Jantarzinho delícia na Nea Ágora (mercado público)
da Cidade de Rodes: polvo e mexilhões inesquecíveis |
Pois saibam, leitores, que minha passagem pela Grécia e pela Turquia foi uma tremenda orgia gustativa (e meu retorno à Grécia em abril/maio de 2024 também).
Uma festa de simplicidade, celebrada muito mais nas feiras, mercados, barraquinhas de rua e em restaurantezinhos quase anônimos (às vezes, até sem placa na porta).
Frutas fresquíssimas são o melhor café da manhã na Grécia.
Este mercadinho fica em uma ruazinha muito fofa na Ilha de Hidra, no
Arquipélago Argo-Sarônico |
Tem carneiros suculentos, polvos fresquinhos saltando das águas azuis, berinjelas, amêndoas e doces em calda de flor de laranjeira.
Barracas de iguarias no Bazar Egípcio de Istambul |
Algumas das melhores lembranças de viagem (cheiros e sabores, por exemplo) não podem ser reproduzidas num blog.
Ainda assim, e tentando ser objetiva, listo a seguir as memórias gastronômicas mais gostosas que trouxe da Grécia e da Turquia. Olha só:
O que comer na Grécia e na Turquia
Adoro começar o dia em uma mesa ao ar livre em um café
quietinho e charmoso. O lá no alto fica no bairro de Pláka, em Atenas. O da foto acima é em Nafplio |
Mas na Grécia e na Turquia eu fui desafiada a ir além, pois as mesas de café da manhã eram sempre muito sedutoras.
Ô, lugar pra ter cafés charmosos que é essa Nafplio. 💙Na foto
acima, as mesinhas ao ar livre da Plateia Syntagma (Praça Constituição), um
ótimo lugar para a primeira refeição do dia na cidade |
A comida grega é deliciosa, mas vamos combinar que a
paisagem é um senhor tempero, né? Este restaurante fica na Ilha de Sými, no Dodecaneso |
⭐Loukoumades
Em Rodes, eu sempre começava o dia com esta vista para o
Porto de Mandráki e um pacotinho de "donuts gregos" |
Um desjejum à base de loukoumades é muito menos saudável que o clássico café da manhã grego, mas eu não conseguia resistir.
Em Istambul, o dia começa com o canto do muezim, o chamado
para as preces do alvorecer entoado no alto dos minaretes das mesquitas. Depois
tem um café da manhã farto e variado |
Eram vários tipos de queijos, muitas azeitonas, tomates (secos e ao natural), pepinos, ovos cozidos (também tinha os indefectíveis ovos mexidos, o desjejum mais óbvio do planeta, para agradar ao paladar gringo). Também era impressionante a variedade de frutas e geleias.
Entre os pães, não deixe de provar o simit, com muito gergelim. Ele é normalmente chamado de “bagel turco”, mas só porque é feito no formato de rosca, mas sua massa vai direto ao forno, ao contrário do bagel, que antes de assar é cozido.
Preparação da panqueca turca em um restaurante de
Sultanahmet, em Istambul. Um trabalho tão esmerado quanto os motivos
decorativos que encantam os olhos por toda a cidade |
Tão bom quanto o sabor do gösleme (um crepe fininho, sempre acompanhado por algum tipo de carne ensopada e bem condimentada) é apreciar sua preparação, verdadeiro ritual gastronômico.
A massa da panqueca turca é assada sobre uma superfície abaulada, de cobre, uma espécie de grelha, colocada sobre um braseiro. Com um rolinho de madeira, a massa é esticada até ficar quase transparente.
⭐Dönner kebab ou giros
Kebab ou giros, o importante é que na Grécia e na Turquia ele tem aparência, cheiro e sabor muito mais respeitáveis do que os encontrados nas lanchonetes do Centro de São Paulo e naquele pedacinho do Quartier Latin, em Paris, chamado de "Petit Athenes" — e que deve ser o único lugar da capital francesa onde se come miseravelmente mal...
Até dá para comer Dönner kebab nas barraquinhas da
Praça de Sultanahmet, em Istambul, mas aceitar o tomate e a alface expostos
àquele calorão foi muita imprudência |
Pessoalmente, tenho lembranças conflitantes do churrasquinho. O que eu comi na Praça de Sultanahmet, em Istambul, quase me mandou para o túmulo. Também, quem mandou aceitar tomate e alface conservados fora da geladeira, naquele calorão?
Mas fiquei freguesa do gostoso churrasquinho servido pela lanchonete Giros, em frente ao Parque Kolokotronis, em Nafplio, um lanchinho-que-valia-por-um-bifinho, e custava módicos € 2,5.
Souvláki é uma daquelas simplicidades celestiais que os gregos inventam |
O Souvláki é democrático: pode ser de carnes várias (frango,
porco, cordeiro) e de vegetais — ou tudo ao mesmo tempo, agora.
Pode ser servido no palitinho de madeira, pra você poder
continuar caminhando enquanto come, sem perder tempo. Mas também pode virar
recheio de sanduíche no pão pita (e aí pode levar iogurte ou maionese, alface,
tomate, pepino...). E pode até aparecer no prato, com batatas fritas, arroz e o
escambau.
O que importa é que o souvlaki seja bem assadinho na grelha
de carvão (lembra do nosso churrasquinho de gato?), bem temperado com sal,
pimenta, orégano e outras ervinhas. Fica bom de chorar.
É a comida gostosa mais barata que você vai achar na Grécia — quando peço um, sequer me dou ao trabalho de pegar a carteira, basta catar as moedinhas que vou colocando no bolso a cada troco que recebo.
Aposto que você estava estranhando a demora do prato mais conhecido da Grécia aparecer neste post. Mas a moussaka, claro, não poderia faltar. Primeiro, porque eu adoooooooro. Segundo porque ela está no cardápio de 10 entre10 restaurantes que tenham a mais remota das possibilidades de serem alcançados por um turista — a culpa não é dos gregos, é da falta de imaginação dos fregueses que só sabem pedir isso, mesmo.
Uma boa moussaka é uma maravilha imperdível. Fuja dos restaurantes pega-turistas e não perca essa delícia grega |
Essa condição de arroz de festa não anda fazendo bem para a reputação da moussaka, mas continuo achando o prato delicioso.
Só não o peça
naqueles restaurantes pega-turistas, que o preparam em quantidades industriais (bote
industriais nisso) e aquecem as fatias, muito provavelmente no micro-ondas,
para servir aos comensais — mas, pensando bem, o que é mesmo que você iria
fazer em um restaurante pega-turistas, né?
Alertas feitos, vamos à moussaka, essa delícia que pode ser
descrita como uma lasanha de berinjelas, mas nunca de lasanha grega (lasanha
grega, se é que isso existe, seria mais o pastitsio, que é feito com a
superposição de camadas de uma massa semelhante ao penne, carne moída com
molho de tomate e molho bechamel).
A receita da moussaka grega da gema (sim, porque o prato
também pode ser encontrado na Turquia e nos Balcãs, onde os otomanos já foram
senhores) é feita com camadas de berinjelas grelhadas, tomates, carne de
carneiro moída e molho bechamel. Tudo isso muito bem temperado com cebola,
alho, canela, pimenta e outros quetais. O resto é com o forno, onde ela deve
ser assada com muito carinho e paciência.
Já vi moussaka com uma camada de batatas cozidas, também
(faço assim em casa e adoro).
A massa é a mesma e a felicidade eu elas provocam também: tyrópita
e spanakópita são primas das tortas e dos pastéis, mas vieram do Olimpo da
família.
Ambas são feitas de massa folhada muito delicada e crocante
(se você conseguir comer sem ficar com a blusa cheia de farelos, ganha um
prêmio).
A tyrópita é recheada com um creme de queijo e ovos. A spanakópita
leva queijo feta e espinafre.
Deliciosas e muito baratas, as duas caem muito bem como um lanchinho ou mesmo um almocinho mais ligeiro.
⭐Lokoum ou turkish delight
Gregos (do Dodecaneso) e turcos jamais vão chegar a um
acordo sobre a paternidade desta balinha de goma |
A balinha de goma, mais conhecida no ocidente como turkish delight (ou manjar turco), também é reivindicada como iguaria grega nas Ilhas do Dodecaneso, em mais uma daquelas disputas intermináveis entre gregos e troi..., quer dizer, entre gregos e turcos.
Barraca especializada em lukum, no Bazar Egípcio de Istambul |
O lukum é a prova definitiva que uma simples jujuba pode ascender a píncaros gastronômicos que não são deste mundo.
A Nea Ágora de Rodes foi construída durante a ocupação
italiana da ilha, no começo do Século 20 para abrigar um mercado. Hoje é cheio
de lojinhas de souvenir e restaurantes, alguns bem gostosos |
Comer ao ar livre é um dos prazeres das estações mais quentes
na Grécia. O bairro de Pláka, em Atenas, tem muitas opções de
restaurantes com mesas nas ruas |
É por causa de invenções como o giouvetsi que os gregos são
famosos |
Vem acompanhado de uma massa de grano duro, os kritharaki, com o formato e o tamanho de um grão de arroz. Um luxo...
Até quem odeia pepino se apaixona por tatziki |
A receita do tatziki leva iogurte (na verdade, o labneh, que é o iogurte coado, do qual se retira a maior parte do soro) feito de leite de ovelha, misturado com pepino cortado em cubinhos e temperado com alho, sal, azeite, pimenta e endro.
Experimente uma generosa porção de tatziki sobre o pão pita e depois me diga se não tenho razão.
No calor que fazia em Istambul em setembro (de 2012), os
restaurantes com mesas ao ar livre de Sultanahmet sempre faziam a minha alegria |
(ahtapot na Turquia, Χταπόδι /chtapódi na Grécia)
Esta barraca de polvos no Mercado Central Varvakios, em Atenas, recebeu de mim a mesma atenção que costumo dedicar aos museus |
Café com vista para o Bósforo, em Istambul. O gato não
estava no cardápio 😁 |
Como mezze, o prato é servido frio, com pouquíssimo caldo, quase uma saladinha. É saboroso e refrescante.
O Pilaki também pode ser servido quente, com mais caldo, quando a temperatura está mais amena.
Bem ao lado dos imponentes portões do Palácio de Dolmabahçe,
o Clock Tower Cafe tem vista matadora para o Bósforo e serve um flã de fazer
qualquer um levitar |
⭐Flan de leite e amêndoas
O chá de maçã mais gostoso que provei na Turquia foi servido em um alpendre às margens da estradinha entre a cidade de Çanakkale e as ruínas de Troia, em uma improvisada loja de tapetes.
Barraca de doces no Bazar Egípcio de Istambul |
⭐Sütlaç (arroz doce)
O sütlaç (leia sutlach) é a versão turca do nosso arroz doce ou do rice pudding norte-americano. O arroz é cozido com leite e açúcar até engrossar e depois vai ao forno, em cumbucas de barro, onde ganha uma casquinha queimada que é o charme da coisa.
Não bastasse a vista para o Parthenon, o restaurante do
Museu da Acrópole ainda serve uma comidinha grega de responsa |
⭐Almôndegas ao molho de limão
Café na Ilha de Spétses, no Arquipélago Argo- Sarônico |
Café grego (ou turco), som coar, cremoso, forte e com pouquíssimo açúcar. Não tem como começar mal um dia nessa companhia |
Na Grécia e na Turquia, o café não é coado. Antes de beber, é preciso esperar o pó assentar no fundo do copo.
Cafés ao ar livre em Monemvasia, no Sul do Peloponeso |
O café é servido com pó e tudo, preparado diretamente no recipiente onde será servido — na Turquia, esses recipientes geralmente são copos de vidro, lindamente decorados com pinturas e aplicação de pedrinhas coloridas. Na Grécia, é mais comum o uso de xícaras.
Como o café não é coado, sempre se pergunta antes do preparo se queremos ou não açúcar, que é acrescentado durante a feitura da infusão, pois a bebida não pode ser mexida, para que o pó de café assentado no fundo do copo não volte a se espalhar.
O Vinho Malvasia é típico da bela Monemvasia |
O nome acabou também batizando o vinho local, licoroso e adocicado, perfeito para um aperitivo ou para acompanhar sobremesas - como um porto, um xerez ou um marsala.
Saboreado à beira mar (enquanto nossos olhos não conseguem desgrudar do rochedo que abriga a cidade medieval), o Malvasia desbanca o néctar e a ambrosia facinho, facinho...
Sou fã de um conhaquinho Metaxa. Este foi devidamente bebericado em Olímpia, na viagem de 2024 |
Certa vez, encontrei um maluco em Berlim que dizia que a gente tem que tomar uma dose para cada estrela do Metaxa. E nem tive ressaca, no dia seguinte. Experimentar o velho Metaxa na Grécia fez o bichinho ficar ainda mais gostoso.
⭐Doce de amêndoa
Doce de amêndoas típico de Monemvasia |
No alto, uma baclava. Acima, o ekmek kataief — a humanidade
pode escapar do juízo final só alegando ter inventado esses doces |
Baclava é uma massa folhada de nozes, com calda de mel. O kataief é uma massa de trigo, recheada com doce de nozes. O ekmek kataief é um primo mais sofisticado: massa de amêndoas com calda de açúcar temperada com limão e canela e coberto com um tipo de chantili sem açúcar, feito de leite de búfala.
A vitrine de perdições da Xátzi, em Atenas. Uma grande
alegria no meu retorno à cidade (abril/maio de 2024) foi confirmar que ela
continua lá, pleníssima, do ladinho da Praça Syntagma |
Tendo a crer que a melhor baclava que provei foi a de uma lojinha do Bazar Egípcio (ou Bazar das Especiarias), em Istambul. O melhor kataief, sinceramente, não consegui decidir qual foi. E não foi por falta de teste...
Já o Ekmek Kataief, não tenho dúvidas: o mais arrebatador foi o da Confeitaria Xátzi, que tem várias lojas em Atenas e, só pra me acabar de uma vez, inventou de colocar uma bem na Rua Metropoleous, quase em frente ao Hotel Arethusa, onde eu estava hospedada.
⭐Marzipan com Laranja
⭐Kleftiko
Kleftiko, ou ensopado de carneiro, para os íntimos |
Todas as dicas da Turquia
A Europa na Fragata Surprise
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Por favor, Fragata Sunrise é um Cruzeiro lá na Grécia? ou o nome do site? não entendi muito bem. Pergunto pq vamos para Grecia em 03 casais, em OUT/17, e estamos um tanto perdidos no eu fazer...
ResponderExcluirA Fragata Surprise é este blog
ExcluirOnde você se hospedou em Istambul? :)
ExcluirEu fiquei em Sultanahmet, o centro historico e dormi uma noite perto do aeroporto, voltando da Grécia. Tem um post com resenha dos hotéis > http://www.fragatasurprise.com/2012/10/hospedagem-em-istambul.html?m=0
ExcluirBoa Noite Cynthia!
ResponderExcluirAgradecidos pelo seu belo trabalho. Eu estou relendo todos os seus posts para rever todas as suas preciosas dicas pois estamos indo morar em Barcelona por 1 ano e depois iremos viajar pela Europa como mochileiros!
Grande Abraço da Yukimi e do Sergio 💙💙
Boa Noite Cynthia!
ResponderExcluirAgradecidos pelo seu belo trabalho. Muitas preciosas e tão detalhadas informações que muito está nos ajudando pois estamos nos mudando para Barcelona daqui 6 meses (Sergio é cidadão espanhol) e depois iremos viajar pela Europa como mochileiros.
Grande Abraço e Tudo de Bom (com muitas e muitas viagens) pra ti💙💙
Yukimi (Yu'Sê Ryu Kyu) e Sergio (Luisergio Pintocasares)
Que legal, Yukimi e Sergio, muito boa sorte na nova morada e aproveitem as viagens :)
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