29 de dezembro de 2023

Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro

Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
Tenho um xodó bem especial pelo Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro

Sempre tive um xodó especial pelo Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Sou fã do edifício modernista cercado pelo Aterro do Flamengo — o luxuriante paisagismo de Burle Marx — e do acervo instigante e belo, abrigado pelo concreto que parece pronto a levantar voo.

Talvez meu primeiro motivo pra gostar do MAM seja a imagem (coisa da minha cabeça, mesmo. Encasquetei) de Caetano compondo Paisagem Útil (do disco Caetano Veloso, de 1968) sentadinho no vão livre do museu, sempre atravessado pela brisa, não importa a que píncaros se lancem os termômetros do Rio de Janeiro. Ô, espaço inspirador. 

"Autorretrato" de Ismael Nery no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
Este Autorretrato (1930) de Ismael Nery é simplesmente arrebatador
Sou fã de carteirinha de A Bela Lindonéia ou A Gioconda do Subúrbio (1966) de Rubens Gerchman. A obra pertence à Coleção Gilberto Chateaubriand, cedida em comodato ao MAM-Rio

Sonoridades à parte, o Museu de Arte Moderna do Rio é um dos meus grandes professores de olhar. E pode ser um professor de reinvenção pra todo mundo: um museu que conseguiu reconquistar relevância depois de perder parte considerável de seu acervo na tragédia do incêndio de 1978.

Fazia tempo que eu não visitava meu velho amigo MAM-Rio. Estive lá agora, na recente temporada carioca e só confirmei o que já sabia: o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro é um programaço.

Vão livre do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
Acho o vão livre do MAM-Rio muito inspirador 😊

Veja o que você vai encontrar por lá:


Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro

"Sobrado de Azulejos" de Djanira no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
"O Farol" de Anita Malfatti no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
No alto, Sobrado de Azulejos (1961), de Djanira. Acima, O Farol (1915), de Anita Malfatti

Uma fã do modernismo como eu dizer que adora o Museu de arte Moderna do Rio é até redundante né? Uma casa que abriga Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e Portinari será sempre um lugar delicioso de visitar. Precisei de muita força de vontade pra sair da frente do Autorretrato de Ismael Nery, que emplaca facinho o top 10 das obras brasileiras mais maravilhosas que já vi.

Mas talvez o grande motivo para recomendar a ida ao MAM-Rio seja a oportunidade rara de encontrar uma geração mais recente e também absolutamente cativante.

Estou falando de contemporâneos, pops, concretos e seja lá em que categoria você queira colocar esse vendaval soprado por Ana Bella Geiger, Wanda Pimentel, Hélio Oiticica, Rubens Gerchman, Carlos Vergara, Antonio Dias e outros artistas que ousaram criar e incomodar nos turbulentos anos 60 e 70.

Espantalhos de Candido Portinari no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
Espantalhos (1940) de Candido Portinari 

Obra de Heitor dos Prazeres no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
Compositor e pioneiro das escolas de samba, o carioca Heitor dos Prazeres (1898 - 1966) também retratava seu tempo e universo com pincéis. Esta obra sem título, um óleo sobre madeira, é de 1944

Os modernistas têm meu amor incondicional pela invenção de uma arte sinceramente brasileira e inevitavelmente universal — porque arrebatadoramente bela, elegantemente antropófaga.

A geração de Gerchman e Oiticica (não podemos chamar a todos de Tropicalistas, mas vou deixar assim) também criou arte com beleza e brasilidade, mas a matéria prima que seu tempo lhes deu não era pra otimismos. E, mesmo assim, na escuridão da ditadura, aquela ousadia foi oxigênio.

Sem Legenda, de Carlos Vergara no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
Sem Legenda (1967), de Carlos Vergara
Obra de Wanda Pimentel no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
Obra da série Envolvimento pintada em 1968 por Wanda Pimentel
"Sobre a arte/diga conosco: Bu-ro-cra-cia", de Ana Bella Geiger
Sobre a arte, diga conosco: Bu-ro-cra-cia (1978) de Ana Bella Geiger

A Bela Lindonéia

Você seguramente já ouviu a canção Lindonéia, de Caetano e Gil, cantada por Nara Leão no disco Tropicália ou Panis et Circensis (1968), o equivalente brasileiro ao Sgt Pepper’s e The Dark Side of the Moon somados (multiplicados?).

A composição foi inspirada no quadro A Bela Lindonéia ou A Gioconda do Subúrbio, criado em 1966 por Rubens Gerchman (1942 – 2008), sensacional injeção de pop-art e tropicalismo na veia que fica melhor cada vez que eu olho — a gente sabe quando uma obra é genial quando ela traz a estética, o espírito e os trejeitos de um determinado momento e não fica datada.

Lindoneia provocando perguntas ao lado de Reina Tranquilidade (1967), de Carlos Zilio
 
Emoldurado por um espelho lapidado de porta-retratos, o rosto marcado de Lindoneia — são sombras ou hematomas? — suscita perguntas várias, como a arte tem mesmo que fazer, já disse Leonard Bernstein. O sotaque de página de jornal — “morreu instantaneamente” — não responde, só aguça a curiosidade. Quem foi? O que aconteceu?

Orra, Seu Gerchmann, você é maravilhoso!

Mobiliário Modernista no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
Peças de mobiliário modernista de Le Corbusier e Joaquim Tenrero
"Mussia" de Zélia Salgado, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
Mussia (1951), de Zélia Salgado
Cidade de Ione Saldanha no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
Cidade (1963), de Ione Saldanha

Um museu reconstruído

O incêndio do MAM em 1978 dizimou obras inestimáveis dos principais artistas modernistas brasileiros e de expoentes estrangeiros, como Pablo Picasso. 

O maior baque foi na obra de Joaquín Torres García, xodó-maior desta Fragata, já que o museu estava realizando uma retrospectiva do pintor uruguaio, com trabalhos cedidos por instituições de diversos cantos do mundo. 

Obra de Nelson Leirner no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
Homenagem a Fontana (1967), de Nelson Leirner. À esquerda, a obra original, danificada no incêndio do MAM. À direita, a réplica feita pelo artista em 2012

Museus queimados e florestas queimadas são tristezas que não se apagam, mas o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro é um museu reconstruído. Seu acervo de arte moderna e contemporânea é considerado, hoje, um dos mais significativos da América Latina.

Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
O MAM tem uma cinemateca com programação permanente e muuuuito legal
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
Muitas doações contribuíram para a recomposição do acervo do MAM

A coleção própria do MAM foi recomposta com muitas doações, chegando hoje a mais de 7 mil obras de arte. Somam-se a elas as mais de 6 mil peças da Coleção Gilberto Chateaubriand, considerada uma das mais importantes do Brasil quando o assunto é o Modernismo Brasileiro, as vanguardas dos anos 60 e arte contemporânea. 

Além disso, o Museu abriga a importantíssima Coleção Joaquim Paiva, com quase 3 mil fotografias de gente do quilate de Diane Arbus, Milton Guran e o gênio do fotojornalismo Evandro Teixeira.

Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
A arquitetura também é um show modernista. O projeto do edifício-sede do MAM é de Affonso Reidy

⭐Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro

Avenida Infante Dom Henrique nº 85, Aterro do Flamengo. Metrô Cinelândia a 600 metros. VLT parada Antônio Carlos a 400 metros.

🕒 Horários: de quarta a sábado, das 10h às 18h. Domingos, das 10h às 11h exclusivamente para visitação de pessoas com deficiência intelectual, pessoas autistas ou com algum tipo de hipersensibilidade a estímulos visuais ou sonoros. Para o público em geral, o funcionamento é das 11h às 18h.

Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro

Atenção: o MAM está fechado ao público até 26 de janeiro de 2024 para a montagem de duas exposições. 

💲Ingresso gratuito. Contribuição sugerida de R$ 20 para o público em geral e de R$ 10 para quem tem direito à meia-entrada.

Mais museus no Rio de Janeiro

Todas as dicas do Rio de Janeiro (post índice)


Curtiu este post? Deixe seu comentário na caixinha abaixo. Sua participação ajuda a melhorar e a dar vida ao blog. Se tiver alguma dúvida, eu respondo rapidinho. Por favor, não poste propaganda ou links, pois esse tipo de publicação vai direto para a caixa de spam.
Navegue com a Fragata Surprise 
Twitter     Instagram    Facebook 

Nenhum comentário:

Postar um comentário