Caminho de Santiago - percurso de hoje, de Padrón a Santiago de Compostela, 21 km
Última etapa da minha caminhada a Santiago de Compostela e meu coração estava aos pulos. Faltavam apenas 21 quilômetros para, finalmente, ver as famosas torres da catedral medieval e completar a “tarefa”.
Última etapa da minha caminhada a Santiago de Compostela e meu coração estava aos pulos. Faltavam apenas 21 quilômetros para, finalmente, ver as famosas torres da catedral medieval e completar a “tarefa”.
Saímos de Padrón por volta das 7h. O começo do trajeto é em terreno plano e sem grandes desafios. Isso deixa a caminhada mais prazerosa. Quase dá para esquecer o cansaço dos quase 120 km percorridos no sobe e desce montanhas, desde Valença do Minho.
Cerca de 5 km depois de Padrón, à beira da Rodovia N-550, fica a bela Igrexa de Nosa Señora da Escravitude (Igreja de Nossa Senhora da Escravidão), do Século 18. Bom lugar para uma pausa, até porque, de lá em diante, começa a sucessão de subidas e descidas que leva a Santiago. Serão 16 km enfrentando ladeiras respeitáveis.
Uma casa galega com sua parreira servindo de caramanchão no
povoado de Faramello, já pertinho de Santiago de Compostela |
Ao final de uma dessas subidas (muito íngreme), perto da vila de Milladouro, há um pequeno bosque com uma fonte, outra parada providencial para recuperar as forças. Nada como sombra e água fresca para ressuscitar esta peregrina.
Euzinha devidamente paramentada para enfrentar a onipresente
chuva galega, na parada para admirar a Igreja de Nossa Senhora da Escravitudeo
(no alto) |
Logo adiante do bosque, numa curva do caminho, avistei pela primeira vez as torres da Catedral de Santiago de Compostela. Quem diria que eu ia chegar até aqui...— houve momentos, especialmente nos trechos de rodovia, sem grandes atrativos, em que considerei sinceramente a possibilidade de pegar um ônibus e abreviar o sofrimento.
Mas o Caminho de Santiago é realmente muito bonito, especialmente quando atravessa os bosques de pinheiros com o chão forrado de samambaias, ou os vinhedos... E tem as belas vistas do alto das montanhas, as pequenas aldeias perdidas no mapa. Acho que fiz bem em vir, afinal.
Após seis dias de caminhada, lá estava eu, à sombra da torre da Catedral de Santiago de Compostela |
A emoção de ver as torres da Catedral de Santiago pela primeira vez é grande, mas é importante saber que o caminho ainda não acabou.
Faltam ainda uma descida íngreme e a última subida, já no perímetro urbano de Santiago de Compostela. A alegria de estar chegando só não foi maior por contra do trânsito e da azáfama de dia normal da cidade.
Faltam ainda uma descida íngreme e a última subida, já no perímetro urbano de Santiago de Compostela. A alegria de estar chegando só não foi maior por contra do trânsito e da azáfama de dia normal da cidade.
A imagem de Santiago está em destaque no alto da fachada da Catedral |
Essa última subida é um ladeirão que não tem tamanho e leva ao Centro Histórico, que ocupa o topo da montanha onde Santiago foi fundada.
Hoje, a cidade desce até o vale, para acomodar seus quase 100 mil habitantes — mesmo com tantos peregrinos indo e vindo, não deixei de me sentir esquisita, com minha mochila e meu cajado em pleno cenário urbano 😊.
Grupo de cavaleiros completando o Caminho de Santiago |
A Praça do Obradoiro vista do adro da Catedral. Ao fundo, o Paço do Raxoi |
Cheguei à Praça do Obradoiro, onde está a Catedral de Santiago, por volta das 16h30. Não foi difícil encontrar Dulce, descansando à sombra, numa das arcadas do Paço de Raxoi, sede da Junta da Galiza (o governo da Galícia).
Depois de uma "desabadinha básica", lá fui eu receber minha Carta Compostelana, o "certificado de conclusão" do Caminho de Santiago e que deve me absolver de alguns pecados, segundo o rito católico de concessão de indulgências.
Depois de uma "desabadinha básica", lá fui eu receber minha Carta Compostelana, o "certificado de conclusão" do Caminho de Santiago e que deve me absolver de alguns pecados, segundo o rito católico de concessão de indulgências.
Será que eu estava cansada? |
A missa na Catedral e um intrigante olho que observa os visitantes, no teto da igreja |
Para conseguir a Compostelana, é preciso apresentar a credencial de peregrina com os carimbos coletados ao longo do Caminho, comprovando que você fez a caminhada por pelo menos 100 quilômetros — a mesma distância vale para quem faz o percurso de bicicleta. Quem vem a cavalo deve completar pelo menos 200 quilômetros.
Na Oficina dos Peregrinos da Diocese de Santiago de Compostela havia uma fila enorme de recém-chegados da peregrinação, todos querendo seu certificado.
Enquanto esperava ser atendida, notei a grande cesta onde os caminhantes depositam seus cajados: uma doação para os próximos peregrinos.
Deixei o meu cajado também, mas sem as conchas de vieira. Essas, eu trouxe comigo e agora estão penduradas na parede da casa de minha mãe — ela queria a compostelana, também, mas esta eu guardo com muito carinho.
Detalhe da fachada da Catedral |
A beleza de Santiago |
Ainda na fila à espera da Compostelana, um voluntário me entregou um formulário, com perguntas simples: nome, procedência, essas coisas.
No quesito “razões da peregrinação”, eu poderia marcar um X em “espirituais”, “não espirituais” ou em “ambas”. Marquei “não espirituais”.
No quesito “razões da peregrinação”, eu poderia marcar um X em “espirituais”, “não espirituais” ou em “ambas”. Marquei “não espirituais”.
Quando chegou a minha vez, a moça que me atendeu não gostou da resposta: “Você tem que ter tido alguma inspiração espiritual para fazer o Caminho de Santiago”, insistiu.
Expliquei a ela que sou ateia e movida por curiosidade histórica e cultural. “Será que serve alegar 'razões antropológicas'?”. Ela deu um suspiro resignado, assinou a Compostelana e não perdeu a viagem: “Deus lhe abençoe”.
Expliquei a ela que sou ateia e movida por curiosidade histórica e cultural. “Será que serve alegar 'razões antropológicas'?”. Ela deu um suspiro resignado, assinou a Compostelana e não perdeu a viagem: “Deus lhe abençoe”.
Depois, fomos comemorar a façanha com um belo jantar no restaurante do hotel, arrematado com Torta Galega, típica da região e da época de celebração do apóstolo. Feita com amêndoas, ovos e açúcar, a torta leva a cruz de Santiago como decoração: polvilha-se açúcar sobre um molde da cruz e voilá...
O meu Caminho de Santiago
O início da aventura: Valença e Tui
A bela cidade de Tui e o começo oficial da caminhada
De Tui a O Porriño e as deliciosas surpresas do caminho
De O Porriño a Redondela e a generosidade dos galegos com os peregrinos
Redondela, Pontesampaio e um pouquinho da história da região
Pontevedra e dicas para enfrentar as bolhas e outros perrengues
Caldas de Reis e algumas impressões sobre os companheiros de viagem
Quase lá: Padrón e algumas dicas sobre albergues
Dicas gerais
As etapas
Caminho de Santiago - começando a jornadaO início da aventura: Valença e Tui
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A Espanha na Fragata Surprise
Madri
Andaluzia: Cádis, Córdoba, Granada, Ronda e Sevilha
Castela e La Mancha: Toledo
Castela e Leão: SegóviaCatalunha: Barcelona, Girona e Tarragona
Comunidade Valenciana: Valência
Galícia: Santiago de Compostela, Caminho de Santiago e cidades da rota
A Europa na Fragata Surprise
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Amei seu blog. Vou fazer esta rota agora em junho. Vou levar seus comentários comigo.
ResponderExcluirObrigada.
Cristina.
Que legal, Cristina, obrigada. Fico feliz que o relato vai ser útil. Aproveite muito o Caminho. Como se diz por lá, Boa Viaxe!
ResponderExcluirGratidão pelo tempo empregado para nos ajudar a fazer do Caminho. Já li e amei TODOS os seus relatos e eles me ajudaram muito a formatar o meu Caminho. Abraços.
ResponderExcluirEros
É uma grande experiência, Eros. Fico feliz de ter contribuído pra sua jornada.
ExcluirBoa Viaxe, como se diz na Galícia :)