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Bruxelas vista de uma das esferas do Atomium |
Prepare-se para se surpreender: a capital belga é espetacular. Eu sei que muita gente fala que a cidade merece só uma paradinha, entre Paris e Amsterdã — e eu também já acreditei nisso. Mas tem tanto o que fazer em Bruxelas que você vai adorar esticar sua estada na terra da cerveja e do chocolate por alguns dias.
Eu programei quatro noites em Bruxelas para explorar cidades como Ghent, Bruges e Antuérpia em escapadinhas.
Bastou chegar à cidade para mudar de ideia e resolver ficar por lá mesmo a maior parte do tempo — fiz um maravilhosos bate e volta a Bruges, mas as outras atrações da Bélgica ficaram para a próxima viagem.
Bruxelas me ganhou logo de cara. E motivos não faltaram. Quer museus bacanas? Bruxelas tem vários e excelentes. Quer comer bem? Você vai se esbaldar. Curte quadrinhos? Esta é a cidade.
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A beleza barroca da Grand Place, “a praça mais bonita da
Europa”, quase foi demolida na euforia modernizante da Belle Époque |
E, ah, a arquitetura... Bruxelas tem um senhor patrimônio que vai do Gótico-Flamengo (aquelas casinhas com “fachada em degraus”) ao esplendor do barroco e o maior acervo de edifícios Art Nouveau da Europa.
Veja quanta coisa bacana tem você vai encontrar na surpreendente Bruxelas:
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Só a Grand Place já vale a visita a Bruxelas |
Falta de imaginação estraga qualquer dimensão da vida. Tratando de viagens, então, é um perigo a ser evitado a todo custo.
Como é que pode uma cidade tão bonita, interessante e alto astral como Bruxelas entrar para o almanaque do senso comum apenas como a terra de um menino de dois palmos de altura fazendo xixi?
Como é que pode uma cidade tão bonita, interessante e alto astral como Bruxelas entrar para o almanaque do senso comum apenas como a terra de um menino de dois palmos de altura fazendo xixi?
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Pra não ser acusada de implicante, taí a foto do Manneken
Pis e da a muvuca pra ver o garoto |
O Manequinho é a figura central de uma fonte do início do Século 17 — na verdade, uma cópia, pois a original foi roubada e destruída, no Século 19.
Convenhamos, o clichê é muito pouco para estimular alguém a fazer uma parada na cidade, no trajeto de trem entre Paris e Amsterdã, né?
Várias vezes atravessei a Bélgica me contentando em olhar a paisagem pela janelinha do trem, deixando que o relevo quase que “passado a ferro” reforçasse a impressão de monotonia que eu intuía no país.
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Até que um dia eu parei pra ouvir direito uma canção. Era o belga Jacques Brel (que você certamente conhece pela famosíssima Ne me quittes pas) cantando seu Plat Pays (literalmente: "país plano", uma alusão ao relevo dos Países Baixos) de um jeito tão carinhoso que tive que me render à curiosidade. Sem saber, eu estava ganhando um senhor presente!
O que fazer em Bruxelas
⭐ Ver a bela arquitetura de Bruxelas
O primeiro motivo para eu cair de amores por Bruxelas está bem na cara da cidade: a rara e feliz harmonia que resulta dos contrastes estéticos de várias escolas de arquitetura.
Em geral, a gente tende a gostar de conjuntos uniformes (o georgiano de Bath, o barroco de Ouro Preto, o gótico de Lübeck, o modernismo de Brasília...), mas Bruxelas é uma aula, não só sobre preciosos períodos arquitetônicos, mas, principalmente, sobre o encanto que resulta do encontro desses estilos.
Em geral, a gente tende a gostar de conjuntos uniformes (o georgiano de Bath, o barroco de Ouro Preto, o gótico de Lübeck, o modernismo de Brasília...), mas Bruxelas é uma aula, não só sobre preciosos períodos arquitetônicos, mas, principalmente, sobre o encanto que resulta do encontro desses estilos.
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Os contrastes são o grande charme de Bruxelas |
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Quem disse que gótico não combina com grafite? |
Experimente percorrer as ruas estreitas que tecem o caminho até a Grand Place: esses corredores de fachadas góticas quase rústicas, em pedra ou tijolo nu, são o prólogo exato para a entrada na “praça mais bonita da Europa”, que reluz em esplendor barroco — impossível não imaginar trombetas...
E pensar que a Grand Place escapou por pouco da fúria modernizante que o dinheiro e o progresso industrial fizeram brotar, na segunda metade do Século 19.
Na esteira de reformas urbanas como as de Paris e Viena, a Bélgica só não botou abaixo seu maior patrimônio de pedra e cal por conta da oposição obstinada do prefeito Charles Buls, ex-artesão (ourives) que governou a cidade por 18 anos.
O prefeito sustentou uma longa queda de braço com ninguém menos que o Rei Leopoldo II para impedir o sacrilégio que seria a demolição dos edifícios da Grand Place.
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Bruxelas preserva com carinho seu patrimônio gótico-flamengo. Abaixo, uma fachada discretamente art nouveau |
O esforço de Buls foi reconhecido até por Victor Horta, o genial arquiteto da Belle Époque, candidato natural a projetar os novos edifícios no lugar dos que seriam demolidos.
Horta ficou sem esses contratos e a obra que ele assina na Grand Place é exatamente uma homenagem ao prefeito que salvou o patrimônio barroco. O memorial a Charles Buls, em puro estilo Art Nouveau, está em uma das esquinas da Grand Place.
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A fachada das Galerias Reais de Saint-Hubert e seu belo interior |
Pelo menos na arquitetura, Bruxelas parece ter aprendido mais com Horta do que com seu rei colonialista (Leopoldo é mais conhecido pela dominação, espoliação e genocídio praticados no Congo).
O visitante rapidamente aprende a transitar pelo entrelaçamento de épocas que caracteriza a Bruxelas.
Por exemplo, atravessando a encantadora Galeria Saint-Hubert (uma espécie de shopping center do Século 19) para encontrar do outro lado o sotaque francamente medieval da Rue du Marché aux Herbes (Grasmarkt), um corredor estreito onde hoje os restaurantes para turistas disputam espaço com os tabuleiros de frutas e hortaliças de antanho.
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Grafite, cerveja e bate papo: a vibe de Bruxelas é assim |
⭐As ruas de Bruxelas: quadrinhos, modernidade e gente do mundo inteiro
Em Bruxelas, a convivência harmônica de estilos arquitetônicos do do passado também abraça de um jeito muito tranquilo expressões artísticas mais contemporâneas, como os quadrinhos (uma paixão nacional belga) e o grafite, que estão muito bem representados na paisagem urbana.
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Os "tempos arquitetônicos" de Bruxelas passeiam lado a lado, para encanto dos visitantes |
Mais de 50 murais pintados pela cidade homenageiam a "9ª Arte", as histórias em quadrinho, na terra de Lucky Luke (criação de Morris e Goscinny), Tintim (de Hergé) e até dos Smurfs (de Peyo).
Os quadrinhos são tão importantes para os belgas que muitas de suas ruas históricas costumam ter três placas com os nomes em flamengo, em francês e o de algum personagem famoso.
É assim que a “Rua do Forno” se chama igualmente de Rue L’Étuve, em francês, Stoof Straat, em flamengo, e "Rua Mafalda". A “Rua dos Cervejeiros” é a Rue de Brasseurs, Brower Straat e “Rua da Patrouille des Castors.
Quem circula pelo centro histórico de Bruxelas e outras áreas turísticas no verão é capaz de pensar que caiu em uma imensa Oktoberfest, só que muito mais cool e sem aquelas bandinhas de música aflitivas: a quantidade de gente do mundo inteiro bebendo cerveja desde o início da manhã é de deixar qualquer um de ressaca, só de olhar.
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O jardim da Catedral de Bruxelas tem espreguiçadeiras que convidam à leitura. À direita, a torre da Prefeitura, na Grand Place |
A Bélgica tem uma tradição milenar na produção de cerveja, história iniciada nos mosteiros medievais.
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O jardim da Catedral de São Miguel e Santa Gudula, padroeiros de Bruxelas, também tem exposição de obras de arte moderna |
A Babel etílica dos bares do Centro Histórico de Bruxelas quase faz a gente esquecer que a poucos quilômetros da farra pulsa um dos principais centros financeiros da Europa.
E também fervilha outra Babel muito menos lúdica: além de sediar uma série de organismos da União Europeia (o que leva muita gente a chamar Bruxelas de "capital da Europa"), a cidade também abriga importantes órgãos internacionais.
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Bruxelas é sede de diversos organismos da União Europeia |
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Atomium: a divertida modernidade jetsons |
⭐O Atomium de Bruxelas
Square de l'Atomium, 1020. O melhor jeito de chegar é de Metrô (Estação Heysel/Heizel, linha 6) e caminhar cerca de 10 minutos até lá. Horário de visitas: diariamente, as 10h às 18h. Entrada: €11.
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Solo de trompete nas alturas? Equilibrismo? Nem precisa ser tão radical para curtir o Atomium |
Mas, tirando a fila, a vista ao Atomium é bem legal.
O Atomium foi construído no ousado formato de uma molécula de cristal de ferro, para abrigar a Exposição Universal de 1958.
Em seu interior (dentro das esferas penduradas a 100 metros de altura), a estrutura do Atomium hoje sedia uma exposição sobre a exposição universal e sobre o contexto histórico em que foi realizada.
Era o tempo em que a Europa Ocidental deixava para trás as memórias da Segunda Guerra, exaltava o "progresso" proporcionado pelo capitalismo em meio à Guerra Fria e começava a mergulhar nas profundas transformações que fariam ferver os Anos 60.
O Atomium foi construído no ousado formato de uma molécula de cristal de ferro, para abrigar a Exposição Universal de 1958.
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As esferas do Atomium, a 100 metros de altura, oferecem uma vista bem legal |
Em seu interior (dentro das esferas penduradas a 100 metros de altura), a estrutura do Atomium hoje sedia uma exposição sobre a exposição universal e sobre o contexto histórico em que foi realizada.
Era o tempo em que a Europa Ocidental deixava para trás as memórias da Segunda Guerra, exaltava o "progresso" proporcionado pelo capitalismo em meio à Guerra Fria e começava a mergulhar nas profundas transformações que fariam ferver os Anos 60.
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O interior do Atomium tem um baita climão de estação espacial de filme dos anos 60. Uma exposição conta a história da construção do monumento e da Exposição Universal de 1958 (abaixo) |
O Atomium é a cara de um tempo em que o futuro era "o último grito da moda", para usar uma expressão da época — de uma certa maneira, não deixa de ter um entusiasmo similar à Belle Époque —, com um astral que lembra os Jetsons, um dos meus desenhos animados preferidos.
Adoro aquela estética futurista dos Anos 50, ingênua e otimista.
Além da visita muito divertida, a vista lá do alto do Atomium é bárbara. Recomendo.
Adoro aquela estética futurista dos Anos 50, ingênua e otimista.
Além da visita muito divertida, a vista lá do alto do Atomium é bárbara. Recomendo.
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Carrilhão do Mont des Arts (Kunstberg) |
⭐ Mont des Arts/Kunstberg
Bruxelas tem museus maravilhosos e vários deles ficam no Mont des Arts (Kuntsberg), uma colina que reúne instituições importantes como o Museu Belas Artes e o Museu Matisse, a Cinemateca e a Biblioteca Nacional.
O Mont des Arts lugar tem uma história bem controversa, já que para a sua construção um bairro inteiro precisou ser desalojado e demolido, em mais um dos projetos modernizantes do Rei Leopoldo II.
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Essa escadaria liga o Kuntsberg ao coração do Centro Histórico de Bruxelas. Abaixo, o Palácio Real, que fica na parte mais alta do Monte das Artes |
Os planos para a área levaram mais de meio século para se completarem, entre o despejo e a inauguração dos principais edifícios novos, no finalzinho dos Anos 50.
Hoje, além dos museus, do Palácio Real e de uma arquitetura que lembra a estética monumental fascista (ou, ainda, o realismo socialista soviético), o Mont des Arts tem uma bela vista para o Centro antigo de Bruxelas, especialmente da escadaria ajardinada que o liga à “cidade baixa”.
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Só pra ser chata, uma breve galeria de esculturas encontradas nas ruas de Bruxelas que são mais interessantes que o Manequinho Mijão 😉 |
25 dias na Europa - Roteiro
Bruxelas
Dicas práticas
Onde comer (muito bem!) na capital belga
Três museus imperdíveis
Bruges: um bate e volta
A Europa na Fragata Surprise
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Bruxelas
Dicas práticas
Onde comer (muito bem!) na capital belga
Três museus imperdíveis
Bruges: um bate e volta
A Europa na Fragata Surprise
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Oi, Cynthia. Tudo bem? :)
ResponderExcluirSeu post foi selecionado para o #linkódromo, do Viaje na Viagem.
Dá uma olhada em http://www.viajenaviagem.com
Até mais,
Boia – Natalie
O Manneken Pis não foi destruido, está num mmuseu na Grand Place...
ResponderExcluirDepois de restaurado, né? Porque teve um maluco que roubou e detonou o Manequinho :)
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