Bolonha, a Vermelha, título conquistado com uma
história de muitas lutas |
O melhor de Bolonha é o astral, alimentado, em grande medida, por sua longa tradição acadêmica que torna a cidade mais arejada, viva e vibrante.
Os famosos pórticos de Bolonha se estendem por todo o Centro
Histórico e conferem um encanto a mais à cidade — ô bichinhos fotogênicos |
Conhecida como "La dotta, la grassa e la rossa" (a erudita, a gorda e a vermelha), Bolonha é mesmo uma cidade voltada para o saber, os prazeres da mesa e com uma tremenda tradição progressista e comunista. Uma mistura que resulta irresistível.
Deixa eu mostrar o melhor de Bolonha e aposto que você já vai querer ir correndo pra lá:
O que fazer em Bolonha
⭐ Bolonha, la dotta
La dotta: a Universidade de Bolonha está prestes a completar
mil anos de funcionamento, a mais antiga do Ocidente |
Nessas minhas "pausas universitárias", nunca demorou mais de 20 minutos pra que eu me visse no papo mais animado do mundo com uma galera muito jovem e muito interessada em tudo — o golpe parlamentar no Brasil, que estava completando seis meses, era um dos assuntos que mais suscitavam perguntas.
La grassa: comer e beber em Bolonha são experiências
sensoriais irresistíveis |
A Emília-Romanha inteirinha é uma perdição no capítulo culinário. Região de terra fértil, com economia agrícola baseada na propriedade familiar, ela é dona de uma coleção de produtos com selos de denominação de origem protegida — o que atesta sua excelência.
Bolonha, como capital da Emília-Romanha, acaba concentrando todas as delícias regionais, como os queijos e presuntos de Parma, mortadelas inacreditáveis...
Minhas dicas de onde comer - e o que comer - em Bolonha
La rossa: Bolonha tem uma longa tradição de esquerda |
Homenagem de Bolonha ao militante anarquista Anteo Zamboni,
autor de um atentado contra Mussolini em 1926 e linchado pelos fascistas. Tinha
15 anos de idade |
Eu ouso acrescentar que ela é vermelha porque esta é a cor da paixão que a cidade me despertou ❤️❤️❤️.
Como aproveitar os encantos de Bolonha
Pórticos e bicicletas: a cara de Bolonha |
Trate cada refeição como uma grande atração
Bolonha curte jazz. Se jogue 🎷🎺 🧡 |
Acredite: vai acontecer isso e muito mais no seu caminho em Bolonha e você vai amar.
Um pátio do Palazzo d'Accursio, sede da Prefeitura de
Bolonha |
Esse intervalo de tempo também permite algumas deliciosas escapadinhas bate e volta — a Parma do queijo e do presunto cru, a Modena do azeite balsâmico, ou para ver os deslumbrantes mosaicos bizantinos de Ravena.
Piazza Verdi, coração do bairro universitário de Bolonha |
Faça isso, porém, e estará cometendo um desperdício. Desacelere, que a alma agradece 😉.
Perca-se por uma cidade deliciosa, protegida do sol e da
chuva pelos 40 km dos belos pórticos de Bolonha |
Passeios e atrações em Bolonha
⭐ Os pórticos de Bolonha
Os quase 40 quilômetros de pórticos que margeiam as ruas de Bolonha se encarregam de transformar os trajetos entre quaisquer pontos em uma jornada encantadora.
Não sei como o povo de lá faz para cumprir seus compromissos com pontualidade, mas eu não conseguia dar dois passos em Bolonha sem parar para admirar as abóbadas e a decoração de cada pórtico, a elegância de suas colunas e a variedade de estilos decorativos.
Levava hoooras pra ir ali na esquina 😊.
Os pórticos de Bolonha são tão lindos que a gente até esquece que eles surgiram para cumprir um papel estritamente funcional: oferecer abrigo das intempéries.
Essa tarefa, as colunatas cumprem muito bem: em dia de chuva, dá para andar praticamente por todo o Centro Histórico de Bolonha sem se molhar (exceto quando se atravessa a rua).
⭐As Torres de Bolonha
Piazza di Porta Ravennana
Apenas a Torre Asinelli está aberta à visitação, com horários marcados, das 9:30h às 19:30h, no verão, e até as 17:45 de novembro a fevereiro.
O ingresso custa € 5.
De perto, é a maior ginástica pra tentar Asinelli e
Garisenda de corpo inteiro |
Asinelli e Garisenda parecem os nomes das irmãs de Cinderella, mas é assim que se chamam as atrações turísticas mais famosas de Bolonha.
Elas são duas torres medievais que se erguem no coração do Centro Histórico e desafiam os visitantes a encontrar um ângulo para fotografá-las decentemente (a combinação de ruas estreitas com a altura das torres exige um certo contorcionismo para enquadrá-las).
A foto lá do alto e do centro foram clicadas da Via Rizzoli,
onde encontrei o melhor ângulo para fotografar as torres de Bolonha |
Bolonha chegou a ter mais de 180 dessas torres.
Tem sempre um monte de gente contemplando a altura das
torres. Acima, a base da Torre Asinelli e, ao fundo, o Palazzo della Mercanzia |
➡️ A Torre Garisenda é mais baixinha: “apenas” 48 metros de estatura, e se apresenta muito inclinada, por conta da instabilidade do terreno onde se assenta — por conta disso, cerca de 12 metros dela foram demolidos, lá no Século 14, para evitar que o conjunto todo viesse abaixo.
Basílica de São Petrônio, na Piazza Maggiore de Bolonha |
⭐ Roteiro no Centro Histórico de Bolonha
A pouco mais de 100 metros das torres, o Palazzo della Mercanzia (Século 14) nos lembra que estamos no coração de uma área de comércio que remonta à Idade Média — uma atividade importantíssima na prosperidade bolonhesa.
Piazza Maggiore |
Duvido que o mais empedernido dos ascetas atravesse os becos que se espremem da Piazza della Mercanzia até a Piazza Maggiore, apenas três quadras a Oeste, sem ficar um pouquinho hipnotizado pelas bancas de frutas, hortaliças, carnes, queijos e presuntos que ainda hoje tentam desviar as almas retas do bom caminho.
Na área do antigo mercado de Bolonha, as hortaliças perfumam
as ruas estreitas e convidam a uma pausa com uma taça de vinho |
Do ladinho da Piazza Maggiore está a igreja renascentista de
São Bartolomeu e São Caetano |
O Palazzo Re Enzo, do Século 13, ganhou seu nome do Rei Enzo
da Sardenha, que ficou prisioneiro lá entre 1249 até a sua morte em 1272 |
Quando você conseguir completar o ritual de olhar-cheirar-e-apalpar (sim, em Bolonha pode apalpar) as mercadorias, terá chegado à Piazza Maggiore, a praça principal de Bolonha.
Palazzo d'Accursio |
Todos edifícios majestosos da competem pelos olhares do visitante — e todos perdem para a Fonte de Netuno, de Bernini, no centro da praça: mesmo cercada por tapumes, em pleno processo de restauração, era ela que atraía mais cliques de turistas por entre as frestas da proteção.
Apesar da concorrência de tantos palácios, quem domina
completamente os olhares na Piazza Maggiore de Bolonha é a fachada inacabada da
Basílica de São Petrônio |
Piazza Maggiore. Diariamente, das 7:45h às 18:30. Entrada gratuita. Permissão para fotografar: € 2. Acesso à Capela dos Reis Magos € 3.
Dedicada ao padroeiro de Bolonha — Petrônio, um bispo local no Século 5 — esta é a maior e mais impressionante igreja da cidade.
A começar pelo contraste na fachada inacabada, onde o precioso revestimento em mármore branco e salmão e os delicados nichos esculpidos por Jacopo della Quercia se encontram com a rusticidade dos tijolos que ficaram à mostra.
Em Bolonha, até a igreja do padroeiro é vermelha |
A Basílica de São Petrônio começou a ser construída no final do Século 14 e suas obras se arrastaram por quase 300 anos.
Em seu interior predomina o vermelho — estamos em Bolonha, né? — do mármore das colunas e dos arcos ogivais no teto, quebrando a primeira impressão de austeridade na decoração.
Detalhes do Altar-Mor da Basílica de São Petrônio |
A Capela dos Reis Magos é adornada por vitrais e por
afrescos de Giovanni da Modena |
O vasto espaço da igreja (50 metros de altura, 130 de fundo e 60 de largura) abriga algumas preciosidades, como a Capela dos Reis Magos, recoberta de afrescos de Giovanni da Modena.
O grande espetáculo desta capela, infelizmente, tornou São Petrônio um alvo: já foram desbaratados dois planos para explodir a basílica, porque um dos afrescos teria uma representação do Profeta Maomé no Inferno.
Estou até agora sem entender porque a Basílica de São Petrônio me pareceu básica ao primeiro olhar, porque a bichinha não economiza em detalhes |
A Capela dos Reis magos também não pode ser fotografada e permanece às escuras. Antes de entrar, peça aos funcionários da basílica para acenderem as luzes.
A linha meridiana de Giovanni Cassini na Basílica de
São Petrônio |
No piso da Basílica de San Petrônio está marcada uma linha meridiana definida pelo matemático Giovanni Cassini em 1655.
Esse meridiano é como um calendário solar: uma abertura no teto da basílica permite a passagem da luz do sol, que se projeta sobre a linha exatamente ao meio-dia, apontando dias, meses e estações.
Um altar lateral e a Sacristia da Basílica de São Petrônio |
Com entrada pela Piazza Galvani, o terraço da Igreja de San Petrônio é acessível por um elevador e mais alguns degraus. Abre diariamente, das 10h às 13h e das 15 às 18. A entrada custa € 3.
A simpática feirinha de antiguidades de Santo Stefano
funciona todo segundo domingo do mês |
Segundo final de semana de cada mês, das 8:30h às 18h. Não há feira em julho e agosto.
Dei sorte de estar em Bolonha no segundo final de semana de janeiro. É que essa simpaticíssima e tentadora feirinha de antiguidades só é realizada nos segundos sábados e domingos de cada mês.
Foi uma gratíssima surpresa topar com os tabuleiros repletos de peças interessantes , coisa pra hoooooras de garimpo.
A Feira de Santo Stefano rende horas de garimpo |
A Basílica de Santo Stefano deveria ser um complexo de sete
templos, mas só quatro saíram do papel |
Com origens no Século 5, o projeto era construir sobre um antigo templo pagão sete igrejas cristãs interligadas, para representar os passos da paixão de Cristo.
Quatro dos edifícios saíram do papel: a Igreja do Crucifixo, a do Calvário, a da Trindade e a dedicada a São Vital e Santo Agricola, martirizados em Bolonha no Século 4 e cujos restos descansam lá.
O Archiginnasio da Universidade de Bolonha foi instalado no
Século 16 na hoje Piazza Galvani |
Para unificar as salas de aula e outros espaços da instituição foi construído o Archiginnasio, um palácio magnífico na Piazza Galvani, com seu pórtico de 30 arcos e pátios internos elegantes.
Luigi Galvani, cientista e professor da Universidade de
Bolonha no Século 18, "rege" a praça batizada em sua homenagem |
Luigi Galvani, que hoje dá nome à praça do Archiginnasio de Bolonha, foi um médico e cientista que viveu e trabalhou na cidade no Século 18.
Dedicado à física e à anatomia (cadeira que lecionava na Universidade de Bolonha), Galvani foi um dedicado estudioso da bioeletricidade, estudo dos padrões elétricos e sinais do sistema nervoso.
Edifício da Universidade de Bolonha na Via Zamboni |
Antes de ser sede da Universidade de Bolonha, a praça abrigava o mercado de seda da cidade. A construção do Archiginnasio mudou profundamente sua fisionomia. Hoje, os pórticos elegantes do edifício abrigam cafés e lojas de luxo.
Galeria no edifício da Aula Magna da Universidade de Bolonha |
Fiquei só dois dias úteis na cidade e os preparativos para uma solenidade frustraram minha intenção. O mesmo aconteceu com a Aula Magna da Via Zamboni, que tinha sido requisitada pela prefeitura para um evento.
O Oratório de Santa Cecília foi uma das muitas belezas que
encontrei perambulando pelos edifícios da Universidade de Bolonha. Acima, um
dos afrescos que encantam o lugar |
Mas, quer saber, apesar do coração partido por não ter visto os ambientes mais solenes, eu adorei visitar espaços mais “plebeus” e muito vivos da Universidade de Bolonha, edifícios belíssimos, corredores animados e “anexos” (bares e restaurantes próximos) adoráveis.
A Via Zamboni, pertinho do meu hotel, concentra várias instalações da Universidade e fica especialmente interessante no final da tarde, quando os estudantes estão saindo das aulas.
A Lamentação sobre o Cristo Morto, conjunto de esculturas em
tamanho natural, feito por Niccolò dell'Arca, é um dos tesouros da Igreja de
Santa Maria della Vita |
Via Clavature, 10. De terça a domingo, das 10h às 19h. Entrada € 3
A obra foi realizada por Niccolò dell'Arca no Século 15. São sete imagens em tamanho natural, com uma expressividade arrebatadora, especialmente as Marias, devastadas pelo desespero com a morte de Cristo.
A Igreja de Santa Maria della Vita tem uma bela decoração interior |
Mas há mais surpresas em Santa Maria della Vita, uma igreja de fachada discreta, como o belíssimo Oratorio dei Battuti, uma obra do comecinho do Século 17, adornado por telas, esculturas e entalhes preciosos.
Não perca essa beleza. O Oratório dei Battuti fica no primeiro andar, sobre a igreja, e se não fosse uma senhorinha que arrumava flores no altar me alertar, eu teria ido embora sem vê-lo.
A decoração do Oratório dei Batutti é um escândalo |
Claustro do Mosteiro de São Domingos |
Taí outra igreja imperdível em Bolonha. São Domingos (San Domenico) é a sede da poderosa Ordem dos Dominicanos e é lá que a irmandade guarda os restos mortais de seu fundador, Domingos de Gusmão, que pregou em Bolonha e morreu lá, no início do Século 12.
Na Praça de São Domingos, em frente à Basílica, estão expostas
algumas urnas funerárias |
A imagem de São Domingos sobre a porta principal da basílica |
Algumas dessas peças ainda estão expostas na igreja, como O Matrimônio Místico de Santa Catarina, de Filippino Lippi.
Cúpula sobre o altar-mor da Basílica de São Domingos |
Em uma das capelas está um órgão tocado por Mozart, que passou uma temporada em Bolonha. Sim, aos 14 anos, Mozart veio a Bolonha estudar música e se preparar para os exames da prestigiadíssima Accademia Filarmonica di Bologna — a filiação a essa instituição era um atestado de excelência para músicos, no Século 18.
No alto, o coro renascentista da Basílica. Acima, o altar-mor |
O Canal do Reno visto em uma abertura na Via Oberdan |
Quando começaram a ser cobertos, deram a Bolonha uma aura de “Veneza secreta” que, de vez em quando, se mostra aos visitantes por algumas brechas entre as fachadas, como na Rua Oberdan, no antigo Ghetto Judaico, onde eu estava hospedada.
Bolonha – dicas práticas
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Adorei o relato! Estarem na Itália em novembro e Bolonha faz parte do roteiro! Seu post me servirá de guia.
ResponderExcluirExcelente post!
ResponderExcluirMorei um ano em Bologna, estudando. Seu texto e suas fotos trouxeram o que ha de melhor na cidade. Relembrei muita coisa durante a leitura.
Parabéns e obrigado!
Jr
Que legal!!
ExcluirOba, adoro sair no #Linkódromo :). Valeu, Natalie
ResponderExcluirMagnífico Blog. Tem tudo bem descrito sobre a bela cidade. Parabens
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