Museu Casa de Antonio Nariño, pra aprender um pouco da história da Colômbia, conhecer um lutador pela independência e imaginar a vida cotidiana em um belo casarão colonial |
Vocês já sabem que eu gosto de casas-museus, né? Acho muito legal conhecer espaços que preservam aspectos da vida cotidiana de personagens interessantes e, ao mesmo tempo, acabam documentando o jeito de viver de uma certa época ou cultura.
Os museus de Villa de Leyva foram uma festa pra mim, pois a cidade tem três casas-museus muito legais.
Duas dessas casas transformadas em museus pertenceram a heróis da independência da Colômbia — o ex-presidente Antonio Nariño e o comandante militar Antonio Ricaurte.
A terceira casa é do interessante artista plástico Luis Alberto Acuña, que doou o imóvel à cidade junto com um acervo de obras sua e outras peças de interesse artístico e histórico.
Museu de Luís Alberto Acuña: o legado do artista a Villa de Leyva |
Restauradas e mobiliadas, as casas permitem imaginar como a vida cotidiana transcorria em seus pátios, o centro da convivência nos lares coloniais, imaginar o almoço no fogão a lenha ou as conversas ao pé do fogo.
Veja como foram as minhas visitas ao Museu Casa Antonio Nariño, Museu Casa Antonio Ricaurte e à Casa Museu Luís Alberto Acuña, em Villa de Leyva, três encontros com a História da Colômbia:
⭐Casa Museu Antonio Nariño
Carrera 9ª nº 10-25.
Visitas diárias (exceto às quartas-feiras) das 9h às 12h e das 14h às 17h. Entrada gratuita.
Quando a cultura do trigo entrou em declínio na província de Boyacá, no finalzinho do Século 17, a Villa de Leyva mergulhou numa daquelas clássicas modorras econômicas. O adeus ao progresso não serviu apenas para preservar as feições coloniais da cidade para nós, visitantes do Século 21. O sossego do pueblo o tornava atraente como local de retiro e descanso.
A declaração de independência, em 1810, arrefeceu a sucessão de prisões e perseguições a Antonio Nariño, mas nem isso lhe trouxe sossego.
O que se seguiu à separação da Espanha, o período que os colombianos chamam de “Pátria Boba”, foram seis anos de fragmentação do país, enquanto os espanhóis tentavam retomar o controle do território. E lá se foi Nariño combater — para acabar de novo na prisão.
Com uma vida dessas – e passagens pela chefia de governo da província de Cundinamarca, Vice-Presidência e Presidência da República — não é à toa que ele quisesse um pouco de sossego e clima seco para tratar da saúde.
Isso Nariño encontrou em Villa de Leyva, entre as paredes espessas do casarão colonial debruçado para o que hoje é a rua principal da cidade. Foram poucos meses de retiro, porém: ele morreu em Leyva, no final de 1823.
O casarão que serviu de retiro a Nariño é muito bonito, dono de um pátio colonial para o qual estavam voltados os principais aposentos do edifício e os balcões internos no primeiro andar.
Num plano menos “social” e mais doméstico está uma espécie de varanda, nos fundos da casa, onde funcionava a cozinha, voltada para um jardim onde também eram cultivadas hortaliças e criados animais.
Além de peças de mobiliário, documentos e utensílios domésticos do início do Século 19, o Museu Casa Antonio Nariño exibe em totens os 17 artigos da Declaração dos Direitos do Homem, a grande inspiração da luta de seu famoso morador.
3 museus de Villa de Leyva, Colômbia
Museu Casa de Antonio Nariño, na rua principal da Villa de Leyva |
Carrera 9ª nº 10-25.
Visitas diárias (exceto às quartas-feiras) das 9h às 12h e das 14h às 17h. Entrada gratuita.
Quando a cultura do trigo entrou em declínio na província de Boyacá, no finalzinho do Século 17, a Villa de Leyva mergulhou numa daquelas clássicas modorras econômicas. O adeus ao progresso não serviu apenas para preservar as feições coloniais da cidade para nós, visitantes do Século 21. O sossego do pueblo o tornava atraente como local de retiro e descanso.
Foi assim que a vila entrou na vida conturbada de Antonio Nariño, um dos próceres da independência, jornalista, comandante militar e terceiro presidente da República da Colômbia.
Visitar o casarão onde Antonio Nariño passou os últimos meses de vida é uma ótima chance de saber mais sobre o processo de independência da Colômbia e sobre esse personagem que conheceu tudo, menos a monotonia.
Nariño, filho da aristocracia da Nova Granada (o nome colonial da Colômbia), já era muito bem sucedido no comércio de café e chá aos 20 anos de idade.
Mas o coração dele estava longe dos altos círculos de Santa Fé (antigo nome de Bogotá), encantado com as ideias igualitárias e liberais que sopravam de Paris, desde a Revolução de 1780.
Totens expostos no museu lembramos 17 artigos da Declaração Universal dos Direitos do Homem, herança da Revolução Francesa que impulsionava a luta de Nariño |
Nariño, filho da aristocracia da Nova Granada (o nome colonial da Colômbia), já era muito bem sucedido no comércio de café e chá aos 20 anos de idade.
O balcão interno do primeiro andar e uma janela voltada para a rua. O beiral em "escadinha" permitia sentar e apreciar o movimento |
Em 1793, Nariño investiu parte de sua fortuna na impressão clandestina da Declaração dos Direitos do Homem, texto proibido pela Inquisição nas colônias espanholas. A ousadia lhe custou sua primeira de muitas prisões — de seus 58 anos de vida, 21 foram passados no cárcere.
O alpendre voltado para o quintal abrigava o fogão a lenha |
O que se seguiu à separação da Espanha, o período que os colombianos chamam de “Pátria Boba”, foram seis anos de fragmentação do país, enquanto os espanhóis tentavam retomar o controle do território. E lá se foi Nariño combater — para acabar de novo na prisão.
O acervo tem móveis e utensílios do Século 19 |
Isso Nariño encontrou em Villa de Leyva, entre as paredes espessas do casarão colonial debruçado para o que hoje é a rua principal da cidade. Foram poucos meses de retiro, porém: ele morreu em Leyva, no final de 1823.
O uniforme militar usado por Nariño, documentos e cenas de batalhas em um dos salões do casarão |
Num plano menos “social” e mais doméstico está uma espécie de varanda, nos fundos da casa, onde funcionava a cozinha, voltada para um jardim onde também eram cultivadas hortaliças e criados animais.
A sala de visitas da Casa de Antonio Nariño, no primeiro andar. Abaixo, a fachada principal do casarão |
Casas-museus: a vida cotidiana de gente muito especial
⭐Museu Luís Alberto Acuña
Carrera 10ª, nº 12-83, Plaza Mayor.
Visitas: diariamente, das 10h às 13h e das 14h às 18h. Ingresso: 6.000 COP (R$ 7)
⭐Museu Luís Alberto Acuña
Carrera 10ª, nº 12-83, Plaza Mayor.
Visitas: diariamente, das 10h às 13h e das 14h às 18h. Ingresso: 6.000 COP (R$ 7)
Gostei especialmente desta escultura de Acuña, exposta no pátio do museu dedicado ao artista |
O pintor e escultor Luís Alberto Acuña também buscou Villa de Leyva como local de retiro e inspiração, instalando-se em um casarão da época da colônia.
Crítico, professor e historiador da arte, Acuña estudou na Europa e não era estranho ao academicismo, mas foi um entusiasta da estética e da cosmogonia dos povos originais da Colômbia, transitando entre esses dois mundos com desenvoltura.
Peças coloniais da coleção de Acuña, que também trabalhava como restaurador |
O artista é mais conhecido como um dos líderes do Movimento Bachué, que guarda semelhanças como a Antropofagia dos modernistas brasileiros, na medida em que buscava uma ruptura com as influências acadêmicas e europeias para encontrar no imaginário indígena e dos camponeses uma nova linguagem.
Bachué é a deusa-mãe do povo Muisca e uma escultura dessa divindade, realizada pelo artista Rómulo Rozo, é considerada a obra fundadora do movimento artístico.
No casarão de Villa de Leyva, Acuña dedicou-se à sua arte e a reunir peças sacras (que ele gostava de restaurar) e obras de artistas populares que hoje compõem o acervo do museu de fachada imponente, um dos edifícios que mais se destacam na Plaza Mayor da cidade.
O casarão e todo seu acervo foram doados a Villa de Leyva pelo artista, que fez questão de vê-lo transformado em museu em 1976. A parte mais bonita do museu é o pátio, onde estão três murais executados por Acuña.
O pátio colonial do casarão de Acuña, decorado com obras do artista representando Villa de Leyva na época colonial e motivos indígenas |
No casarão de Villa de Leyva, Acuña dedicou-se à sua arte e a reunir peças sacras (que ele gostava de restaurar) e obras de artistas populares que hoje compõem o acervo do museu de fachada imponente, um dos edifícios que mais se destacam na Plaza Mayor da cidade.
O casarão e todo seu acervo foram doados a Villa de Leyva pelo artista, que fez questão de vê-lo transformado em museu em 1976. A parte mais bonita do museu é o pátio, onde estão três murais executados por Acuña.
Os grandes destaques entre as obras que decoram o pátio são a escultura Os Meninos Cantores (à esquerda) e o mural dos deuses da civilização Chibcha |
Um desses painéis representa a paisagem pré-histórica da região de Villa de Leyva, outro retrata a cidade europeizada do período colonial. O terceiro e mais impressionante é uma recriação dos deuses da mitologia da Civilização Cibcha, grande tronco do qual descende o povo Muisca, antigo senhor da região.
Em Bogotá, é possível ver obras de Acuña na Coleção de Arte do Banco da República, exposta no casarão da Casa da Moeda, onde também funciona o Museu Botero. Trabalhos de Acuña também integram a coleção do MoMa - Museu de Arte Moderna de Nova York
⭐ Casa Museu Antonio Ricaurte
⭐ Casa Museu Antonio Ricaurte
Calle 15, nº 8-17, Parque Ricaurte. De terça a domingo, das 9h às 12 e das 14h às 17h. Entrada gratuita
Pátio de entrada da casa de Antonio Ricaurte, do começo do Século 18 |
Filho de uma família aristocrática, neto de marquês, Ricaurte teve contato com as ideias liberais da Revolução Francesa ainda estudante, em Bogotá, e logo passou a militar em círculos patrióticos.
Ele participou ativamente do movimento independentista deflagrado em 1810 e engajou-se no movimento armado que iria se tornar o exército que combateu as tropas espanholas.
Os jardins da casa de Antonio Ricaurte |
Em 1814, à frente de 50 soldados, enfrentou um grande contingente espanhol que tentava tomar a fazenda San Mateo, de propriedade do Libertador. Cercado e sem chance de fuga, Antonio Ricaurte incendiou o paiol de pólvora da da Fazenda San Mateo, morrendo na explosão. Tinha 27 anos.
O episódio é homenageado com um verso do Hino Nacional da Colômbia: “Ricaurte en San Mateo en átomos volando deber antes que vida con llamas escribió”.
A cozinha do Século 18. No centro, o fogão a lenha, montado em uma bancada. A abertura no teto (abaixo, à direita) funcionava como chaminé |
A casa de Antonio Ricaurte sofreu muitas alterações ao longo do tempo, até ser abandonada e virar uma ruína. Na década de 60, foi adotada pela Aeronáutica Colombiana (Ricaurte é patrono dessa Arma), que providenciou seu restauro e administra o museu.
O edifício recuperou as suas feições setecentistas – o que a faz parecer mais simples que as outras duas casas-museu deste post, que contam com acréscimos e sofisticações do Século 19.
Reconstrução do madeirame original do salão. À direita, o quarto de Ricaurte. Abaixo, a fachada da casa colonial |
Um mergulho na história colonial e na vida cotidiana do Vice-Reino de Nova Granada.
Estátua de Ricaurte em frente ao museu |
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