma boa ideia conversar com seu médico antes de embarcar.

Praça de Armas de Cusco à noite
A Praça de Armas fica muito animada à noite

Segurança em Cusco
O Centro Histórico de Cusco é bastante seguro. Nunca tive receio de caminhar, mesmo à noite, por essa parte da cidade, que tem sempre bastante movimento e policiamento.

Como em toda cidade turística, porém, convém tomar cuidado com batedores de carteira.

Em viagens anteriores, uma situação aflitiva que costumava ocorrer era me ver cercada por vendedores de bugigangas insistentes, um mini-tumulto bem propício a uma situação de furto. O melhor para evitar isso era apenas agradecer quando um ambulante oferecia algum produto e tocar em frente. Se a gente perguntava o preço ou demonstrava algum interesse, logo estava engolfada em um enxame de gente.

Nesta viagem de fevereiro, reparei que o comércio ambulante em Cusco está mais organizado e menos insistente. Não me senti incomodada ou acossada em nenhum momento.

Centro Histórico de Cusco, Peru
Dá para andar à noite pelo Centro Histórico de Cusco sem medo

Quanto Custa uma temporada em Cusco
Nesta viagem de fevereiro (baixa estação), ficamos em um hotel simples, confortável e bem localizado, La Casona de Rimacpampa, pagando US$ 58 a diária no quarto triplo, sem café da manhã.

Dica de hotel bom e barato em Cusco - La Casona de Rimacpampa

Para comer bem, calcule gastar entre 30 soles (US$ 10/R$ 33) e 50 soles (US$ 15/ R$ 55) por refeição em restaurantes de bom padrão. Dá para gastar menos, recorrendo a restaurantes fora do miolo turístico. Veja mais > Onde comer em Cusco

Templo de Saqswayamán, Cusco, Peru
Sacsayhuaman é uma das atrações imperdíveis de Cusco

Para ver as principais atrações, reserve 270 soles (US$ 82/ R$ 300). Veja os preços:

➡️ Ingresso para a Catedral de Cusco: 25 soles (US$ 7,6/ R$ 28)

➡️ Ingresso para o Qorikancha: 15 soles (US$ 4,50/ R$ 16,70)

➡️ Boleto Turístico Integral (acesso a 16 atrações em Cusco e no vale Sagrado): 130 soles (US$ 40/ R$ 145).

Boleto turístico de Cusco
Quem vai ficar menos tempo em Cusco pode optar pelo Boleto turístico parcial, que é mais econômico e dá acesso a um número menor de atrações. Este da foto é ideal para quem quer visitar apenas os templos nos arredores da cidade 

➡️ City tour de Cusco  - (Qorikancha e construções no entorno da cidade — Sacsayhuaman, Q’enko, Pukapukará e Tambomachay— só o guia e o transporte, ingressos por sua conta): 30 soles (US$ 9/ R$ 33).

➡️ Excursão ao Vale Sagrado (só guia e transporte, o ingresso é o boleto turístico): 70 soles (US$ 21/ R$ 78).

Praça de Armas, Cusco, Peru
As lojinhas da Praça de Armas fazem um câmbio mais 
camarada que os bancos, mas, mesmo assim, 
a cotação é bem pior que em Lima

Câmbio em Cusco
A melhor moeda para levar para o Peru é o dólar. O real até que é aceito, mas a cotação é muito desvantajosa.

Qualquer biboca de Cusco faz câmbio de dólares para soles, mas as cotações são bem ruins. Se puder, troque o dinheiro ainda em Lima, onde vai conseguir taxas melhores.

Para você ter uma ideia, enquanto as casas de câmbio de Miraflores estavam pagando 3,24 soles por um dólar, em Cusco eu cheguei a ver ofertas de 3,15 soles pela moeda americana. O mais curioso é que os bancos oferecem taxas piores que as lojinhas de artesanato da Praça de Armas.

Não caia na tentação de trocar dinheiro na rua e desconfie de quem oferecer um câmbio muito vantajoso. A chance de levar algumas notas falsas nessa negociação não é pequena.

Centro Histórico de Cusco, Peru
Muitas ruas do Centro Histórico de Cusco são fechadas aos automóveis

Transporte em Cusco
Nas áreas históricas, o melhor é andar a pé. Por mais que a altitude cobre seu pedágio —especialmente na hora de encarar uma ladeira — este é o jeito mais prático de transitar naquelas ruas estreitas e de calçamento irregular.

Além disso, muitas ruas são fechadas aos aos automóveis. Ir de táxi pode significar uma volta enorme até o local do destino.

Para distâncias maiores, uber ou táxi resolvem. Veja algumas tarifas:

➡️ Uma corrida de uber do aeroporto ao Centro Histórico, um trajeto de 6 km, fica na casa dos 12 soles (R$ 13/ US$ 3,70).

➡️ Do Centro Histórico à estação de trens de Wanchaq, de onde partem os ônibus (ônibus mesmo, não é trem) da PeruRail para Ollantaytambo, um táxi cobra 10 soles (US$ 3/ R$ 11) por uma corrida daquelas de manhã cedinho. O percurso é de 1,7 km.

➡️ Do Centro Histórico à Estação Ferroviária de Poroy (de onde operam os trens da PeruRail e da Inca Rail para Ollantaytambo e Machu Picchu), um trecho de 11 km, que é feito em cerca de 30 minutos (curvas, muitas curvas), o uber cobra na casa dos 45 soles (R$ 50/ US$ 14).

Placa indicativa de um caminho inca em Cusco, Peru
Cusco era o centro das várias estradas que percorriam os domínios incas, como atesta esta placa indicando o caminho ao Antisuyo, a porção amazônica do império

Como ir de Cusco ao Vale Sagrado
Cusco não tem propriamente uma estação rodoviária , mas uma série de pequenos terminais (muitas vezes apenas paradas na beira da calçada) que estão reunidas ao longo da Avenida Miguel Grau e suas transversais (calles Puputi e Pavitos), a cerca de 1 km da Praça de Armas.

A empresa Real Inca opera de lá (Avenida Grau nº 496) para Ollantaytambo (15 soles cada perna, a cada 40 minutos) e para a Hidrelétrica, de onde é possível seguir a pé acompanhando a linha férrea até Águas Calientes/ Machu Picchu, a opção mais barata de acesso ao sítio arqueológico (6h30 de viagem, partindo às 8h, 40 soles cada perna).

A oferta de ônibus e vans também cobrem o trajeto até Urubamba e Písac.

Sítio Arqueológico de Puka-Pukará, nos arredores de Cusco
Um exuberante final de tarde de fevereiro em Puka-Pukará, nos arredores de Cusco. Nós pegamos chuva no mês mais "molhado" do ano na região, mas nada que estragasse nossos passeios

O clima em Cusco
Para nossos padrões, faz frio em Cusco o ano inteiro. Seja qual for a época da sua viagem, coloque os agasalhos na bagagem.

A cidade e arredores têm duas estações bem distintas: a temporada seca, de abril a outubro, é o inverno, com temperaturas que podem ir abaixo de zero à noite e muito fresquinhas durante o dia.

O “verão” cusquenho é a temporada das chuvas, de novembro a março — fevereiro, o mês em que visitamos a cidade, agora em 2018, é o mais chuvoso, mas não atrapalhou em nada nossos passeios. E chegamos a pegar 2º C de temperatura à noite, com máximas de 18º C durante o dia.

Quando for arrumar a mala, tenha em mente que dificilmente você vai experimentar uma temperatura acima dos 20º C em Cusco, não importa a época do ano. Pra mim, isso é o paraíso, mas os friorentos passam algum aperto se não se prepararem direitinho.

O Peru na Fragata Surprise
Todas as dicas de viagem ao Peru - post-índice
Peru: roteiro de 10 dias com Lima, Cusco e Machu Picchu
Peru e Bolívia – roteiro de La Paz a Machu Picchu


Minha vida com Gastón (Acúrio) – as aventuras da Fragata nos restaurantes do chef-celebridade

Lima
Machu Picchu

Ollantaytambo
Puno
Andahuaylillas, Pukará e Raqchi
Vale do Urubamba (Písac, Ollantaytambo e Chinchero)


Todas as dicas de Cusco
Onde comer em Cusco
O melhor de Cusco – como aproveitar a capital dos incas
O que ver em Cusco – o Qorikancha e a Catedral

Como é o city tour de Cusco - e por que vale a pena
Cusco: desvendando o boleto turístico
Cusco: Inti Raymi, a Festa do Sol

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Um dia no Vale Sagrado dos Incas
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Passeio a cavalo pelas montanhas de Cusco



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5 comentários:

  1. "Soroche" é o que nós em português de Portugal chamamos de "mal da montanha", correto?
    Abraço e parabéns pelo relato (Cusco é ma-ra-vi-lho-so!).

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    1. É mais ou menos a mesma coisa, já que o soroche decorre da baixa oxigenação. Mas evitei usar a expressão "mal da montanha" porque ela costuma estar mais associada às graves situações que ocorrem a escaladores em altitudes muito elevadas, que, no limite, provocam edemas pulmonares e cerebrais.
      Em Cusco e região, é improvável que alguém experimente condições tão graves.

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  2. Muito bom Post, com o conselho certo para as pessoas que estão viajando pela primeira vez.
    Hoje existem diferentes passeios diurnos na cidade de Cusco, onde se pode chegar a 4100 metros acima do nível do mar. É aconselhável que você fique assim por cerca de 4 dias antes de fazer qualquer tour.
    Agora também há passeios para chegar a Machu Picchu observando a neve e paisagens que eu recomendo o seguinte:
    - Salkantay Trek Machu Picchu
    - Pedreira Inca
    - Lares Trek
    - Caminhada Vilcabamba.

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  3. Olá, quando vc visitou o Peru? Quero saber pra ter referência quanto ao dólar, que agora tá super alto.

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