Ponte sobre o Rio Verdugo, em Pontesampaio, palco de uma célebre batalha na guerra contra Napoleão |
Caminho de Santiago - percurso de hoje: de Redondela a Pontevedra, 18 km
Entre Redondela e Pontevedra, o Caminho de Santiago passa por Pontesampaio (nome galego, ou Puente Sampayo, em espanhol). Essa pacata vila de cerca de 1.200 habitantes tem um passado heroico.
Pontesampaio foi palco de uma batalha decisiva nas Guerras Napoleônicas.
Em 1809 o exército espanhol e guerrilheiros galegos, numa obstinada resistência, conseguiram impedir que as tropas francesas, comandadas pelo implacável Marechal Ney, atravessassem a velha ponte de pedra sobre o Rio Verdugo, barrando o avanço do exército invasor.
Em 1809 o exército espanhol e guerrilheiros galegos, numa obstinada resistência, conseguiram impedir que as tropas francesas, comandadas pelo implacável Marechal Ney, atravessassem a velha ponte de pedra sobre o Rio Verdugo, barrando o avanço do exército invasor.
A feroz resistência dos voluntários galegos durou dois dias — além de Pontesampaio, eles também defenderam a ponte de Caldelas, duas léguas, rio acima — cortando a possibilidade de uma marcha organizada do exército francês, que acabaria se retirando da Galícia depois desse insucessos.
Caminho de Santiago: de Redondela a Pontesampaio
O meu caminho de Redondela até Pontesampaio não teve batalhas, mas foi árduo.
Iniciamos a caminhada um pouco antes das 8h da manhã (tarde, para nossos padrões), para um longo trecho de subida moderada.
O complicado é que maior parte do Caminho de Santiago entre Redondela e Pontesampaio é feito pelo acostamento da Rodovia N-550. Numa curva, um carro passou tirando tinta do meu joelho.
Caminhar pelo acostamento da rodovia não é legal
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Sábia providência. O perigo e a sem-gracice de andar pelo acostamento de uma estrada contribuíam muito para a menor popularidade do trajeto português em relação às demais rotas para Santiago de Compostela).
Um grande piorno (centro) às margens da Ría de Pontevedra, em Pontesampaio |
Uma paisagem especial é a Enseada de San Simón (ou Ensenada de Rande), onde o Nautilus de Julio Verne andou se aventurando, no romance 20.000 Léguas Submarinas, que eu amo desde criancinha.
Tempos depois, descobri que em 1702, as águas calmas lá em baixo foram cenário de uma célebre batalha da Guerra de Sucessão Espanhola — dessa vez, espanhóis e franceses eram aliados.
O guia divulgado pela Associação dos Amigos do Caminho Português prometia vieiras estupendas na vila de Arcade, antes de Pontesampaio.
Confesso que a ideia de um belo prato do marisco foi o que conseguiu me embalar N-550 acima. Mas nada de vieiras, nem em Arcade, nem em Pontesampaio, onde tive que me contentar com um picado de jamón (como se chama o sanduíche de presunto na Galícia) e uma taça de vinho para seguir adiante.
Ao contrário do Marechal Ney em 1809, atravessamos a famosa ponte, em Pontesampaio, sem maiores traumas e seguimos para Pontevedra depois desse almocinho frugal.
O Caminho de Santiago entre Pontesampaio e Pontevedra é muito agradável, atravessando vales e vinhedos, boa parte do tempo sobre um trecho original do caminho, em meio a um bosque.
Ria de Pontevedra em Pontesampaio |
De longe, muito longe, ouvi Dulce gritar meu nome. Ela andava à minha frente e, certamente, desconfiou que a placa confusa poderia me atrapalhar.
Como tudo que é bom dura pouco, o belo trecho de caminho acabou na periferia de Pontevedra — é sempre chato caminhar nas proximidades das cidades maiores — quando passamos a enfrentar trânsito, calor e a absoluta falta de um lugar para descansar. Chegamos ao albergue por volta das 15 horas.
Piornos (em galego) ou hórreos (em espanhol): não são capelinhas, são silos para armazenamento da colheita |
Antes de sair de Redondela, tive o prazer de descobrir, afinal, para que servem as "casinhas" suspensas que vi ao longo de todo o caminho.
Tinha imaginado que fossem capelinhas domésticas, mas os hórreos (piornos, em galego) são silos para armazenar grãos. Sobre os pilotis que os sustentam, apoios em forma de discos impedem os ratos subam até o depósito.
Isso tudo quem me explicou foi Juan Durán, dono e garçom do bar onde passei o começo da noite, em Redondela, tomando conhaque e botando as anotações do diário em ordem.
Juan tem parentes em Salvador e sonha em mudar-se para a Bahia — por aqui é raro encontrar alguém que não tenha ao menos um conhecido morando em Salvador.
O meu Caminho de Santiago
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