A Baixa de Lisboa rende um passeio (ou vários) muito bacana |
Sufocada pelos clichês turísticos e pelas multidões, ela é, mesmo assim, incontornável pra quem quer conhecer a capital portuguesa — e, como este roteiro na Baixa de Lisboa pode atestar, cheia de atrações realmente bacanas.
A Baixa de Lisboa é a grande expressão da reconstrução da capital após o terremoto de 1755 — a catástrofe, que pode ter atingido 9 pontos na Escala de Richter, foi seguida por um maremoto e incontáveis incêndios. Destruiu praticamente toda a cidade e acarretou mais de 10 mil mortes.
Um programinha que eu adoro na Baixa é o safari fotográfico de fachadas |
Situada no trecho que corre para o Norte, desde a margem do Tejo — à sombra das colinas onde se assentam a Alfama, de um lado, e o Bairro Alto e o Chiado, do outro — a Baixa foi a área que mais sofreu com o chamado Sismo de Lisboa.
A reedificação da terra arrasada deu a ela a cara que ela tem ainda hoje, resultado de um projeto de reconstrução liderado pelo Marquês de Pombal (governante de fato em Portugal entre 1756 e 1777). Daí o seu apelido de Baixa Pombalina.
Com essa biografia, que vai do terror ao ressurgimento, a Baixa olha a muvuca de visitantes e locais do alto de suas belas fachadas históricas com um certo ar de quem já viu de tudo, enquanto estrela postagens de Instagram.
Por trás daqueles azulejos, hotéis, restaurantes, cafés, lojas (e
até moradias) trepidam com o turismo, mas mas a Baixa não perde o charme.
A impressão é que as fachadas da Baixa me olham com um ar de quem já viu de tudo |
Este roteiro pela Baixa de Lisboa passa por alguns dos cenários mais bonitos da cidade, como a Praça do Rossio e a Praça do Comércio, e muitos dos cartões postais mais conhecidos da capital portuguesa.
Não é um pacote fechado. É um passeio pra fazer no seu ritmo, escolhendo suas paradas e o tempo de duração. Mas, se resolver seguir as sugestões tintin por tintin, vai caminhar menos de 3 km, com direito a várias pausas.
Bora passear?
Praça dos Restauradores
A Praça dos Restauradores comemora a volta da autonomia portuguesa após 60 anos de domínio espanhol |
Gosto muito de caminhar pela Avenida da Liberdade, especialmente no sentido Pombal-Restauradores, porque é descida |
O nome da praça é uma homenagem à Restauração Portuguesa, a retomada da autonomia após 60 anos do domínio espanhol (1580 - 1640) que se seguiu à morte do rei D. Sebastião. O obelisco comemorativo é a primeira coisa que você verá, ao sair do metrô (ou ao se aproximar da Praça dos Restauradores, descendo a Avenida da Liberdade a pé).
O Elevador da Glória liga a Baixa de Lisboa ao Bairro Alto |
O Cineteatro Éden é um primor art déco |
Mas não deixe de reparar no que, pra mim, é o maior encanto da praça, a fachada art déco do antigo Cineteatro Éden, inaugurado em 1937. O edifício agora abriga um hotel.
No Norte da praça, à direita de quem desce a Avenida da Liberdade, você vai ver uma rua estreitinha, a Calçada da Glória. É daí que parte o funicular conhecido como Elevador da Glória, ligando a Baixa de Lisboa ao Bairro alto, juntinho do miradouro de São Pedro de Alcântara.
A Gare do Rossio, como era chamada, foi inaugurada em 1890, em estilo neomanuelino |
Mas ainda é cedo para escalar às partes altas de Lisboa. o Bairro Alto e o Chiado merecem um roteiro só pra eles (esticado ao Príncipe Real). Por enquanto, caminhe cerca de 200 metros para o Sul (na direção do Tejo) pela Rua 1º de Dezembro, até a Praça do Rossio.
Nesse curto trajeto, você vai passar em frente à Estação Ferroviária do Rossio, de onde partem os trens pra Sintra, o bate e volta mais popular para quem visita Lisboa.
(Anote para depois: a passagem de Lisboa a Sintra custa € 2,40 cada perna. O bilhete do transporte público 24 horas também válido para o trem custa € 10,80.)
Na primavera e verão, o Rossio fica ainda mais bonito com os jacarandás em flor. O cara lá no alto da coluna é D. Pedro, IV em Portugal e I no Brasil |
Praça do Rossio
A Praça do Rossio está passando por uma série de obras que vão transformar parte de seus casarões em butiques, hotéis de luxo e moradias caras (preservando as fachadas, felizmente). Não sei qual vai ser o resultado dessa requalificação em um conjunto que eu listo entre os mais bonitos de Lisboa.
O Rossio é dominado pela figura de D. Pedro IV de Portugal encarapitada sobre uma coluna. É dele que vem o nome oficial da praça (e imagino que você já saiba que ele é o mesmo D. Pedro I do Brasil).
O terreno onde hoje está o Teatro Nacional Maria II já foi ocupado pela sede da Inquisição |
Por falar em Inquisição, a primeira vez que prestei atenção ao Rossio não foi ao vivo, mas na narrativa de José Saramago sobre o primeiro encontro de Baltasar Sete-Sóis e Blimunda Sete-Luas, em O Memorial do Convento (livro dele que eu mais gosto): o casal vai se conhecer aí na praça, durante um auto de fé do Tribunal do Santo Ofício, que tinha no Rossio seu lugar de predileção para essas cerimônias.
Mas nem a memória das fogueiras estraga o Rossio — esperemos que as obras de requalificação também não.
Olha o Convento do Carmo lá no alto |
O Castelo de São Jorge paira sobre os casarões do Rossio, na visão de quem entra no largo pela Praça João Câmara |
Experimente parar no meio da praça e procurar as ruínas do Convento do Carmo, a Sudoeste, lá no alto da colina onde estão o Chiado e o Bairro Alto.
Quer seguir na direção do Tejo? O Arco do Bandeira é sua referência. Na foto acima, o Rossio com a decoração de Natal de 2014 |
O que você não vai ver mais no Rossio é a tradicional Pastelaria Suíça, que por quase 100 anos adoçou a vida de locais e turistas. A casa foi fechada em 2018.
A Confeitaria Nacional está a menos de 200 metros do Rossio, na Praça da Figueira |
Aliás, na mesma Praça da Figueira, no número 18B, está a histórica Confeitaria Nacional, inaugurada em 1873. Inventora do Bolo Rei (típico do Natal), a casa foi fornecedora dos reis e rainhas de Portugal e, desde 1910, da Presidência da República.
Ainda no Rossio, faça dois pequenos desvios pra ver duas tradições que o tempo não abala.
A Ginjinha do Rossio reivindica 200 anos de tradição |
A primeira é a Ginjinha do Rossio fica no número 8 do Largo de São Domingos (na mesma esquina do Teatro Maria II) e reivindica 200 anos de tradição na elaboração de bebidas.
Ginja é um licor muito típico de Portugal, elaborado com uma fruta (a ginja) que lembra a cereja, só que um pouco menos doce — tendo a achar que é o mesmo madronho, típico de Madri, que também é base para um licor tradicional na capital espanhola.
Pra mim, não tem visita a Lisboa sem passar pela Ginjinha |
A cor de rubi, o gostinho doce sem exagero e o direito a uma frutinha no fundo do copinho de licor fazem a minha alegria a cada passagem por Lisboa — se não bater o ponto lá, vou embora com a sensação de não ter estado na cidade. E a dose de ginja custa € 1,50.
A Igreja de São Domingos foi construída no Século 13 e reconstruída no Século 16 |
As cicatrizes do tempo que se vê hoje na igreja são de outros terremoto — o maior de todos, que arrasou Lisboa em 1755 — e de um incêndio. Mas é justamente o ar castigado que dá à Igreja de São Domingos uma melancolia cativante — uma vontade danada de botar a bichinha no colo.
Outro fator que encanta em São Domingos é que jamais a vi vazia, o que atesta sua popularidade com os moradores da Baixa de Lisboa.
Não consigo andar por aqui sem cantarolar os Mutantes: "Entrei na Rua Augusta a 120 por hora". Mas a música é sobre a Augusta Paulistana |
A essa altura do passeio, é certo que vai bater a fome, mas
preste atenção a duas palavrinhas que usei no parágrafo anterior: restaurantes
e turística. Almoçar ou jantar na Rua Augusta dificilmente vai ser uma experiência
autêntica.
Mas ninguém precisa caminhar ouvindo roncos do estômago. A
Rua Augusta tem lugares legais pra enganar a fome.
A Rua Augusta tem muitos restaurantes e bares e está sempre muito movimentada |
Se você é do tipo que consegue comer coisas doces quando tem fome (eu não sou), experimente o pastel de nata da Manteigaria (Rua Augusta nº 195/197) ou o sorvete da Amorino (no nº 209).
Se sua fome só é enganada por comida salgada, experimente alguma
fancesice da Paul Boulangerie (Rua Augusta nº 142), que é um Le Pain Quotidien em rede mundial. Entre saladas, sanduíches,
croques e quiches, duvido que você não encontre algo que apeteça.
Mas se a ideia é merendar algo bem local, seu endereço é a Casa Portuguesa do Pastel de Bacalhau (Rua Augusta nº 106), que faz muito sucesso com seus acepipes recheados com pedacinhos de queijo da Serra da Estrela. Meu sobrinho Bruno, que é um gourmet (e até já foi colunista aqui da Fragata), adora. Eu já acho que queijo — mesmo da Serra — no bolinho de bacalhau é igual a caruru no acarajé, mas devo ser minoria.
O Elevador de Santa Justa liga a Baixa de Lisboa ao Chiado |
Elevador de Santa Justa
Rua de Santa Justa nº 1150
Horário: diariamente, das 7:30h às 23H, entre maio e outubro. De
novembro a abril, o funcionamento se encerra às 21 horas.
Preço: Com o cartão do transporte público de Lisboa (Cartão Navegante) no modo zapping a subida ou descida custa € 1,61. Para quem carregou viagens avulsas no cartão, o preço é de € 1,80. Se comprar a passagem diretamente ao condutor, fica bem mais salgado: € 6.
Veja detalhes sobre o transporte público: Dicas práticas de Lisboa
Descendo a Augusta rumo à Praça do Comércio, preste atenção a uma transversal, a Rua de Santa Justa. Lá no finalzinho, duas quadras à direita, está o famoso Elevador de Santa Justa, tão atração turística que a gente até esquece sua tarefa funcional, que é levar e trazer as pessoas entre a Baixa de Lisboa e o Largo do Carmo, no Chiado.
(Essa história de ser equipamento funcional e cartão postal ao mesmo tempo é bem conhecida pelo Elevador Lacerda de Salvador, um primo 28 anos mais velho do que o Elevador de Santa Justa. Nos dois casos, aproveite a paisagem e a carona que vai lhe poupar uma escalada).
Inaugurado em 1901, no mais puro e belo estilo Art Nouveau (ou Arte Nova, como se chama em Portugal), o Elevador de Santa Justa consegue ser bonito, útil, fotogênico e ainda tem um baita mirante em sua parte superior, o melhor lugar pra se contemplar a Baixa de Lisboa, a Alfama e o Rio Tejo.
O Arco da Rua Augusta é fotogênico de todos os ângulos. E tem um mirante lá no alto |
Rua Augusta nº 2
Mas calma, porque ainda não é hora de subir ao Chiado com o Elevador de Santa Justa. O roteiro pela Baixa de Lisboa prossegue, descendo a Rua Augusta até o Arco Triunfal, no final (na verdade, no começo) da via.
O Arco da Rua Augusta é pra mim um laço de fita arrematando as construções da Praça do Comércio.
Ele foi pensado como uma espécie de arco do triunfo para celebrar a reconstrução de Lisboa depois do terremoto de 1755. Todo o conjunto arquitetônico é resultado da reedificação liderada pelo Marquês de Pombal no antigo Terreiro do Paço (o velho nome da Praça do Comércio), arrasado pelo tremor de terra, que foi seguido por um maremoto.
O arco, concluído em 1873, é tremendamente fotogênico, de todos os ângulos. Mas a melhor parte é que no topo do monumento tem um mirante, acessível por elevador e mais dois lances de escadas.
A bilheteria e a entrada para o Arco da Rua Augusta ficam na base do monumento, do lado esquerdo de quem vem do Rossio.
Do Arco da Augusta, siga à esquerda por essas arcadas. Você não vai se arrepender |
Praça do Comércio nº 3
Horário: de segunda a sábado, do meio-dia às 22h (para refeições, do meio-dia às 15 e das 19h às 22h).
242 anos de história não é pra qualquer um |
Pra chegar lá, basta um curto desvio à esquerda para seguir sob as arcadas da Praça do Comércio.
E quem dera que todo bar/café/restaurante histórico fosse tão simpático, autêntico e honesto como Martinho da Arcada, o café mais antigo de Lisboa ainda em atividade.
O melhor jeito de contemplar a Praça do Comércio é com uma bebidinha em uma das mesas de varanda de Martinho da Arcada |
Passei horas muito agradáveis, bebericando vinho e curtindo a brisa do Tejo em uma mesa externa de Martinho, sob as famosas arcadas (na Bahia, a gente diria varanda, mesmo, mas bora respeitar o venerando senhor).
O atendimento é cordialíssimo (nem quando estavam fechando ocorreu aos garçons nos enxotarem de lá), os preços são razoáveis (pratos por € 15/ € 20, taça de vinho a € 4 e cálice de porto a € 5) e o ambiente deixa a gente clamando por spleen, charutos e absinto.
Peça aos garçons que mostrem a mesa onde Fernando Pessoa gostava de sentar. Hoje o café mantém mesas permanentemente reservadas para o poeta e também para José Saramago.
Show de luzes na Praça do Comércio em comemoração aos 50 anos da Revolução dos Cravos |
Praça do Comércio
Não canso de ver a Praça do Comércio, belo conjunto barroco simetricamente disposto em torno de uma vastidão dos 36
mil m², com o Tejo aparecendo luxuosamente como um dos quatro lados do
retângulo.
Como em outra encarnação eu devo ter sido lisboeta, só chamo
o lugar pelo nome de antanho, Terreiro do Paço, que agora é apenas a designação
da estação de metrô que há na praça.
O Cais das Colunas, na Praça do Comércio, funcionava como entrada principal de Lisboa |
O Paço em questão é o antigo palácio real, para onde D. Manuel I transferiu a sede da corte (que até então ficava no Castelo de Jorge) em 1511. O terremoto transformou a construção em pó e cinzas, destruindo uma vasta biblioteca e incontáveis obras de arte.
Se a Baixa de Lisboa que conhecemos hoje é o grande testemunho da reconstrução pombalina pós-terremoto, a Praça do Comércio e a sua maior expressão. Bonita, imponente e refrescada pela brisa do Tejo, mesmo em dias de calorão em Lisboa, é bem legal passear por ali.
Ainda que os reis de Portugal não tenham voltado a morar
na praça, suas novas construções passaram a abrigara diversos órgãos de governo — alguns ainda
estão lá, misturados aos muitos bares, restaurantes, museus e hotéis que ocupam
aquelas arcadas.
E não foi por falta de rei-morador que a Praça do Comércio perdeu protagonismo após sua reinauguração, ainda no Século 18. Ela ainda hoje é um dos locais preferidos da cidade para celebrações.
Mas evento mais marcante de sua história pós-terremoto foi o assassinato de
um rei, Carlos I, em 1908. O monarca foi baleado logo depois de desembarcar no Cais
das Colunas. O herdeiro do trono, Luís Filipe, também morreria em decorrência
do atentado.
Rua dos Bacalhoeiros nº 10
Ingresso: € 3. Estudantes pagam € 2. Crianças até 12 anos e maiores de 65 não pagam entrada. Oferece visitas guiadas (€ 6), mediante agendamento.
Quem gosta de ler pode esticar o passeio da Praça do Comércio até a Casa dos Bicos, sede da Fundação José Saramago, a apenas 350 metros de distância. Prêmio Nobel de Literatura de 1988, Saramago é um escritor apenas genial — O Memorial do Convento é uma das coisas mais maravilhosas produzidas em língua portuguesa que eu já li.
Aliás, é desse livro que foi retirado o epitáfio de Saramago — uma referência ao personagem Baltasar Sete-Sóis — que, em uma placa, faz companhia à velha oliveira, quase em frente à Casa dos Bicos, diante da qual foram depositadas suas cinzas ("Mas não subiu para as estrelas, se à terra pertencia").
A Casa dos Bicos original foi uma construção do comecinho do
Século 16. O nome vem da decoração da fachada, recoberta de pedras talhadas em
ponta. Muito danificada pelo terremoto de 1755, a casa acabaria sendo usada
como armazém — afinal, o Tejo está ali na porta — até sua reconstrução, na
década de 1980.
Na visita à Fundação José Saramago é possível conhecer um
pouco mais sobre sua obra. O mais interessante, porém, são as atividades
promovidas pela casa, que incluem palestras, cursos e até viagens pelos
cenários da vida e obra do escritor.
Tem muitas opções no Mercado da Ribeira para o almoço |
Hora do almoço
Tá na hora de almoçar, né? Na Rua da Alfândega e na Rua dos Bacalhoeiros, nas imediações da Casa dos Bicos, você vai ver uma sucessão de restaurantes com mesas ao ar livre, recebendo a Brisa do Tejo. Não posso atestar a qualidade de nenhum deles, porque não experimentei (é melhor consultar seu site/aplicativo de confiança pra ver se há alguma sugestão).Na região da Baixa de Lisboa, ouvi falar muito bem e até
tentei almoçar na Casa do Alentejo (Rua das Portas de Santo Antão nº 58), mas
cheguei tarde e dei com a cara na porta — a casa fecha às 16h, mas a cozinha
encerra bem antes.
O que já experimentei na Baixa e acho uma boa pedida, pela variedade
de opções, é o Mercado da Ribeira/Time Out Market, uma praça de alimentação
moderninha instalada num antigo mercado, no Cais do Sodré (a cerca de 1 km da
Praça do Comércio).
A caminhada pela beira do Tejo, do Cais das Colunas até lá, é bem agradável. No Mercado da Ribeira você vai encontrar boxes de vários restaurantes muito reputados oferecendo comidinhas de diversos lugares do mundo. Portuguesa também, é claro.
O lugar está cada vez mais lotado de turistas — cheguei a
tomar um susto, agora em abril — mas continua um bom lugar para uma refeição de
qualidade a preços moderados. Dependendo do horário e do tamanho do seu grupo, é possível que você demore um pouco pra encontrar lugar nas mesas coletivas.
Veja mais dicas aqui > Mercado da Ribeira em Lisboa - intensivão de delícias portuguesas
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