25 de março de 2018

O que fazer em Cusco: o Qorikancha e a Catedral


Templo do Sol (Qorikancha), Cusco, Peru
Imagem inesquecível em Cusco: a imponência do Qorikancha, o Templo do Sol

Na capital de dois impérios, a religiosidade do povo da terra e dos colonizadores legou a Cusco seus dois monumentos mais espetaculares.

A deslumbrante Catedral espanhola, na Praça de Armas, é um dos exemplos mais importante da arquitetura e arte sacra colonial nas Américas.

Catedral de Cusco, Peru
A Catedral de Cusco é um curso intensivo de história da arte sacra colonial espanhola

E o Qorikancha (ah, o Qorikancha!!) é muito mais que um edifício, é uma metáfora viva sobre a resistência cultural dos povos tradicionais do continente.

Essas duas atrações merecem estar no topo de qualquer lista de "o que fazer em Cusco". Apenas 600 metros separam a Qorikancha da Catedral. Combinar as duas visitas não só é prático, como também muito ilustrativo.

Qorikancha, Templo do Sol de Cusco, Peru
A iluminação noturna deixa o Qorikancha ainda mais impressionante

No Qorikancha e na Catedral você vai aprender muito sobre Cusco, a tradição inca e a colonização espanhola.

Em cerca de uma hora, com um guia, você explora as belezas do templo católico. Depois, reserve mais uma hora e meia para ver o templo quéchua.

Qorikancha, Templo do Sol, Cusco, Peru
Arcadas espanholas e paredes incas no claustro do Convento de São Domingos, estrutura colonial construída sobre o Templo do Sol

Dois programaços em Cusco. Veja as dicas:


O Qorikancha e a Catedral de Cusco


Eu já disse aqui na Fragata que Cusco é uma cidade em camadas, como se diversos tempos históricos estivessem acontecendo ao mesmo tempo.

Essa sensação é consequência, em grande medida, da forte presença da cultura ancestral  — que minha cabeça ocidental tende a associar ao passado — mas também pelo diálogo permanente entre os elementos incas e espanhóis que se vê por toda parte em Cusco.

No Qorikancha e na Catedral, esse diálogo traça uma narrativa clara e fascinante sobre a história da cidade e sua formação cultural.

Qorikancha (Templo do Sol), Cusco, Peru
No Século 16, a construção do Convento de São Domingos "escondeu" o Templo do Sol, até um terremoto trazê-lo de volta à luz

Os ingressos à Catedral e ao Qorikancha não estão incluídos no Boleto Turístico de Cusco, mas nem pense em deixar de visitar essas duas maravilhas — é o tipo de “pecado da economia” que os deuses das viagens não vão perdoar.

Olha só o que você vai encontrar no Qorikancha e na Catedral:

Qorikancha
🏠 Plaza San Domingo
🕓 De segunda a sábado das 8:30h às 17:30h. Domingo, das 14h às 17h. 
💲 A entrada custa 15 soles (US$ 4,60/ R$ 15). 

Ingresso para o Qorikancha, Templo do Sol, Cusco

Convento de São Domingos, Qorikancha (Templo do Sol), Cusco, Peru

No claustro do Convento de São Domingos, preste atenção às telas com cenas religiosas da Escola Cusquenha de Pintura


Qorikancha (você verá várias grafias desse nome, transliteração do idioma quéchua), significa “Templo Dourado”.

As paredes de pedras finamente lavradas e montadas em encaixes perfeitos do Templo do Sol dos incas eram recobertas por folhas de ouro, metal que a cultura quéchua associava ao poder do Deus Sol.

O Qorikancha foi construído no Século 15. A obra foi realizada durante o reinado de Pachacutéc (o “reformador da Terra”), governante importante pelas vitórias militares, pela pacificação do território e consolidação do império inca.

Qorikancha (Templo do Sol), Cusco, Peru
O Qorikancha era o centro da vida espiritual na Cusco inca

O Templo do Sol era o local de culto mais sagrado para os incas, o centro espiritual de toda uma cultura.

Era no Qorikancha que se realizavam os rituais mais sagrados e os sacerdotes mantinham uma atividade permanente de observação astronômica — essa ciência tinha importância capital para os incas, dada sua aplicação nas atividades de plantio que garantiam a fartura e prosperidade do império.

Qorikancha (Templo do Sol), Cusco, Peru
Aposentos do Qorikancha. Os nichos nas paredes eram usados para guardar imagens de divindades incas

Qorikancha (Templo do Sol), Cusco, Peru

Com a conquista espanhola, no Século 16, o Qorikancha foi entregue à congregação dos Dominicanos para que edificassem sua igreja e convento.

Os colonizadores adotavam a regra de edificar seus espaços de poder sobre construções nativas de grande peso simbólico. A Ordem de São Domingos, por seu papel na linha de frente da Inquisição Espanhola, ganhou o butim.

E assim o Qorikancha foi parcialmente desmanchado para dar lugar à igreja de Santo Domingo.

Claustro do Convento de São Domingos, Cusco, Peru

Muralhas e paredes foram recobertas pelo reboco, pelos afrescos e símbolos dos colonizadores. Até que um terremoto, em março de 1950, pôs abaixo as camadas espanholas e trouxe o velho templo de volta à luz.

Só isso já explicaria meu xodó pelo Qorikancha — a imagem da Terra, Pachamama, espanando a interferência colonial e colocando os pingos nos ii.

A verdade é que não dava para competir: a engenharia inca, povo que passou séculos aprendendo os humores das montanhas e das entranhas da terra naquele pedaço de mundo não seria páreo para as técnicas dos recém chegados espanhóis, por mais pólvora e armaduras que os colonizadores tenham trazido.

Qorikancha (Templo do Sol), Cusco, Peru
O interior da Igreja de São Domingos ainda exibe as paredes incas herdadas do Qorikancha. À direita, o crucifixo com elementos indígenas no exterior do templo

A visita ao Qorikancha é oferecida pelas agências locais como parte do roteiro do city tour de Cusco (ingresso não incluído).

Eu, porém, recomendo que você vá por conta própria para ter mais tempo de explorar o local. Contrate um guia lá mesmo — a oferta é grande — para entender melhor o que vai ver.

A entrada do Qorikancha é pela Igreja de São Domingos. No início, tudo que você verá é um belíssimo templo católico, riquissimamente decorado.

Ao chegar ao claustro principal (uau!!) começam a surgir os vestígios incas revelados pelo terremoto.

Ao final da visita, vale a pena descer até a Avenida El Sol para ver a fachada inteira do Qorikancha e ter uma ideia da imponência do templo inca.

Igreja da Sagrada Família, Catedral de Cusco, Peru

Igreja da Sagrada Família, no complexo da Catedral de Cusco


Igreja da Sagrada Família, Catedral de Cusco, Peru

Catedral de Cusco
🏠 Haukaypata (Plaza de Armas)
🕒 Diariamente, das 10h às 18h
💲A entrada, não incluída no Boleto Turístico, custa 25 Soles (US$ 7,70/ R$ 25,60).

As camadas de Cusco nem sempre expressam a fratura entre nativos e colonizadores. Um exemplo disso é a Catedral da cidade, uma das mais importantes construções espanholas no Peru.

Na Catedral, uma impressionante imagem do Taytacha ("papaizinho") de los Temblores (dos terremotos), o Cristo Moreno, de saiote quéchua, resume o sincretismo andino-colonial que caracterizou a evangelização dos povos da Cordilheira.

A Praça de Armas de Cusco e a Catedral
A Praça de Armas de Cusco e a Catedral

A Praça de Armas de Cusco e a Catedral

A Catedral de Cusco é, na verdade, um complexo reunindo três templos integrados: a Igreja da Sagrada Família, a Catedral propriamente dita e a Igreja do Triunfo.

Um imenso e espetacular conjunto recoberto de ouro, prata, entalhes em madeiras nobres, imagens e telas da chamada Escola Cusquenha de Pintura, uma leitura indígena da arte-sacra espanhola.

A primeira construção do complexo é a Igreja do Triunfo, iniciada em 1539, seis anos após a conquista de Cusco por Francisco Pizarro.

Igreja do Triunfo, Catedral de Cusco, Peru
As igrejas do Triunfo (acima) e da Sagrada Família são como "alas" da Catedral de Cusco

Igreja da Sagrada Família, Catedral de Cusco

O local escolhido para plantar a Igreja do Triunfo foi o antigo palácio do Inca Wiracocha, pai de Pachacutéc. A obra levou mais de um século para ser concluída.

As obras da Basílica Central (a Catedral) também foram iniciadas no Século 16 e nela foram utilizadas toneladas de pedras arrancadas do Templo de Sacsayhuamann, nas cercanias da cidade.

A Igreja da Sagrada Família é do Século 18. É por ela que você vai entrar, quando visitar o complexo da Catedral — e aposto que vai ficar de queixo caído com altar barroco, completamente recoberto de ouro, que serve de cartão de visitar desse magnífico conjunto de arte sacra.

Catedral de Cusco, Peru
O ingresso da Catedral de Cusco não está incluído no boleto turístico, mas nem pense em economizar nessa visita, porque o interior da igreja é deslumbrante (e não pode ser fotografado)

Catedral de Cusco, Peru

A Catedral de Cusco é o centro da devoção ao Taytacha, representação de Cristo com toques de sincretismo que é o padroeiro de Cusco.

O “Cristo Moreno” foi essencial para enraizar a fé católica naquela região.

Durante o terremoto de março de 1650 — dizem que a cada 300 anos o mês de março traz um terremoto cabeludo àquelas paragens — os padres saíram com a imagem do Cristo crucificado em procissão, o que teria acalmado a terra.

Catedral de Cusco, Peru

O “milagre” tornou-se argumento no trabalho de evangelização dos indígenas pelas ordens religiosas cristãs.

Infelizmente, não é possível fotografar o interior da Catedral — mais um motivo pra você ir até lá.

Vale a pena contratar um guia para acompanhar sua visita à Catedral de Cusco. O complexo é riquíssimo em detalhes artísticos e saber um pouco da história do local dá ainda mais sabor às descobertas.

É fácil encontrar um guia credenciado, eles se concentram próximos à bilheteria da igreja.

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2 comentários:

  1. Oi Cyntia! Parabéns pelo post. Obrigado por compartilhar sua experiência com leitores do blog. Muitos turistas desconhecem esse tipo de informação, boa informacao.
    Parabéns pelo blog, beijos!

    ResponderExcluir