O Largo de Santo Antônio tem uma tremenda vista para a
Cidade Baixa. Olha lá a Igreja do Bonfim, com suas três palmeirinhas imperiais |
Sabe aonde vão os baianos quando querem turistar em nossa terra? A fórmula varia, mas temos alguns clássicos consagrados. Quando o assunto são passeios em Salvador, Bonfim, Ribeira e Santo Antônio estão no topo da lista.
São passeios que fazemos desde criancinhas, com a família inteira, nas tardes tranquilas dos fins de semana fora de temporada — pra vocês verem o privilégio que é crescer em Salvador.
Enseada dos Tainheiros, no bairro da Ribeira |
A Igreja do Bonfim, o bairro da Ribeira e o Santo Antônio Além do Carmo são passeios dignos de qualquer antologia, mas têm pra nós o gostinho doméstico. Muitas vezes (meu caso), só vivendo longe para nos darmos conta de que vale atravessar o país para ver esses lugares.
Deixa eu mostrar um pouco da minha terra pra você. Bora fazer três passeios deliciosos em Salvador:
Deixa eu mostrar um pouco da minha terra pra você. Bora fazer três passeios deliciosos em Salvador:
A moda de amarrar fitinhas nas grades da Igreja do Bonfim é
recente — talvez uma versão dos "cadeados do amor". A tradição é
amarrar as fitas do Bonfim no braço e fazer um pedido |
A Igreja do Bonfim, o bairro da Ribeira e o Santo Antônio Além do Carmo são passeios dignos de qualquer antologia, mas têm pra nós o gostinho doméstico. Muitas vezes (meu caso), só vivendo longe para nos darmos conta de que vale atravessar o país para ver esses lugares.
Deixa eu mostrar um poco da minha terra pra você. Bora fazer três passeios deliciosos em Salvador:
Santo Antônio Além do Carmo
Nossa primeira parada vai ser no Largo de Santo Antônio Além do Carmo, com sua placidez de pracinha do interior e uma vista escandalosa para a Baía de Todos os Santos. Esse pedacinho sossegado do Centro Histórico de Salvador sempre foi o meu preferido.
Muito antes da reforma do Pelourinho, ainda nos anos 80, já adorava passear pelo bairro de Santo Antônio Além do Carmo, esticando a caminhada pelo Boqueirão, Carmo e a região da Igreja do Passo (famosa por ter servido de cenário ao filme O Pagador de Promessas).
Muito antes da reforma do Pelourinho, ainda nos anos 80, já adorava passear pelo bairro de Santo Antônio Além do Carmo, esticando a caminhada pelo Boqueirão, Carmo e a região da Igreja do Passo (famosa por ter servido de cenário ao filme O Pagador de Promessas).
Adoro garimpar detalhes nas fachadas do Santo Antônio |
O Santo Antônio é um pouquinho mais jovem que o Pelourinho, originado em uma povoação do Século 17 que se formou adiante das muralhas da capital colonial.
O sobrenome do bairro, Além do Carmo, se refere a essa localização, fora do cinturão fortificado, além da Porta do Carmo, acesso à cidade que ficava na altura do Convento e das igrejas do Carmo.
O sobrenome do bairro, Além do Carmo, se refere a essa localização, fora do cinturão fortificado, além da Porta do Carmo, acesso à cidade que ficava na altura do Convento e das igrejas do Carmo.
O tempo passa e o Santo Antônio mantém o charme sossegado |
Desde que me entendo por gente, o Santo Antônio Além do Carmo é um bairro simples, de moradores antigos, que cultivam as relações de vizinhança, botam colchas bordadas no peitoril da janela para ver passar o cortejo do Dois de Julho e celebram com devoção o padroeiro local, Santo Antônio (de 12 para 13 de junho) com uma quermesse animada, que continua uma delícia.
Essas placas de "vende-se", como aquela lá no
alto, me deixam com uma vontaaaaaade... |
No últimos anos, o Santo Antônio andou vivendo um processo de gentrificação. Chegaram muitos estrangeiros, investidores ou apenas gente que se encantou com o lugar e resolveu ficar e montar um negocio. Foram abertas pousadas charmosas, cafés, restaurantes e lojas.
O preço dos imóveis subiu um bocado no Santo Antônio, muitas fachadas foram restauradas para recuperar a forma original e a região ficou na moda.
No Santo Antônio, dezembro é época de presépios (acima) e junho é tempo da trezena do padroeiro |
No domingo em que estive lá, porém, vi muito pouco desse processo. Quem estava nas mesas dos poucos bares abertos eram os velhos moradores de sempre, em suas conversas animadas.
O que não muda no Santo Antonio é o prazer de caminhar à sombra daquelas fachadas lindas, com aquela vista estupenda para a Baía de Todos os Santos e a sensação de aconchego que a gente tem quando encontra um velho amigo.
É um passeio delicioso, que eu recomendo com entusiamo. E não deixe de parar no Largo da Cruz do Pascoal para comer uma lambreta ou uma casquinha de siri, no bar que leva o nome do pequeno largo conhecido por seu cruzeiro, abrigado em um nicho recoberto de azulejos.
As portas e janelas do Santo Antônio expressam as devoções
dos moradores |
A campanha em favor da leitura é uma iniciativa do ator Dimitri
Ganzelevitch, morador e um dos grandes cuidadores do Santo Antônio |
Se você for em dia de semana, vai encontrar abertas as lojinhas e antiquários que ajudam a dar charme ao bairro de santo Antonio Além do Carmo.
Como chegar ao Santo Antônio Além do Carmo
O melhor jeito para quem está de carro é subir a Ladeira da Água Brusca, que começa na Cidade Baixa, na Avenida Jequitaia.
Se for de táxi ou uber (o que vai lhe poupar o aperreio do trânsito e de procurar estacionamento), essa também é uma boa rota.
O Forte de Santo Antônio (no alto) já foi uma prisão
política. Hoje é um espaço dedicado à Capoeira. Acima, a Cruz do Pascoal e o
tradicional boteco homônimo |
De táxi, a corrida não vai custar mais que R$ 50, para quem vem da região da Pituba (14 km).
Se você já estiver no Centro de Salvador, o melhor jeito de chegar é descer o Pelourinho subir a pé a Rua do Carmo. Você estará fazendo o meu passeio, só que no sentido inverso.
Igreja da Ordem Terceira do Carmo |
Igreja do Carmo |
O que ver no Santo Antônio Além do Carmo
Além da vista maravilhosa para a Baía de Todos os Santo que se tem do Largo do Santo Antônio, vale dar uma entrada na igreja, que tem elementos rococós em seu interior.
Ainda no Largo, o velho Forte de Santo Antonio, que serviu de cárcere a presos políticos durante o regime militar, é agora um equipamento cultural importante, o Forte da Capoeira, ocupado por academias dedicadas a ensinar e preservar essa luta criada pelos africanos na Bahia.
Convento do Carmo |
O Convento do Carmo agora é um hotel e seu velho museu de arte sacra está fechado, aguardando restauro. Sempre dá, porém para admirar o velho claustro, transformado em jardim.
As igrejas do Carmo e da Ordem Terceira do Carmo, assim como as do Boqueirão e do Passo também valem a visita.
Pena que os horários de abertura sejam tão curtos e misteriosos. Vale apreciar o exterior dessas lindas construções barrocas. Mas só olhar as fachadas coloridas das casinhas do bairro já vale o passeio.
Bairro da Ribeira
Quando me perguntam qual o bairro mais bonito de Salvador, eu não tenho dúvidas: é a Ribeira, claro! Ela é até meio fora de mão para os turistas, na Península de Itapagipe, Cidade Baixa. Mas vale a esticada.A Ribeira fica dentro do recorte da Baía de Todos os Santos, com todos os recortes e relevo que definem beleza à beira d'água — taí o Mediterrâneo, que não me deixa mentir.
Pôr do sol na Praia do Bogari |
A Ribeira é o lugar para desfrutar integralmente dessa beleza de águas mansas.
Bebericar à sombra de uma amendoeira enquanto os barquinhos
passam pertinho da gente... Do outro lado, está Plataforma, bairro do Subúrbio
Ferroviário |
Apesar da distância das áreas onde normalmente se hospedam os visitantes, recomendo vivamente que você agende uma tarde na Ribeira, de preferência em um dia de semana, quando a muvuca é menor.
Os baianos da Cidade Alta, em geral, combinam a ida à Ribeira com uma visita à Igreja do Bonfim, uma parada para ver o pôr do sol na ponta do Humaitá e, claro, uma esbórnia de sabores divinos na tradicional Sorveteria da Ribeira, uma veneranda instituição do bairro.
Enseada dos Tainheiros, na Ribeira: o calçadão ganhou um banho de loja, a marina está mais organizada. O que não muda é a beleza desse lugar |
No verão, principalmente, em qualquer dia da semana, a beira-mar na Ribeira está sempre movimentada com gente que caminha, aproveita a praia e as sombras generosas das árvores para compartilhar uma cerveja e muita conversa.
A tradicional Sorveteria da Ribeira é uma preciosidade gastronômica de Salvador. E a minha casquinha de cajá e pitanga |
A paisagem é linda, com direito a passeata de barquinhos rumo ao atracadouro e o trem do subúrbio que passa lá do outro lado, chegando à Estação de Plataforma. Experimente os frutos do mar servidos por lá e depois me conte 😊.
A Igreja do Bonfim é o centro espiritual da Cidade da Bahia |
Igreja do Bonfim
Nada traduz melhor a espiritualidade baiana do que a Igreja do Bonfim. No alto daquela colina se encontram as tradições religiosas que forjaram a alma de Salvador.
No Bonfim, a Bahia expressa sua diversidade. O hábito muçulmano de guardar a sexta-feira e vestir-se de branco, herdado dos escravos Malês, reúne-se à devoção a Oxalá, divindade dos Yorubás e ao Cristo trazido de Portugal (de Setúbal), no Século 18, pelo capitão Capitão Teodózio, sobrevivente de uma tempestade em alto mar.
No Bonfim, a Bahia expressa sua diversidade. O hábito muçulmano de guardar a sexta-feira e vestir-se de branco, herdado dos escravos Malês, reúne-se à devoção a Oxalá, divindade dos Yorubás e ao Cristo trazido de Portugal (de Setúbal), no Século 18, pelo capitão Capitão Teodózio, sobrevivente de uma tempestade em alto mar.
Sexta-feira é dia de vestir branco e ir ao Bonfim |
As pessoas vão à Igreja do Bonfim nem só para pedir ou agradecer, mas também, e muito, como quem visita um velho amigo.
Foi lendo as histórias contadas pelos ex-votos do Bonfim que
eu me apaixonei por narrativas - e virei jornalista |
Quando você for ao Bonfim, assista ao menos um pedacinho da missa, porque é comovente testemunhar esse apego e carinho dos baianos com seu padroeiro informal (o padroeiro oficial de Salvador é São Francisco Xavier).
A primeira sexta-feira de cada mês é o dia mais concorrido na Igreja do Bonfim. Hoje, primeira sexta-feira do ano, a igreja deve estar lotada de gente vestida de branco.
A primeira sexta-feira de cada mês é o dia mais concorrido na Igreja do Bonfim. Hoje, primeira sexta-feira do ano, a igreja deve estar lotada de gente vestida de branco.
Os vendedores de fitinhas do Bonfim são personagens que fazem parte da minha infância |
A imagem mais forte vem das pernas, braços e cabeças pendurados, abarrotando o teto da Sala de Ex-Voto. Geralmente moldadas em cera, essas peças representam partes do corpo que foram curadas por intersecção do Senhor do Bonfim.
O forro da Igreja do Bonfim foi pintado pelo artista baiano Franco Velasco (1780-1833) |
Os azulejos portugueses que adornam os corredores laterais da igreja são do Século 19 |
Mas o que eu amava mesmo eram os quadros e desenhos, em traços muitas vezes toscos, mas ricos em uma narrativa sôfrega, comovida e grata pelos milagres alcançados contra desastres, acidentes nas estradas, naufrágios e sofrimentos.
Pra mim, aquela torrente não estava nos marcos da pintura. Cada uma daquelas imagens tinha tal força e dimensão que elas ganhavam movimento, diálogo, trilha sonora e efeitos especiais.
Nunca fui religiosa, não eram os milagres que me encantavam, mas a força daqueles relatos, tão pulsantes e vivos que me acompanhavam por dias, após cada visita.
Hoje, as pessoas já não agradecem ao Senhor do Bonfim com quadrinhos ingênuos. Preferem as fotos posadas, as campeãs dos ex-votos atuais. Uma parte do encanto, porém, ainda está lá.
Uma boa notícia sobre o Bonfim: parece que as autoridades andaram dando uma disciplinada na venda de quinquilharias na porta da igreja.
Já cheguei psicologicamente preparada para o assédio dos vendedores e tive uma surpresa. O pessoal que está trabalhando lá é educado, oferece as fitinhas, mas não insiste nem chateia, como antigamente, razão pela qual nunca recomendei a visita ao Bonfim aqui no blog. Pois agora, recomendo, sim, e com entusiasmo.
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