7 de dezembro de 2013

Sabores do Paraná - o que comer e onde comer na terra das araucárias

Cozinha de colonos holandeses no Parque Histórico de Carambeí
Cozinha de colonos holandeses no Parque Histórico de Carambeí

Cabe um mundo no Paraná, para além das Cataratas do Iguaçu e de Curitiba. No rastro dos tropeiros, rebeldes do Contestado e dos colonos que ajudaram a traçar a identidade do estado — alemães, holandeses, poloneses, ucranianos e japoneses —, há muita história, tradição e, grande notícia, uma culinária rica, variada e muito saborosa.

Os sabores do Paraná são um grande motivo para uma viagem à terra das araucárias.

Come-se divinamente por aquelas bandas. As diversas heranças que formaram o Paraná batem um bolão na cozinha e eu comprovei isso na prática, viajando pela região dos Campos Gerais.

Veja só que delícia:


Sabores do Paraná


Fogão a lenha e pratos das colônias alemã e polonesa no Parque Histórico do Iguassu, em União da Vitória, Paraná
Fogão a lenha e pratos das colônias alemã e polonesa no Parque Histórico do Iguassu, em União da Vitória. Abaixo, bufê de tradições tropeiras na Lapa

Bufê de comida de tropeiros, na cidade da Lapa, Paraná

O que comer no Paraná - a culinária das colônias 


⭐ Quirera da Lapa
Se eu descrever essa iguaria como uma polenta bem molinha, enriquecida pelo sabor (e as calorias) de costelinhas de porco, estarei sendo factualmente precisa, mas jamais chegarei perto de dar uma ideia de como é gostosa a quirera da Lapa.

Provei (que é o tucanês para “comi dois pratos transbordantes”) a quirera no restaurante do Hotel Tropeiro da Lapa, que serve um bufê caprichadíssimo de comida tropeira (infelizmente só sob encomenda e para grupos L ).

O jantar é um verdadeiro desfile de tradições da culinária dos tropeiros do Paraná: arroz com carne seca (como um carreteiro), cordeiro na brasa, frango ensopado, feijão tropeiro com ovo frito, torresmo...

Paraná: culinária de colonos alemães e poloneses
Frango caipira, polenta e outras maravilhas, no almoço do Parque Histórico de Iguassu. Abaixo, a estrela da festa, Hefeklöße, sendo finalizada por Joana

Hefeklöße, bolinho típico alemão servido no Paraná


⭐ Hefeklöße
Essa foi a maior surpresa da viagem. O almoço no Parque Histórico do Iguassu, em União da Vitória,  já me parecia bastante tentador com o frango caipira, a polenta e outros pratos servidos sobre o fogão a lenha, quando percebi um alvoroço na cozinha.

Era Joana Wohel, dona do parque, cercada de ajudantes, preparando o Hefeklöße, bolinho alemão feito de massa de pão cozida no vapor (qualquer semelhança com pãozinho chinês pode ser mera coincidência, mas que lembra, lembra).

O Hefeklöße não tem recheio — Joana, que é filha de poloneses, conta que certa vez preparou o bolinho com queijo e levou uma senhora bronca da sogra alemã — e fica perfeito quando é regado com o caldinho do ensopado de frango caipira. Acredite em mim: é de rasgar a roupa.

Cozinha de colonos alemães no  Parque Histórico de Carambeí, Paraná
Cozinha de colonos alemães, no Parque Histórico de Carambeí

A caipirinha de limão galego com steinheger (bebida muito popular em União da Vitória, que aliás, é sede de uma fábrica famosa) também estava divina.

No final da tarde, a massa do Hefeklöße que sobrou do almoço foi servida frita, coberta com açúcar e acompanhada de geleia de uva feita por Dona Paulina, mãe de Joana. Uma perfeição que deixa muito sonho de padaria no chinelo. 

⭐ Ragu de frango caipira 
Mais um momento sublime dessa viagem pelos sabores do Paraná foi esse prato, acompanhado de polenta cremosa, servido no restaurante Portal das Plameiras (na verdade, um "contrabando" no roteiro paranaense, pois ele fica em Santa Catarina, no município de Porto União, separado de União da Vitória pelo traçado da linha férrea).

O ragu feito de frango desfiadinho bem miudinho, num ensopado bem encorpado e com tempero muito sóbrio, estava de matar, de tão bom.

Antes do jantar, resolvi repetir a caipirinha de steinhegen que já tinha alegrado o meu almoço. A bichinha combina muito bem com o lambari frito servido de de tira-gosto, outra tradição de União da Vitória.

Tortas holandesas servidas na cafeteria do Parque Histórico de Carambeí, Paraná
A Koffiehuis (cafeteria) do Parque Histórico de Carambeí serve tortas holandesas bem tentadoras. O parque é um museu a céu aberto que recria a vida nas colônias de europeus no Paraná

⭐ Tortas holandesas
Até visitar as colônias de Carambeí e Castrolanda, se alguém me convidasse para um café holandês eu ia pensar no Bulldog, aquele coffeeshop de Leidseplein, em Amsterdã, sempre lotado de turistas com um risinho suspeito na cara.

Mas nas colônias holandesas do Paraná você só correria o risco de ficar doidão se glicose desse barato, dada a variedade de tortas que hipnotizam o visitante.

Foram tantas, mas tantas tortas holandesas provadas nessa viagem que até perdi a conta.

As tortas holandessas são sempre muito doces e levam bastante creme.

Tortas holandesas da confeitaria Kroeg De Molen, na Colônia Castrolanda, Paraná
Na Colônia Castrolanda, experimente as tortas holandesas da Confeitaria Kroeg De Molen, no Memorial do Imigrante

Em Carambeí, experimente as tortas na Koffiehuis (cafeteria) do Parque Histórico da cidade.

Em Castrolanda, o Kroeg De Molen, no térreo do Memorial do Imigrante (o gigantesco moinho de vento De Immigrant, de cujo topo se tem uma bela vista para a colônia e para os campos ao redor) serve café colonial com uma profusão de tortas, frios, queijos e salgados.

O bom das suas opções é que tudo é feito com ingredientes produzidos na região.

Memorial da Imigração Holandesa, Moinho De Imigrant, Colônia Castrolanda, Paraná
As tortas de Castrolanda são feitas com a farinha do moinho local

⭐ Citroenkaas
Esse creme de limão concorre entre os favoritos ao título de melhor descoberta culinária que já fiz numa viagem.

Citroenkaas é simplesmente de rasgar a roupa, azedinho na medida certa, com a consistência de uma geleia firme, perfeito para passar no pão, no biscoito, comer de colherinha...

Descobri-o na lojinha Artelandia, no Memorial do Imigrante de Castrolanda e, boba que sou, só fui prová-lo quando cheguei em casa, quando já era tarde demais para comprar todo o estoque da loja. Um espetáculo feito com gemas, manteiga, suco de limão e açúcar.

Doces holandeses das colônias do paraná
Creme de limão, geleia e waffels de Castrolanda: entre as melhores compras de viagem da minha vida. À direita, tamancos de madeira típicos da Holanda no Memorial do Imigrante

⭐ Geleia de Araçá 
Na mesma lojinha onde descobri o mágico citroenkass, comprei um generoso pote dessa geleia molinha, quase uma calda, que me dá vontade de uivar para a lua toda vez que provo um pouquinho (estou economizando a geleia e o creme de limão com uma avareza da qual nunca suspeitei que fosse capaz...).

Araçá, pra quem não sabe, é uma goiabinha silvestre, com sabor muito mais delicado, que eu sempre imaginei típica do Nordeste, mas agora sei que também existe no Paraná e é muito bem tratada pela colônia holandesa.

De Immigrant, Memorial do Imigrante da Colônia Castrolanda, Paraná
De Immigrant, o imenso moinho que domina o centro da Colônia Castrolanda e sedia o Memorial do Imigrante

⭐ Waffel 
A massa é a mesma do famoso stroopwaffel holandês, mas sem o recheio de caramelo. É como um biscoitinho bem crocante (o sabor não é muito diferente da taboca baiana ou do bricelet de São Cristóvão, em Sergipe).

Encontrei waffel na Artelandia de Castrolanda e comprei só um pacotinho (ô, arrependimento), o suficiente para descobrir que é a coisa mais perfeita do mundo para comer com o citroenkass e com qualquer geleia decente.

Desde que acabou meu suprimento de waffel do Paraná, ele vem sendo substituído pelas panquecas que eu mesma faço, mas se alguém estiver vindo do Paraná para Brasília, por favor, me traga um carregamento. Serei eternamente grata J

Igreja Ucraniana em Prudentópolis, Paraná
Igreja ucraniana de São Josafat, em Prudentópolis

⭐ Salame Cracóvia
O nome é polonês, mas esse embutido inventado em Prudentópolis é fruto do engenho e arte dos ucranianos, que começaram a chegar à região no finalzinho do Século 19 para fazer da cidade a sua maior colônia no Brasil.

A cracóvia é uma espécie de salame (acho que eles não gostam muito que se chame assim, but...) feito sempre com pernil ou lombo, partes nobres do porco, bem condimentado, defumado e bem mais magro que um salame comum.

Fui apresentada a essa especialidade regional no Chalé Costenaro, misto de restaurante, lanchonete e entreposto de produtos locais, como queijos e frios, onde vale a pena fazer uma feirinha.

 Eu trouxe uma boa provisão de cracóvias e um queijinho da colônia que não deu pra quem quis...

Araucária, árvore símbolo do Paraná
Araucária, árvore símbolo do Paraná

Onde provar a culinária das colônias do Paraná

⭐Hotel Tropeiro da Lapa
Rodovia do Xisto (BR 476) Km 60, Lapa, telefones (41) 3622-7476 / 3622-2453.

Além do bufê de comida tropeira, organiza serenatas (outra tradição lapeana) e roteiros para crianças conhecerem a vida da tropa, com direito a cavalgada, preparação de comida ao ar livre e muita contação de histórias.

⭐ Parque Histórico do Iguassu
Colônia Volta Grande, Estrada Velha para Cruz Machado, a 29 km do Centro de União da Vitória. Para maiores informações, veja este post.

⭐ Restaurante Portal das Palmeiras
Rua Edmundo Arrabar nº 4601 - Pintado - Porto União (SC)

Reprodução de uma venda de colônia no Parque Histórico de Carambeí, Paraná
Reprodução de uma venda de colônia, no Parque Histórico de Carambeí

⭐ Parque Histórico de Carambeí 
Avenida dos Pioneiros nº 4.050, a quatro km do centro da cidade

Um pequeno museu e a réplica de uma vila de colonos são as principais atrações desse parque dedicado à memória da imigração holandesa no Paraná. A Cafeteria fica logo na entrada do parque e, além das tortas, serve salgados típicos holandeses e panquecas doces e salgadas. Funciona de terça a domingo, a partir das 14 horas.

⭐ Memorial da Imigração Holandesa
Rua do Moinho, 244 Colônia Castrolanda , Castro, Paraná (Acesso pela Rodovia PR-340)

⭐ Chalé Colonial Costenaro
Rodovia BR-373, km 261, distrito de Rio dos Patos, Prudentópolis

*Estive no Paraná a convite da Cooperativa de Turismo do Paraná- Cooptur. O conteúdo do post, porém, reflete a minha opinião, formada a partir da experiência com o roteiro e os serviços testados ao longo da viagem.



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2 comentários:

  1. Voltei há pouco tempo do Espírito Santo e também experimentei por lá coisas deliciosas que nem sabia que existiam! Como é bom descobrir tanta coisa gostosa numa viagem!! A parte ruim é que depois é difícil de repetir...

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    1. E cadê esses posts sobre o Espírito Santo, Fernanda?? Estou louquinha pra planejar uma viagem pra lá :) Beijos

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