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Castelo de Schönbühel, na Wachau |
Música deste post: O Barquinho, Nara Leão
Cerca de 80 quilômetros a Oeste de Viena, o Rio Danúbio começa a fazer uma curva para o Norte e se estreita, para correr entre penhascos e colinas sobre os quais, ao longo dos séculos, foram sendo plantados castelos, mosteiros e vinhedos.
Esse vale é a região perfeita para um passeio de barco no Danúbio. Conhecido como Wachau, ele que se estende por 40 quilômetros e é uma das paisagens mais bonitas da Áustria. Em cada uma de suas extremidades, uma pérola: Melk, a sudoeste, e Krems, a nordeste.
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Zarpando de Melk: a primeira visão da Abadia |
Não é que eu fosse assim tão boa em geografia. Encasquetei com Dürnstein muito antes de saber onde ela ficava ou como se chamava. Para mim, ela era apenas o lugar da masmorra onde Ricardo Coração de Leão foi trancafiado, na volta da Terceira Cruzada.
Pois Dürnstein foi o ponto alto do meu passeio de barco no Danúbio, um programaço muito fácil de fazer para quem está em Viena. Veja as dicas:
A Abadia de Melk |
Eu saí de Viena de trem para Melk, com uma baldeação em Sankt Pölten, onde fiz conexão para a Wachau.
De Westbanhof (a principal estação ferroviária de Viena) partem trens em vários horários para Sankt Pölten, de onde saem conexões regionais para Melk, Krems e Dürnstein. Consulte horários e preços no site da ÖBB, a companhia de trens austríaca.
Os passeios de barco entre Melk e Krems, com paradas em Dürnstein, podem ser feitos diariamente, de abril a setembro.
A passagem do barco custa cerca de € 25,50 (só ida) ou € 29,50 (ida e volta).
Os horários podem ser consultados nos sites das companhias Brandner Schiffahrt e DDSG.
Dizem que Umberto Eco usou a Abadia de Melk como inspiração (locação e quase personagem) para criar a abadia de seu romance O Nome da Rosa |
Em uma viagem de trem entre Viena para Salzburgo, eu tinha ficado muda de encanto ao ver a famosa Abadia de Melk pairando sobre a paisagem, na beira de um penhasco.
Ao chegar a Melk, a Abadia me pareceu ainda mais linda, olhando pra mim lá do alto. A Abadia de Melk tem quase mil anos de idade, embora sua aparência atual, barroca, tenha sido dada por reformas do Século 17.
A abadia de Göttweig (à esquerda) e as cidades desfilando pelas margens do Danúbio |
Os barcos têm uma ampla área aberta pra a gente sentar e se deleitar com a paisagem do Danúbio |
Meu barco zarpou de Melk pontualmente ao meio-dia. Logo depois da partida, sobre uma rocha 40 metros acima do leito do Rio Danúbio, está o Schloß (castelo) Schönbühel, outra das visões espetaculares desse passeio de barco. O castelo foi construído no Século 12.
A paisagem da Wachau é simplesmente um escândalo. Enquanto o barco desliza pelo rio, a gente vai avistando as montanhas, ruínas de castelos, vilarejos, aldeias, as cúpulas em formato de cebola nas torres as igrejinhas... E muitos vinhedos, cuja visão começou a me inspirar planos diabólicos para a hora do jantar 😊.
Os vilarejos seguintes na rota do barco são Aggstein, Spitz e Weißenkirche.
Depois deles, começamos a entrar nos domínios da terrível família Kürnriger, que, segundo dizem, foram uns tremendos tranca-rua, na Idade Média.
Esse clã tinha por hábito aprisionar os viajantes em suas fortalezas e, no caso de recusa do pagamento do resgate, atirava os reféns dos penhascos, sem dó.
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O Castelo Kuenringer dá calafrios até hoje |
A fortaleza, conhecida como Castelo de Dürnstein, pertencia ao Duque Leopold V von Babenberg, com quem Ricardo aprontou uma gracinha na Terra Santa.
Leopold vingou-se capturando o rei inglês que voltava da Cruzada e recebendo uma fortuna como resgate.
O Castelo de Dürnstein, lá no alto, foi o local de cativeiro do rei inglês Ricardo Coração de Leão |
O Castelo de Dürnstein, foi a primeira visão que tive da cidade, ainda encoberta pela curva fechada do Danúbio.
Talvez em homenagem à beleza da cidade, o tempo feio — tinha chegado a chuviscar — dissipou-se inteiramente quando o barco contornou um cotovelo do Rio Danúbio e deu de cara com Dürnstein.
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A chegada a Dürnstein, com destaque para a abadia barroca |
Dürnstein é exatamente o que a gente imagina que seja um vilarejo medieval. Construída no alto da escarpa, a cidade é alcançada, desde o atracadouro, por um túnel escavado na rocha, iluminado por lampiões. É como um filme da Sessão da Tarde.
Lá em cima, meia dúzia de ruas estreitas, uma bela abadia, a Rathaus (prefeitura) de conto de fadas e a igreja barroca debruçada sobre o rio.
O túnel de acesso a Dürnstein. Na imagem da esquerda, a fumaça do meu cigarro deu um tom ainda mais lúgubre à passagem 😉 |
O grande homenageado da cidade é Jean Blondel, o amigo do rei que teria percorrido longas distâncias, cantando sob todas as torres de castelos que encontrou pelo caminho, até localizar o Coração de Leão prisioneiro em Dürnstein.
Blondel dá nome a restaurantes, antiquários, pousadas e o que mais você imaginar em Dürnstein...
Uma loja de lembrancinhas e uma pousada que homenageiam o bardo Blondel |
Sem opção de acomodação, tive que me conformar em seguir, três horas depois de chegada, de volta para Melk.
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A "muvuca" na principal (e única) rua de Dürnstein |
Deu tempo de ver a Abadia, a prefeitura e a igreja barroca, cuja torre é um dos cartões postais mais famosos da região. Mas bom mesmo foi almoçar olhando a curva do Danúbio, num sossego indescritível.
O acesso à abadia. À direita, o teto decorado dessa passagem |
A igreja da Abadia de Dürnstein |
Impressionante é a quantidade de ciclistas de passagem por Dürnstein. As duas margens do Danúbio, no trecho da Wachau, são ciclovias muito concorridas, nos fins de semana.
Essa é outra forma bastante popular de ver as belezas da Wachau. Dá para pedalar às margens do Danúbio cumprindo todo o percurso feito pelo barco, entre Melk e Krems.
A distância entre as duas cidades é de cerca de 35 km. Planejando direitinho, dá para ir de bike e voltar de trem.
Muitas pousadas de Melk emprestam ou alugam bicicletas aos hóspedes.
Dürnstein não tem como ser mais fofa |
A torre e o portão da Rathaus (prefeitura) de Dürnstein |
⭐Gasthof Goldener Stern
Sterngasse 17
Pertinho do ancoradouro e da Abadia de Melk, esta pousada é herdeira de uma estalagem do Século 15 e tem um restaurante muito bem reputado — onde comi um pato inesquecível, acompanhado do vinho da região.
Pesquisando para atualizar este post, vi que a Gasthof Goldener Stern passou por reformas e suas acomodações agora estão mais chiques.
Em 2005, eu me senti a própria Cachinhos Dourados invadindo os aposentos dos ursinhos, quando entrei no meu quarto na pousada: a janela, emoldurada por uma cortina delicada, debruçava para os telhados antigos e os móveis rústicos eram fofos.
Na época, paguei € 35 pela diária no apartamento single, com banheiro privativo.
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A simpática Melk. À direita, detalhe da fachada de uma igreja da cidade |
Em abril de 2006, eu retomei a trilha de Ricardo Coração de Leão, numa breve visita à Normandia. Um pouquinho dessa história também está contada aqui na Fragata.
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O Danúbio em Dürnstein |
A Áustria na Fragata Surprise
Comer em Viena, Áustria: um espetáculo chamado wiener schnitzel
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