O Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, tem um acervo lindo |
Adorei as linhas ousadas do Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, às margens do Tejo, no bairro de Belém |
Museu do Aljube: a luta pela democracia não acaba nunca — como a história recente vem nos mostrando. A memória é parte fundamental dessa luta, mesmo que doa |
⭐Museu Nacional de Arte Antiga
Rua das Janelas Verdes nº 1249, Estrela
A antiga residência da Imperatriz Maria Amélia deu lugar um dos melhores museus que vi em Lisboa |
O Palácio das Janelas Verdes, do Século 17, foi a residência da viúva de D. Pedro I do Brasil, Amélia de Leuchtenberg, que lá viveu por cerca de 20 anos, até sua morte, em 1873.
Com uma bela vista para o Rio Tejo, a
construção abriga, desde 1884, o Museu Nacional de Arte Antiga, considerada a
coleção mais importante da produção artística portuguesa entre os século 12 e
19.
Os jardins do Palácio das Janelas Verdes são muito agradáveis. Aproveite e faça uma pausa no café que funciona lá |
Depois de passar uma manhã percorrendo seus belíssimos salões e curtindo seus jardins, fiquei me perguntando por que demorei tanto pra ir ver essa lindeza de museu de Lisboa.
O acervo do Museu Nacional de Arte Antiga é vasto e
caprichado. Tem pintura, joias, cerâmicas, mobiliário e artes decorativas. Mas o grande destaque,
mesmo, são as esculturas sacras de artistas como Diogo Pires-o-Velho (Século 16) e Gil Eanes (Século 15, homônimo do navegador), por
quem eu já tinha me apaixonado no Museu Nacional Machado de Castro, em Coimbra.
Bodhisattva Maitreya em meditação, peça possivelmente japonesa ou coreana na coleção de arte oriental do museu |
Um anexo moderno abriga a maioria das coleções do Museu Nacional de Arte Antiga |
Parte significativa das maravilhas expostas no Museu Nacional de Arte Antiga é produção das colônias portuguesas além-mar, na Ásia e na África. Na pinacoteca, estão obras de mestres europeus como Albrecht Dürer, Lucas Cranach, o Velho, Hieronymus Bosch, Piero della Francesca, Rafael, Luca Giordano e Tiepolo.
A coleção de pinturas do Museu Nacional de Arte Antiga tem cerca de 2.200 obras de mestres europeus. Acima, Êxtase de São Francisco (Século 17), de Luca Giordano |
No alto, Santo André, de Diogo Pires-o-Velho. Acima, Virgem com o Menino, do ateliê de Gil Eanes |
Entre as obras de pintores portugueses, preste atenção ao Painel de São Vicente de Fora (século 15), atribuído a Nuno Gonçalves, o famoso Retrato do Rei D. Sebastião (1574), de Cristóvão de Morais.
Ingresso: € 10. Maiores de 65 anos e jovens entre 13 e 24
pagam meia-entrada. Crianças até 12 anos entram gratuitamente.
Avenida de Berna 45A
O Museu Calouste Gulbenkian está cercado por um parque de 70 mil m² |
Arte egípcia, maravilhas otomanas, lindezas da China,
pitadinhas greco-romanas, belezas japonesas... Tem tudo isso, mais obras de
grandes mestres da pintura e da escultura, artes decorativas, joalheria — as
peças de Lalique são de rasgar a roupa — cerâmicas e azulejos.
Esta priminha da Fragata, a Barca solar de Djedhor, é uma peça egípcia do Século 4º a.C usada em procissões religiosas |
As coleções do Oriente Islâmico, da Armênia e do Extremo-Oriente são os grandes espetáculos do museu |
A Fundação Calouste Gulbenkian é talvez mais conhecida pelo parque onde está instalada, uma área de 70 mil metros quadrados de lindos jardins, lagos e trilhas, bem no Centro de Lisboa e muito perto do Parque Eduardo VII.
E dá pra ver que muita gente em Lisboa aproveita muito esses
jardins — ainda que parte deles, assim como o pavilhão do Centro de Arte
Moderna Gulbenkian estivessem fechados para reformas, no último abril.
As cerâmicas Iznik são deslumbrantes |
Mas, depois de se refrescar do calorão lisboeta e admirar os patinhos nadando nos lagos, vá ver esculturas de Canova e Rodin, delicie-se com grandes mestres da pintura — tem uma pá de gênios pendurados naquelas paredes, como Rubens, Rembrandt e Frans Hals, pra citar alguns flamengos, Gainsborough e Turner, Natier, Fragonard e Corot. Ah, eu falei em franceses? É claro que tem impressionistas, como Manet, Degas, Monet e Renoir.
Esta Anunciação, do final do Século 15, é obra de um pintor
anônimo do ateliê do mestre flamengo Dirk Bouts |
Barcos (1868), de Claude Monet |
Mulher e criança dormindo em um barco (1887), de John Single Sargent |
Mas vá, principalmente, morrer de encantamento com as peças de arte islâmica exibidas no Museu Calouste Gulbenkian. Foi a parte do acervo que mais me fez delirar.
Tapetes, vestuário, cerâmica (a coleção de cerâmicas Iznik,
da Turquia, já paga o ingresso) vidraria, manuscritos ricamente ilustrados...
Coisas lindas produzidas em lugares como a Pérsia e a Síria entre os séculos 12
e 18.
As joias de René Lalique da coleção Gulbenkian sõ de morrer de lindas |
Como chegar ao Museu Calouste Gulbenkian: a Estação de Metrô São Sebastião (linhas Azul e Vermelha) fica a 300 metros. A Estação Praça de Espanha (Linha Azul) também está a 300 metros.
Horário: de quarta a segunda, das 10h às 18h. Fechado às
terças-feiras.
Ingresso: € 10 (entrada normal) ou € 11,50 (acervo
permanente + exposições temporárias). Menores de 30 anos têm 25% de desconto. Para maiores de 65, o desconto é de 10%.
⭐Museu do Aljube - Resistência e Liberdade
Rua de Augusto Rosa nº 42, Alfama
Inaugurado em 25 de abril de 2015, o Museu do Aljube -
Resistência e Liberdade ocupa o edifício da tristemente célebre Cadeia do
Aljube, um centro de torturas mantido pela ditadura salazarista.
O edifício do Aljube tem um carma pesado e vem de longe. Funcionou
como cárcere desde o tempo da ocupação moura de Lisboa, entre os Séculos 8º e
12 — a palavra árabe aljube significa cisterna, mas também é usada para
designar calabouço, “uma prisão especialmente obscura e profunda”, como explica
o site do museu.
Eu conheço esse porão: imprimir jornais em mimeógrafos ou em tipografias mambembes, driblando a repressão |
Cedido à Igreja Católica, o Aljube serviu de prisão eclesiástica até o Século 19, quando passou a acolher presas comuns, até ser convertida em masmorra a serviço das polícias políticas da ditadura.
Entre os milhares que passaram pelo Aljube, muitos não
saíram vivos de lá.
Milhares de pessoas passaram pela Cadeia do Aljube. Nem todos viveram para ir a julgamento |
A Cadeia do Aljube era conhecido com um centro de tortura. Deixou de funcionar como prisão política em 1965, em consequência dos protestos dos vizinhos |
Mas bastava olhar a à imensa fila de visitantes naquela ladeira da Alfama, no final da manhã do 25 de Abril — 50º aniversário da Revolução dos Cravos — pra ficar agradavelmente arrepiada.
Eram portugueses e portuguesas de todas as idades, aguardando
sua vez de visitar o museu e homenagear a memória de quem lutou pela democracia e resistiu a tanta infâmia entre aquelas paredes e entre tantas outras paredes que
a ditadura semeou em território português ou em além-mar, como no Campo de Concentração
de Tarrafal (o “campo da morte lenta”), na Ilha de Santiago em Cabo Verde.
Segundo me explicaram, muita gente vai ao Aljube no 25 de Abril. E depois, tem festa na Avenida da Liberdade |
Afinal, se daí a algumas horas eu e todos que aguardávamos na fila estaríamos descendo a Avenida da Liberdade, celebrando a Revolução, é porque antes de nós houve gente que enfrentou o horror. Os encarcerados do Aljube estavam naquela festa de mais de meio milhão de pessoas também.
Pelos cinco andares do edifício do Aljube, a exposição nos
leva por esse horror. É o telefone que toca sem cessar, avisando qual preso
deveria seguir para a tortura, a claustrofobia dos curros, celas onde cabiam
apenas uma pessoa deitada, sem espaço pra mais nada — nem luz, nem ar...
Eu disse mais acima que a luta contra a o arbítrio teve um final feliz em Portugal, mas a verdade é que nem lá nem em lugar nenhum essa luta acaba e a memória é uma arma poderosa. Por isso o museu do Aljube é tão essencial.
Como chegar ao Museu do Aljube: eu fui caminhando da Praça
do Comércio (Metrô Terreiro do Paço), uma distância de 550 metros (mas lembre
que boa parte do percurso será uma subida).
O legendário Elétrico 28 passa na porta do Museu do Aljube |
Os ônibus da Linha 737 (Praça da Figueira-Castelo) passa pertinho do museu (a parada Sé está a menos de 100 metros). O Elétrico 12 (Praça de Martim Moniz-Praça Luiz de Camões) para na Sé, assim como o legendário Elétrico 28 (Martim Moniz-Campo de Ourique), considerado o melhor city tour de Lisboa.
Horários: de terça a domingo das 10h às 18h. Fecha às
segundas-feiras.
Ingressos: € 3. Jovens de 13 a 25 anos pagam meia-entrada e
maiores de 65 pagam € 2,60. Crianças até 12 anos entram gratuitamente.
⭐Maat - Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia
Avenida Brasília nº 1300-598, Belém
O melhor do Maat é a arquitetura |
Eu estava muito curiosa pra conhecer o Museu de Arte,
Arquitetura e Tecnologia, que foi inaugurado poucos meses depois da minha última
visita a Lisboa, em 2016.
Plantadinho bem na beira do Rio Tejo, no bairro de Belém, o
edifício novo do museu (Chamado Maat Gallery) é realmente um espetáculo, com
uma cúpula servindo de imenso terraço de cara para a paisagem.
A antiga Central Elétrica do Tejo conta a história e as possibilidades da geração de energia |
Disse edifício novo porque o Maat reúne dois espaços bem distintos. Além do Maat Gallery, destinado a exibições de arte contemporânea, ele incorpora também as instalações da antiga Central Elétrica do Tejo, que já funcionou como Museu da Eletricidade.
Incorporada ao projeto do Maat, a Central Tejo ampliou sua
temática para apresentar a história e o futuro das Energias. É interessante,
ainda que não seja muito a minha muito minha praia. Os grupos que participavam
das visitas guiadas pareciam bem empolgados.
O pessoal que estava na visita guiada parecia estar curtindo muito |
No edifício novo do Maat, o que mais gostei foi mesmo da arquitetura, que é um desbunde. Como não tem acervo permanente — sua proposta é apresentar instalações de arte contemporânea — creio que o prazer da visita ao interior do Maat Gallery vai depender da programação que estiver rolando.
Eu gostei muito da mostra Mar Aberto, do fotógrafo francês Nicolas
Floc’h, com o impressionante painel A Cor da Água – Rio Tejo, composto de 408
fotografias das águas do rio.
Uma passarela sobre a avenida é o melhor jeito de chegar ao Maat para quem desce do ônibus. À direita, o edifício da antiga Central Elétrica do Tejo |
Os jardins e a cúpula do Maat são um desbunde |
Como chegar ao Maat: o Elétrico 15 tem uma parada próxima ao museu (Altinho/Maat). O trem que sai do Cais do Sodré para Cascais também faz uma parada do ladinho.
Horário: de quarta a segunda, das 10h às 19h. Fecha às
terças.
Ingresso: € 11. Estudantes e maiores de 65 pagam € 8.
Crianças até 12 anos entram gratuitamente.
⭐Museu Arqueológico do Carmo
Largo do Carmo nº 1200
Vá ao Museu do Carmo porque ele é lindo |
Recomendo a visita ao Convento do Carmo não só porque ele é uma relíquia — um dos edifícios góticos mais antigos de Portugal ainda de pé — mas, principalmente, porque ele é lindo.
O convento do Século 14 deve ter sido espetacular, até ser
devastado pelo famoso terremoto de 1755, que arrasou Lisboa e provocou até um
maremoto.
Hoje, em ruínas, ele é comovente na melancolia de sua igreja
desprovida de abóbadas.
Ver a Igreja do Convento é o principal motivo pra você visitar o Museu Arqueológico do Carmo. Mas não é o único. O acervo pode ser pequeno, mas é muito bonito e interessante.
É composto por objetos sacros, lápides, gárgulas, sepulcros, utensílios
pré-históricos, ornamentos romanos, visigodos e mouros.
Saiba mais: Lisboa – o Convento do Carmo
Como chegar ao Museu do Carmo:
Outro jeito bacana de chegar ao museu é subir a Calçada do
Carmo desde a Praça dos Restauradores. A calçada é uma escadaria que vira
ladeira (íngreme), margeada por lindas fachadas. Saiba mais aqui: Como aproveitar uma conexão em Lisboa
Horários: de segunda a sábado das 10h às 19 (de novembro a
abril, o encerramento da visita é às 18 horas). Fecha aos domingos.
Ingresso: € 7. Estudantes, e maiores de 65 pagam € 5.
Visitantes até 14 anos de idade não pagam entrada.
Todas as dicas de Lisboa aqui na Fragata
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