1 de dezembro de 2023

Museu do Palácio Belvedere em Viena, a casa de Klimt e companhia

"O Beijo" de Gustav Klimt no Museu do Palácio Belvedere em Viena

O Beijo (1908), de Gustav Klimt, é a obra mais famosa do acervo do Museu do Palácio Belvedere, em Viena

Faz muito tempo que eu queria falar aqui na Fragata sobre o Museu do Palácio Belvedere em Viena, dono de um acervo tão sensacional que eu arrisco dizer que é o mais importante dessa cidade tão cheia de museus sensacionais.

O problema é que quando visitei o Belvedere o blog ainda não existia e eu, totalmente embasbacada pela profusão de maravilhas de Gustav Klimt (1862-1918), Egon Shiele (1890-1918), Oskar Kokoschka (1886-1980) e outros gênios, não fiz uma única foto do museu.

Palácio Belvedere em Viena
recheio do Palácio Belvedere é deslumbrante, mas a embalagem também faz um bem danado para os olhos, né?


Mas quem tem amigos tem tudo. meus amigos Kenneth Flemming e Alexandre Pinheiro fizeram uma visita ao Museu do Palácio Belvedere há pouco mais de um mês e, generosamente, me mandaram as fotos feotas por Alexandre. É graças a eles que que trago essa dica de programa imperdível em Viena.

Um detalhe importante é que em 2023 o Palácio Belvedere completa 300 anos de inaugurado (ainda como residência de verão do Príncipe Eugênio de Saboia) e está sediando uma exposição sobre as mudanças realizadas nesse complexo arquitetônico ao longo do tempo.

Bora ver essas dicas?

"Homens na Praia" de Edvard Munch, no Museu do Palácio Belvedere em Viena
Homens na Praia (1908), de Edvard Munch

"Retrato de Victor Ritter von Bauer" de Egon Schiele
"Casal Agachado ou A Família" de Egon Schiele
Egon Schiele é um show de bola: no alto, Retrato de Victor Ritter von Bauer (1918). Acima Casal Agachado, ou A Família (1918)


Museu do Palácio Belvedere


O que ver no Museu do Palácio Belvedere

"Sonhos" de Helene Funke no Museu do Palácio Belvedere em Viena
"Início de Primavera nos Bosques de Viena" de Tina Blau
Tem mulher no museu: no alto, o sensacional Sonhos (1913), de Helene Funke. Acima, Início de Primavera nos Bosques de Viena (1883), de Tina Blau

Apesar de seu nome oficial original — Österreichische Galerie Belvedere, ou Galeria Austríaca Belvedere — a coleção do Museu Belvedere vai muito além dos artistas austríacos, reunindo um acervo de arte europeia que vem desde a Idade Média.

O meu grande motivo para ir ao Museu do Palácio Belvedere foi me deslumbrar com a arte produzida em Viena no período que o Ocidente convencionou chamar de Belle Époque, compreendido entre as últimas décadas do Século 19 e o alvorecer do Século 20.

Emoção (1900), de Ferdinand Hodler

Emoção (1900), do suíço Ferdinand Hodler


Mas bem antes disso, Viena já era um dos centros do mundo das artes (no Ocidente, tá? Porque o mundo é maiorzinho). Uma cidade que atraía criadores de todas as partes da Europa.

É por isso que na “Coleção Austríaca” do Museu do Palácio Belvedere você vai encontrar não apenas a maior coleção de obras de Gustav Klimt reunida no planeta, mas também obras de artistas de outras procedências e estilos.

"A Anunciação" (1912) de Oskar Kokoschka
Acho A Anunciação, de Kokoschka, simplesmente arrebatadora

Autorretrato com Cigarro, de Anselm Feuerbach
Autorretrato com Cigarro (1871), do alemão Anselm Feuerbach

Natureza morta com utensílios de cozinha, cebola e couve-rábano de  Anna Maria Punz
A austríaca Anna Maria Punz (1721-1794) tem apenas três trabalhos conhecidos, todos no acervo do Belvedere. Esta Natureza Morta com Utensílios de Cozinha, Cebola e Couve-Rábano foi pintada em 1754. A biografia e outros trabalhos dessa pintora do barroca permanecem um mistério


Ao lado do Jugendstill de Klimt tem o Expressionismo dos também austríacos Oskar Kokoschka (A Anunciação dele é apaixonante) e Egon Schiele (que artista, queridxs leitorxs!) e do norueguês Edvard Munch, por exemplo. 

E tem barrocos, impressionistas (Manet, Monet e Renoir, por exemplo)... uma festa.

A Caçada (1876) de Claude Monet
A Caçada (1876) de Claude Monet
A Caçada (1876), de Claude Monet (no alto, um detalhe do quadro) 

O Cozinheiro (1882) de Claude Monet
Mais Monet: O Cozinheiro (1882)

A origem do Museu do Palácio Belvedere

O Belvedere funciona como espaço de exposições desde o final do Século 18. E ainda que o recheio (o acervo) seja de rasgar a roupa, é importante prestar atenção na embalagem, porque o conjunto é lindo: são dois palácios barrocos separados por um jardim muito bonito, além das antigas cavalariças e da estufa de plantas (a Orangerie).

Jardins do Palácio Belvedere em Viena
Os jardins barrocos são uma das grandes atrações do conjunto arquitetônico do Palácio Belvedere

Museu do Palácio Belvedere em Viena
Antes de virar museu, o Belvedere era o palácio de verão do príncipe Eugênio de Saboia

Tudo isso servia como residência de verão do príncipe Eugênio de Saboia, comandante militar do Império Austro-Húngaro desde 1683 até sua morte, 1736.

O príncipe esteve metido em todas as guerras e escaramuças dos imperadores Habsburgo num período de 60 anos. Fico curiosa por saber onde ele arrumou tempo pra curtir seu palácio e ainda se notabilizar como mecenas e colecionador de arte.

Museu do Palácio Belvedere em Viena
Museu do Palácio Belvedere em Viena
Museu do Palácio Belvedere em Viena

Mas o fato é que, ao morrer, Eugênio deixou os dois palácios Belvedere — o Oberes Belvedere (“Belvedere de Cima) e o Unteres Belvedere (“Belvedere de Baixo”) — recheados de obras de arte que acabaram sendo comprados pela Coroa Austro-Húngara. 

Acrescido da coleção da família reinante, os Habsburgo, o Palácio Belvedere foi aberto à visitação em 1781, um dos primeiros museus públicos do mundo.

Mais recentemente, o conjunto do Palácio Belvedere ganhou um irmão caçula, o Belvedere 21, pavilhão de Arte Contemporânea, com cinema e auditório para espetáculos musicais. Ele fica no Schweizergarten ("Jardim Suíço"), uma área verde a cerca de 800 metros do Oberes Belvedere.

Klimt, a maior estrela do Belvedere  


Mais de 100 anos depois de sua morte, Gustav Klimt permanece como o ídolo pop que foi em sua época — a virada do Século 19 para o 20 não tinha redes sociais, mas também produzia ídolos e deuses.

Ele é considerado o principal líder da chamada Secessão Vienense, movimento de ruptura com os padrões acadêmicos que reunia artistas identificados com os mais diversos estilos. Uma de suas obras mais importantes, aliás, é o Friso Beethoven, que adorna uma das salas do deslumbrante Edifício Secessão, sede do grupo.

(Recomendo muitíssimo que você visite o Edifício Secessão, que fica na Friedrichstraße nº 12, a menos de 500 metros da estação de metrô de Karlsplatz).

Retrato de Mulher (1894), de Gustav Klimt, no Museu do Palácio Belvedere de Viena
Retrato de Mulher (1894)

Retrato de Sonja Knips, de Gustav Klimt, no Museu do Palácio Belvedere de Viena
Retrato de Sonja Knips (1898)

"Retrato de Fritza Riedler" de Klimt no Museu do Palácio Belvedere de Viena
Retrato de Fritza Riedler (1906)

"A Noiva" de Gustav Klimt no Museu do Palácio Belvedere de Viena
A Noiva (1918) 


Classificado pelos estudiosos como um simbolista, Klimt é possivelmente o maior nome da Art Nouveau (que nas terras do Império Austro-Húngaro era chamada de Jugendstil), um movimento artístico que simplesmente me mata de paixão. Ele é mais famoso por seus retratos de mulheres.

Como você já leu aqui, o Museu do Palácio Belvedere tem 50 trabalhos de Klimt em seu acervo — entre eles O Beijo, a obra mais conhecida do pintor — e é um lugar perfeito para constatar como a obra do artista foi se afastando dos traços mais acadêmicos (como em Retrato de Mulher, de 1894), até explodir no escancarado Jugendstil de A Noiva, de 1918.

Nesse meio tempo, Klimt produziu algumas das obras mais icônicas da Belle Époque, como Judite (1901), um de seus retratos mais famosos, que também está no acervo do Museu do Palácio Belvedere.

Alameda no Castelo Kammer de Gustav Klimt
Casa de Fazenda em Bushberg de Klimt
Klimt também pintava (lindamente) paisagens. No alto, Alameda no Castelo Kammer (1912). Acima, Casa de Fazenda em Bushberg (1911) 

As mulheres de Klimt são chique, altivas e etéreas, meio irreais. É que ele não pintou o povo. Suas modelos eram, em geral, integrantes da alta sociedade, anfitriãs de salões badalados onde as vanguardas circulavam com a mesma desenvoltura que o dinheiro.

A mais famosa dessas modelos foi Adele Bloch-Bauer (1881-1925), que posou para pelo menos dois retratos feitos por Klimt. O mais famoso deles é conhecido como A Dama Dourada, concluído em 1907 e que hoje pertence ao acervo da Neue Galerie de Nova York. Adele também teria sido a modelo para o famoso Judite.


O escândalo da Dama Dourada e outras obras roubadas pelos nazistas


"Amalie Zuckerkandl" de Gustav Klimt
Amalie Zuckerkandl, modelo deste retrato inacabado de 1918, foi assassinada pelos nazistas em um campo de concentração


A Dama Dourada, ou Retrato de Adele Bloch-Bauer I é hoje tão famosa pela rara beleza da obra quanto pela longa batalha judicial em torno de sua posse.

Adele morreu em 1925, antes da ascensão do nazismo. Mas sua família — os Bloch-Bauer eram judeus — não escapou às perseguições, deportações e extermínio. As coleção de arte da família foi roubada pelos nazistas e, no pós-guerra, algumas dessas obras, a Dama Dourada, inclusive, foram incorporadas ao acervo do Museu do Palácio Belvedere.

Os austríacos se atinham ao fato de que Adele, em testamento, legou a obra ao Belvedere. Os herdeiros se baseavam no testamento do viúvo de Adele, que deixou o quadro para os sobrinhos. Depois de muita disputa em tribunais da Áustria e dos Estados Unidos, A Dama Dourada foi restituída em 2004 a Maria Altmann, sobrinha de Adele, que vendeu o quadro à Neue Galerie de Nova York.

Essa, porém, não foi a única obra de arte pilhada pelos nazistas a ser devolvida pelo Belvedere aos herdeiros dos donos originais. A primeira a retornar aos proprietários foi Quatro Árvores (1917), de Egon Schiele, em 1959. Em 2006, foi a vez de Noite de Verão na Praia (1903), de Edvard Munch, ser restituída aos herdeiros do compositor Gustav Mahler.

Também em 2006, cinco obras de Klimt pertencentes à coleção dos Bloch-Bauer retornaram à família. Por fim, em 2014, a obra Cozinha de Fazenda, de Wilhelm Leibl foi devolvida aos herdeiros dos donos originais.

Uma obra que teve a posse reclamada por herdeiros de vítimas do nazismo e que não foi devolvida pelo Belvedere é o Retrato de Amalie Zuckerkandl (1918), de Klimt. A reclamação foi contestada pelo Estado Austríaco, que afirma que o quadro não foi objeto de pilhagem. O fato é que Amalie, a modelo, e sua filha foram deportadas pelos nazistas para o campo de concentração de Belzec, na Polônia, onde foram assassinadas.

Museu Belvedere
🏠 O Oberes Belvedere fica na Prinz-Eugen-Straße nº 27. A Linha D do bonde tem uma parada bem na porta (Schloss Belvedere). As estações de metrô mais próximas são Taubstummengasse ou Südtiroler Platz, ambas na Linha 1 e a cerca de 1km do palácio.

A entrada do Unteres Belvedere é pela Rennweg nº 6

O Belvedere 21 está localizado a 800 metros do Palácio Belvedere, na Arsenalstraße nº 1, no Schweizergarten.

"Napoleão Cruzando os Alpes", de Jacques Louis David

Napoleão Cruzando os Alpes (1801), de Jacques Louis David


🕒 Horários: o Oberes Belvedere (“Belvedere de Cima”), onde está a coleção permanente do museu, abre diariamente, das 9h às 18.

O Unteres Belvedere (“Belvedere de Baixo”, antiga residência do Príncipe Eugênio, estufa de plantas e cavalariças, com acervo de diversas épocas e uma coleção medieval) funciona diariamente, das 10h às 18h.

O Belvedere 21 abre de terça a domingo (e às segundas, em caso de feriado) das 11h às 18. Às quintas, fecha às 21h.

Gustav Klimt, Adele Bloch-Bauer II
O Belvedere também recebe obras convidadas e exposições temporárias. Kenneth e Alexandre, por exemplo, tiveram um feliz encontro com esse Retrato de Adele Bloch-Bauer II, pintado por Klimt em 1912 e que pertence ao Metropolitan Museum de Nova York. Adele também posou para o retrato que entrou para a história com o título de A Dama Dourada, uma das obras mais famosas do artista

💲Ingressos: para ver o Oberes Belvedere, o preço da entrada é de € 16,70 para compras pela internet ou de € 19 na bilheteria do museu. Maiores de 65 anos e estudantes menores de 26 pagam € 13,40 (€ 15,50 na bilheteria) e menores de 19 anos entram gratuitamente.

No Unteres Belvedere, a entrada custa € 14,60 pela internet e € 17 na bilheteria. Maiores de 65 anos e estudantes menores de 26 pagam € 10,90 (€ 12,50 na bilheteria) e menores de 19 anos têm entrada gratuita.

O Belvedere 21 cobra € 9,30 pelo ingresso comprado antecipadamente, online, e € 11 na bilheteria. Maiores de 65 anos e estudantes menores de 26 pagam € 6,90 (ou  € 8 na bilheteria) e menores de 19 anos entram gratuitamente.

Museu do Palácio Belvedere em Viena

Se quiser visitar os três espaços, há um tíquete combinado, válido para um único dia, que custa € 26,10 (comprado na internet) ou € 30,50 (na bilheteria).

Para ver apenas o Unteres Belvedere e o Oberes Belvedere, o bilhete combinado sai por € 24,00 (internet) ou € 27,50 (na bilheteria).

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PS: Pra meu querido amigo Kenneth, o padrinho deste post, a visita ao Belvedere teve o sabor de uma jornada sentimental, já que sua mãe, Kersti Renate Flemming foi aluna da antiga Kunstgewerbeschule (Escola de Artes e Ofícios de Viena), onde Gustav Klimt também estudou, décadas antes. 

Além disso, Renate morou na Prinz-Eugen-Straße , onde está a entrada principal do museu. É fácil imaginar a estudante de artes percorrendo as salas do Belvedere, um vizinho tão atraente.

Desde 1970 a Kunstgewerbeschule tem status de universidade, sob o nome de Universität für angewandte Kunst Wien (Universidade de Artes Aplicadas de Viena).

Kenneth e Alexandre são super generosos com suas dicas de viagem. São eles os responsáveis por todas as detalhadíssimas informações sobre a vista aos gorilas, em Uganda e os safaris na Tanzânia, publicadas aqui no ano passado.

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