Antigua Guatemala é uma das cidades coloniais mais lindas
que já vi |
No meio do caminho tinha um terremoto. A história de Antigua Guatemala é uma gangorra entre a pujança de capital colonial (reinando sobre um território de 600 mil km²) e a devastação periódica que os incontáveis abalos sísmicos provocavam no esplendor decorrente dessa condição.
As mais belas igrejas, os mais imponentes palácios e solares dos senhores da então Capitania Geral da Guatemala estavam em Antigua — e seus alicerces jamais foram páreo para o desassossego das entranhas da terra naquele pedaço de mundo.
Antigua, porém, é teimosa. Nem os sucessivos tremores, nem o abandono “definitivo”, após ser reduzida a escombros por um cataclismo especialmente furioso, conseguiram varrê-la do mapa.
Santa tenacidade: aquela moldura de montanhas e vulcões de seu horizonte merecia mesmo uma bela cidade para compor o quadro. E a velha capital da Guatemala cumpre a missão com maestria.
Santa tenacidade: aquela moldura de montanhas e vulcões de seu horizonte merecia mesmo uma bela cidade para compor o quadro. E a velha capital da Guatemala cumpre a missão com maestria.
A Catedral de Antigua (no alto) foi arrasada por um terremoto e apenas parcialmente reconstruída. Acima, balcões típicos das construções coloniais da cidade |
Conhecer Antigua (finalmente!) foi um presente que me dei, agora nas férias de setembro. Eu já sabia que ia gostar, mas fiquei foi muito apaixonada.
Reconstruída, resistente, obstinada, Antigua é uma beleza que desafia terremotos e provoca sérios abalos no coração dos visitantes.
Bora dar uma volta por lá?
Reconstruída, resistente, obstinada, Antigua é uma beleza que desafia terremotos e provoca sérios abalos no coração dos visitantes.
Bora dar uma volta por lá?
Antigua Guatemala, um encanto colonial
Pátio do Colégio dos Jesuítas |
Um pouquinho de história: como Santiago virou Antigua
Entre o fausto e ruína, a cidade de Santiago de los Caballeros conheceu de tudo em seus quase cinco séculos de história.
Fundada em 1542 como sede do poder espanhol na América Central, ela viveu dois séculos de importância política e econômica — receita infalível para dotar uma povoação de maravilhas de pedra e cal e de efervescência cultural.
No final do Século 18, porém, Santiago foi vencida pelos chamados “terremotos de Santa Catalina” – os sismos guatemaltecos de antigamente tinham nomes de santos, referindo-se não à ira dos deuses, mas ao santo do dia em que ocorreu o tremor.
A parte da Catedral de Antigua (no alto) que permanece em
ruínas virou um museu. Acima, um detalhe da fachada da igreja |
Muito danificada, Santiago foi abandonada pela maioria da população, perdeu o posto, a importância econômica e até o nome.
Virou uma velha memória, a antiga (antigua, em espanhol) capital.
Virou uma velha memória, a antiga (antigua, em espanhol) capital.
O Arco de Santa Catalina é o postal mais famoso de Antigua |
A cidade insistente, porém, renasceu quase que imediatamente após ser oficialmente desertada. Aos pouquinhos, foi sendo reocupada, especialmente pela população indígena dos arredores.
Parte significativa de suas construções foram restauradas, outras permanecem em ruínas, acentuando ainda mais os traços incrivelmente românticos de Antigua.
O que ver em Antigua Guatemala
Essa passagem coberta, construída no final do Século 17, é a imagem mais marcante de Antigua.
E é tanta gente querendo fotografar o Arco de Santa Catalina que o lugar virou um ponto de encontro, cercado de bares e cafés, um espécie de centro informal da vida social dos turistas que visitam a cidade.
A sensação é que está todo mundo na expectativa de que as nuvens deem uma trégua para que se possa clicar o arco com as montanhas ao fundo.
E é tanta gente querendo fotografar o Arco de Santa Catalina que o lugar virou um ponto de encontro, cercado de bares e cafés, um espécie de centro informal da vida social dos turistas que visitam a cidade.
A sensação é que está todo mundo na expectativa de que as nuvens deem uma trégua para que se possa clicar o arco com as montanhas ao fundo.
O arco foi construído para interligar as duas alas do
Convento de Santa Catarina, uma de cada lado da rua |
O Arco de Santa Catalina foi construído para interligar as duas alas do Convento de Santa Catarina Virgem e Mártir — uma de cada lado da rua. Uma dessas alas é hoje um hotel.
Isso permitia que as que as freiras encerradas na clausura pudessem atravessar de uma ala à outra do convento sem verem ou serem vistas.
O Arco de Santa Catalina não está aberto ao público. Danificado pelo terremoto de 1773, ele foi restaurado no final do Século 19, quando ganhou a torre do relógio.
Isso permitia que as que as freiras encerradas na clausura pudessem atravessar de uma ala à outra do convento sem verem ou serem vistas.
O Arco de Santa Catalina não está aberto ao público. Danificado pelo terremoto de 1773, ele foi restaurado no final do Século 19, quando ganhou a torre do relógio.
A Catedral de Antigua sobreviveu a muitos terremotos |
Diariamente, das 9h às 18h. Entrada: 1 quetzal
Quando Antigua ainda se chamava Santiago de los Caballeros, sua Catedral era o edifício religioso mais suntuoso da vasta Capitania Geral da Guatemala (possessão espanhola que abarcava toda a América Central).
O edifício original, de meados do Século 16, frequentemente sacudido por terremotos, deu lugar à construção barroca do final do Século 17.
A entrada para o Museu da Catedral (ruínas) está na lateral
da igreja |
Ornada em ouro, entalhes de madeiras nobres e delicados trabalhos em marfim — tudo que o poder colonial podia pagar — a Catedral de Antigua era descrita com espanto pelos visitantes da época.
Nada disso, porém, resistiu à sanha dos terremotos que tentaram e quase conseguiram tirar Antigua do mapa.
Seu principal templo católico não escapou da devastação e acabou abandonado. Suas ruínas passaram a ser usadas como cemitério.
Nada disso, porém, resistiu à sanha dos terremotos que tentaram e quase conseguiram tirar Antigua do mapa.
Seu principal templo católico não escapou da devastação e acabou abandonado. Suas ruínas passaram a ser usadas como cemitério.
Marcas deixadas pelo terremoto na Catedral de Antigua |
Essa é a parte mais impressionante da visita, aliás.
Com entrada pela 5ª Calle Oriente (à direita de quem está diante da fachada principal), os vestígios do velho templo lembram as ruínas do Convento do Carmo, em Lisboa, também resultado de um terremoto.
As imponentes estruturas, expostas em seu esqueleto, ganham um tom poético, sem perder a majestade.
O antigo Colégio dos Jesuítas de Antigua agora abriga um
museu bem bacaninha |
⭐ Colégio dos Jesuítas
6ª Avenida Norte, esquina com 3ª Calle Poniente. Diariamente, das 9h às 18h. Entrada gratuita
O antigo Colégio e Convento dos Jesuítas foi uma das melhores surpresas que tive em Antigua.
Por trás da fachada bastante maltratada pelo tempo e terremotos, encontrei um belo conjunto colonial com pátios e balcões floridos, um pequeno e interessante museu de arte pré-colombiana e um café adorável e sossegado.
A fachada da igreja do Colégio dos Jesuítas exibe as marcas
deixadas pelos terremotos |
No Século 18, o Colégio dos Jesuítas de Antigua (então Santiago) era o mais prestigiado da Guatemala, centro formador dos filhos dos grandes senhores locais.
Os terremotos de Santa Marta destruíram parcialmente o conjunto. Logo depois, a expulsão da Companhia de Jesus das terras espanholas selou o destino do lugar, que posteriormente foi usado como fábrica de tecidos, mercado de hortaliças e feira de artesanato.
O antigo colégio encanta com seus balcões e pátios
floridos |
O colégio hoje abriga Centro de Formação e Cooperação Espanhola na Guatemala, um espaço cultural e liceu de artes e ofícios que promove cursos de formação profissional e mantém uma biblioteca muito usada pelos estudantes locais.
O pequeno museu de arte pré-colombiana do Colégio dos
Jesuítas tem peças muito interessantes e também faz mostras temporárias de
fotos sobre a cultura maia |
No Colégio dos Jesuítas funciona o Caféce (misto de bistrô e café), que tem uma cozinha bem reputada e é boa opção para o almoço.
As ruínas do Convento de La Merced oferecem um lindo mirante
para as montanhas |
Igreja e ruínas de la Merced
6ª Avenida Norte, esquina com 1ª Calle Poniente. Diariamente, das 9h às 18. A igreja tem entrada gratuita. Para ver as ruínas, o ingresso custa 15 quetzales (R$ 6,60)A fachada do conjunto de La Merced é considerada um ícone do barroco guatemalteco.
Pintada de amarelo vivo, com detalhes em estuque branco, ela chama a atenção de longe, com seus dois campanários atarracados, praticamente engolidos pelo corpo da construção (quem vai arriscar construir torres altas em um lugar tão sujeito a abalos sísmicos?).
A Igreja de La Merced tem uma fachada linda e
campanários atarracados. Afinal, em lugar sujeito a terremotos as torres não se
atrevem a subir além do corpo da construção |
A Igreja La Merced é uma das poucas construções coloniais de Antigua a escapar quase ilesa aos terremotos do Século 18.
O mesmo não ocorreu com o mosteiro adjacente, cujo pavimento superior, reduzido a ruínas, acabou virando um belíssimo terraço com vista privilegiada para as montanhas que cercam a cidade.
Sincretismo e grandiosidade na Fonte dos Peixes |
Além da vista, outra grande atração no interior do mosteiro de La Merced é a Fonte dos Peixes, instalada em um pátio.
A estrutura grandiosa da fonte (27 metros de diâmetro) tem o formato de uma ninfeia (lírio aquático), abundante nos lagos da região do Petén, no Norte da Guatemala.
Para os maias, essa flor é o símbolo da criação e origem dos deuses, que teriam sido gestados entre as pétalas de uma ninfeia.
A estrutura grandiosa da fonte (27 metros de diâmetro) tem o formato de uma ninfeia (lírio aquático), abundante nos lagos da região do Petén, no Norte da Guatemala.
Para os maias, essa flor é o símbolo da criação e origem dos deuses, que teriam sido gestados entre as pétalas de uma ninfeia.
Programe-se para estar no terraço do Convento de La Merced perto do cair da tarde. Acima, as arcadas do claustro principal |
A citação à ninfeia não é a única aproximação com o universo espiritual dos povos originais da Guatemala em La Merced.
No delicado rendilhado que adorna sua fachada, dizem que as ramagens que se enroscam nas colunas seriam plantas alucinógenas, usadas em rituais ancestrais de aproximação com os deuses.
No delicado rendilhado que adorna sua fachada, dizem que as ramagens que se enroscam nas colunas seriam plantas alucinógenas, usadas em rituais ancestrais de aproximação com os deuses.
Antiga Plaza Mayor de Antigua, hoje chamada de Parque
Central |
Como uma legítima Plaza Mayor de cidade espanhola, a praça principal de Santiago de los Caballeros abrigava as sedes-símbolo do poder temporal e religioso.
Lá estão a Catedral, o Palácio dos Capitães-Gerais (a Guatemala era uma capitania-geral) e a Casa do Cabildo (uma espécie de parlamento colonial), hoje sede do Ayuntamiento (governo municipal).
Lá estão a Catedral, o Palácio dos Capitães-Gerais (a Guatemala era uma capitania-geral) e a Casa do Cabildo (uma espécie de parlamento colonial), hoje sede do Ayuntamiento (governo municipal).
Acima, o antigo Cabildo de Antigua, que continua abrigando o
parlamento local. Nas três fotos abaixo, o Palácio dos Capitães-Gerais da
Guatemala colonial |
A Plaza Mayor já não tem aquela vastidão quase intimidante de suas irmãs de outras plagas. Foi preenchida por árvores frondosas, fontes, jardins e banquinhos onde os moradores da cidade se encontram e os turistas descansam depois de uma caminhada e ganhou o nome de Parque Central.
O Cabildo/Ayuntamiento é aberto à visitação. A Varanda do
pavimento superior (acima) oferece uma boa vista para todo o Parque Central |
Bom lugar para emendar um drinque ou uma refeição depois de visitar a sede do Ayuntamiento, a Catedral e seu museu — o Palácio dos Capitães Gerais não está aberto ao público.
⭐ Igreja de São Francisco
1ª Avenida Sur. Diariamente das 8h às 18h. Entrada gratuita. É proibido fotografar o interior da igreja
O exterior simplezinho da Igreja de São Francisco esconde
altares impressionantes |
A primeira igreja de São Francisco, porém, não resistiu a um terremoto e foi substituída pela construção atual, de 1702, ela também destroçada pelos sismos que atormentaram a cidade no século 18.
Boa parte das estruturas que vemos hoje na Igreja de Sao Francisco são resultado de uma reconstrução feita no Século 20.
A Igreja de São Francisco foi muito maltratada pelos
terremotos |
Uma coisa, porém, os terremotos não destruíram: os espetaculares altares cobertos de ouro e entalhes que adornam o interior da Igreja de São Francisco.
Vendo a construção por fora, nem dá muita curiosidade de entrar, de tão maltratada que está a bichinha, mas o guia com quem eu fiz um passeio a pé pela cidade me poupou do vexame de não ver essas maravilhas.
Vendo a construção por fora, nem dá muita curiosidade de entrar, de tão maltratada que está a bichinha, mas o guia com quem eu fiz um passeio a pé pela cidade me poupou do vexame de não ver essas maravilhas.
Pedro foi um missionário franciscano com fama de milagreiro e atuação muito parecida com a do jesuíta José de Anchieta, que viveu na mesma época. A devoção a ele, em toda a Guatemala, é muito forte.
Museu de Arte Colonial de Antigua, antiga Universidade de
San Carlos |
⭐ Museu de Arte Colonial
5ª Calle Oriente nº 5. De terça a sexta, das 9h às 16h. Sábados e domingos, das 9h às 12h e das 14h às 16h. Ingresso: 50 quetzales (R$22). Aos domingos a entrada é grátis
Este museu vale tanto pelo acervo, composto principalmente por pinturas e esculturas sacras do Século 16 ao 18, quanto pelo bonito edifício onde está instalado, a antiga sede da Universidade de San Carlos, a primeira da América Central.
Este museu vale tanto pelo acervo, composto principalmente por pinturas e esculturas sacras do Século 16 ao 18, quanto pelo bonito edifício onde está instalado, a antiga sede da Universidade de San Carlos, a primeira da América Central.
O edifício do Museu de Arte Colonial é muito bonito. O acervo não pode ser fotografado |
A coleção do Museu Colonial de Antigua é pequena e pode ser vista em 30 ou 40 minutos, mas a visita vale a pena.
O que mais gostei foram as imensas pinturas murais descrevendo as cerimônias de admissão na Universidade e a proclamação dos novos doutores, ocasiões de grande pompa. As formaturas, por exemplo, eram anunciadas em grandes desfiles pelas ruas da cidade.
O que mais gostei foram as imensas pinturas murais descrevendo as cerimônias de admissão na Universidade e a proclamação dos novos doutores, ocasiões de grande pompa. As formaturas, por exemplo, eram anunciadas em grandes desfiles pelas ruas da cidade.
Pena que não é permitido fotografar o interior das salas de exposição.
⭐ Mercado de Artesanato de El Carmen
Avenida 3ª, esquina com 3ª Calle Oriente
Se você gosta de garimpar lembrancinhas de viagem, vai curtir o Mercado de El Carmen.
São mais de 120 postos de venda, uma profusão de cores no escurinho de uma construção meio mambembe que já abrigou uma serraria.
Mercado de El Carmen: vá com tempo e olho clínico para
garimpar lembrancinhas |
Em meio a produtos claramente industrializados, é possível encontrar artesanato de verdade, a preços sempre negociáveis — a pechincha parece ser o esporte local. Vá com tempo e divirta-se.
Um autêntico tear de cintura (no alto) e pilhas hipnóticas
de tecidos guatemaltecos. Os descendentes dos maias são exímios tecelões |
Roteiro Panamá e Guatemala: 2 semanas na América Central
7 motivos para visitar a Guatemala
Antigua
Dicas práticas de Antigua
Hospedagem em Antigua em um hotel/museu
Onde comer em Antigua
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O que fazer na Cidade da Guatemala
Cidade da Guatemala: dicas de hospedagem
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Roteiro e todas as dicas para organizar a viagem à capital da Civilização Maia
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A paisagem encantadora do maior lago da Guatemala
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Oba!!! Obrigada, Natalie :)
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