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As ilhas ficam a 30 minutos de Puno |
Até cometer o erro de misturar-se aos humanos, perdendo, assim, sua terra e seu poder. Passaram a viver exilados da mãe-terra, sobre ilhas feitas de junco.
Essa é a lenda dos Uros, povo que hoje fala a língua Aymara — seu Uruquilla é um idioma extinto — que que vive em 70 ilhas artificiais no Lago Titicaca, nos Andes.
As Ilhas Flutuantes dos Uros são feitas de totora, semelhante ao junco, e estão ao largo de Puno. São cerca de 1.800 indivíduos vivendo, basicamente, do turismo.
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A luz do Titicaca voltou |
As Ilhas Flutuantes dos Uros são a principal atração de Puno. A viagem de lancha até as ilhas dura cerca de 30 minutos e a área é extremamente bonita, ao cair da tarde — de repente, a luz dourada do Titicaca voltou...
A visita, porém, me deixou extremamente deprimida. Não é a primeira vez que vejo uma comunidade arremedando sua própria cultura para vendê-la aos turistas.
Quem já visitou aldeias indígenas reduzidas a favelas, como as que há nas proximidades de Porto Seguro, sabe do que estou falando.
Nada conta os Uros. São extremamente simpáticos, sorridentes, calorosos. Mas a “vida” nas ilhas parece seguir um script preparado para se desenrolar nas duas horas de “antropologia McDonnald’s” que vamos fazer lá.
Mal chegamos e as mulheres correm para posar de “bordadeiras” de trabalhos produzidos industrialmente — rigorosamente idênticos aos que se encontra em qualquer tienda turística do Peru.
O guia começa a explicar a construção das ilhas e logo está armado o mercadinho de artesanato, que vai capturar alguns soles para as famílias do lugar.
➡️Como são as Ilhas Flutuantes dos Uros
As ilhas flutuantes podem se dividir e se unir a outras, de acordo com a conveniência das famílias moradoras.
Sua construção é realmente muito engenhosa: as raízes da totora são semelhantes ao xaxim, chegando à espessura de um metro ou mais. Os blocos desse “xaxim” são cortados e atravessados por uma estaca, que permite a amarração de um bloco ao outro, formando o “território” dos Uros.
Sobre tudo isso, são espalhadas camadas e mais camadas de hastes de totora, num processo permanente, deixando as ilhas sempre com espessuras de mais de dois metros.
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O fogão precisa ficar ao ar livre |
Os fogões a lenha ficam ao ar livre, acomodados sobre camadas de pedra. Imagino que o tabagismo seja um hábito desconhecido entre os Uros que vivem nas ilhas flutuantes...
É claro que a beleza e o engenho das casinhas de totora já não são a única maneira de viver nas ilhas flutuantes.
Na parte de trás das ilhas, longe dos atracadouros e dos olhares turísticos, já há muitas casas feitas de chapa de zinco, uma favela de lata flutuante, provavelmente mais confortável que a simplicidade primitiva.
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Ao fundo (desculpem o contra-luz), a "favela de lata" |
A divindade principal dos Uros era a Lua, mas eles também adoravam o puma, a serpente e o condor. São as divindades dos três planos, representados na Chakaná: o mundo subterrâneo (dos mortos), o mundo terreno (dos vivos) e o reino superior (dos deuses).
Hoje, porém, a única marca visível de religião, na ilha flutuante que visitei, era um templo Mórmon, erguido em totora.
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Nossa brava remadora |
Também somos convidados a dar uma volta no lago numa embarcação de totora que eles chamam de “Mercedes Benz”, uma espécie de galera, movida pelo esforço de dois remadores e adornada por figuras de proa que achei meio vikings.
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"Twingle, twingle, little star"... |
Primeiro, uma canção em Aymará. Depois, algo mais ao gosto gringo: “Twingle, twingle, little star”. Voltei na lancha pensando que os Uros fizeram um péssimo negócio misturando-se aos humanos...
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Uma das escolas da comunidade |
O passeio às ilhas flutuantes é a grande atração da cidade de Puno, com 100 mil habitantes, a 1.300 km de Lima.
Puno tem uma boa infraestrutura turística e muitas agências que oferecem o passeio às Ilhas Flutuantes dos Uros.
Nós chegamos a Puno vindas de Copacabana, Bolívia. A viagem de ônibus leva de cerca de duas horas.
Atravessamos a fronteira em Yunguyo, Peru (veja detalhes aqui), onde é preciso trocar de ônibus e caminhar cerca de 100 metros entre os dois veíuculos.
Nosso bilhete de ônibus Copacabana-Puno foi comprado pela Stop Tours, a agência que cuidou de nosso trajeto até a Ilha do Sol, a partir de La Paz.
O porto em Puno, de onde partem as excursões às ilhas flutuantes |
Também dá para chegar a Puno a partir de Cusco
Há ônibus comuns, mas fizemos a viagem de Puno a Cusco no ônibus turístico, que é mais interessante.
O trem também liga Puno a Cusco, mas essa é uma opção que custa 10 vezes mais do que o ônibus.
Como chegar a Puno de avião
Outra possibilidade é chegar de avião a Juliaca, a 50 quilômetros de Puno (o Aeroporto Inca Manco Capac recebe voos de Lima, Arequipa e Cusco).
Eu, esperando o embarque |
O mais comum é contratar um tour com alguma agência local. Por cerca de US$ 10, os pacotes incluem o transporte até o Porto de Puno, o transporte em lancha até as ilhas flutuantes e o acompanhamento de um guia.
Foi assim que fizemos a nossa visita, já organizada pela Stop Tours.
As visitas às Ilhas Flutuantes dos Uros duram cerca de três a quatro horas, dependendo da programação.
Se você quiser ir de maneira independente, contrate o serviço no próprio ancoradouro de Puno, onde alguns moradores das ilhas levam turistas para o passeio.
Os preços são similares e você estará contribuindo diretamente para a comunidade dos Uros.
Eu e Simone navegando no barquinho de totora |
Nós ficamos e recomendamos muito o Hotel Camino Real Turístico. Veja detalhes neste post
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