A devoção, ao longo da história, sempre levou as diversas civilizações a adornar seus espaços religiosos com belezas muito especiais — se você prestar atenção, aliás, vai lembrar que uma parte considerável dos objetos expostos em museus vieram exatamente de igrejas e templos dos mais diversos credos.
Não contei quantas Igrejas existem no Centro Histórico de Bogotá, mas me senti quase em Salvador, onde os campanários estão por toda parte na parte antiga da cidade |
O interior da Igreja de La Veracruz, que abriga o Panteão
dos heróis da Colômbia. À direita, a fachada lateral de La Veracruz e a Igreja
da Ordem Terceira de São Francisco |
Na minha temporadinha colombiana, aproveitei para visitar 6 igrejas de Bogotá com entrada gratuita. Elas ficam bem próximas umas das outras e rendem um ótimo roteiro que você pode fazer a pé.
Dá só uma olhada nessas lindezas e comece a se programar. No final do post, tem um mapinha para ajudar a organizar seu passeio.
Igreja de La Candelaria, coração do bairro e muito frequentada pelos moradores |
⭐Igreja de La Candelaria
Calle 11 (duas quadras acima do Museu Botero) com Carrera 4ª.
Abre diariamente, das 6:30h às 12h e das 14h às 18:30h.
Quase desisto de ver o interior da Igreja de La Candelaria, pois no clima da Semana Santa, período da minha visita, as missas se sucediam no velho tempo colonial — não faço visitas turísticas a lugares de culto durante celebrações.
O interior da Igreja de la Candelaria é magnífico. O grande
destaque é o altar-mor em talha dourada |
Que bom que eu insisti, pois o interior da Igreja de La Candelaria é belíssimo. Inaugurada no comecinho do Século 18, ela é dona de alguns tesouros artísticos impressionantes.
O coro e as pinturas e entalhes do forro de La Candelaria também
são encantadores |
As pinturas do forro da Igreja de La Candelária também são primorosas, assim como a decoração do coro e as capelas laterais.
A decoração barroca de La Candelaria não economizou ouro
para adornar os altares |
A Igreja da Candelária de Bogotá foi inaugurada em 1703 e fazia parte de um conjunto que incluía o Convento de San Nicolás, dos padres Recoletos, e um colégio.
O convento e a escola deixaram de existir em 1861, quando o governo do general Tomás Cipriano de Mosquera desapropriou os bens das ordens religiosas na Colômbia.
A devoção a Nossa Senhora da Candelária é muito difundida na América Espanhola. “Candelária” se refere a candela (vela). A santa é veneradíssima na orla do Lago Titicaca (Peru/Bolívia) e também na Colômbia e Venezuela.
Catedral de Bogotá, na Plaza de Bolívar |
Plaza de Bolívar, esquina com Calle 11.
A visitação varia de acordo com os horários das missas.
A Catedral de Bogotá é a única igreja deste roteiro que não faz parte do patrimônio colonial da cidade. Inaugurada em 1823, já na época republicana, seu interior adota um estilo neoclássico que contrasta fortemente com a fachada sisuda de pedra.
A Catedral ocupa o mesmo local da primeira igreja da cidade, uma capelinha do Século 16, erguida em palha pelos pioneiros da evangelização de Nova Granada (vice-reino espanhol que deu origem à Colômbia), posteriormente substituída por um edifício em taipa.
Externamente, a Catedral de Bogotá tem um aspecto imponente, que domina a Praça de Bolívar, onde também estão as sedes da Suprema Corte, do Parlamento da Colômbia e da Prefeitura de Bogotá — a típica configuração de uma plaza mayor em uma cidade colonial espanhola, que sempre reunia as sedes dos poderes político, militar, judicial e religioso.
O interior da Catedral de Bogotá surpreende pela ausência de rebuscamento. Ele é marcado por paredes e colunas num sóbrio tom de creme.
Esse é um contraste interessante de observar, comparando com a riqueza das igrejas do tempo da colônia: a catedral é um templo de outra época, a República, quando já não se usava tanto o esplendor para impressionar os fiéis.
As esculturas da fachada da Catedral de Bogotá representam São Pedro e São Paulo e Nossa Senhora da Conceição (no centro), a quem a igreja é dedicada.
Um raro momento sem multidões na Catedral de Bogotá durante
a Semana Santa |
Apesar da construção “recente”, a Catedral de Bogotá guarda uma série de peças herdadas das igrejas coloniais que existiram anteriormente no local, a começar pela porta principal, do Século 17, e o altar-mor, do Século 18.
Preste atenção às capelas laterais da catedral, que exibem imagens preciosas. Atrás do altar-mor está a Capela da Virgem de El Topo, imagem que é considerada uma das maiores relíquias da arte sacra bogotana.
Aproveitei para observar a forte religiosidade dos bogotanos. Afinal, entender um pouquinho dos costumes locais é parte fundamental no prazer de viajar.
A igreja de Agustín ganhou meu coração |
Se eu tivesse que eleger a igreja mais bonita que vi em Bogotá, meu voto iria para San Agustín. Ela também é do Século 17 — época que as riquezas do já consolidado Vice-Reino de Nova Granada tornaram a mais profícua para a construção e embelezamento dos locais de culto.
A Igreja de San Agustín tem rica decoração do forro e teto em cañon |
Além de um altar-mor maravilhoso, a Igreja de San Agustín encanta pelo engenhoso “teto em cañon”. Ela é a única em Bogotá com esse tipo de teto, de formato abaulado. Essa técnica de cobertura foi muito usada em outras partes da América Espanhola, como nas igrejas de Quito, por exemplo.
A decoração primorosa de San Agustín foi uma das coisas mais bonitas que vi em Bogotá |
Mas linda mesmo, em San Agustín, é decoração solar, com toques naïf de suas paredes caiadas, que receberam apliques dourados em motivos florais.
Clara, luminosa e tranquila, nem parece que a Igreja de San Agustín ficou famosa por conta de uma batalha travada em seu entorno, em uma tentativa de golpe militar do Século 19.
Os adornos da igreja têm um toquezinho brejeiro, quase naïf |
É que a Casa de Nariño, palácio do governo da Colômbia, fica bem em frente à Igreja. Em fevereiro de 1862, tropas comandadas pelo ex-presidente Mosquera (o mesmo que já havia confiscado os bens das ordens religiosas e vendido tudo em leilão) tentou derrubar o governante da hora.
A Igreja de San Agustín chegou a ser parcialmente demolida e só voltaria a seu esplendor em uma restauração da década de 80, que usou registros antigos para devolver a ela sua aparência original., e foi por isso que a igrejinha bonita entrou na cena da pancadaria.
O altar-mor da Igreja de San Francisco de Bogotá é uma obra-prima
da arte sacra colonial das Américas |
Carrera 7ª, esquina com a Calle 13 (também chamada de Avenida Jimenez)
Uma das igrejas mais antigas de Bogotá, a Igreja de San Francisco é um colosso. Suas paredes externas de pedra nua, veteranas gastas pelo tempo, guardam um interior recoberto de dourados e intrincados entalhes, um dos conjuntos de arte sacra mais bonitos que já vi em uma cidade colonial das Américas.
Este exterior em pedra nua, maltratada pelo tempo, não dá a
menor pista do que você vai encontrar dentro da Igreja de São Francisco |
O vasto interior da Igreja de San Francisco é parcamente iluminado, talvez de propósito: entrei pela porta lateral naquela penumbra e, quando olhei para a direita, quase caí de costas ao me deparar com o magnífico altar-mor do Século 17, todo recoberto em ouro, atraindo para si toda a luz que penetra por pequenas aberturas nas paredes. Lindo demais.
Só depois de muito olhar é que consegui desgrudar os pés do chão, chegar perto do altar, conversar um pouco com os frades que cuidam do templo (e que não disfarçam a satisfação de contar a história da igreja) e explorar outros detalhes maravilhosos de San Francisco.
Preste atenção às capelas laterais da Igreja de San Francisco, Elas ficam meio ofuscadas pelo espetáculo do altar-mor, mas também são maravilhosas |
O altar-mor, em estilo flamengo, é dessa época e é considerado uma das peças mais importantes da arte religiosa da América Espanhola.
A gente fica até tonta com tantos detalhes preciosos no
interior da Igreja de San Francisco |
Eu pedi permissão ao padre que acabara de celebrar a missa para fotografar o interior da Igreja de San Francisco, mas, em geral, proibido fazer imagens internas do templo.
Carrera 7ª, esquina com Calle 16 (também conhecida como Calle del Arco). Visitas de segunda a sexta, das 7h às 18h. Sábados, das 10:30h às 13h, e domingos apenas das 11h às 13h.
La Tercera: à direita, a única imagem que fiz do interior da igreja segundos antes de ser informada de que é proibido fotografar |
Depois de ver o espetáculo da Igreja de San Francisco, a gente corre o risco de se dar por satisfeita e esnobar outros dois templos (La Tercera e Veracruz) que compõem o conjunto de monumentos históricos dessa região da Carrera 7ª, na altura do Parque Santander. Não faça essa bobagem.
A Igreja da Ordem Terceira de São Francisco, ou La Tercera, como se diz por lá, não vai chamar muita atenção pelas dimensões ou pela fachada simples.
Mas, quando você entrar, vai entender porque ela é considerada uma das grandes pérolas da arte sacra colonial do antigo Vice-Reino de Nova Granada.
Detalhe da fachada da Igreja de La Tercera |
Tudo em carvalho maciço — o bom e velho carvalho das antigas embarcações que cruzavam o Atlântico no Século 18, época da construção do templo.
Não é permitido fotografar o interior de La Tercera. A foto que você vê neste post foi feita segundos antes de eu ser informada dessa regra.
A Igreja de Veracruz é do Século 16, mas sua referência mais forte é o período da luta pela independência da Colômbia |
A capela original de Veracruz foi construída no Século 16, nos primórdios da colônia, o que faz dela uma das mais antigas igrejas de Bogotá.
A luminosidade e as cores fortes são as marcas da Igreja de Veracruz |
A Irmandade da Veracruz tinha a incumbência de recolher os corpos dos condenados à morte, na cidade de Santa Fé de Bogotá. Foi assim que a Igreja de Veracruz acolheu os mortos e acabou convertida, após a consolidação da independência, no Panteão Nacional da Colômbia.
Entre os muitos fuzilados e enforcados no período conhecido como o terror está uma mulher de biografia fascinante, a costureira Policarpa Salavarrieta, que entrou para a História como La Pola.
Policarpa atuou como agente de inteligência no movimento independentista e liderou uma rede de mulheres que levavam as informações coletadas por ela aos combatentes colombianos. Aos 22 anos, foi presa pelos espanhóis e fuzilada na Plaza Mayor de Bogotá, hoje Plaza Bolívar. .
O exterior bem simples e as paredes caiadas são uma boa moldura para os altares requintados de La Veracruz |
Ao contrário de suas vizinhas, a Igreja de Veracruz tem uma luminosidade cativante. Suas sóbrias paredes caiadas fazem o contraponto exato com a decoração em cores exuberantes, com destaque para o vermelho e o dourado. .
As seis igrejas de Bogotá citadas no post estão marcadas em vermelho no mapa. Repare como ficam próximas umas das outras e rendem um roteirinho a pé bem bacana pelos tesouros da arte sacra colonial da Colômbia.
Além dessas seis igrejas imperdíveis, tentei visitar a Capela de La Bordadita. Queria muito ver a famosa imagem da virgem bordada sobre uma tela de seda que dá nome à igrejinha.
A Igreja de las Águas. À direita, a porta principal da
Capela de La Bordadita, hoje integrada ao patrimônio da Universidade do
Rosário. Abaixo, a Igreja de Nossa Senhora do Egito |
Os feriados também frustraram minhas visitas à Igreja de Las Águas, apontada como a mais antiga de Bogotá, e a Nuestra Señora del Egipto, na parte mais alta do bairro de La Candelaria. As três aparecem em azul no mapa. Quem sabe você tem mais sorte do que eu e consegue encontrá-las abertas...
A minha coleção de casinhas tem várias igrejas de Bogotá, compradas na minha primeira vista á cidade. Estas são El Carmen, San Francisco e Las Águas |
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Ai se eu tivesse lido estas preciosas informações antes de ir lá . minha viagem à Colombia teria sido muito mais bonita do que foi . Infelizmente ninguem por lá me informou sobre estas maravilhosas igrejas e não as visitei . Helena
ResponderExcluirOi, Helena, realmente não há muita informação nos guias sobre as igrejas de Bogotá - ao contrário de Quito, por exemplo. A Candelaria e a Catedral são as mais faladas.
ExcluirEu sempre dou uma olhadinha em igrejas antigas, pq sempre tem alguma coisa bonita pra ver - geralmente, são pequenos museus que não cobram entrada.
Oi, Helena, realmente não há muita informação nos guias sobre as igrejas de Bogotá - ao contrário de Quito, por exemplo. A Candelaria e a Catedral são as mais faladas.
ExcluirEu sempre dou uma olhadinha em igrejas antigas, pq sempre tem alguma coisa bonita pra ver - geralmente, são pequenos museus que não cobram entrada.