Uma esquina essencial na minha vida: o cruzamento de
Menlove Avenue, onde morava Lennon, com Beaconsfield Road, onde ficava
Strawberry Field |
A gaita em questão é um toque de Lennon. Até hoje, com todo o meu engajamento político, 1964 não é o ano do golpe militar, mas o ano em que eu ouvi I Should Have Known Better pela primeira vez.
Não é fácil fazer fotos decentes no escurinho do Cavern Club
(no alto), mas garanto que a gente se esbalda na festa. Acima, a réplica da
"catedral dos Beatles” no museu dedicado a eles |
Gosto de um monte de coisas — escritas, pintadas, esculpidas, fotografadas, filmadas, tocadas, cozidas, fritas, sonhadas... Coisas que ajudaram a me inventar como gente.
De todos os incontáveis encontros definidores que tive na vida, porém, nenhum foi mais definitivo e essencial do que a descoberta dos Beatles — in my life, I’ve loved them more.
Imagine, então, como foi minha emoção ao pisar na cidade dos Beatles para o meu particularíssimo magical mystery tour em Liverpool. Veja como foi - e as dicas pra fazer a sua jornada beatlemaníaca também:
Em Penny Lane: nó na garganta, beneath the blue suburban
skies... |
Beatles: meu magical mystery tour em Liverpool
Como é que a gente explica isso para quem tem menos de 50 anos e não teve a oportunidade de ouvir os Beatles enquanto eles ainda eram uma banda (ainda que A Banda) e não um mito?Como é que se descreve a felicidade de ter existido no mesmo tempo que eles ocupavam as páginas dos jornais diários, e não as antologias das melhores expressões da raça humana?
Esse era o meu dilema, enquanto eu tentava abrir uma barreira no inglês meio trôpego das duas garotas russas que viajaram comigo, a partir de Crew, para Liverpool, a cidade dos FabFour.
Aliás, nem me perguntem sobre restaurantes em Liverpool: eu simplesmente não lembro de ter comido nada na cidade (embora eu suponha que sim, em algum intervalo entre os rituais de adoração e as libações com Jameson (uísque irlandês) nas noites do Cavern Club).
Entrar nas casas onde John e Paul moraram foi uma das coisas
mais emocionantes da minha vida |
E quem se importa que ela never walk down Lime Street any more, como eles cantam na única canção em que citam o nome de Liverpool?
No alto, Liverpool ao cair da noite, clicada da janela do
meu quarto no histórico Adelphi Hotel. Acima, o Rio Mersey |
As referências a eles estão por toda parte, e a gente tropeça nelas até sem querer — eu me hospedei no histórico Adelphi Hotel, que era o favorito de Charles Dickens, só para descobrir que Julia Stanley, mãe de John, trabalhou lá como camareira...
E não é que a danadinha da Liverpool é bem bonita? Esta
é a Albert Dock de manhã cedinho |
Liverpool é muito mais verde do que eu imaginava. tem largas avenidas arborizadas, alguns belos parques (o maior deles, o Sefton Park, foi onde Julia e Alfred Lennon se conheceram. Ela achou o chapéu dele ridículo e ele o atirou no lago).
A cidade dos Beatles também tem um projeto de revitalização das antigas docas muito bem sucedido, com área toda transformada em um complexo de comércio, lazer, escritórios e residências. A parte mais famosa desse conjunto é o Waterfront.
Hoje, porém, a área é muito mais conhecida como o lugar onde fica o The Beatles Story (na Albert Dock, cheia de restaurantes e lojinhas) e de onde partem os ônibus do Magical Mystery Tour (veja o post anterior).
Este é o marco zero da civilização: foi na feira da Paróquia
de Woolton, em 6 de julho de 1957, que John e Paul foram apresentados por Ivan
Vaughan |
Na Albert Dock estão instalados também o Museum of Liverpool e o Museu da Escravidão, um reconhecimento e uma tentativa de expiação do papel da cidade no tráfico de pessoas até o Século 19.
Uma informação que me surpreendeu é que Penny Lane foi batizada em homenagem a um mercador de escravos do Século 18, chamado James Penny. O nome da via só não foi mudado porque hoje ninguém lembra do traficante, mas todo mundo conhece a bela canção dos Beatles.
As antigas docas também são o lar da Tate Liverpool, que tem entrada gratuita para as exposições permanentes, com Picasso, Braque e Jason Pollok no acervo, e estava com uma mostra especial de Chagall por esses dias — que eu ignorei solenemente, para vocês terem uma ideia do meu estado de obsessão...
Como chegar a Liverpool
O melhor preço de passagem entre Liverpool e Londres que encontrei foi de £76. Mas só porque eu deixei pra comprar em cima da hora (na volta pra a capital). Dá para encontrar tarifas mais baratas, especialmente pesquisando e comprando com antecedência.
Meu coração estava aos pulos quando eu desembarquei em Lime
Street. Tanto que a foto acima até tremeu 😁 |
Quando comprei meu bilhete em Lime Street para voltar a Londres (no mesmo dia do embarque), havia ofertas de até £39, mas só até a estação de Leyton Midland.
A atendente da Estação de Lime Street, super gentil, avisou que eu ia penar com ônibus e caminhada para chegar a uma estação de metrô a partir de Leyton e chegar ao Centro de Londres.
Para quem está sem bagagem, porém, pode ser uma boa pedida fazer esse percurso.
Ovelhinhas, castelos e fazendas no meu caminho entre Bath e
Liverpool |
Eu cheguei a Liverpool vinda de Bath, uma viagem de quatro horas, com duas trocas de trem (em Newport, no País de Gales, e em Crewe, Cheshire).
Adorei a paisagem do caminho entre Bath e Liverpool, decorada pelo lilás das urzes que crescem à beira dos trilhos (qual é o romance inglês que não tem urzes e charnecas?), salpicada de ovelhinhas de cara preta e até um castelo.
O bilhete de Bath a Liverpool custou £27, comprado no começo de junho (minha viagem foi na primeira quinzena de agosto.
Da próxima vez, vou me hospedar no Yellow Submarine
ancorado, na Albert Dock. Acomoda até oito pessoas |
Hospedagem em Liverpool
Por praticidade, porém, acho que teria sido melhor ter ficado na área da Albert Dock, que tem muitas opções de hospedagem, com diversos preços (até um Formule One, que promete diárias de £29).
Uma alternativa que achei bem atraente foi o Yellow Submarine, ancorado bem pertinho do The Beatles Story, e que é administrado pelo Cavern Club e custa £175 cada diária.
O Muro da Fama, em frente ao Cavern Club, registra todos os
artistas e bandas que passaram por aquele palco mitológico |
Inglaterra - todas as dicas - post índice
A Europa na Fragata Surprise
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Oi, Cynthia!
ResponderExcluirPena que a gente não se encontrou, né?
Mas olha, adorei seu post de Liverpool!!! Ficou bem explicadinho! Básico obrigatório para quem ama os Beatles!
Oi, Clarissa, que pena mesmo. No dia que "falamos", eu já estava me despedindo de Londres, a caminho de Winchester (que cidade fofa!). Pirei com Liverpool. Como é que eu fui esperar tanto ara ir até lá?? Bj
ExcluirOi Cyntia, que coisa linda esse post! Juro que quase chorei com vc descrevendo sua emoção ao ver os locais e lembrar dos veross. Fiquei com inveja pq não vivi os Beatles como banda. Eu nasci em 1983, John já tinha até se ido, ó que triste. Mas eles são pra mim uma banda tb "descoberta" e me lembro da prieiura vez que vi uma foto de Paul em um jornal, perguntei quem era, ouvi um "os the beatles" e fui atras de um cd. Tinha 11 anos.
ResponderExcluirEm 2009 eu fui com meu namorado, agora marido, a Liverpool. Fomos a partir de Londres, num bate-volta, e até hoje esse dia me parece um sonho, meio mágico, meio "será que foi verdade" ? rs
Tem post no meu blog sobre o "meu dia" se quiser dar uma lida na visita de uma pessoa que nao os conheceu como banda hehe
vi que vc fez o tour do national trust, queria saber se na casa de paul ainda é um "sósia" que atende rs
Eu quero mt voltar a liveprool, irei com certeza na proxima ida a europa, pois quero maaais rs. eu nao pude passear em strawberry fields, por exemplo, pq chovia muuuuito no dia.
suas fotos estao lindas com sol!
bjs,
Jackie, o melhor dos Beatles é que eles pertencem a todo mundo, e vai ser assim por muitas e muitas gerações, ainda. Aposto que daqui a cem anos as multidões em busca das lembranças deles em Liverpool serão ainda maiores :)
ExcluirO sósia de Paul já não trabalha mais na casa (acho que ele é o cara que morava lá, né?)
Vou dar uma olhada no seu post, com certeza. O endereço do seu blog está lincado com seu perfil do google? Se não, manda pra mim.
Bj
Ah, acho que não tá no perfil do google não, é viajesim.com
ExcluirCara, qd o sósia abriu a porta, óbvio que eu sabia que não era o Paul, mas juro que quase desmaiei, emoção demais rs
bjs,
Tá sim, eu achei o post. Bem legal, por sinal.
ExcluirSe um sósia abrisse a porta pra mim, eu acho que teria um treco, rsss
Eles são universais, mas esse texto é único Cyntia. Emocionante, além de muito útil. O primeiro parágrafo é de arrepiar!! Amei. E como sou louca por imagens, só tenho a dizer que estão espetaculares. Beijo!!
ResponderExcluirMuito obrigada, Paula. Vc é sempre muito generosa com a Fragata e sua autora. Superbeijo e que vc também possa delirar com Liverpool.
ExcluirQuanta poesia!
ResponderExcluirTive a sorte de crescer ouvindo Beatles, graças aos meus pais, apaixonados pela banda. Seu relato é daqueles que dá vontade de colocar a mochila nas costas e pegar o primeiro avião pra terra dos meninos "cabeludos", tamanha delicadeza e emoção na descrição dos lugares.
Tentarei incluir a corrida de Liverpool nos meus planos corredores de 2014 e aproveitar pra conhecer a cidade onde a magia começou :)
Meu conselho, Natalia: vá sim! Além de terra dos Beatles, Liverpool é uma cidade muito bonita e interessante. Bj
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