Os leões são as grandes estrelas da savana africana. Um safari na Tanzânia deixa você cara a cara com eles |
Como vocês já sabem pelo post anterior, meus amigos Kenneth Flemming e Alexandre Pinheiro tiveram a generosidade de compartilhar conosco sua maravilhosa viagem à África.
Além de Ruanda e Uganda, países por onde passaram para
realizar uma expedição a uma reserva de gorilas, eles fizeram um roteiro muito
bacana pela Tanzânia, com safaris nos parques nacionais de Manyara, Serengeti e Tarangire a Cratera
Ngorongoro — abundantes de vida selvagem e moradas dos chamados big five
(leões, leopardos, elefantes, rinocerontes e búfalos).
Em 5 dias (quatro noites), Kenneth e Alexandre se esbaldaram nessas famosíssimas áreas de preservação da fauna das savanas africanas e contam pra nós tudinho que viram por lá, com muitos detalhes úteis para quem estiver programando um safari na Tanzânia.
O relato dos meus amigos é tão bem feito e detalhado que o
dividimos em duas postagens. Aqui, você vai ter uma ótima ideia de como é um
safari na Tanzânia, o que você vai ver e curtir por lá. No próximo post, eles
nos dão as dicas práticas desta viagem, com todas as minúcias pra a gente se
planejar sem medo de errar.
Hipopótamos no Parque Nacional do Serengeti |
Bora para a Tanzânia com Kenneth e Alexandre?
Safari na Tanzânia: Manyara, Serengeti e a Cratera Ngorongoro
Texto: Kenneth FlemmingFotos: Alexandre Pinheiro
Zebras, impalas e búfalos pastam tranquilos na Cratera Ngorongoro. A vasta depressão (8,292 km2) é considerada uma "arca de Noé" pela quantidade de vida selvagem que abriga |
Elefantes no Serengeti |
E a dona girafa? E o Sr. Hipopótamo?
Os búfalos africanos são muito agressivos — bem diferentes de seus primos da Ilha do Marajó |
Essas cinco espécies eram as que acarretavam mais riscos e dificuldades aos caçadores daquela época. Eis porque animais do porte da girafa e do hipopótamo não entram na lista dos cinco grandes.
Mas tem muito mais para ver nos famosos parques da Tanzânia.
Os leões são entre 3 e 4 mil, as cheetas (guepardos), entre 500 e 600, leopardos são 1 mil e os rinocerontes negros são cerca de 6 mil. As gazelas/impalas são cerca de 2 milhões.
Cada elefante chega a comer 300 kg de vegetais por dia |
Asseguro que, com toda essa quantidade de animais, você certamente os verá com certa facilidade indo ao Serengeti e mais alguns parques próximos
E, claro, guarde memória na câmera fotográfica para algumas surpresas, como o pequeno e atrevido jaboti que flagramos a andar, faceiro, no meio da savana.
Como definimos nosso roteiro na África: Masai Mara ou Serengeti?
Esta foi a primeira dúvida a ser esclarecida, antes de iniciarmos o planejamento da nossa viagem.
Começamos a pesquisa fazendo contato (por e-mail), com agências de viagens especializadas em África e safaris. Pedimos recomendações sobre Serengeti e Masai Mara (e sugestão de qual escolher), indagando sobre preços, parques a serem visitados e estrutura de cada área, por exemplo.
Alexandre (esq) e Kenneth dedicaram dois dias do roteiro ao Parque Nacional do Serengeti |
Felizmente, os animais criaram, para eles, um Espaço Schengen entre os dois países, o que nos facilita muito a vida, apesar de não haver livre passagem entre os dois países para os humanos. Passaporte em mãos, se for o caso.
A Reserva Masai Mara tem 1.510 km quadrados e está a cerca de 300 km da capital do Quênia, Nairobi.
A cidade de Arusha, na Tanzânia, tem o aeroporto mais próximo às reservas do Serengeti |
Já o Parque Nacional do Serengeti, com 14.750 km², fica a cerca de 900 km do principal aeroporto da Tanzânia, em Dar es Salaam — mas calma, que o Aeroporto de Arusha está a 235 km do parque e tem até voo para as imediações da reserva.
A decisão entre visitar Masai Mara ou Serengeti acabou sendo tomada com base no que (no papel), parecia ser mais prático, do ponto de vista logístico, considerando que também iríamos para Ruanda, a caminho das reservas de gorilas de Uganda.
Na chegada a Arusha, ver o Monte Kilimanjaro no horizonte é
um grande bônus dessa viagem |
Optamos pelo Serengeti (o que acabou sendo um pouco mais complicado do que parecia, em tese). Nossa porta de entrada foi Arusha, aos pés do Monte Kilimanjaro, onde um ótimo aeroporto internacional recebe voos para vários pontos da Europa.
O aeroporto de Kigali, em Ruanda, foi o ponto de partida para o safari na Tanzânia |
Após instalados no hotel, o proprietário da agência veio ter conosco para dar detalhes de como seria o safári.
O Lake Manyara Wildlife Lodge fica dentro do parque e tem excelentes acomodações |
No dia seguinte, cedo, seguimos em direção ao Parque Nacional do Serengeti, onde ficamos outras noites noites em um acampamento, o Serengeti Heritage Luxury Tented Lodge, cujo luxo do nome deve ter sido comido por algum elefante ou girafa em algum dia de fome aguda.
Mas, ainda que sem luxo, era um acampamento confortável e nos mergulhou naquele clima de safári, de aventura, inclusive com algumas hienas nos visitando na madrugada. Não conseguimos rir com elas e nem delas. Ficamos quietinhos na tenda.
Acomodações do hotel Farm of Dream Lodge, próximo à Cratera de Ngorongoro |
Passamos o dia na cratera e pernoitamos em um ótimo hotel, o Farm of Dream Lodge, na cidade de Karatu.
Na manhã seguinte, último dia da viagem, nos deslocamos para o Parque Nacional de Tarangire, abrigo de muitos elefantes, girafas e baobás enormes, alguns com mais de mil anos. Não há leões e guepardos por ali.
Depois da visita, na parte da tarde, retornamos à Arusha, cidade-base dos safaris e aos pés do Kilimanjaro, onde chegamos ao anoitecer.
Como é a tenda de acampamento dos safaris
No acampamento que ficamos, dentro do Serengeti, havia em torno de 20 tendas, dispostas em fileiras, com o restaurante e um hall de convivência na parte do meio.
No Serengeti, a hospedagem foi em um acampamento, com direito a hienas na vizinhança |
Na tenda havia um quarto com duas camas, com mosquiteiros (não havia mosquitos na ocasião), tudo em lona, com zíperes nas portas e janelas.
Já o banheiro era de madeira, com cobertura de teto em lona dupla, para ajudar na ventilação. A água quente para o banho era um pouco escassa, já que o aquecedor era solar, e não há abundância de água por ali. Mas deu para tomar banho tranquilo. Chinelos e roupões eram os agrados.
Na parte de fora das barracas há uma gostosa varanda com cadeiras, que permitem avistar o belo pôr do sol do Serengeti.
À noite, para ir da barraca ao restaurante, é necessário chamar um “vigia” pelo rádio disponível na tenda, por questões de segurança. O alojamento fica no meio da savana e por ali circulam todos os animais que vemos durante o dia.
Radinho de cabeceira: antes de sair das tendas para circular pelo acampamento, é obrigatório chamar a segurança |
Durante a noite ouvimos barulhos de hienas, que rondavam o acampamento.
O café da manhã e o jantar ofereciam boa variedades, tanto de comidas locais como daquelas “continentais ou internacionais”, como dizem. Cervejas? Tem, mas confira sempre a temperatura antes, pois não costumam servi-las muito geladas. A Internet é muito precária e só funciona no restaurante. Mas não fez falta alguma, já que as emoções e conversas suplantavam – e muito – o que a internet poderia oferecer naquele momento.
À frente do restaurante, no período do jantar, havia uma apresentação musical de nativos, basicamente com cantos e percussão. E uma agradável fogueira.
Para uma ideia do acampamento, você pode acessar o site deles.
Nossa viagem foi no mês de julho. Uma das joias de um safari na Tanzânia nesse período é a Grande Migração dos animais.
Mas para ver a migração em massa dos gnus e zebras, seria preciso um deslocamento para o Norte, uma viagem de cerca de 9 horas. Quer dizer, teria exigido uma logística bem diferente da que organizamos.
Além das 9 horas de viagem, ver a migração dos bichos exige paciência para “ficar no aguardo por horas”, como nos explicaram — ou tentar achar onde os rebanhos estão a atravessar os rios.
Encontrei um site que tem boas informações sobre o assunto, que divulgo aqui para ajudar aqueles que têm as Grandes Migrações no Serengeti como objetivo principal.
A bordo dos veículos 4x4, os visitantes chegam pertinho dos animais |
A quase totalidade dos veículos utilizados nos safáris na Tanzânia são Jeep da marca Toyota, modelo Land Cruiser. Eles são adquiridos pelas agências na forma original da fábrica e depois alterados, ganhando o teto que levanta, mais lugares, com a extensão da cabine, e outras adaptações.
O preço final, depois das alterações, gira em torno de U$ 85 mil para as agências. Achei os Jeep muito confortáveis. Têm ar condicionado, uma geladeira de bom tamanho, rádio comunicador, dois pneus socorro e lugar para sete passageiros e o motorista.
Como éramos só dois passageiros, ficou uma tranquilidade só. Uma boa parte dos demais carros ia com seis a sete passageiros, mais bagagens. Acredito que o desconforto ali era grande. Portanto, considere isso, se for possível. Dar-te-á muito mais conforto. E creio que o que pagamos foi quase que o mesmo que se tivéssemos ido em um tour de grupo.
Oh, humano, por que perturbais o meu soninho? |
Como são os passeios aos parques na Tanzânia
De maneira geral, todos os passeios são diurnos. Vi algumas agencias ofertando passeios noturnos, mas não experimentamos.
Os hotéis e acampamentos estão incluídos nos pacotes, inclusive as refeições. Toma-se o café da manhã bem cedo e parte-se para os game drives, como são chamadas as tentativas de avistamento de animais.
Não se pode descer dos carros, salvo para aquele xixizinho rápido e a 2 metros do carro no máximo e com a porta aberta (do carro). Cocôzinho? Complica um pouco mais, e nada de ficar contemplando a paisagem ou pensando na vida. Lembre-se que a rapidez pode salvar a tua vida.
À hora do almoço, os jipes se encaminham para algumas das poucas ou únicas áreas definidas para almoço ou lanche. São tendas armadas na savana, com mesas e bancos e banheiros limpos disponíveis. Em alguns desses pontos há um pequeno trailer de venda de bebidas e alguns petiscos.
(Fazendo um parêntese, fiquei surpreso com o grau de limpeza dos banheiros públicos em Ruanda, Uganda e Tanzânia).
Cada guia leva a comida de seus clientes. A maioria leva lanches, acondicionados em caixinhas de papelão. Já a nossa refeição era comida preparada, como salada, arroz, frango ou alguma outra coisa. Havia sucos, cervejas e água. O guia trazia a comida numa caixa térmica, com pratos, talheres, copos, café e sobremesa.
Após a refeição, novamente se sai à procura dos animais, e a volta ao alojamento é em torno das 17 horas.
Um bom banho e jantar incluído, com uma boa cama a seguir. Internet foi muito precária nos 3 hotéis/alojamentos que ficamos, e em geral disponível somente no hall do hotel ou no restaurante. A mim não fez falta, confesso. Ir a um safári e ficar lendo o que se passa mundo afora? Não. Melhor é desligar e curtir os animais e paisagens da África.
No Serengeti há algumas empresas que fazem passeios de balão, a um valor que gira em torno de U$ 600 por pessoa, em passeios de 1 a 2 horas. Vi alguns passando sobre nós, e imagino que deve ser muito interessante.
O guepardo e sua presa: lei da natureza |
A caçada: eu vi
Acho que o desejo da maioria das pessoas que faz um safári é ver uma caçada, seja de um leão pegando uma zebra, de um guepardo (cheeta) pegando uma gazela ou outros animais quaisquer.
No meu ponto de vista, não há que se ter “pena” dos animais. Não, não sou insensível, mas são as leis da natureza, a cadeia alimentar. Se os leões não caçassem, morreriam de fome, e não estariam ali. Não caçassem as cheetas, morreriam de fome e não estariam ali.
A natureza se encarrega de equilibrar o convívio entre as espécies. Somente o homem, sempre predador, consegue interferir negativamente no natural desenrolar da vida selvagem. Ver um canalha de um caçador matando um elefante ou um leão, isso sim me revolta. Entre os animais, faz parte da sobrevivência, da cadeia alimentar.
E foi num dos game drive que, primeiramente, avistamos uma cheeta. Sozinha, sobre uma pedra, dando um look na paisagem. Pelo jeito, não se interessou por nós, pois nem bola nos deu. Aguardamos próximos a ela por uns cinco minutos, sem nenhuma movimentação. Então partimos e paramos uns 500 metros adiante, onde havia uma gazela novinha e sozinha. Dava para avistar a cheeta com o binóculo.
E então a cheeta captou em seu radar a presença da gazela. Ainda comentamos: “sai rápido daí, gazelinha, senão você vira comida”. E não deu outra. O guepardo veio se aproximando, devagar, rastejando, até que, a uns 300 metros da gazela, começou a correr para pegá-la.
Os guepardos/cheetas são os animais mais rápidos do mundo. Conseguem chegar aos 120 km/h e vão de 0 a 100km em apenas 3 ou 4 segundos. Dão piques de 300 a 500 metros, mas com isso esgotam sua capacidade física por, no mínimo, 1 hora. Ou seja, dão um pique e depois ficam prostradas.
E lá vem a hiena tentar roubar a caça do guepardo |
A nossa cheeta em questão, célere, conseguiu pegar a pequena gazela, matando-a instantaneamente, ao abocanhá-la no pescoço, quebrando-o. E então deitou-se ao lado da caça e iniciou o seu descanso.
E quem apareceu quase que na mesma hora? Claro, uma risonha hiena, doidinha para surrupiar a gazela já caçada. Segundo o guia, isso é bastante frequente. Como o guepardo está muito cansado após o ataque, e como, em geral, as hienas vêm em grupo e são muito agressivas. O felino não confronta, as hienas, abandonando a caça e partindo.
Tive a felicidade de poder acompanhar toda a caçada do guepardo pelo possante binóculo que tínhamos (acho que em cada carro de safári tem ao menos um, mas é bom checar, pois acho fundamental ter um disponível).
No decorrer dos game drive, vimos diversos guepardos, leões e também leopardos no alto das árvores, descansando, e também lá , penduradas, animais mortos que foram caçados e aguardavam a hora de serem devorados. Lá as hienas não conseguem subir.
Essa visita não estava dentro do nosso pacote, mas como tínhamos algumas liberdades, já que éramos só nós no carro, conversamos com o guia e ele nos levou a um dos diversos acampamentos da etnia Masai que existem à beira das estradas daquela região, próxima à Cratera Ngorongoro.
Paga-se U$ 50 por veículo para acessar os acampamentos Massai, independentemente do número de passageiros/visitantes.
Apesar de ser aquela coisa “meio turistão” (mas não é um engana-turista), acho que valeu muito visitar a comunidade masai pelo conhecimento que adquirimos. Eles praticam números de danças diversas, mostram como acendem fogo e nos levam para visitar suas cabanas, que são dispostas em um grande círculo. No centro das cabanas, lógico, as diversas mesinhas com artesanatos, todos muito bonitos.
A visita demora em torno de 1 hora. Para nós, valeu. E fica no caminho entre os parques, o que poupa tempo e facilita bastante.
E sabe por que vemos muitos dos africanos daquela região a usar roupas de cor vermelha? É porque a cor vermelha espanta os felinos, que têm medo dela. Assim, ao menos durante o dia, eles não se aproximam dos humanos. Já à noite, como eles não distinguem as cores, acho que é melhor ficar bem recolhidinho.
👏👏👏👏👏👏
ResponderExcluirAmei!
ResponderExcluirFantástico. Belo roteiro. Parabéns
ResponderExcluirFantástico. Belo roteiro. Parabéns
ResponderExcluir