Hotel Casa Granda, ponto de encontro dos gringos (todos nós) em Santiago de Cuba |
Ele estava rodando um filme chamado Bras-Cuba, em parceria com o cineasta baiano Orlando Senna — Alvarez registrou Salvador, Senna registrou Santiago de Cuba.
Vinha dessa época meu desejo de conhecer a cidade. Alvarez e sua mulher, Lazara, pareciam deslumbrados com as imensas semelhanças entre a cidade deles e a minha — a única coisa destoante, diziam, era eu, que parecia mais austríaca do que outra coisa (embora eu continue discordando).
Parque Céspedes, no centro de Santiago |
A explicação, segundo eles, é que os navios negreiros procuravam separar as famílias, de modo a alquebrar ainda mais o moral dos cativos.
Com isso, muitos irmãos, filhos e pais de prisioneiros escravizados em Santiago de Cuba teriam vindo penar nas lavouras do Recôncavo Baiano.
Nunca apurei essa história, mas não tenho razões para duvidar das fontes.
Pois bastou pôr o pé em Santiago para entender que eu não estava vendo uma cidade, mas um espelho da minha terra natal.
Andando pela rua, mais de uma vez achei que ia dobrar a esquina e encontrar o Elevador Lacerda. A semelhança do povo é tão forte que por várias vezes eu esquecia que estava a quase seis mil quilômetros (em linha reta) de casa.
O que fazer em Santiago de Cuba
Desbotadas pelo tempo, as fotos escaneadas dão apenas uma
pálida ideia da beleza da Baía de Santiago vista do alto da Fortaleza de San
Pedro de la Roca |
Seis anos antes do triunfo da Revolução Cubana, 166 jovens tentaram uma manobra ousada contra a ditadura de Fulgencio Batista.
Às 5:30h do dia 26 de julhos de 1956 — uma manhã de Carnaval — eles invadiram dois importantes quartéis de Santiago de Cuba, Moncada e Céspedes. O objetivo, além de capturar as armas dos arsenais, era estimular a população a se levantar contra o regime.
Fidel Castro, então prestes a completar 30 anos, liderou a tentativa de invasão de Moncada, que tinha a cobertura de dois outros grupos armados, liderados por Raul Castro e por Abel Santamaria.
O ataque foi detido, a maioria dos combatentes foi presa e posteriormente assassinada. Fidel foi condenado a 15 anos de prisão, mas o crescimento da mobilização popular no país, obrigou Fulgencio Batista a anistiá-lo, dois anos depois.
Moncada é hoje uma curiosa combinação de escola e museu |
O acervo do Museu de Moncada é muito simples — fotos, publicações, armas, uniformes — e fica exposto em alguns salões, organizado naquela museologia rudimentar cubana que ainda usa letra-set para identificar as peças.
A visita, porém, é emocionante. A Revolução Cubana é um dos grandes épicos do Século 20 e ficar cara a cara com as pequenas relíquias dessa aventura é uma sensação inesquecível.
⭐Fortaleza de San Pedro de la Roca
O castelo está muito bem preservado e é uma visita imperdível em Santiago de Cuba |
A vista lá de cima é impressionante. Vá no final da tarde, para emendar a visita com o pôr-do-sol (um dos mais lindos que já vi).
Aproveite o bar que funciona ao lado da fortaleza para acompanhar o espetáculo com um mojito.
O Museu da Clandestinidade (à esquerda) e a rua Padre Picos |
Calle Rabí n° 1, entre Santa Rita y San Carlos, Tívoli
Instalado num casarão colonial onde funcionou o centro da repressão política no tempo de Fulgencio Batista, o Museu da Candestinidade de Santiago de Cuba guarda objetos, mapas e fotografias que relembram o movimento de 26 de julho de 1956.
Por toda a região de Tívoli, há lembranças dos combatentes
mortos nos primeiros dias da Revolução Cubana |
Na parte mais alta da cidade, o Bairro de Tívoli tem casas históricas e uma bela vista para a Baía de Santiago de Cuba |
A homenagem prossegue por toda a região de Tivoli, onde fica o museu — mais conhecida pela curiosa Calle Padre Picos, que na verdade é uma escadaria — onde placas nas paredes e muros das casas recordam os rostos, as idades e os sonhos dos combatentes.
Aproveite a visita para contemplar a bela vista da Baía de Santiago e da cidade que se tem em Tívoli.
A casa simples onde viveu Antonio Maceo, herói da
Independência de Cuba |
Los Maceos n°207, entre Corona e Rastro
Em uma vizinhança de moradias muito simples e mal conservadas fica a casinha singela onde nasceu Antonio Maceo, herói da Independência de Cuba.
O acervo não difere muito do repertório das casas-museu que existem pelo mundo, uma coleção de objetos pessoais, cartas e documentos do homenageado, contextualizados por mobiliário de época, mapas e painéis explicativos.
Não se engane com essa simplicidade e aproveite a oportunidade para descobrir um personagem pouco conhecido fora de Cuba, mas que merece figurar no panteão dos patriarcas da independência das Américas.
Antonio Maceo era filho de um militar venezuelano e de uma escrava alforriada (tanto seu pai quanto sua mãe eram descendentes de africanos ), foi criado em um ambiente de ideias arejadas e francamente mambise — designação dos partidários da independência.
Maceo foi um comandante obstinado nas batalhas contra os espanhóis pela independência de Cuba. Morreu lutando por essa causa, assim como seu pai e seus irmãos, e é considerado um dos grandes heróis do país.
Casa de la Tradición: ótimo lugar para soltar a franga em Santiago de Cuba |
Santiago é muito mais caribenha (no sentido de africana) do que Havana e você vai sentir essa energia por toda parte.
Fui a três casas noturnas de Santiago — a famosa e turística Casa de la Trova, a meio “intelectual” El Patio de los Abuelos e a totalmente roots, animadíssima e deliciosa Casa de La Tradición, a que eu mais gostei.
Quem me levou à Casa de la Tradicón foi Wilkins, taxista "alternativo" que conduz turistas num acachapante Chrisler Imperial 1957—um conversível rabo de peixe estalando de novo. Eu, na verdade, queria só passear na relíquia, mas ele falou tão bem do lugar que decidi ficar por lá depois de dar uma volta no carrão.
A Casa de La Tradición cobra US$ 1 pela entrada, funciona num casarão bem antigo e maltratado pelo tempo, bem pertinho do Museu da Clandestinidade. O salão é decorado por cartazes de shows e propaganda revolucionária.
Só pra os mais jovens terem uma ideia do que é um Chrysler Imperial 1957... 😊 |
Uma coisa que me agradou muito no lugar é que lá não acontece o irritante assédio dos “galãs” caçadores de turistas que tanto me incomodou nessa passagem por Cuba.
O ambiente na Casa de La Tradición é amistoso. Além de mim, havia uns três ou quatro europeus entre o público. Os demais eram evidentemente cubano, em suas roupas simples e gingado muito baiano.
Quando a música ao vivo começou, ninguém segurou a onda: a banda é muito boa. Não me fiz de rogada e caí na pista, dancei até cansar.
A Casa de La Tradición fica na Calle General Rabi 154, entre Princesa y San Fernando.
El Pátio de Los Abuelos fica na Calle Perez Garbó nº 5, entre Garzón y Escario. É um lugar mais "autêntico". O nome é uma referencia ao avô negro e ao avô branco — as heranças espanhola e africana — evocados no poema de Nicolás Guillén: “Sombras que solo yo veo, me escoltan mis dos abuelos”. Música ao vivo, só no final de semana.
Baía de Santiago |
Hotel San Juan
Carretera Siboney, km 1 1/2
O hotel fica no meio de um parque muito bonito, a Loma de San Juan. Foi lá que, em 1898, americanos e espanhóis travaram a mais cruenta das batalhas por Santiago de Cuba, na Guerra Hispano-Americana.
São cerca de 80 apartamentos em casinhas geminadas, dispostas em meio às árvores. Na "casa grande" do hotel — a a antiga granja da Escola Agrícola Carlos Céspedes — funcionam, além da recepção, uma tienda (loja), uma sala de sinuca e dois restaurantes, o "Ceiba" e o "Leningrado".
Aliás, o Hotel San Juan já foi o Hotel Leningrado. É meio fora de mão, em relação ao centro da cidade, mas seria muito agradável, não fosse o mau humor dos funcionários.
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