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Os vinhedos cultivados à sombra das montanhas colocaram Mendoza no mapa turístico |
O que colocou Mendoza no mapa dos viajantes foi a famosa produção vinícola da região. Mas tem mais o que fazer em Mendoza além de visitar bodegas e experimentar os vinhos mendozinos.
Eu, por exemplo, fui a Mendoza pra ver a beleza estonteante da Cordilheira dos Andes, aos pés da qual estão plantados os vinhedos que fizeram a fama da região e a agradável cidade de 150 mil habitantes —centro de uma região metropolitana que reúne cerca de 1,2 milhão de pessoas.
Eu, por exemplo, fui a Mendoza pra ver a beleza estonteante da Cordilheira dos Andes, aos pés da qual estão plantados os vinhedos que fizeram a fama da região e a agradável cidade de 150 mil habitantes —centro de uma região metropolitana que reúne cerca de 1,2 milhão de pessoas.
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Quem curte garimpar detalhes também não se decepciona com Mendoza |
As paisagens andinas são uma das minhas grandes paixões de viajante. Já tive o prazer de ver muitos ângulos da Cordilheira — de Caracas, Venezuela, lá no Norte, até Puerto Montt, no Sul do Chile. A região de Mendoza, decantadíssimo camarote para as montanhas, não poderia ficar fora do meu mapa, ainda mais com seu ilustríssimo “presidente”, o Monte Aconcágua, maior montanha do planeta fora da Ásia.
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Na esquina da Avenida San Martín com a Peatonal Sarmiento, a
Passagem San Martín foi construída em 1926, no primeiro “arranha céu” de
Mendoza, com sete andares |
E a capital argentina dos vinhos cultivada à sombra das montanhas não decepciona. Passei três dias e meio em Mendoza (quatro noites) e passeei bastante pela cidade bem cuidada, muito arborizada e tremendamente amigável a caminhadas. Foi uma pausa bem-vinda entre as trepidantes Buenos Aires e Santiago, estrelas do meu roteiro pela Argentina e pelo Chile.
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Além de comer bem e beber bem, Mendoza é um lugar pra se aproveitar a vida ao ar livre. Esta é a agradável Plaza Independencia, coração da cidade |
Mendoza é lugar para se comer bem e beber bem. Fiz belas farrinhas regadas a vinho na cidade, ainda que tenha abdicado de visitar as vinícolas (bodegas) da região. Se você curte enoturismo, vai encontrar na internet muitas dicas para organizar seu roteiro. Aqui você encontra dicas sobre o que fazer em Mendoza além das vinícolas:
O que fazer em Mendoza
⭐Ver a Cordilheira dos Andes e o Monte Aconcágua no passeio à Alta Montanha
Pra mim, a grande estrela entre as atrações de Mendoza é o horizonte da região, emoldurado pelos cumes nevados da Cordilheira.Nas áreas vinícolas de Maipú e de Luján del Cuyo, ao sul da cidade, a cadeia de montanhas conhecida como Cordón del Plata é um dos grandes cartões postais. E a pouco mais de 100 km do Centro de Mendoza está a majestade do Monte Aconcágua, com seus 6.961 metros de altitude.
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Antes de chegar ao Aconcágua, a gente treina os ahhhs e ohhhs admirando o Cordón del Plata |
O Aconcágua é a montanha mais alta fora da Ásia — uma espécie de “teto do Ocidente”. É considerado uma das joias da cora a ser conquistada pelos escaladores mais experientes, mas também faz a alegria de quem prefere ver a paisagem aqui de baixo.
Para ficar cara a cara com o colosso, fiz uma excursão que já é um clássico de Mendoza, o Passeio à Alta Montanha. É uma atividade de dia inteiro: as vans e micro-ônibus partem da cidade por volta das 7h da manhã e retornam no final da tarde.
Para ficar cara a cara com o colosso, fiz uma excursão que já é um clássico de Mendoza, o Passeio à Alta Montanha. É uma atividade de dia inteiro: as vans e micro-ônibus partem da cidade por volta das 7h da manhã e retornam no final da tarde.
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Muita gente aproveita a parada em Uspallata para comprar artesanato |
Ao longo do passeio, percorremos a Ruta (rodovia) Nacional 7, em direção à fronteira com o Chile. No roteiro está uma parada na vila de Uspallata para o café da manhã, a visita a Puente del Inca — uma formação natural sobre o Rio de las Cuevas surgida a partir do acúmulo de sedimentos de rocha — e a parada no Mirante do Aconcágua, no parque que cerca a montanha.
A explicação científica para a formação de Puente del Inca ("Ponte do Inca") não agrada tanto quanto a lenda em torno do lugar. Dizem que um imperador inca trouxe o filho doente para se tratar em águas termais próximas e seus guerreiros formaram uma ponte humana para que o jovem príncipe pudesse atravessar o rio. Esses guerreiros teriam se transformado em pedra para garantir uma travessia segura.
Nos meses de verão, é possível fazer trekking no Parque Provincial do Aconcágua. Em setembro, quando estive em Mendoza, as trilhas ainda estavam fechadas — o parque só é acessível de novembro a abril — e restou-me contemplar a famosa montanha da entrada do parque.
Nos meses de verão, é possível fazer trekking no Parque Provincial do Aconcágua. Em setembro, quando estive em Mendoza, as trilhas ainda estavam fechadas — o parque só é acessível de novembro a abril — e restou-me contemplar a famosa montanha da entrada do parque.
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Puente del Inca é uma formação natural que inspirou algumas lendas. Em torno da atração há lanchonetes e lojas de artesanato (fotos abaixo) |
Não estranhe se você achar que o Aconcágua está fazendo a egípcia: é que a montanha fica meio de perfil para o chamado “Mirante do Aconcágua”, que na verdade é uma elevação do terreno ao lado do estacionamento.
Na volta do passeio, costuma haver uma parada para fotos no Dique de Potrerillos, uma lago artificial muito procurado pelos mendozinos para esportes aquáticos como o remo e navegação a vela.
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Dique de Potrerillos |
O Passeio à Alta Montanha custa cerca de US$ 30 (um pouquinho mais ou um pouquinho menos, dependendo da empresa) e pode ser comprado na maioria das agências de Mendoza. Não fiz reserva antecipada: comprei o bilhete na tarde de sábado para fazer a atividade no domingo.
Há uma parada para almoço no povoado de Las Cuevas, onde há diversos restaurantes. A refeição não está incluída no preço do passeio e custou $ 1.200 pesos (cerca de US$ 4).
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O Passeio à Alta Montanha passa por muitos vinhedos, sempre com as montanhas no horizonte |
Achei a comida do restaurante onde a agência nos levou muito ruinzinha. O almoço é servido em bufê, no esquema “coma quanto quiser”, mas, francamente, quis comer o mínimo possível.
O que realmente vale a pena no Passeio à Alta Montanha é a paisagem deslumbrante da Cordilheira e a chance de ver o Aconcágua mais de pertinho.
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O City Bus é legal pra entender o traçado urbano e ver Mendoza de camarote |
Para ter uma ideia geral de Mendoza, embarquei no City Bus, que percorre as principais áreas de interesse no Centro da cidade no esquema hop-on hop-off (você pode desembarcar em cada uma das paradas do percurso, explorar a área no seu ritmo e embarcar em um ônibus seguinte).
São 10 paradas no percurso circular — se você não descer em nenhuma delas, vai fazer a volta pela cidade em cerca de duas horas. O passe do City Bus custa agora $2.400 (US$ 6,50) para estrangeiros e vale por 24 horas.
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A primeira parada do ônibus turístico no Parque General San Martín é a chance de um lanchinho nos food trucks |
A parada principal (o início da rota) do City Bus é na Plaza Independencia, mas, claro, você pode começar seu passeio pelo ponto que achar mais conveniente. Os ônibus panorâmicos, com dois andares, passam de hora em hora.
O passeio foi útil para que eu me situasse em Mendoza. O percurso turístico explora o Centro da cidade para além do miolinho turístico da Plaza Independencia, atravessa o delicioso Parque General San Martin, onde tem algumas paradas, e sobe até o Cerro (morro) de La Glória.
O passeio foi útil para que eu me situasse em Mendoza. O percurso turístico explora o Centro da cidade para além do miolinho turístico da Plaza Independencia, atravessa o delicioso Parque General San Martin, onde tem algumas paradas, e sobe até o Cerro (morro) de La Glória.
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O City Bus também é um jeito confortável de chegar ao Cerro de La Glória para ver a paisagem e fazer algumas fotos |
Só essa subida já compensa o passeio no City Bus, pois o Cerro de La Glória está a quase 4 km da entrada do parque.
No alto do morro, um mirante oferece vista para boa parte da cidade de Mendoza e para a Cordilheira dos Andes. Esse mirante faz parte do monumento ao Exército de Los Andes — força militar majoritariamente composta por soldados negros e mestiços argentinos e chilenos, liderada pelo General San Martín. Esse grupamento partiu de Mendoza e cruzou a cordilheira para travar batalhas decisivas para a independência do Chile e do Peru.
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A Fonte dos Quatro Continentes é um dos cartões postais mais conhecidos do Parque General San Martín |
Criado no finalzinho do Século 19, o Parque General San Martín foi projetado pelo paisagista Carlos Thays, que também assina o Parque Rodó de Montevidéu, a Praça de Maio e os parques Centenário, Lezama e diversos outros em Buenos Aires.
Pra mim, o parque era meu vizinho bonitão em Mendoza — fiquei hospedada a apenas quatro quadras de sua entrada principal —, que visitei regularmente durante minha estadia.
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Admiro quem corre sob o sol, mas eu prefiro lagartixar 😊 |
E é realmente difícil resistir ao charme do Parque General San Martín. O lugar é muito bonito, super bem cuidado, seguro e cheio de atrações. Dá pra caminhar, pedalar, praticar vários outros esportes ou simplesmente lagartear ao sol (ou à sombra).
No interior do parque há um anfiteatro (o Teatro Grego Frank Romero Day, onde se realiza a Festa Nacional da Vindima), um estádio de futebol (o Estádio Malvinas Argentinas, usado até na Copa de 78) e o simpático Museu de Ciências Naturais e Antropológicas Juan Cornelio Moyano.
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O parque tem 400 hectares e 17 km de trilhas |
Também estão lá o campus da Universidade Nacional de Cuyo, um centro de pesquisa científica, um jardim botânico, um rosedal, diversos clubes (de regatas, hípico, de golfe, de esgrima, de tênis...) e o Aeroclube de Mendoza.
Ao longo do ano, são realizadas inúmeras atividades gratuitas, ao ar livre, no Parque General San Martín, como sessões de cinema, concertos e apresentações teatrais.
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Um conjunto de cinco praças muito arborizadas humaniza e embeleza o Centro de Mendoza |
⭐Aproveitar as praças verdes de Mendoza
Uma coisa que impressiona em Mendoza é como uma cidade plantada no meio de um deserto consegue ser tão verde. Agradeçamos ao povo Huarpe, que habitou a região antes dos incas e dos espanhóis, e implantou um sistema de irrigação do terreno para aproveitar as águas do degelo das montanhas.
Essa é a origem das famosas acéquias mendozinas, canais aperfeiçoados por incas e espanhóis e que hoje margeiam as calçadas do Centro de Mendoza.
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Em todas as praças de Mendoza o fumo só é permitido em áreas demarcadas. As bitucas devem ser deixadas nos cinzeiros (no centro) para serem recicladas |
Os huarpes deram a ideia, mas o apego ao verde acompanha as gerações. O Centro de Mendoza é arborizadíssimo e a vida da cidade parece orbitar o conjunto de praças, quase parques, originalmente concebidas para servir de refúgio da população em caso de terremotos.
Tendo como centro a Plaza Independencia, a maior e mais central, esse conjunto se completa com quatro praças-satélites, cada uma delas construída a pouca distância das quinas da praça-mãe.
Tendo como centro a Plaza Independencia, a maior e mais central, esse conjunto se completa com quatro praças-satélites, cada uma delas construída a pouca distância das quinas da praça-mãe.
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Faça como os mendozinos e aproveite as praças da cidade para uma pausa sossegada |
São áreas de lazer sossegadas, com árvores frondosas, gramado bem cuidado, fontes e espaços para as crianças brincarem.
Além da Plaza Independencia, que tem até um museu de arte moderna e um teatro, o conjunto verde de Mendoza tem as praças Chile, Itália, San Martín e España, ótimos espaços para relaxar, ler um livrinho ou apenas descansar os pés no meio de uma caminhada pela cidade.
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Tão jovens e tão generosos/as. Meu imenso respeito e gratidão aos que lutam por um mundo melhor em todas as partes do planeta, especialmente na América Latina |
⭐Conhecer a história de quem lutou pela democracia no Espaço de Memória e Direitos Humanos de Mendoza
Endereço: Belgrano nº 179 (entre Peltier e Del Carmen), primeiro andar
Horário: segunda a sexta, das 10h às 14
Horário: segunda a sexta, das 10h às 14
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Para não esquecer e não deixar que se repita |
Em Mendoza, o centro desse mecanismo era o Departamento 2 de Informações, instalação clandestina de detenção, torturas e assassinatos que funcionou dentro da sede da polícia.
O lugar agora abriga o Espaço de Memória e Direitos Humanos, onde são lembrados especialmente os 275 mortos/as e desaparecidos/as políticos de Mendoza, entre eles crianças tragadas pela violência da ditadura.
Sindicalistas, professores, estudantes, ativistas dos direitos humanos e qualquer um que se opusesse ao regime poderia cair nas garras da D2.
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A ex-D2 esteve no centro da morte e desaparecimento de 275 pessoas, inclusive crianças |
Nas visitas guiadas previamente agendadas, sobreviventes desse centro de horrores recebem os visitantes e contam um pouco da história da resistência.
Eu não agendei e fui muitíssimo bem recebida por Matilde, pesquisadora do espaço (Gracias por la acogida, Matilde 🧡)m que me guiou pela claustrofobia dos calabouços onde sofreram morreram tantos meninos e meninas generosos — gente que não teve a chance de chegar à minha idade para celebrar o fim de ditaduras e resgates de democracias ameaçadas.
A exibição de um documentário sobre o período ajuda a compreender melhor o contexto histórico e a coragem dos opositores e opositoras daquela ditadura sanguinária. Conhecer um pouco da história deles e delas é uma forma de honrar sua luta.
A visita ao Espaço Memória e Direitos Humanos não é turismo e não é confortável, mas é essencial para qualquer pessoa que tenha compromisso em não permitir que a infâmia se repita.
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Euzinha (esq) e nossos ancestrais no Museu de Ciências Naturais e Antropológicas de Mendoza |
⭐Descobrir o passado de Mendoza no Museu de Ciências Naturais e Antropológicas
Horários: terça a sábado das 9h às 19h. Domingos e feriados das 14 às 19h.
Entrada gratuita
Desde 1858, Mendoza tem um museu de História Natural que é o embrião do atual Museu de Ciências Naturais e Antropológicas Juan Cornelio Moyano, instalado em um primor de edifício em estilo Bauhaus no interior do Parque General San Martín.
Claro que se você já viu grandes museus dedicados a esses temas no mundo, não vai ficar de queixo caído durante a visita ao exemplar mendozino. Mas uma coisa ele tem que os outros não tem, que é exatamente a capacidade de contar a pré-história do território por onde seus pezinhos estarão passeando naquele momento.
E essa é a grande graça do Museu de Ciências Naturais e Antropológicas de Mendoza — que eu recomendo especialmente para quem viaja com crianças.
E essa é a grande graça do Museu de Ciências Naturais e Antropológicas de Mendoza — que eu recomendo especialmente para quem viaja com crianças.
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Fósseis e esqueletos de animais pré-históricos fazem a alegria da criançada |
Gostei especialmente da sede do museu, um antigo balneário à beira do lago do parque, construído na década de 30 do século passado. Na chamada “Casa-Barco”, a elite mendozina se esbaldava em folguedos aquáticos, festas e comilanças na confeitaria chique que funcionou lá.
Hoje, o espaço abriga fósseis, cerâmicas e artefatos dos povos que habitaram originalmente a região de Mendoza. São cerca de 4 mil peças no acervo e uma das sessões do museu é dedicada à fauna regional.
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Quem disse que é preciso visitar uma bodega para se esbaldar nos vinhos de Mendoza? |
Mendoza entrou no meu roteiro na última hora e as únicas opções que encontrei, eram passeios em grupo, muito corridos, com diversas vinícolas na programação. Achei as alternativas caras e sem graça.
Visitar as bodegas mais reputadas de Mendoza exige um planejamento cuidadoso. As vinícolas, em geral, trabalham com um limite diário de visitantes e é preciso reservar com bastante antecedência o passeio às vinícolas mais famosas.
Então, se a sua principal motivação para ir a Mendoza é o enoturismo, comece a se organizar pelo menos um mês antes de chegar à cidade — se puder comprar as visitar antes disso, melhor ainda.
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